MARIA MONTELLATO
Penteei a mecha do meu cabelo enquanto observava meu reflexo no espelho, quem me visse de fora poderia pensar que eu estava concentrada em desatar alguns nós do cabelo, mas na verdade eu estava absorta, completamente perdida em pensamentos e lembranças.
Hoje é nosso último dia viagem, e é como se eu conseguisse a reviver cada segundo da nossa lua de mel em um simples piscar de olhos, cada toque, cada palavra, cada conversa, cada aventura, cada noite em claro, tudo está gravado em minha mente, gravado em minha memória, e eu não posso e nem quero me esquecer, esses dias com certeza mudaram minha relação com Pietro para todo sempre.
A forma como nos conectamos, como nos conhecemos, como mergulhamos um no outro, é com toda certeza inexplicável, eu o amo e sem sombra de dúvidas não posso e nem quero viver sem sua companhia.
- Amor? - a voz de Pietro me fez despertar.
-Sim?- Respondi um pouco perdida.
-Está tudo bem? Parecia tão pensativa, tão distante.- Meu marido se aproximou de mim até seu peito se encostar em minhas costas e ele envolver minha cintura em um abraço.
Eu amoleci em seus braços e apenas fechei meus olhos por breves segundos amando estar sendo envolvida por ele. Senti um beijo suave sendo depositado em minha cabeça.
- Eu estou bem amor.- Abri os olhos e olhei para ele através de nosso reflexo no espelho.- Só estou lembrando dos nossos momentos juntos durante a viagem.
-Lembrando é?- ele me apertou contra seu corpo.- quer me contar quais momentos em específico?
- Não, não posso!- mordi meus lábios tentando não ceder aos seus encantos.
- Por que não amor?- ele questionou com um sorriso brincalhão.
-Porque eu sei aonde isso vai nos levar.- me afastei de seu abraço e me virei lhe dando um beijo rápido nos lábios.
Falar com meu marido a respeito dos nossos momentos juntos, vai nos deixar quentes e incontroláveis, vamos acabar na cama com toda certeza, e não que eu não queira, mas temos alguns planos para o dia de hoje e não podemos nos atrasar e ele sabe disso, mas a desculpa dele seria que sou "irresistível".
Me sentei sobre a cama para calçar meus sapatos, mas eu não tive tempo de me abaixar para calçá-los porque meu marido se ajoelhou em minha frente e Se dispôs a me ajudar.
- Eu faço isso por você meu amor.- Pietro apoiou meu pé sobre sua coxa e colocou o tênis no meu pé amarrando o cadarço logo em seguida, calmamente ele fez isso com o pé direito e logo em seguida com o esquerdo, seus movimentos eram tão cuidadosos como se eu fosse feita de porcelana. Assim que terminou de calçar o sapato em meus pés os colocou sobre o chão e olhou para mim.
- Eu te amo!- declarei sorrindo e segurei seu rosto entre minhas mãos e o beijei, suguei seu lábio inferior e movi minha boca junto com a sua, um beijo calmo e lento,é o que eu mais amo, as vezes fica até difícil me distanciar do tanto que beijar meu marido é bom.
- Amor?- Pietro me chamou ainda com os lábios colados nos meus.
-Sim?- respondi notando ele se levantar do chão e inclinar o corpo sobre mim.
-O que acha de desmarcar aquele compromisso? E fica aqui no quarto mesmo?- coloquei minhas mãos sobre seu peito.
-Nem vem espertinho, nós vamos para o Spa e é agora mesmo!- dei um salto da cama e me afastei dele, vesti meu casaco e caminhei em direção a porta do quarto enquanto ouvia meu marido vir resmungando atrás de mim.
Como é nosso último dia de viagem decidimos na noite anterior agendar uma tarde no Spa para aproveitarmos alguns benefícios que o hotel nos proporciona, assim podemos seguir viagem com o corpo relaxado e bem descansado. Passamos pela recepção do Spa e Pietro e eu fomos separados, cada um receberia sua sessão de massagem para que houvesse um momento de relaxamento total. Fui direcionada a uma sala onde deixei minhas roupas e vesti um roupão e pantufas brancas, ao sair a massagista já me esperava.
O local possui uma iluminação amarelada, o que me traz uma sensação de aconchego.
-Oi eu sou a Sofia tudo bem? Pronta pra iniciarmos a sua sessão de massagem?- eu demorei alguns segundos para raciocinar que ela havia falado em português.
Estamos a dias nos Estados Unidos e a única pessoa que eu me comunico é Pietro porque não sei falar em inglês, então me surpreendi quando ela falou o mesmo idioma que eu.
-Nossa como é bom ouvir alguém falando a mesma língua que eu!- sorri pra ela e por alguns instantes recebi um olhar acolhedor.
- Eu que o diga! Estou aqui a 9 anos e não encontrei com muitos brasileiros.- respondeu com o sorriso entristecido.
-Nossa está aqui a bastante tempo.- respondi me deitado sobre a cama de massagem.-Não sente saudades de casa?- eu estava sentada sobre a cama, olhei para seu rosto e percebi seu semblante triste.
-Na verdade eu sinto e muita, mas não posso voltar, não tenho motivos, não há nada pra mim lá.- aquelas palavras pesaram em meu coração.
-Mas por que diz isso?- questionei conseguindo sentir sua tristeza no ar.
-Uau você faz bastante perguntas não é?- dei risada me sentindo um pouco constrangida.
-Me perdoa não era minha intenção ser inconveniente.- abaixei a cabeça envergonhada.
-Tá tudo bem, eu acho que não estou acostumada com muitas perguntas, faz tempo que não tem ninguém pra de preocupar comigo.- a dor em suas palavras me acertaram.
- Quer me contar o que aconteceu com você? Eu juro que não sou inconveniente e muito menos curiosa, eu só gosto de ajudar as pessoas, gosto de ver todos ao meu redor se sentindo bem.- ela me olhou de uma forma que eu não soube explicar mas aqueceu meu coração.
-A minha vida desde que nasci tem sido uma sequência de acontecimentos trágicos, minha mãe faleceu dois anos após o meu nascimento, eu fui criada pelo meu pai, era sempre foi um pouco bruto, mas sabia ser carinho e amável nas horas certas, aos 20 anos eu conheci um homem do qual eu acreditei ser o amor da minha vida, fiquei noiva dele por 7 meses e descobri que estava grávida, a alegria foi imensa, bom pelo menos da minha parte, pouco tempo depois eu descobri que ele estava me traindo com a colega se trabalho dele, aquilo foi o fim pra mim, eu o amava incondicionalmente, e achava que viveríamos juntos e felizes para sempre, mas não eu estava totalmente enganada.- Ela baixou a cabeça e suspirou triste.- nos separamos e eu tentei focar em mim e no bebê, mas o baque da traição me deixou tão triste que isso estav a afetando minha saúde e a do meu bebê, tudo piorou ainda mais quando meu pai teve um infarto e faleceu, foi demais pra mim, era muita dor, tudo o que me aconteceu em menos de um ano foi se acumulando de forma tão grande sobre mim que refletiu no meu bebezinho, eu sofri um aborto e...-Ela fez uma pausa e fechou os olhos tentando segurar o choro, eu já não conseguia mais me conter de tantas lágrimas que derramava.- eu me encontrava sozinha em um hospital, com a maior dor do mundo, havia perdido aquele que eu pensava ser o amor da minha vida, havia perdido o meu pai e agora meu filho, eu não tinha ninguém, não tinha ninguém que me acolhesse, nunca tive muitos amigos e nossa família sempre foi distante, eu estava completamente sozinha no mundo, foi então que eu decidi junta é tudo o que tinha e fugir para o mais longe possível e recomeçar, era isso ou tirar minha própria vida.- Quando ela terminou de contar sua história eu me levantei da cama e a abracei forte querendo transmitir pra ela todo amor do mundo.
- Você é uma guerreira, uma das mulheres mais fortes que eu conheço, saiba que não está sozinha.- sussurrei as palavras tentando não chorar.
-Obrigada.- Ela desabou em meus braços e começou a chorar.
Seu choro sentido expressava tanta dor e sofrimento, acredito que ela nunca chorou assim, nunca colocou pra fora verdadeiramente tudo o que sentiu, ela estava segurando todo esse tempo. Fiz carinho em seus cabelos demonstrando o amor maternal que ela não pode ter.Passaram-se longos minutos e então seu choro cessou e ela conseguiu se recompor, levantou a cabeça e me olhou com o rosto todo inchado e vermelho.
-Se sente melhor?- perguntei apreensiva.
-Sim, me sinto muito melhor é como se tivesse tirado um peso dos meus ombros, eu nunca me abri assim com ninguém desde que tudo aconteceu.
-É difícil, mas é sempre bom falar sobre os sentimentos.- Ela sorriu e balançou a cabeça concordando.
- Bom agora deixa eu te fazer a massagem que estava agendada, toda a minha história deve ter deixado você com o corpo tenso.- nós demos risada.
-Está tudo bem eu sinto que ganhei uma amiga- respondi me deitando de bruços sobre a cama.
-Sim eu sei que te conheci não tem nem uma hora, mas sinto que você é especial Maria.- sorri envergonhada.
- Você também Sofia é alguém muito especial, tenho certeza que foi por um propósito muito especial que nos conhecemos hoje.
[...]
Sai da sessão de massagem flutuando, é como se meus pés nem tocassem no chão de tão leve que eu sentia o meu corpo. Estava com um sorriso no rosto feliz por ter conhecido a Sofia e por ter feito uma nova amizade, sei que amanhã iremos voltar ao Brasil mas nós trocamos nossos números de celular e queremos manter contato, ao nos despedimos ela me abraçou e agradeceu inúmeras vezes dizendo que eu era um anjo enviado por Deus pra ajudar ela, isso alegrou meu coração tão profundamente que eu não sabia nem mesmo explicar.
Avistei meu marido no final do corredor ele também havia terminado sua sessão de massagem, Pietro caminhou em minha direção com um sorriso lindo que me fazia ficar boba e louca para me jogar em seus braços. Quando chegamos perto um do outro nos abraçamos, coloquei meu rosto entre seu pescoço, sentindo a fragrância de seu perfume que combina perfeitamente com ele, ele apertou minha cintura e suspirou dizendo.
- Que saudade...- A lua de mel nos deixou ainda mais próximos do que já somos, é inevitável não sentir falta um do outro quando estamos distantes, parece que o amor entre nós cresceu mais ainda.
- Eu também senti amor.- respondi apertando meus braços ao seu redor.
-Vamos para o quarto temos alguns assuntos pendentes...- Ele sorriu de modo safado e me abraçou de lado me fazendo andar com ele em direção ao elevador, meu coração estava acelerado eu o queria mais que tudo.
Continua....