Eu vou falar com ele!

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MARIA GONÇALVES

-Minha neta tome pelo menos uma xícara de café ou então come um pedacinho de bolo de cenoura, você precisa se alimentar! -Disse minha vó enquanto estávamos sentadas na mesa da cozinha. Balancei a cabeça negando.

-Eu não consigo comer nada agora vó...-respondi sentindo o nó em minha garganta aumentar.

Já havia se passado alguns minutos desde que eu havia encerrado a ligação com Sabrina e chorado nos braços de minha vó, estou apenas aguardando o momento em que minha mãe vai chegar em casa juntamente com Sabrina, estou em uma aflição tão grande que nem consigo comer.

De repente ouvi o portão da garagem se abrindo e meu coração acelerou, minhas mãos começaram a suar. Eu estava com medo de reviver todas as sensações da noite passada. Me levantei da mesa e fui caminhando até a sala com passos lentos e inseguros. A vontade que eu tinha era de sair correndo e me esconder em um lugar bem longe daqui, mas tenho que enfrentar essa situação por mais difícil que seja.

A porta de casa foi aberta por minha mãe, Luke meu cachorrinho entrou dentro de casa abanando o rabo e fazendo festa, minha mãe entrou em casa e logo em seguida veio Sabrina, ela vestia um conjunto de moletom preto e seus cabelos estavam presos em um coque desajeitado, ela parecia bem cansada da viagem. Quando seus olhos foram de encontro aos meus eu gelei, não sabia o que esperar de sua reação. Fiquei parada em silêncio e quando eu menos esperava ela correu até mim e me envolveu em um abraço apertado e extremamente acolhedor, nos primeiros instantes eu nem soube como reagir mas depois retribui seu abraço.

-Estou aqui agora amiga, pode desabafar comigo como sempre fizemos.- não consigo nem explicar a paz que inundou o meu coração quando ela me falou isso.

Nos afastamos do abraço e eu olhei para ela com a vista embaçada pois as lágrimas queriam vir a tona.

-Eu nem sei por onde começar...-Confessei me sentindo totalmente perdida em meio a tantas emoções.

-Comece do começo...-Respondeu me fazendo rir. - Vem!- ela segurou minha mão e me puxou para sentar no sofá.

-Nós vamos estar na cozinha tomando café quando terminarem de conversar se juntem a nós.- Disse minha mãe.

-Se demorarem muito vão ficar sem bolo de cenoura.- Minha vó falou fazendo Sabrina rir.

-Ok vamos nos esforçar para falar pouco.- Minha amiga respondeu de modo divertido e então minha mãe e minha avó se retiraram da sala.

-Então amiga me conta o que aconteceu?- Sabrina pediu e eu respirei fundo.

-Vou te contar tudo desde o início mas eu peço por favor que escute tudo o que eu tenho a dizer antes de me julgar ok?- ela me olhou com uma careta estranha no rosto.- Ok Sabrina?

-Ok!- ela assentiu.

-Foi ontem que tudo aconteceu, seu pai estava no trabalho e eu estava sozinha em casa...- Comecei a narrar os acontecimentos do dia anterior e a cada palavra que saia da minha boca Sabrina ia ficando cada vez mais vermelha de raiva, eu percebi que ela queria abrir a boca para dizer algo a todo momento.- E depois que ele jogou todas as minhas roupas para fora eu saí correndo e parei em um posto de gasolina, liguei pra minha mãe e ela me trouxe pra cá.- Ao perceber que eu tinha terminado de falar Sabrina se levantou do sofá, ficou parada de costas para mim com as mãos na cintura. Sua postura me lembrou um pouco a de seu pai e isso me fez ter medo da sua reação a seguir.

-Eu juro que se eu encontrar aquela loira de farmácia plastificada eu vou esganar ela!- sua voz saiu carregada de ódio. Sabrina se virou para mim e passou as mãos pelo rosto demonstrando seu nervosismo. -Eu não acredito que meu pai agiu dessa forma! Como ele pode ser tão infantil? Eu te conheço amiga e sei que nunca seria capaz de fazer uma coisa dessas.- ela começou a andar de um lado para o outro pela sala.- Eu vou falar com ele! Senhor Pietro precisa ouvir umas verdades.

-Amiga por não faz isso, a situação já está ruim não quero destruir a relação que você tem com seu pai.- pedi em desespero.

-Você não vai destruir nada Maria, nada do que está acontecendo é culpa sua e sim do meu pai! Ele só pode estar louco pra agir dessa forma.

-Eu não sei o que fazer...

-Você não vai fazer nada amiga, você tentou se explicar e infelizmente ele não quis ouvir, eu vou até lá conservar com ele, e depois disso vamos deixá-lo sofrer sozinho enquanto pensa no que ele fez. Toda ação gera uma reação amiga e meu pai em algum momento vai cair na real e perceber o grande erro que ele cometeu.

-Tá bom...- respondi apenas isso.

-Agora vamos comer bolo!- seu semblante mudou de repente e um enorme sorriso abriu em seus lábios.

-Pode ir eu estou sem fome...- Quando fico muito triste ou preocupada com alguma coisa minha garganta fecha e eu não consigo comer nada.

-Vem amiga, não quero ver você triste pelos cantos da casa e muito menos morrendo de fome!- antes que eu pudesse dizer alguma coisa ela agarrou meu braço e me puxou de cima do sofá me fazendo rir.

Definitivamente essa não era a reação que eu esperava de Sabrina, mas estou feliz que não perdi sua amizade, nosso vínculo é muito mais forte que qualquer mentira que possam inventar e eu sou extremamente grata a Deus por isso, tudo seria ainda mais difícil pra mim se eu tivesse a perdido também.



Quem poderia ImaginarWhere stories live. Discover now