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By hellenptrclliw

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➛ A segunda queda: livro 02 da série "The Four Falls". Apaixonar-se não era sequer a última das coisas que Et... More

OWH. #2 Série TFF
sinopse
dedicatória
epígrafe
prólogo
01. quem está julgando?
02. caos com íris cor de avelã.
03. dever e honra.
04. até onde você é capaz...?
05. ethan.jyoung.
06. se você diz.
07. calum young é um menino sábio.
08. quem é gwen evans?
09.1. eu não sei como você consegue.
09.2
09.3
10. movidos pelo instinto de sobrevivência.
11. precisamos parar de nos encontrar assim.
12. por que se explicar tanto para si mesmo?
13. temos tudo sob controle.
14. a verdade que há e suas promessas.
15. um dia, talvez?
16. até o sol nascer.
17. nada é como se apaixonar pela primeira vez.
18. a reputação que me precede.
19. quando o amor cai em mãos erradas.
20. no meu sangue.
21.1. a garota que me encara de volta.
21.2
22.1. os parágrafos escondidos e descobertos.
22.2
23. a sentença das nossas vidas.
24. misericórdia nunca foi o seu forte.
25. a vida acontecendo através desses sentimentos.
26. as estrelas que testemunham nossa queda.
27. isso é sobre quem eu sou.
28.1. a liberdade do meu verdadeiro eu.
28.2
29. isso muda tudo.
30. e quem a protege de mim?
31. "juntos e essa coisa toda".
32. capítulos em branco.
33. é sempre assim?
34. como viemos parar aqui?
35. o narrador que conta a história.
36. neste momento, ele é o mundo inteiro.
37. aquela filha daquela família.
38. me diga que não é tarde demais.
39. me perdoe, eu me apaixonei.
40. boa fé da mulher que me amou primeiro.
41.1. é como deveria ser.
42. o monstro debaixo das nossas camas.
43. genuína.
44. o sangue puro e o sangue ruim.
45. julgamento
46. com um coração cheio.
47. rainbow
48.1. as constantes.
48.2
extra: pressentimentos.
49. você vem para o café da manhã?
50. a traição.
51. negação.
52. não esquecer o quanto você o ama.
53. é o único jeito, querida.
54. honra e morte.
55. se apaixonar.
56. este é o meu dever.
57. memórias: nós as construímos e elas nos constroem.
58. sem mais sentir muito.
59. era você que sempre estava lá.
60. o caminho de volta para casa.
epílogo.
nota final.

41.2

246 33 30
By hellenptrclliw

As paredes da liberdade
Venha desmoronar
No momento em que você coloca essas correntes
Em torno de você agora

Como veneno liquido
Leva seu pedágio
Setas de penas pretas
Isso perfura sua alma

Esta fúria está queimando
Dentro do seu peito
Ele rouba o ar da sua respiração

O ódio dentro
Vai comê-lo vivo
O ódio dentro
Vai comê-lo vivo

THE HATE INSIDE | Tommee Profitt (feat. Sam Tinnesz)


HÁ ALGO FRIO SE ESPALHANDO em meu corpo.

Uma parte sobre minha vivência que eu não gosto, mas que foi adquirida com a experiência. Não simplesmente hoje; essa coisa cresce no meu interior por anos e não tem nada que eu possa fazer para parar, apenas aceitar de que a primeira rachadura por onde essa frieza entrou se dividiu em outra e mais uma e algumas outras e deixou um rastro aqui. Nas rachaduras, até quebrar. Eu nunca vou conseguir consertar isso, mas estou tentando me adaptar a ele e controla-lo da melhor forma possível porque estou tentando ser alguém. Alguém amado. Alguém honrado.

Queria poder ser quem eu estava me encaminhando para ser, quem fui ensinado das melhores maneiras a ser.

Infelizmente, contratempos inesperados me forçaram em outra direção.

E então, coisas como essa acontecem e eu me pergunto... por quê?

Seria tão mais fácil ceder e permitir que o frio se espalhasse até congelar tudo.

― Alguém precisa me explicar o que está acontecendo ― eu vociferei, alternando meu olhar entre as duas mulheres. ― Onde está tudo, Lori?

O olhar de arrependimento não me comoveu. Me satisfez, tragicamente, que Alyssa não aparentava estar nem tentando mostrar alguma emoção.

― Eu vendi por um bom preço... um amigo as carregou e eu... hm, não sei o que ele fez a seguir.

Não, eu não queria manter tudo para sempre isolado em um cômodo da minha casa. Mas eu sabia que enquanto eu tentava voltar à vida, aquelas coisas estavam aqui, empoeiradas e cobertas de teias de aranha esperando que eu retornasse para encará-las e, enfim, dar um fim na história que meus pais não tiveram tempo para dar. Se ser covarde aos olhos de outros era um preço a pagar pela compreensão da minha dor, então que fosse.

Essas paredes brancas, no entanto, me encaravam com desdém.

Tempo demais, amigo. Tempo demais.

Esse é o seu problema, Ethan. Você não sabe quando deixar ir, as palavras de Malorie ecoam em minha cabeça, perfeitas e reais.

― Isso não diz respeito a você ― eu cortei, odiando como não pude conter a raiva em minha voz ―, apenas Allie e eu. Então por que diabos você pensou ter direito sobre essa escolha?

Estava tudo em nosso nome e eu dei permissão a Alyssa para que ela pudesse manter as coisas em ordem diariamente se precisasse. E porque era mais dela do que meu; fiz isso por ela e acabou se tornando um ponto necessário de se cruzar em meu caminho. Eventualmente. Eu olhei para minha irmã, parada na entrada da garagem com um vazio nos olhos que refletia perfeitamente o espaço e... ela não parecia nem surpresa. Quer dizer, não era para eu estar tentando mantê-la longe da garganta de Malorie agora?

― Alyssa me deu a permissão ― as palavras de Malorie selaram meus pensamentos em uma espiral de choque.

Minha irmã retornou meu olhar e balançou a cabeça. É um gesto pequeno e firme, confirmando a uma verdade que eu não queria dentre todas as mentiras que saíam dos lábios de Malorie. Não sei por quanto tempo fiquei estático em meu lugar encarando minha irmã, mas ninguém disse nada. Ou disse? Eu não acho que saberia, pela pressão sanguínea em meus ouvidos, correndo por minhas veias em uma quantidade maior do que deveria.

Eu sei que nunca disse a ela o que aquilo significava para mim, como eu precisava colocar um ponto final ― quando sentisse que era a hora ―, mas... eu pensei que ela soubesse. Essa era a coisa sobre nós, não era? A maior parte das palavras não era dita, mesmo as importantes, mas sabíamos a verdade que nunca mudava, independente do quanto fomos forçados a mudar.

Quer dizer... é a Alyssa. É a minha rainbow. E esse gosto ruim e amargo de traição que sobe pela minha garganta não combinava com ela.

― Lori, você pode nos dar um segundo? ― minha irmã pediu e, surpreendentemente, nossa tia fez o que foi pedido.

Alyssa ainda me observou por alguns segundos antes que um sorriso preguiçoso curvasse sua boca, e o pequeno riso abafado dela fez o gosto ruim virar uma ânsia.

― Eu tentei proteger você. Foi o que sempre tentei fazer. Mas quanta ingenuidade, né? ― ela murmura, sacudindo a cabeça. ― Pensar que eu poderia te proteger do mundo inteiro. Acho que eu só estava com muito medo de dizer adeus mais uma vez.

Eu a ouvia, mas não tinha certeza se conseguia compreender as palavras.

― Onde estão as coisas? ― repeti a pergunta de um milhão de dólares, torcendo para que a resposta não fosse o que estava imaginando.

― É estranho ― continuou ela, na deriva de seu próprio tópico agora ― que eu sempre tenha temido esse momento e agora eu simplesmente não consigo em importar.

Franzindo a testa e recuando, perguntei: ― O que você quer dizer com "temido esse momento"? O que você fez?

Alyssa gesticulou, blasé, com os dedos indicando o espaço ao nosso redor.

― Esse momento onde o passado voltaria com toda a força. Eu tentei segurá-lo, eu estava tentando superá-lo, sabe?

Minha garganta se apertou, e eu odiei isso. Odiava tudo isso.

― Você deu permissão a ela? ― o ceticismo em minha voz respingou em nossa pele como sangue. ― Por que você faria isso, Alyssa? Nós prometemos que nunca deixaríamos nada daquilo ir, não importa o quê.

Acho que "nunca" era uma palavra muito forte para duas crianças como nós éramos.

Alyssa encontrou meu olhar, tão firme e composta que apenas ressaltava como eu, comumente tão emocionalmente distante e controlado, perdi tudo o que me mantinha estruturado.

― Eu estava bêbada e provavelmente um pouco chapada. E ela se aproveitou disso, eu diria. Então quando ela pediu, assegurando de que era apenas uma precaução, eu assinei.

Quando as palavras me faltaram, um sorriso triste veio junto com uma careta no rosto dela.

― Não era o que você esperava, né?

― Não, ― eu respondi, a palavra soando apática e sem som.

― Você esperava poder culpar nossa tia? Poder justificar minha ação? Poder ver o lado bom? ― ela encolheu os ombros, jogando as mãos para cima. ― Mas não há. Eu fiz uma promessa com você diante da memória dos nossos pais e eu a quebrei porque estava bêbada e chapada e agora, tudo se foi.

Não há nada em minha cabeça agora. Sou metade de um humano funcionando, e meus batimentos cardíacos acelerados e doloridos estão me mantendo desperto, estão lutando contra a... contra aquela frieza que não queremos aqui. Nós a detestamos. Nós detestamos que ela está me fazendo olhar para Alyssa James Young como se ela tivesse me traído, e nós sabemos que o caminho não é bem por aí. Mas sempre dói mais quando vem de quem amamos, certo?

― Como você pôde... ― a indignação em minha voz aplacou parte da ânsia subindo por minha garganta. ― Como você pôde...

Eu levei as mãos aos cabelos e apertei meus olhos, tentando recobrar os sentidos. Tentando ser o irmão que queria ser, querendo agarrá-la e levá-la para dentro e fazer Malorie assumir o que era culpa dela, que ela se aproveitou da minha irmã, que ela estava acabando com a gente e estava conseguindo...

― Sinto muito, ― Alyssa murmura secamente.

― Não ― eu cortei, abrindo os olhos e apontando o dedo para ela. ― Você não sente. Qual a razão por trás disso? Me convencer a vir, convencer a vir até aqui... ― minha voz quebra. ― Pra isso? Você sequer pretendia me contar antes de me fazer entrar aqui?

Não posso fazer mais isso. Eu sabia que colocar meus pés aqui novamente só faria mal, e fiz mesmo assim. Eu sou aquele bobo repetindo os mesmos erros esperando resultados diferentes de uma coisa que jamais irá mudar. Esse lugar está amaldiçoado desde que os corações que o tornavam suportável pararam de bater, e eu não entendia porque me sentia deslocado daqui.

Só entendi no mesmo momento em que estes corações ficaram em silêncio.

― Qual é o seu problema! ― eu acho que gritei sob minha respiração curiosamente acelerada. ― Mas que porra é essa!

Alyssa finalmente pareceu uma adversária justa, porque sua voz se elevou para se alinhar com a minha.

― Não é minha culpa que você nunca mais tenha vindo aqui, Ethan. Não é minha culpa que você esteja se sentindo tão violentado assim, então não aja como se eu fosse repugnante, porque você teve cinco anos para vir até aqui! ― seus olhos faíscam, indo de um lado para o outro em meu rosto. ― Agora é muito fácil olhar para mim, desse jeito, não é?

Não é. Por isso dói mais.

Vir até aqui foi um erro, mas Alyssa teria me contado eventualmente ou só daqui a um longo tempo, quando não houvesse nem rastros? Ela cometeu um erro que não era completamente dela, mas agora assume como se eu devesse apenas engolir porque eu sou o cara que foi embora. Eu sou o cara que não quis voltar. Eu estive errado. Deveria ter engolido meu orgulho e contado tudo isso e mais a ela.

Só posso olhar para ela e me perguntar tão veemente onde foi que tudo deu errado. Foi no momento em que saí da cidade? Foi quando não contei a verdade sobre a morte dos nossos pais? Que meu pai implorou para vê-la e eu não fiz nada para ajudá-lo? Que ele acabou com a minha percepção de vida e simplesmente morreu?

Quero dizer, realmente. Éramos melhores amigos. Sempre sentimos que poderíamos dizer e fazer qualquer coisa, porque tínhamos um ao outro.

Eu nem nos reconheço mais.

Alyssa empurrou meu ombro bruscamente, as bochechas coradas de raiva. Eu não me movi apenas me balancei, e sua raiva chamou a minha.

― Pare de olhar para mim assim!

― Você fodeu com tudo, Alyssa ― declarei, gesticulando com a mão no espaço. ― Por que você estava bêbada e chapada, caralho? É por isso que as nossas coisas não estão aqui agora?

― Não, ― ela respondeu, a voz me tocando como veludo. ― Elas não estão aqui porque Lori não se importa com nada disso. Mesmo conosco. Mas, sim, eu dei permissão a ela, é verdade. É verdade, também, que eu cometi um erro...

― Um erro? ― eu interrompi, divertido. ― Você cometeu um erro?

Ela assentiu, escolhendo não retrucar contra o humor sombrio em minha voz. Mas ela está certa sobre Lori e eu deveria dizer isso, mas tudo o que consigo permanecer consciente é esse cômodo vazio. Para onde foi todo o esforço que eu fiz? Para onde foi a promessa? Agora, mais do que nunca, nós não pertencemos aqui. A própria terra rejeitava nossa presença porque porra, minha irmã e eu em duas décadas nunca nos olhamos assim.

― Não posso acreditar nisso ― eu murmurei. ― Era só o que tínhamos. Eu passei o dia seguinte ao velório dos nossos pais... ― eu respirei, engolindo um repentino soluço. ― Guardando tudo. Para você, porque você me pediu para guardar tudo. Você se lembra, Alyssa? Eu fiz tudo por você.

― Sim, eu me lembro.

Então por que você não está puta da vida?

Por que você não pulou na garganta de Malorie para que eu não sentisse como se eu fosse louco?

― E mesmo assim você não se sente culpada? ― a calma em meu tom nos surpreende. ― Merda. O que foi que aconteceu com a minha irmã?

― Tenho me sentido culpada por muito tempo ― ela confessou, cruzando os braços. ― A culpa tem estado nos meus ombros há muito tempo.

― Pelo quê?

― Às vezes eu me sentia tão culpada que me sentia culpada por existir. É doloroso.

Suas palavras trouxeram um aperto ainda mais desconfortável ao meu peito, mas não pude evitar o sorriso sarcástico que se espalhou em meu rosto. Não pude, porque estive tentando conseguir uma pequena confissão como essa há meses e nesse momento, nesse exato momento aqui, é quando ela quer fazer. É egoísta e ao mesmo tempo gratificante, e toda essa mistura de sentimentos é simplesmente insana.

― Ah, agora nós estamos tendo essa conversa, Allie? ― eu me aproximei dela. ― Por que parece que tudo tem que ser como você quer? Já que... ― Uma risada frágil me escapa. ― Está tudo fodido agora, mas você quer falar sobre você? Sobre nós?

― Você precisa entender...

― Entender que você simplesmente consumiu com as únicas coisas que restavam dos nossos pais?

Alyssa sorriu, demonstrando o quão absurda toda essa situação era. Sorriu porque nós sabíamos que a culpa não era dela, mas também não mudava o fato de que aconteceu em um momento de irresponsabilidade que, honestamente, sabia que não podia julgar.

― E você nem tem uma desculpa para isso. Você só fez porque...

Parei, me segurando no que restava de autocontrole antes de dizer qualquer coisa que me arrependesse mais tarde e que não pudesse desfazer. Minha irmã era uma criança. Eu quem não deveria ter colocado isso nas mãos dela; eu a coloquei nessa situação injusta. E Malorie talvez soubesse na época e estivesse com a cabeça mais clara do que a minha quando tomei a decisão de partilhar esses bens com minha irmã, mas nunca disse nada. Obviamente, eu subestimei a capacidade dela de planejar foder com a gente em longo prazo.

― Por que...? ― Alyssa empurrou meu ombro novamente, e embora ela não pudesse me machucar, não acho que qualquer outra briga tenha doído como essa pequena demonstração de violência dela. ― Vá em frente, Ethan. Por que eu o que? Por que eu sou egoísta? Por que eu só me importo comigo? Com as coisas tendo que ser como eu quero?

Deus.

Que porra era essa.

Desviando meu olhar para um ponto acima de sua cabeça, encarei o nada inexpressivamente. E com o silêncio, me tornei consciente daquele aperto tão doloroso em meu peito e conforme os segundos se somavam, tive que me esforçar para continuar respirando normalmente. Minha irmã me observava esperando que eu a insultasse, que eu confirmasse suas palavras e suposições tão terríveis sobre si, mas eu não poderia fazer isso. Ainda acho que o momento para ela decidir me confessar seus temores foi difícil de engolir, porque simplesmente desconsiderava a explicação que eu estava pedindo. Sobre o porquê. Por que ela não estava furiosa. Por que ela não podia sentir como doía em mim.

Eu odiava me sentir traído por ela.

Eu... Eu acho que... Eu só estou... Eu só estou muito cansado dessa vida.

Aquela frieza sussurrou atrás do meu ouvido como se me pedisse para tornar isso melhor, e eu ainda odeio ela. Mas agora, eu só precisava parar por um momento.

Caminhando para longe de Alyssa, eu a deixei sozinha naquela garagem.

. . .

Quando comecei a faculdade aqui na cidade e acabei me tornando amigo dos amigos de Leon St. John, nunca confessei a eles que a amizade realmente me salvou. Deu-me algum tipo de constância; uma segurança saber que haveria alguém lá no dia seguinte se eu precisasse. Haveria algo familiar enquanto eu entrava em um curso que nem sabia se poderia concluir, com contas que não tinha certeza se poderia pagar. Com a minha falta de sono e os pesadelos frequentes sobre ainda estar na rua, tê-los era como ter um ponto seguro no meio do caos que minha vida era naquele tempo.

Eu sei que a pré-disposição a serem meus amigos não foi vontade própria deles e sim pressão de St. John, mas funcionou. E me salvou nos momentos em que eu estive tão entorpecido com a vida.

Houve esse dia em especial onde Caden Burns me convenceu a espiar uma aula de Psicologia para que ele pudesse se aproximar de uma garota tímida que não caía muito na onda dele. Antecipando a história para não gerar uma comoção, ele realmente conseguiu a atenção dela e roubou sua virtude, mas dispensou-a de uma maneira gentil e convincente que até o dia de hoje, não sei como ele consegue. A garota é amiga dele atualmente. De qualquer forma, eu sentei lá para dar apoio a ela caso fosse necessário, e a aula era interessante.

O professor falava sobre ansiedade; descrevendo até mesmo situações como a que minha irmã já passou. Ele explicou sobre as crises, sobre as progressões e sobre como algo comum como uma dor no estômago ou uma dor de cabeça poderiam, se analisadas adequadamente, ser condições anexadas a esse problema. Quando Caden passou o braço nos ombros da garota e eu sorri, o professor começou a falar sobre os ataques de pânico e estresse pós-traumático. Enquanto claramente o segundo pode ser associado a eventos traumáticos que geravam condições tristes e preocupantes ― como militares da guerra, o exemplo mais conhecido e compreensível ―, os ataques de pânico poderiam ter vertentes diversas e até mesmo comuns.

Como genética, tipo de rotina e vida onde você está inserido e a quantidade de estresse a qual você está exposto. Seu cérebro não era confiável nesses momentos de "terror intenso", onde tudo parece mortal. Ele vinha psicológica e fisicamente e para muitas pessoas, criava a sensação de morte. Foi o que ele disse, explicando primeiramente os termos científicos e filosóficos estabelecidos e mais adquirindo uma linguagem mais informal, como bons professores faziam para ter uma conversa mais pessoal e clara com os alunos.

Ele disse que tal como poderiam ocorrer em uma progressão de um quadro de ansiedade já conhecido e temido, eles também ocorriam repentinamente. Ou se estendiam por um tempo com sintomas individuais que poderiam ou não estar preparando seu corpo para um perigo iminente.

Essa memória me ocorreu mais cedo no quintal com Calum, mas eu a deixei passar porque, como acontecia algumas vezes, eu estava tornando uma situação mais dramática do que era. Como eu não me sentia bem em meu próprio corpo, engolindo o vômito e sentindo aquela familiar dor no peito. Quer dizer, ela estava aqui a mais tempo do que conseguia medir, e eu estive bem nesse tempo, então...

Eu acho que fazia um par de horas desde que deixei Alyssa para trás naquela garagem. Dirigi por aí tentando colocar a cabeça no lugar e ordenar meus pensamentos para tentar ― sem sucesso ― descobrir o que fazer a seguir. Como agir. Não cheguei a nenhuma conclusão porque não conseguia realmente me concentrar e depois de parar para abastecer e contemplar minha carteira ficando vazia, achei que uma visita ao cemitério não poderia fazer mal e quem sabe, me ajudasse a raciocinar. Como quando eu saia na madrugada para conversar com o céu, algo que não fazia há um tempo.

Foi quando a sinalização de trânsito começou a ficar confusa, e eu esqueci o caminho. Segui a rua sem saber ao certo onde estava indo, e minha pele começou a ficar úmida de suor – mesmo com o vidro aberto. Eu virei o rosto para respirar o ar fresco, mas era como tentar respirar com a cabeça envolta em um saco plástico, por alguma razão. Um formigamento se espalhando por meus ombros e nuca e eu só pude tentar respirar mais profundamente e murmurar agora não agora não agora não agora não.

Eu dei a volta e me agarrei a localização da nossa antiga casa, planejando pegar Calum e Alyssa e dar a porra do fora daqui para, com sorte, nunca mais voltar. E foi assim que consegui respirar um pouco melhor e o formigamento pareceu diminuir conforme eu fazia esse caminho com um propósito que me dava alívio. Voltar para casa. Voltar para onde pertencemos. Voltar para Gwen.

Quando dobrei na quadro do meu destino, a onda de náusea inesperada me fez diminuir e parar no acostamento. Eu mal abri a porta a tempo de ter uma ânsia que fez vertigens escurecerem minha visão e palpitações subirem pelas minhas terminações nervosas. Não vomitei, mas a sensação de ter algo obstruindo minha garganta me fez levar a mão ao pescoço e massagear, sentindo aquela fina camada de suor frio na palma da minha mão. Era como se meu corpo não estivesse concordando com suas próprias reações, e era realmente uma má ideia ficar estacionado na rua vazia a essa hora. Pagar um carro era tudo o que eu não precisava...

― Porra, não.

Dessa vez, massagear não fez nada para me ajudar a suportar a dor de ter alguém abrindo meu peito.

O professor estava certo.

É como morrer.

Eu tentei olhar a frente e discernir a rua, torcendo para que um andante noturno pudesse passar e me ajudar e me tirar daqui porque tudo parecia tão distorcido e as luzes eram forte demais e não havia ar o suficiente para respirar aqui e esse carro parecia tão frio e essa dor no meu peito estava forte o suficiente para me fazer chorar e eu não consigo respirar não consigo respirar não consigo respirar não consigo respirar...

Com uma mão trêmula, tateei o bolso esquerdo da minha calça jeans até puxar meu celular e desbloquear a tela. Corri até os contatos e cliquei na única pessoa que eu sabia que poderia me ajudar de verdade. E pela primeira vez não podia ser meu melhor amigo, porque agora ele precisava estar lá para minha irmã.

Oi, senhor ― há um sorriso em sua voz que faz meu coração bater ainda mais forte. ― Alguns diriam que é deselegante ligar para alguém as... três da manhã. Você sabe, a hora do demônio.

É, a hora do demônio.

Eu literalmente precisei forçar a minha voz para sair através dos espinhos em minha garganta, através da sensação que havia um buraco negro em meu peito, engolindo minha força.

― Me ajuda ― em respiro, batendo minha nuca contra o encosto e segurando a beira da porta até minha mão doer. ― Por favor, G.

Houve um pequeno momento de silêncio e um farfalhar, até que sua voz retornou sem nenhum resquício de humor.

Você está machucado? ― eu odiei a preocupação em sua voz. ― Ethan, me responde. Você está ferido?

― Não, eu... ― inalei uma respiração áspera pela boca, apertando os olhos. ― Não... eu acho que... eu só não...

Ei. Ei, ― ela repetia, tentando me fazer parar de balbuciar palavras sem sentido. ― Ei, estou aqui. Shh, fica quieto e me escuta. Só a minha voz, ok?

Escorreguei a mão da porta e espalmei meu peito, fincando as digitais dos meus dedos para, sem sucesso, conseguir sentir algo além da dor insuportável nele.

Ei, hã, preciso que você respire comigo ― minha cabeça tombou para o lado, tentando ao máximo ouvir apenas a voz dela. ― Não, não assim. Uma vez pelo nariz, o mais fundo que você conseguir e mesmo se doer, e então você vai soltar pela boca. Vamos. Eu estou bem aqui, com você.

Ela continuou repetindo com a voz mais calma do mundo até que eu consegui reproduzir suas instruções. O caminho inteiro dos meus pulmões até meu nariz ardeu e meu corpo inteiro estremecia, uma umidade que eu não queria reconhecer enchendo meus olhos e borrando minha visão. A cada respiração que eu soltava, embora doesse, fazia com que a resistência vencesse a determinação letal dos meus pulmões.

Você se lembra do nosso primeiro encontro? ― ela perguntou, confundindo-me. ― Deus, eu estava tão nervosa. Que eu seria tudo, menos o que você esperava. Você me deixou saber que o filho do proprietário tinha uma queda por mim e pontuou cada uma das diferentes paixonites de garotos como você têm, até a mais desagradável. ― Uma risada encheu sua voz quando ela acrescentou: ― Sua completa sinceridade ainda me pega desprevenida.

Eu pisquei, permitindo que as lágrimas não derramadas caíssem e melhorassem minha visão. Enquanto ela falava, tomei consciência de sua voz enquanto guiava minha respiração da maneira que ela pediu, calma e profundamente, sentindo o movimento do meu corpo. Era bom porque eu conseguia ouvi-la, e o som me fez girar mais devagar em minha própria órbita caótica de pavor.

Encarando um ponto fixo a frente, comecei a massagear o lado esquerdo do meu peito.

E naquele dia, você ainda me escondia seus sorrisos, e era um saco, mas eu ganhei ― ela se gabou. ― Mas, então... Eles também ainda me pegam desprevenida. Sabe, você é tão bom em guardar tudo para si mesmo seja sentindo ou raiva ou alegria que esses pequenos momentos onde você deixar ir se tornam completamente admiráveis. Eu ficava pensando: "Esse cara está morto por dentro?".

Respirar. Respirar. Respirar. Respirar.

Mas eu entendo a cada momento que passo com você um pouco melhor. É só que você tem tanta ― Gwen suspirou, prosseguindo: ―, tanta beleza aí dentro que é difícil de mostrar, né? Você nem vê, e nem acredita em mim. Mas apenas para deixar registrado, você me deixa feliz. Você me faz feliz. Eu só estou tão apaixonada por você, Ethan, que eu acho que você não entende quanta diferença você faz na minha vida.

As ruas se estenderam à minha frente, a paisagem se distinguindo sozinha. Eu olhei ao redor do carro tentando entender como ele se tornou mais espaçoso repentinamente, e quanto tempo fiquei confinado neste ataque que não reparei que estava mais frio do lado de fora, não dentro do carro. Movendo-me para fechar a porta, estender o braço fez com que meu peito sofresse uma nova e repentina contração, como se ele apenas quisesse que eu ficasse em paz no meu canto. Mesmo com a dor, eu me obriguei a fechar a porta sem afastar o celular por momento algum, porque era a voz dela que estava me fixando de volta.

De volta no caminho... certo, eu acho. Recompondo minha dignidade completamente perdida nesse buraco de merda que era essa cidade.

Isso é real, não o que você está sentindo. Você não está preso nisso, querido. Sabe no que você está preso?

Quando ela não continuou, eu pigarreei. ― No que?

Fecha os olhos, por favor. ― Após um momento, eu deixei minhas pálpebras caírem. ― Você está preso em todas as tardes ou noites que seus amigos se enfiam na sua casa não importa quão desconfortavelmente pequena você ache que ela é ou quão ruim é o sofá, porque eles sempre colocam de canto qualquer coisa por um momento como esse. Você está preso quando eles são tão idiotas que você simplesmente não consegue segurar sua risada, e naquele momento que as coisas parecem ficar lentas e você percebe que... você está vivo.

Se for possível, a voz dela se tornou ainda mais calma e paciente eu senti fisicamente o calor dela me envolvendo como uma segunda camada de pele.

Você está preso em todos aqueles momentos ranzinzas da Allie porque ela puxou de você, sejamos honestos, e em todos aqueles momentos inocentes de palavras erradas e sorrisos envergonhados do Callie. Você, definitivamente está preso em todo meu desastre e em todos os momentos de silêncio em que nossos olhares falam muito mais do que precisamos ― ela sorri, baixando o tom de voz: ― Isso é real. O que pertence a você e ao que você pertence. Sua família e eu – tudo o que faz você não somente estar vivo, como se sentir vivo.

― Você é parte da família ― eu disse através do aperto em minha garganta, deixando minha mão cair do meu peito em meu colo. ― Você é a minha família agora também.

Ela ficou quieta por um momento, tão quieta. Ela achava que não era, quando a partir do momento em que a conheci todos meus planos a envolviam. Meus pensamentos, o espaço que inicialmente reservei a ela sem saber que ela tomaria muito mais – e eu que eu iria gostar. Eu confiava nela. Eu estava arriscando provar que ela estava perdendo seu tempo comigo, mas não havia nada que eu quisesse mais do que ela, bem ao meu lado.

Meu coração deu um pulo, e foi quando eu percebi que a dor havia se tornado apenas uma pressão desconfortável e dolorida, mantendo ali a memória da intensidade das minhas emoções, mas ameaçando me dar uma trégua – e a queimação traiçoeira que ia e vinha me avisava que não acabava por aqui.

Eu suponho que, claramente, essa condição não é mais forte.

Não mais do que a condição em que estou por causa de Gwen.

A condição que eu construí e descobri do meu jeito, e ela gostou. Ela se apaixonou.

A condição de que eu amo.

Eu entendo agora.

― Ei, Gwen?

Sim?

― Vou fazer uma coisa que vai terminar... ― eu soltei uma risada quase incrédula. ― Terminar de foder a minha cabeça. E eu posso... Ser aquela pessoa que eu tentei tanto te avisar que existia em mim. Eu não acho que você deva ter que lidar com isso, portanto eu vou... ser honesto com você.

Um momento de silêncio recaiu na linha, acelerando meu ritmo cardíaco.

Você quer dizer... sobre tudo?

― Sim.

Ah, é, uau ― ela ofegou, surpresa. ― Tudo bem. Você sabe onde me encontrar, e eu estarei esperando por você. Eu realmente quero dizer isso, Ethan.

― Eu sei ― finalmente estou entendendo tudo. ― Estou rezando para que você fique ao meu lado, porque...

Não completei a frase, sem saber como colocar em palavras o tipo de dor que me causaria perdê-la como sempre temi agora que compreendi a extensão dos meus sentimentos e como eles clareavam minha razão, diferente do que pensei. Eles não me tornavam fraco. Não era egoísmo me sentir assim por essa mulher. Eu ainda tinha a chance de fazer a coisa certa por ela, para mantê-la comigo. Para mantê-la na família enquanto restauramos tudo o que foi quebrado.

Para fazer isso, eu precisava encarar o principal problema que estava me observando esperançosamente desde o dia em que nasci, até chegar nesse momento.

E ele esperou por tanto tempo que estava prestes a me cobrar um preço alto demais. Perder meus irmãos, essa mulher.

Não vale a pena.

É necessário fazer o que deve ser feito de uma vez por todas.

Você não precisa rezar ― ela diz, a voz firme. ― Minha decisão está feita, querido, e não vou voltar atrás.

.

temos a admissão do ethan (ele foi o último a saber que está amando), mas acho que vocês não estão prontos pro próximo capítulo... O grande problema da existência de ethan james young vem aí!

até mais, pessoal!

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