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By hellenptrclliw

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➛ A segunda queda: livro 02 da série "The Four Falls". Apaixonar-se não era sequer a última das coisas que Et... More

OWH. #2 Série TFF
sinopse
dedicatória
epígrafe
prólogo
01. quem está julgando?
02. caos com íris cor de avelã.
03. dever e honra.
04. até onde você é capaz...?
05. ethan.jyoung.
06. se você diz.
07. calum young é um menino sábio.
08. quem é gwen evans?
09.1. eu não sei como você consegue.
09.2
09.3
10. movidos pelo instinto de sobrevivência.
11. precisamos parar de nos encontrar assim.
12. por que se explicar tanto para si mesmo?
13. temos tudo sob controle.
14. a verdade que há e suas promessas.
15. um dia, talvez?
16. até o sol nascer.
17. nada é como se apaixonar pela primeira vez.
18. a reputação que me precede.
19. quando o amor cai em mãos erradas.
20. no meu sangue.
21.1. a garota que me encara de volta.
21.2
22.1. os parágrafos escondidos e descobertos.
22.2
23. a sentença das nossas vidas.
24. misericórdia nunca foi o seu forte.
25. a vida acontecendo através desses sentimentos.
26. as estrelas que testemunham nossa queda.
27. isso é sobre quem eu sou.
28.1. a liberdade do meu verdadeiro eu.
28.2
29. isso muda tudo.
30. e quem a protege de mim?
31. "juntos e essa coisa toda".
32. capítulos em branco.
33. é sempre assim?
34. como viemos parar aqui?
35. o narrador que conta a história.
36. neste momento, ele é o mundo inteiro.
37. aquela filha daquela família.
38. me diga que não é tarde demais.
39. me perdoe, eu me apaixonei.
40. boa fé da mulher que me amou primeiro.
41.1. é como deveria ser.
41.2
43. genuína.
44. o sangue puro e o sangue ruim.
45. julgamento
46. com um coração cheio.
47. rainbow
48.1. as constantes.
48.2
extra: pressentimentos.
49. você vem para o café da manhã?
50. a traição.
51. negação.
52. não esquecer o quanto você o ama.
53. é o único jeito, querida.
54. honra e morte.
55. se apaixonar.
56. este é o meu dever.
57. memórias: nós as construímos e elas nos constroem.
58. sem mais sentir muito.
59. era você que sempre estava lá.
60. o caminho de volta para casa.
epílogo.
nota final.

42. o monstro debaixo das nossas camas.

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By hellenptrclliw

Tudo o que eu fiz para tentar desfazer isso
Toda a minha dor e todas as suas desculpas
Eu era criança, mas eu não era cego
(Alguém que te ama não faria isso)
Todo o meu passado, eu tentei apagá-lo
Mas agora vejo, será que eu conseguiria mudá-lo?
Podemos até compartilhar um rosto e um sobrenome, mas
(Nós não somos iguais, iguais)

Espalhado pela minha linhagem
Eu sou tão bom contando mentiras
Eu puxei isso da minha mãe
Que contou milhões delas para sobreviver
Espalhado pela minha linhagem
Deus, eu tenho os olhos do meu pai
Mas os da minha irmã quando eu choro
Eu posso correr, mas não posso me esconder
Da minha linhagem
Da minha linhagem

FAMILY LINE | Conan Gray


MINHA MÃE E EU SEMPRE fomos, de algum modo, mais próximos do que meu pai e eu. Não sei como explicar, mas sempre senti que ela faria qualquer coisa no planeta inteiro por mim, e ela tinha uma maneira de me fazer confiar nela como ninguém.  Às vezes, após um dia difícil fosse ele quando uma criança ou um adulto ─ adulto que ela conheceu por pouco tempo ─, sempre teve algo nela capaz de me tranquilizar. Dar-me uma nova direção, uma nova maneira de curar o que estava errado, e ela sempre foi tão boa com as palavras me conhecendo melhor do que ninguém. Meu pai era excelente também, sempre ao meu lado e sempre estando lá para mim a sua própria maneira. Ele era até amoroso demais, diferente de alguns pais que não demonstravam.

Mas a minha mãe... Eu sempre estive ansioso para provar que toda a fé que ela colocava em mim estava certa. Que eu seria um grande homem, muito inteligente e com uma boa vida, e que eu teria um lindo casamento. Que eu teria dificuldades em manter meus filhos longe dela. Ela sempre colocou muitas expectativas em mim, não se abalando nem mesmo quando eu não as alcançava. Ela me manteve determinado enquanto meu pai me fez forte. Ela me fez manter a cabeça erguida e meu pai me fez orgulhoso para isso.

Tivemos nossos problemas ao longo do tempo, e no entanto... Eles sempre tentaram dar o melhor que puderam.

Eles me deram uma chance, me deram algo que nunca mais nessa vida terei a oportunidade de retribuir.

Mas há algo antes disso, antes de eu ter a dádiva de conhecê-los, que estava manchando a história. Riscando por cima das palavras que formavam as memórias e contaminando tudo com egoísmo, inveja e maldade. Tirando de nós a única promessa que fizemos aos nossos pais que poderíamos realmente manter se lutássemos: permanecer juntos.

É errado, é tão errado e precisa terminar.

Foi por isso que quando entrei na casa e encontrei Malorie na sala, não tinha hesitação em meu corpo. Não tinha dúvida, não tinha sequer empatia, e eu odiava isso. Ninguém deveria me fazer sentir esse vazio de sentimentos porque simplesmente não havia mais nada para tentar oferecer a ela aqui. Eu arrisquei minha irmã para poder descobrir se havia a menor das chances de conseguir que ela se redimisse mas simplesmente não há.

Era triste, honestamente. Mas eu não podia mais fazer isso.

─ Cadê a minha irmã?

Malorie, que estava com as pernas dobradas sobre o sofá, as desceu e calçou suas sapatilhas enquanto me observava com grandes olhos castanhos cautelosos.

─ Com Calum no quarto ─ encolhendo um ombro, ela acrescentou: ─ Acho que dormiram esperando por você.

Assenti, ponderando as minhas opções. Eles esperariam por mim até que eu aparecesse, e fazer o que eu precisava fazer não poderia ser tão perto deles e nem tão demorado.

─ Vista-se ─ eu exigi. ─ Vamos dar uma volta.

Malorie entrou no carro me observando de canto agora, com movimentos calmos e curtos, encolhendo-se como uma senhora vulnerável. Em vinte e quatro anos nunca fui descrito como um cara violento e com certeza não perderia meu réu primário com ela, então suas atitudes estavam um pouco exageradas. Bater nela seria como bater na minha irmã ou em Gwen, e eu nem gosto de brigar com homens.

Ela não disse uma palavra enquanto eu dirigia, e eu imaginava se ela já teria despejado todo o veneno em Alyssa enquanto saí para poder assumir o papel de pobre coitada na minha frente, um que eu nunca realmente caí, mas quis mentir e dizer que sim. Eu precisava me lembrar, portanto, do que era real. Do que esperava por nós em casa, não aqui.

─ Eu pesquisei, sabe? ─ comecei, minha voz baixa e distante preenchendo o silêncio no carro. ─ Sobre como a cidade ia ficando depois que fui embora, principalmente por causa da Alyssa e do Calum. Sempre achei pequena demais para os planos que eu tinha.

─ Uma cidade pequena para uma pequena família feliz ─ ela comentou, soando blasé.

─ Mas ela cresceu com o tempo. Melhores escolas, melhores bolsas. Maior segurança, mais reconhecimento. Mais opções de vida sustentável para uma pessoa que planeja começar sua própria vida com sua própria independência.

Malorie olhou fixamente à frente, e eu quase podia visualizar as engrenagens trabalhando em sua cabeça.

─ Mas há esses conjuntos residenciais que me chamaram a atenção ─ eu parei em frente ao local, estacionando sem apagar o carro. ─ Você vê? Parece bacana, certo?

Ela observou atentamente a construção, mas sem realmente revelar em sua expressão o que achava da minha revelação. Ela era boa em mascarar suas emoções para que pudesse ter tempo o suficiente para escolher qual garantiria que ela se sairia melhor no final do dia. Malorie sempre fez isso: fazia com a minha mãe e fez com o meu pai, e até comigo ao longo dos anos mesmo antes da partida dos nossos pais.

Desviando meu olhar do prédio para ela, eu contemplei o perfil de seu rosto. Ela parecia mais velha do que a idade que realmente tinha, e seus olhos não tinham um brilho que era comum até mesmo na pessoa mais minimamente satisfeita com a vida, não havia nada de tranquilizante nela. Talvez eu quisesse que existisse. Talvez eu quisesse acreditar que poderia ter. Não havia um cenário em minha cabeça onde eu pudesse confiar nela.

Imaginar-me fazendo isso como eu fazia com meus amigos, com Gwen, com Alyssa? Dava uma sensação de pavor, porque eu sabia que nada estaria seguro com ela.

Eu sabia porque em minha insanidade acometida por razões fora do meu controle, praticamente confiei meus irmãos, e o resultado não foi bom.
Eu não sei por que meu pai “traiu” minha mãe com ela, mas no fundo, acho que entendo. Ela ainda conseguiu me prender a ela da maneira que pôde até então, portanto...

─ Oh, Ethan ─ ela soprou, erguendo as sobrancelhas. ─ Você chegou ao ponto de expulsar sua própria mãe de casa?

Havia algo sobre ouvir as palavras de Malorie e finalmente encarar a admissão ao lado dela, olhando em seu rosto tão familiar e desconhecido ao mesmo tempo. Essa era aquela mulher que vinha a nossa casa de vez em quando, que deixava minha mãe nervosa e triste ao mesmo tempo; que deixava meu pai de mau humor e bravo e que, às vezes, ocasionava algumas brigas entre eles. Essa era aquela mulher que nunca foi próxima e que era da família, mas se precisássemos comparecer ao enterro dela, sequer conseguiríamos provocar uma lágrima.

Essa era aquela mulher que sempre me procurava para perguntar se eu estava bem ou o que eu estava fazendo naquelas raras vezes que aparecia em nossa casa. Essa era aquela mulher que não lembrávamos mais do que cinco vezes no ano, e isso porque era a quantia de vezes que ela surgia em nossos dias.

Essa era aquela mulher com quem meu pai cometeu o erro que mais se arrependeu em toda a vida.

Essa era aquela mulher; a mulher que minha irmã mais odiava no mundo.

Essa era a mulher que disseminou uma praga nova entre nós a cada chance que teve, até mesmo antes de nascermos.

Esse ser humano incrível que Malorie Young era... corria nas minhas veias também.

Minha mãe.

Nunca vou entender porque, realmente, mereço esse castigo.

─ Malorie, ─ eu soprei, espalmando sua bochecha em uma falsa fé de afeto antes de despejar as palavras mais cruéis que essa admissão trouxe à tona: ─ minha mamãe está morta. Você não tem sido nada mais do que o monstro debaixo das nossas camas. Tão assustador quando estamos à sua mercê e tão patético quando vemos do que você realmente é feita.

Malorie se desvencilhou do meu toque e empurrou meus ombros, destravando o cinto e pulando para fora do carro. Eu a acompanhei com os olhos, assistindo quando ela parou em frente ao carro e levou as mãos à cabeça em um gesto de partir o coração. Se tivesse algo aqui que ela pudesse partir. Meus pais cometeram outro erro quando esconderam a verdade por toda a minha vida e decidiram que era uma boa hora como qualquer outra para contar quando a pessoa que acreditei ter me posto no mundo estava morta – só que ela não estava, quem estava era a mulher que me deu tudo o que precisei por anos.
Meu pai não teve tempo para me explicar como tudo aconteceu da forma que foi. Porque eu fui criado por eles desde que me lembrava. Porque ele dormiu com Malorie e foi tão estúpido a ponto de engravidá-la. Ele apenas me prendeu nesse castigo e me deixou aqui para viver com ele.

Não sou completamente irmão de Alyssa e Calum, e encarar esse fato doía mais do que qualquer coisa. Eu sou aquele outro, filho da mulher que ninguém conseguia gostar. Filho da mulher que só atormentou minha irmã e Calum, que era só uma criança.

Essa frieza, essa indiferença. Minha estabilidade emocional, beirando a inacessibilidade. Eu não adquiri isso completamente com os traumas da vida. Sempre esteve aqui.

Destravando meu cinto, saí do carro. Malorie olhou na minha direção por cima do ombro e deixou suas mãos caírem, mas tudo o que eu fiz fora me recostar no capô do carro e cruzar os braços, porque não havia nada que eu pudesse fazer para deixar mais claro que ela não tinha mais chances. Que encarar que ela era minha mãe era o fim da linha. Acabou entre nós dois. A única maneira de tirar o controle que ela tinha sobre mim ─ sobre os meus valores, minha generosidade e culpa em nome da nossa família ─ era mostrar a ela que a verdade não me assustava mais.

Engolindo o nó persistente em minha garganta, segurei o mais determinadamente possível a imagem de Alyssa e Calum em minha cabeça. De que isso era para que o que esteve errado comigo não chegasse até eles. Que eles não tivessem que pagar pelos erros dos nossos pais.

─ Vamos lá, Lori. Não faça uma cena no meio da rua ─ eu disse, mantendo meu tom calmo e baixo para que ela ouvisse. ─ Você já se envergonhou o suficiente hoje.

─ Vergonha? ─ ela ecoou, virando-se para mim. ─ Você quer falar sobre vergonha? O que pode ser mais vergonhoso do que mentir por todo esse tempo para quem você jura amar?

O vento frio assoviou entre nós, sacudindo as copas das árvores. Parecia uma cena de filme de terror ─ mesmo a insanidade nos olhos de Malorie Young.

─ Eu não acho que você tenha contado a eles sobre como o pai implorou para vê-los e você não deixou, não é? ─ ela se aproximou, um sorriso preguiçoso se espalhando pelo rosto. ─ Ou que você não é quem eles sempre pensaram que é. Se você realmente quer ser tão bom assim para eles, Ethan, porque você não começou contando a verdade?

Ela parou diante de mim, segurando meu olhar.

─ Você sabe o porquê, não sabe? ─ cantarolou, o sorriso ficando maior e a expressão nostálgica. ─ Você é que nem ele. Tentando segurar o mundo com suas mãos erráticas e egoístas.

─ Você não sabe de nada, ─ eu vociferei.

─ É aí que você se engana, Ethan ─ ela balançou a cabeça lentamente. ─ Sei muito bem. Sei, porque você goste ou não, ninguém pode conhecer você melhor do que a sua própria mãe.

Cerrei os punhos escondidos por braços cruzados em uma postura tanto defensiva quanto casual. Malorie iria apertar todos os botões possíveis agora que desenterramos essa parte das nossas vidas, e eu sequer podia garantir que não iria cair nas tentações dela. Ela tinha razão, no entanto. Ninguém nos conhecia melhor do que nossa própria mãe.

─ Minha mãe morreu ─ eu repeti, inabalado. ─ Essa é a parte que você não está entendendo muito bem, Malorie.

Eu sou a sua mãe.

─ Não, ─ eu soltei uma risada abafada de alívio ─ graças a Deus você não é a minha mãe. Eu me mataria se você fosse.

A violência veio antes que eu pudesse processar o movimento de sua mão colidindo contra minha bochecha, espalhando um formigamento incômodo pela região. Lentamente abri meus olhos e foquei a visão em seu rosto, o choque e o arrependimento e raiva cruzando tão loucamente por seus olhos, eu meio que desejei que ela pudesse compreender que era tarde demais para voltar atrás. Que ela não me quis e nossas histórias já haviam sido determinadas em canetas permanentes e em livros tão bem guardados que jamais seria possível encontrar um caminho que nos ligasse.

Há uma razão pela qual eu só conhecia Liliana desde que comecei a ter registros de memórias. Há razões pela qual meu pai odiava Malorie, sequer suportando-a em respeito à minha mãe, apesar de que ele provocou isso. Há várias razões para minha mãe ter perdoado meu pai, e há várias outras que me faziam sentir como se eu estivesse me afogando no oceano mais profundo do mundo quando encarava fixamente os olhos de Malorie Young.

─ Meu pai não teve tempo de contar a história completa ─ eu comecei, controlando a minha voz. ─ Ele só derramou a verdade e... parte de mim acredita que ele não aceitava a vida sem Liliana tão cedo. E você e eu nunca sentamos para conversar porque você, Malorie, estava sempre tão ocupada em manipular a minha cabeça e tomar o controle. Para compensar o que você nunca teve, o que não te pertencia.

Malorie engoliu em seco, os olhos se enchendo de lágrimas. Eu não acreditava nela.

─ Essa obsessão... alguma coisa está errada com você, Malorie ─ eu assenti, afirmando minhas palavras. ─ Eu não sei a história completa, mas sou inteligente o suficiente para supor que você me deixou. Que foi a sua decisão. E mesmo que eu só tenha lembranças de Liliana desde que me conheço por gente, sempre teve alguma coisa... em branco, dentro de mim. Alguma coisa com os meus sentimentos, com a maneira que eu via certas situações.

─ Ela me roubou você ─ Malorie suspirou.

─ Ela me salvou ─ eu corrigi, franzindo a testa. ─ Não sei que porra foi que você fez ou pensou que poderia fazer, mas não foi pelo meu bem. Eu acho que qualquer um que saiba dessa história presumiria que eu fui um meio para um fim, Malorie, e saber disso me deixa doente.

─ Foi um erro ─ ela disse, desviando o olhar. ─ Você foi um erro. Seu pai pensava assim tanto quanto eu. Nenhum de nós queria um filho, Ethan, mas eu pensei que ele teria a decência de aparecer e arcar com a consequência.

─ Pode não ter sido da maneira ideal, mas ele ainda me criou ─ inclinei a cabeça, pensativo. ─ Onde você esteve?

─ Eu fugi.

As palavras me escaparam por um momento, porque eu não estava esperando retornar ao passado e preencher as lacunas que meus pais deixaram, e nem esperava que Malorie fosse querer participar disso. Depois da pequena explosão de raiva em meu rosto, presumi que ela fosse voltar ao papel de vítima ─ manipuladora ─, mas no fim, acho que vamos realmente fazer isso.

Malorie era minha mãe biológica. Eu estava nesse mundo porque ela me trouxe a ele, mas não havia mais nada de “agradável” que eu pudesse associar a ela, entendendo agora o porquê de parte de mim sentir conforto quando ela tinha uma atitude louvável ao meu redor. Não era verdadeiro, mas ela conhecia a ausência misteriosa no meu interior.
E se aproveitava disso.

─ Eu fugi e vou me arrepender disso para o resto da minha vida ─ admitiu ela com dificuldade. ─ Não há um dia em que eu não lamente ter deixado você para trás, Ethan. E ver ela assumir o que era meu ─ você ─ e te ouvir chamá-la de mãe até o último segundo foi uma coisa que nunca consegui engolir. Seu pai não era mais a questão quando eu ouvia você a chamando de “mamãe” pela casa, filho.

Eu me afastei, enjoado, e olhei na direção do céu tentando manter a respiração calma e contínua como Gwen me ajudou mais cedo. Malorie me deixou, eu sabia, mas ouvi-la admitir era um tipo novo de desgosto. Fazia com que os últimos quatro anos parecessem ainda mais inadequados porque ela não me quis mais de vinte anos atrás e eu estive aqui agora, tentando dar a ela uma chance contra todos os meus instintos. Fazia com que eu me sentisse ainda mais sujo por submeter Alyssa e Calum a tudo isso quando... Ela nunca mudou.

─ Eu pensei que poderia me redimir quando a tragédia aconteceu, mas então você partiu, mesmo depois de descobrir a verdade. E você se tornou tão apaixonado pelos seus irmãos quanto seu pai, e não importava o que eu fizesse, você ainda continuava vendo apenas eles ─ Malorie lamentava, se aproximando. ─ Ficou cada vez mais difícil, Ethan, e eu fiz coisas erradas...

─ Eu te dei a maior chance de todas, Malorie ─ virei para ela, apontando o dedo em sua direção. ─ Eu pedi a você para cuidar deles, e até nisso você falhou.

─ Porque não é com eles que eu me importo! ─ ela exclamou, arregalando os olhos incrédulos. ─ Era isso que você queria ouvir? Que eu não me importo com eles como me importo com você? Eles não são minha responsabilidade para cuidar, Ethan, e nunca foram.

Eu apenas pude olhar para ela, completamente esgotado. Malorie Young realmente não tinha salvação, e eu poderia argumentar com ela para sempre sobre como não havia perdão que justificasse o abandono e a perseguição que ela fez com nossa família por conta dos próprios erros e instabilidades mentais. E, no entanto, a verdade era que eu não conseguiria esquecer o que ela fez com Alyssa. Como ela fez tudo para piorar o que já estava ruim o suficiente e como Calum foi submetido a isso, com oito anos reconhecendo como a mera presença de Malorie fazia mal a todos.

Ela nunca seria uma boa pessoa. Eu perdi uma mãe e ganhei outra, mas preferiria ter continuado pelo resto da vida apenas com a memória de Liliana. O fato de que Malorie me deu a vida sempre seria algo que permaneceria no fundo da minha mente, em um canto escuro e triste, em um mundo próprio onde tudo poderia ser diferente. Onde ela seria boa e poderíamos ser uma família. Onde Alyssa se sentiria segura e onde Calum cresceria com uma figura materna que não fosse sua própria irmã.

Havia um oco dentro do meu peito agora. Todas as memórias de uma vida estavam se corrompendo, e a única maneira de mantê-las seguras seria nunca mais colocando meus pés nesse lugar. Eu soube disso quatro anos atrás e me culpei, mas isso não aconteceria novamente.

─ Não importa, Malorie ─ eu enfim disse, minha voz cansada. ─ Não estou mais fazendo essa merda. Vou pegar meus irmãos e dar o fora desse inferno de lugar, e em Janeiro nós estaremos nos mudando. Eu não me importo com onde você vai parar, mas você vai sair daquela casa. Você vai sair das nossas vidas, Malorie, ou eu juro por Deus que ponho uma medida protetiva para colocar um mundo de distância entre você e eu.

─ Ethan, por favor...

Eu me aproximei, enojado com as palavras porque de repente me peguei pensando em quantas vezes minha irmã deve ter chorado e pedido para ela ser diferente. Nela fugindo e me deixando para trás e culpando pessoas que me salvaram por seus próprios erros egoístas.

─ Marque as minhas palavras, Malorie ─ eu murmurei cruamente. ─ Você é um ser humano terrível. Acho que eu demorei tanto tempo para aceitar porque me dá vontade de vomitar quando eu penso que vim de você. Nos faça um favor de uma vez por todas e desapareça das nossas vidas.

Eu girei nos calcanhares para ir, sem saber ao certo se deveria deixá-la no meio da rua a essa hora e nesse escuro, mas não era como se eu quisesse uma viagem com ela. Não era como se eu quisesse qualquer coisa com ela.
Antes que eu pudesse tomar uma decisão, o corpo de Malorie bateu contra o meu e suas mãos me seguraram, me abraçando desesperadamente. Meus músculos enrijeceram e meus pulmões se apertaram como se esse abraço fosse de um animal letal, e não da minha mãe biológica.

Sua bochecha contra o meu peito, seu choro molhando meu moletom.

Eu não era um cara sensível, de fato, mas a ausência de qualquer empatia por ela nesse momento quase me assustou.

─ Por favor, não faça isso comigo ─ ela chorou.

Com uma careta, eu tentei me afastar.

─ Eu não fiz nada ─ respondi, empurrando seus ombros. ─ Você que fez.

─ Eu te amo, Ethan ─ ela manteve os dedos firmemente enrolados nas mangas do meu moletom. ─ Eu posso ser diferente. Eu...

Eu segurei seus ombros e a mantive em seu lugar diante de mim quando baixei meu rosto para nivelar nossos olhares e falar tão baixo que se uma pessoa passasse bem ao nosso lado, não ouviria. Os olhos castanhos procuraram em meu rosto algo que não existia, e talvez ela tenha percebido, porque suas sobrancelhas caíram em uma expressão de realização e as lágrimas pararam abruptamente de rolar. 

Ela nunca foi burra e se me conhecia tão bem quanto jurava por ser minha “mãe”, devia ser ainda mais fácil para compreender, enfim, que eu não blefava.

─ Se eu souber que você esteve em qualquer lugar perto dos meus irmãos, se eu souber que você encontrou alguma nova e perversa maneira de perturbar a minha irmã... Isso não vai acabar bem, Malorie.

─ Você vai para o inferno por tratar uma mãe assim, Ethan.

Gentilmente a empurrei para longe de mim, mal suportando a visão de seu rosto agora. Alcançando a maçaneta da porta, eu parei por um segundo antes de entrar no carro.

─ Espero que existam setores diferentes para cada pecado, então ─ Malorie estreitou as pálpebras. ─ Porque eu prefiro queimar no inferno a ter que conviver com uma mulher como você novamente.

Antes
Ethan, 20 anos


─ Nós mentimos.

Na cama de hospital logo ao descobrir que minha mãe ─ sua esposa ─ estava morta, meu pai começou a chorar e balbuciar palavras sem sentido. Eu queria andar até ele e dizer para que parasse, que o que quer que ele quisesse dizer poderia esperar até amanhã e que ele deveria descansar, porque eu não suportaria perder outra pessoa hoje. E porque eu queria me mover e trazer Alyssa e Calum para cá como ele estava me implorando, mas eu simplesmente...

─ Nós mentimos, nós mentimos, nós mentimos ─ ele sacudiu a cabeça, erguendo o olhar turvo em minha direção. ─ Malorie.

Ele queria que eu chamasse a minha tia?

─  Malorie é sua mãe biológica.

Eu paralisei, pior do que já estava. As palavras simplesmente não faziam sentido e pelo zunido incessante em meus ouvidos e o desaparecimento do meu raciocínio lógico, sabia que meu pai estava vendo. Mas não era o momento para brincadeiras, era? Por que meu pai estava dizendo isso logo após eu ter feito o reconhecimento do corpo da minha própria mãe enquanto ele nem consegue parar em pé ainda?

─  O que você disse?

─ Perdoe-nos – repetia ele.

─  O quê?

Meu pai espalmou a lateral da cabeça, seu rosto se contraindo em uma careta.

─  Não deveria ter sido assim. Nós iríamos contar, nós planejamos tudo – ele explicava, derramando uma palavra sobre a outra. ─  E você entenderia, você... saberia. Agora ela morreu e nunca saberá o que você teria feito; se você aceitaria...

Acho que eu posso desmaiar agora mesmo.

─  Você não pode estar... ─  eu parei, tentando buscar oxigênio ao me inclinar para frente, incerto sobre a estabilidade das minhas pernas. ─  Você simplesmente... não, não pode estar falando sério.

Uma risada quase histérica escapou pela minha garganta e ecoou pelo quarto, fazendo meu pai estremecer. Entretanto, meu pai apenas me encarou com olhos tristes e abalados e um ar de arrependimento se tornou repentinamente espesso demais no quarto. O que ele estava dizendo?

Minha mãe se chamava Liliana James Young, a primeira e a única que conheci e a melhor de todas. Não havia nenhum desvio nisso, nenhuma mentira para macular a vida que sempre acreditei.

Porém, a questão era exatamente essa.

Havia, sim.

─  Eu te amo ─  a força na voz dele me tira momentaneamente do torpor de choque ─ , e assim foi desde o dia em que vi você pela primeira vez. E... – ele estremeceu novamente, com dor. ─  E ela, se possível, talvez fosse capaz de te amar mais do que todos nós juntos. Sinto muito, filho. Sinto muito que você não pode ouvir isso da boca dela. Mas há uma explicação para tudo, eu juro. Há uma...

Meu pai morreu vinte minutos depois de dizer a última palavra que ouvi em sua voz, em sua vida. Meu pai morreu antes de desistirem da reanimação, e meu pai morreu sem poder ver seus dois outros filhos, embora ele tenha me implorado para tentar trazê-los e eu não fiz o suficiente para me mover do lugar e dar a única coisa pela qual o homem implorou antes de morrer.

Eu tirei dele e dos meus irmãos o último momento da vida do nosso próprio pai e ele me tirou a verdade da minha vida inteira.

Nada disso era minha culpa.

Mas eu viveria com ela mesmo assim, até que ela me consumisse.

.

eu acompanhei ao longo do tempo comentários sobre essa teoria, e no final sempre "desistiam" de acreditar nela. o ethan teve seus altos e baixos, principalmente em amnésia I, mas a verdade é que acho que ninguém desejava um castigo desses pra ele.

no começo, quando comecei a escrever os livros, sempre soube quem a malorie seria e o que ela representaria pra alyssa, mas o enredo de ethan foi tomando forma sozinho e quando eu me dei conta, tava feito. O grande problema que torna o Ethan um personagem tão complexo e que algumas vezes nem conseguimos defender, é o reflexo do maior trauma dele e que veio tudo junto de uma vez só:

perder os pais, reconhecer o corpo da mãe e ver o pai morrer enquanto se culpa por não ter levado os irmãos até ele quando foi pedido.
descobrir que a mãe que ele amou a vida inteira não era, inteiramente, a mãe dele.

E O PIOR: que era ninguém menos que Malorie Young.

E mesmo que a Allie possa ser tão fria quanto o Ethan e tão bloqueada emocionalmente, ela literalmente aprendeu a ser assim pra se proteger. Porque isso foi sendo destruído nela cada vez que ela tentava.

O Ethan sempre teve uma inclinação a ser assim. Até me dói admitir, mas ele tem traços da Malorie. Esse é o problema,  o que ele confessou pra Gwen no episódio retrasado. Acabar que nem >ela<.

Foi difícil apresentar um Ethan de caráter quase duvidoso no primeiro livro. Foi difícil introduzir ele em OWH sem fazer ele parecer um babaca com justificativas fracas. É difícil agora desmembrar a raiz dos problemas dele e começar a traçar o caminho da "liberdade", especialmente porque vocês sabem o que vem a seguir no final do ano para eles.

Pensei muitas vezes em desistir de escrever esse livro, mas ele merece um final, embora nem metade das pessoas que acompanharam amnésia acompanhem OWH.
Gwen e Ethan têm um lugar especial no meu coração, competindo firmemente com Alyssa e St. John.

Como eles aprenderam a se amar e a confiar juntos, dando o melhor de si. Entre os erros e acertos, sempre procurando a melhor maneira de estar lá um para o outro em suas próprias maneiras desastrosas. Como o Ethan aprendeu com ela e como ela reaprendeu com ele.

A real é que a Gwen mostrou pro Ethan que ele não é como a Malorie.
Que ele tem uma chance de fazer a própria história, e fazer direito.

Ele só vai precisar ir até o fim agora. E a gente bem sabe que o caminho não promete nenhuma facilidade.

Obrigada a quem leu até aqui, e até o próximo! 💜

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