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By QveenBDD

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+18 โ— ๐’๐“๐ˆ๐๐† [๐‹๐ˆ๐•๐‘๐Ž ๐ˆ] โ— โŽข โ๐€๐‹๐†๐”๐Œ๐€๐’ ๐๐„๐’๐’๐Ž๐€๐’ ๐’๐„ ๐’๐„๐๐“๐„๐Œ encurraladas pelo caos... More

โžณ ๐ƒ๐ข๐ฌ๐œ๐ฅ๐š๐ข๐ฆ๐ž๐ซ [Aviso legal]
โžณ ๐‘๐ž๐š๐๐ข๐ง๐  ๐†๐ฎ๐ข๐๐ž [Dinรขmica].
โžณ ๐๐ซ๐ž๐Ÿ๐š๐œ๐ž ๐•๐จ๐ฅ. ๐ˆ [Recado da autora].
โ— ๐‚๐€๐’๐“ โ—
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(Vol. I) Memรณrias Iโ”‚Dias de verรฃo.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Sitiados.
(Vol. I) Memรณrias II โ”‚ Doce dezesseis.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Enterro no asfalto.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚ Telhado de vidro.
(Vol. I) Memรณrias III โ”‚Conto de fadas.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Sobrevivรชncia.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Opulรชncia.
(Vol. I) Memรณrias IV โ”‚Um lar em uma caixa.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Reconhecimento.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚Lua cheia.
(Vol. I) Ano I p.eโ”‚Branca de Neve.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Trofรฉu de caรงa.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Lacrimosa.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Sob o luto.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Heranรงa genรฉtica.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ รŠxodo.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Cercas brancas.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Persistรชncia.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Alรญvio.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Vinho da meia noite.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Bourbon do Kentucky.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Pesadelo.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Cama ou sofรก.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Novelo de lรฃ.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ O que vale a pena.
๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐…๐ข๐ง๐š๐ฅ๐ž โ— Bandeiras Vermelhas.
โžณ ๐๐ซ๐ž๐Ÿ๐š๐œ๐ž ๐•๐จ๐ฅ. ๐ˆ๐ˆ [Recado da autora].
๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— (๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐Ž๐Ÿ) โ— ๐๐ซ๐ž๐ฆ๐ข๐ž๐ซ๐ž
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Territรณrio Novo.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Para onde todos vรฃo.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Longe de nรณs.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Ouro verde.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ O som das รกrvores.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Nem sempre uma famรญlia.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Delรญrios desentendidos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ A arte de sentir.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Pacรญfico.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Isca viva.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Mais perto.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Alรฉm do momento.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Tortas de maรงรฃ.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Tormentas.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Boneca de pano.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ De volta.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Barganha.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Do outro lado.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Determinado.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Quase mortos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Puniรงรฃo.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Rodovias.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Renascer.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Asas de inverno.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Tudo por nรณs.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Vilรตes e mocinhos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Sentenciados.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Focos de incรชndio.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Pontas de flechas.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Perdas irreparรกveis.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Rifles amigos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Libertos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Achados e perdidos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Para o inรญcio.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Fogo na colina.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Em busca do cรฉu.
๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐…๐ข๐ง๐š๐ฅ๐ž โ— Moinhos de neve.
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(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Semeando o verรฃo.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Apenas em sonhos.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Caรงas macias.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Campo minado.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Das estrelas ou mais.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Acima dos mapas.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Fraternos.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Milagres.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Salvos pelo momento.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Alicerces.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Sem sapatos.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Vidas em curso.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Depois de nรณs.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Bravinha.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Vigรญlia.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Nรฃo pegue.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Em famรญlia.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Cavalo de Trรณia.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Neblina.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Contra a corrente.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Supostamente ser.
๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐…๐ข๐ง๐š๐ฅ๐ž โ— Caminhos.
โ— ๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— ๐‘Ž๐‘’๐‘ ๐‘กโ„Ž๐‘’๐‘ก๐‘–๐‘ โ—

(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Todos os detalhes.

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By QveenBDD

Um dia inteiro havia se passado e eu soube que os nossos vizinhos haviam diminuído de cinco para apenas dois. Um deles havia sido pego pelos mortos-vivos e sido abatido antes de se transformar, porém dois deles haviam sido abatidos por Rick.

Em uma bifurcação mortal entre acabar com os detentos, ou padecer em suas novas regras, o xerife optou por acabar com eles sem receio algum. T-Dog havia me confidenciado em nossa nova dispensa que os dois restantes só sobreviveram pois um deles acabou implorando por sua vida aos prantos. Aquilo era mortalmente surreal.

O xerife havia poupado suas vidas sim, entretanto acabou deixando os únicos sobreviventes isolados no Bloco de celas D, com a promessa de também fuzilá-los caso eles invadissem o nosso território.

Já fazia um bom tempo em que eu estava sentada no chão da minha cela enquanto encarava as paredes cinzas acima do beliche à minha frente. Minhas costas doíam pelo cansaço das tarefas diárias. Mas, definitivamente, eu queria me acostumar com aquele lugar. Transformar aquele cubículo em um quarto, na esperança de diminuir a ansiedade claustrofóbica que me causava.

A presença de Daryl surgindo na porta aberta daquela cela me surpreendeu um pouco, mas tentei manter uma posição fria. E fingi não dar muita importância ao caçador que encostou o seu ombro no batente da entrada e ficou me observando em silêncio durante algum tempo com suas duas mãos apoiadas na alça da balestra atravessada sobre o seu peito.

— O velhote acordou. — Ele me deu a notícia de forma bastante positiva, mas havia uma nuance um tanto receosa e contida no tom da sua voz que me fazia perceber claramente que ele estava tentando agir da melhor forma comigo. De certa maneira, isso me deixou satisfeita. Ele estava tendo o trabalho de ser cuidadoso.

— Graças à Deus. — Respondi ainda sem encará-lo enquanto continuava observando as armações metálicas do beliche cinza. — Hershel é um homem durão. Homens do campo geralmente são. Eu sei que ele vai se recuperar bem. — Comentei de um jeito sarcástico enquanto soltava um riso rápido com pouca animação.

Estiquei as minhas pernas em direção ao beliche e cruzei os meus tornozelos de forma mais relaxada enquanto Daryl ainda me observava em silêncio sem parecer ter vontade de se aproximar. Talvez por não saber como lidar com aquilo e terminar deixando tudo pior, ou talvez tentando não ultrapassar os meus limites, mas acabamos ficando em silêncio por tempo demais enquanto ele parecia simplesmente procurar por alguma coisa em mim.

Até que eu soltei um pequeno riso baixo cheio de humor ácido ao me lembrar de algo.

— Quer saber qual era o meu apelido de prisão? — Perguntei ainda em tom de riso quando finalmente o olhei diretamente nos olhos, ali parado na minha porta e sombreando o meu "quarto".

— Hnm. — Ele confirmou de um jeito rouco mostrando-se interessado.

"Bebê chorão". — Confessei em tom de riso ao debochar de mim mesma. — Eu chorei praticamente todas as noites no meu primeiro ano. — Contei pausadamente como se fosse uma piada. Mas Daryl ainda tinha uma expressão calma e séria em seu rosto. Parecendo até mesmo um pouco solidário. — Você sabe, as meninas odiavam isso! — Ri baixinho ao me lembrar. — Primeiro eu chorei de culpa. Depois de raiva. Então de tristeza. Saudades. Então, depois disso eu só... — Respirei fundo ao esboçar uma expressão fria de novo. — Só desliguei. — Confessei baixinho ao encarar minhas mãos sobre o meu colo.

Observei as minhas mãos limpas com certo alívio. Ter um lugar para dormir e viver com pelo menos o básico, como ter uma refeição, era a melhor recompensa que poderíamos ter depois de todos os desafios que tivemos que enfrentar até finalmente chegarmos ali.

— Eu tive que lidar com muitas merdas durante aqueles dias. As regras já haviam mudado para mim bem antes do mundo inteiro queimar. — Lembrei de um jeito sombrio ao franzir o meu cenho com aquela reflexão apurada. — Deve ser por isso que me acostumei tão rápido com as merdas que acontecem agora. — Ponderei com clareza ao perceber o pequeno detalhe.

— Eu acho que você está se saindo bem. — Ele respondeu de um jeito gentil com a sua voz um pouco mais macia enquanto acenava levemente com sua cabeça em concordância. Como um elogio velado e tímido. Aquilo acabou me fazendo rir abertamente praticamente encantada e surpresa com as suas ações.

— Estou me esforçando para não ferrar com tudo de novo. Obrigada! — Agradeci em tom de brincadeira enquanto um riso feliz ainda escapava dos meus pulmões e um sorriso agradecido brincava em meus lábios.

— Nós vamos começar a limpeza no campo gramado em frente ao prédio. — Daryl começou a explicar enquanto a sua voz tímida parecia conter um tratado de paz evidente. — Você não quer vir ajudar? — Convidou usando um tom rouco. — Você sabe, uma hora de banho de sol por dia. — Brincou como uma indireta sobre presidiários e eu acabei rindo novamente por sua piada tão sagaz.

— Ah, você é um cretino mesmo! — Briguei enquanto ainda ria de diversão por sua piada cheia de humor ácido, mas acabei me levantando daquele lugar e ficando de pé. Tendo todo o cuidado de beber cada gota expressiva daquele meio sorriso convidativo no canto dos lábios do caçador.

Acabei decidindo parar exatamente no batente da porta, assim como ele, e me virei em sua direção para observar melhor aqueles olhos claros iluminados pela luz do sol que entrava das altas janelas ao nosso lado.

A sua expressão relaxada, porém, cautelosa, parecia tentar encontrar um ponto de equilíbrio entre as coisas que tínhamos com as coisas que ainda estavam por vir e, de certa forma, eu o entendia.

— Obrigada. — Agradeci de novo ao praticamente sussurrar quando a minha voz saiu fraca pelas emoções que consumiam o meu coração graças à forma como ele estava agindo.

— Pelo o que? — Daryl perguntou tentando manter aquele contato, mas não haviam dúvidas em seus olhos. Não havia qualquer indagação que merecesse respostas. Porque ele sabia aonde estávamos. Ele sabia o que eu queria dizer.

Por pelo menos tentar. — Apontei sucintamente ao me referir ao fato dele ser o primeiro a iniciar uma conversa banal essa manhã. E aquilo pareceu corroer toda a raiva do meu coração até que ela se transformasse em uma nuvem de poeira se dissipando através do ar em meus pulmões.

Me afastei do homem após lhe sorrir de maneira agradecida e continuei o meu caminho em direção as escadas que me levariam até o andar térreo e, consequentemente, até o pátio externo aonde os outros estariam.

Porém, antes acabei passando no quarto de Hershel para saber pessoalmente como ele estava. Encontrando Beth sentada ao lado do pai, segurando a sua mão enquanto o velho dormia tranquilamente.

— Como ele está? — Perguntei baixinho para que o homem não fosse acordado por minha presença.

— Está descansando. — Beth me respondeu sem me encarar enquanto eu me limitava a ficar na porta da cela os observando de longe. — Mas ele acordou, comeu um pouco e está bem melhor. — Explicou otimista.

— É um milagre, não é mesmo? — A lembrei da nossa conversa quando tudo pareceu desesperançoso.

A menina loira acabou virando os seus olhos claros em minha direção enquanto esboçava um pequeno sorriso confirmativo e agradecido. Eu lhe sorri de volta antes de me afastar dali e continuar o meu caminho para fora.

Continuei até alcançar o espaço externo do pátio gramado. O sol estava alto e ameno, fazendo com o que o dia parecesse agradável. E continuei descendo a trilha de pequenas pedrinhas brancas que nos levava até a entrada, até encontrar Rick próximo ao portão de saída.

— Vocês rebocaram o ônibus? — Apontei o óbvio ao me aproximar e me posicionar ao seu lado. Percebendo que aquele coletivo que estava atravessado na frente do portão havia sido arrastado para o lado. O suficiente para deixar o caminho livre para outros carros passarem.

— É. Tivemos que abrir espaço para passar com todos os carros. Vamos estacioná-los na entrada Oeste do pátio. — Rick me explicou enquanto ele abria o portão de tela e permitia que Carol e T-Dog passassem cada um com um automóvel, respectivamente. — Para qual lado fica o Oeste, Heidi? — O xerife me perguntou divertidamente ao se virar em minha direção e me lembrar sobre nossa conversa anterior sobre mapas.

— Haaamm... — Gemi olhando para o céu, tentando ver o sol, mas estreitando meus olhos com a luz. — Acho que já sei o que vou pedir na minha cartinha de natal. Uma bússola. — Brinquei ao encarar Rick em tom de riso. O fazendo rir junto comigo.

— Vamos deixar todos os carros virados para as saídas. — Ele apontou de forma despreocupada quando Daryl também se aproximou de nós e fechou novamente aquele portão.

— Ótimo. Toda essa lataria parada aí parece um convite pra qualquer um entrar. — O Dixon comentou ao prender novamente as correntes e o cadeado em volta das grades do portão.

— Sim. Depois, vamos juntar todos os cadáveres do campo para queimá-los. — Rick continuava parecendo realmente disposto a cumprir com seus planos enquanto gesticulava para o enorme campo de relva baixa.

— A fogueira não vai chamar mais deles pra cá? — Perguntei enquanto nós caminhávamos juntos em direção aos vários corpos espalhados por toda a grama.

— Nah, estamos do lado de dentro da cerca. — O xerife respondeu em um tom baixo despreocupado. — Não vou me arriscar em plantar alguma coisa em um solo contaminado por mortos. — Defendeu.

— Vai ser um longo dia de faxina. — T-Dog comentou dentro de um suspiro cansado ao descer do carro e parar para observar a quantidade de corpos espalhados pelo local. — Ei! Rick! — Ele chamou quando seus olhos subiram até as cercas um pouco mais acima da entrada do nosso Bloco C e então todos nós olhamos exatamente para onde Theodore apontava.

Dois homens vestindo macacões de jeans azul estavam se aproximando lentamente do local aonde nós estávamos. Um deles era um homem negro careca muito alto com expressão emburrada e o outro, o mais baixinho, era um homem branco de cabelos claros e bigode ridículo. O homem que tinha ficado surpreso ao me ver no pavilhão antes.

A expressão de Rick se tornou mortal assim que percebeu os dois prisioneiros se aproximando e o xerife começou a caminhar rapidamente em direção a eles como se fosse realmente atirar a qualquer momento. Todos nós acabamos seguindo o xerife quase como uma forma de dar cobertura, ou quem sabe, deter alguma coisa.

— Aí já é o suficiente! — Grimes ameaçou ao fazer os dois homens pararem os seus passos aonde estavam e eles obedeceram. — Nós tínhamos um acordo! O que vocês estão fazendo aqui? — Perguntou em tom ameaçador enquanto levava a sua mão até a arma em seu coldre.

— Desculpe, senhor! Sei que tínhamos um acordo, mas por favor. — O baixinho falou usando um tom quase choroso. — Vocês precisam entender. Não conseguimos viver lá sozinhos por nem um minuto se quer, sacas? — A sua voz carregada em sotaque parecia implorar. — Todos aqueles defuntos são de conhecidos. Com sangue e miolos espalhados por todos os lados. São fantasmas! — Reclamou com desespero ao cruzar os braços na frente do corpo.

— Por que não tiram os cadáveres de lá? — Daryl perguntou há alguns passos atrás de Rick, apoiando suas mãos nos quadris com uma pose irreversível tanto quanto o xerife.

— Eu disse que vocês deveriam ter os queimado. — T-Dog alertou em um tom sério. E eu acabei me posicionando bem ao lado de Carol enquanto Maggie e Glenn percebiam a movimentação estranha e também se aproximavam daquela conversa tensa.

— A cerca está caída no nosso lado. — O homem mais alto explicou com sua voz séria. — Sempre que tentamos arrastar algum corpo aquelas coisas aparecem. Soltamos o cadáver e voltamos correndo pra dentro, pianinho. — Acrescentou de forma frustrada ao observar cautelosamente a forma como Glenn e Maggie se aproximavam por trás dos dois.

— Senhor, não tivemos nada a ver com o que Tomas e Andrew fizeram. Nada! — O loiro se aproximou de Rick como se pudesse se ajoelhar a qualquer segundo. — Sei que você queria provar que estava certo. Bem, você provou, mano! Estamos dispostos a fazer qualquer coisa para entrar no seu grupo! — Pediu. — Mas, por favor, não nos obrigue a morar naquele lugar! — Implorou quase choramingando.

— O acordo é inegociável. — Rick respondeu apenas ao encarar os dois homens de maneira dura. — Ou vivem naquele Bloco de celas, ou simplesmente vão embora daqui. — Reforçou em tom de ameaça.

— Eu disse que era perda de tempo. — O homem negro disse ao se virar para o amigo ao seu lado. — Esses caras não são tão diferentes dos cretinos que mataram nossos amigos. Vocês fazem ideia de quantos cadáveres de amigos tivemos que arrastar e descartar como lixo? — Perguntou de maneira sombria e praticamente todos nós tivemos que engolir em seco com o peso de suas palavras.

Conseguia entender o desespero que fervia suas frases enquanto seu rosto emburrado parecia conter uma espécie de pesar profundo. Aqueles homens poderiam sim ser detentos, mas suas palavras e sofrimentos eram tão honestos quanto os nossos.

— Eles eram homens bons! Gente boa que nos protegeu contra os bandidos realmente ruins nesse xadrez, como Tomas e Andrew. — O homem alto continuou o seu discurso emocionado. — E eu sei que todos nós cometemos erros para terminar aqui, chefe. Não estou tentando bancar o santinho com vocês, mas acredite quando eu digo que já pagamos a nossa dívida. Preferimos cair na estrada a ter que voltar para aquela pocilga. — Deixou bem claro ao levantar o seu queixo mostrando-se incapaz de implorar como o amigo ao seu lado.

Pra mim, a ação de Rick foi uma surpresa bastante significativa. Pois o xerife acabou apenas se virando levemente para trás, virando-se para Daryl atrás de suas costas como se para pedir um conselho e o caçador apenas negou lentamente com a cabeça, mostrando em seus olhos estreitos que não havia se compadecido com aquele discurso todo.

Ao que parecia, Rick já tinha o Dixon quase como um braço direito.

— Leve os dois para a guarita de segurança. — Rick pediu para Daryl quando voltou seu olhar em direção aos dois homens de novo.

— Vamos! — O caçador ordenou ao gesticular e apontar em direção ao espaço gradeado aonde o ônibus tombado se encontrava ao lado. Levando os dois prisioneiros sem grande conflito ou resistência até aquele local e os prendendo ali dentro com a ajuda das correntes e cadeados.

Eu acabei me sentindo mal. Talvez eu fosse uma pessoa sentimental demais por saber exatamente qual era a posição que aqueles caras estavam. Afinal, não era uma questão apenas do nosso grupo. Ex-presidiários nunca seriam vistos com bons olhos. Sempre julgados na primeira oportunidade.

— Cara, por que não damos uma chance? — T-Dog pareceu se compadecer assim como eu, quando nos reunimos atrás daquele ônibus e começamos uma espécie de reunião improvisada aos sussurros para que os detentos não ouvissem.

— Isso é sério? Quer os dois vivendo numa cela ao lado da sua? — Rick perguntou desacreditado ao apoiar uma das mãos na lataria do ônibus e outra no quadril.

— Essa frase saiu um pouco irônica, se pensarmos que eles estão aonde deveriam estar. Numa prisão. — Eu ri sem humor ao cruzar os meus braços ao lado de Maggie e Glenn.

— Eles ficarão esperando a chance de pegar nossas armas. — O xerife garantiu enquanto Daryl voltava até o nosso grupo após trancafiar os dois detentos dentro daquela gaiola e se posicionou ao lado de T-Dog. — Você prefere voltar a dormir com um olho aberto? — Questionou Theodore com sarcasmo.

— Droga cara, eu nunca deixei de fazer isso! — T-Dog respondeu rapidamente, mostrando-se sério. — Deixe os caras integrar o grupo. Mandá-los embora com o mundo lá fora é crueldade. É melhor executá-los aqui mesmo. — Rebateu ao fitar todos de um por um.

— Sei lá, Axel parece um pouco instável demais. — Glenn comentou ao mover-se de forma inquieta sem sair do mesmo lugar.

— Qual deles é o Axel? — Eu questionei encarando o ônibus quando Carol se posicionou ao meu lado.

— O cara branco que vive implorando. — Carol respondeu cruzando seus braços também.

— Ah, com instável você quer dizer "um banana". — Reformulei assentindo algumas vezes para Glenn.

— Depois de tudo o que passamos para chegar até aqui. E se eles decidirem tomar a prisão? — Carol comentou aos sussurros.

— Dois caras contra todos nós? Então nós seriamos os bananas. — Rebati em tom de piada enquanto dava de ombros rapidamente.

— Não, eles são estranhos e somos apenas nós há um bom tempo. De repente, é esquisito ter mais gente por perto. — Maggie alegou ao também se tornar inquieta ao lado do namorado.

— Mas vocês nos aceitaram na fazenda. Em maior número. — Lembrei ao virar meus olhos para o rosto da garota, que escondia seu rosto do sol com uma das mãos.

— Sim, mas vocês tinham uma criança baleada nos braços. Não tivemos escolhas. — Lembrou ainda de maneira firme. — E Rick estava fardado como um policial, não como um detento. — Acrescentou perspicaz.

— Eles não são úteis, nem conseguem matar os caminhantes. — Glenn apoiou a namorada.

— São prisioneiros. Ponto final. Nem deveríamos estar cogitando. — Carol acrescentou.

Confesso que aquilo me incomodou. Talvez pela forma sensível que eu me sentia em relação à mulher, ou talvez por todas as emoções que aquela prisão havia trago à tona. Mas a frase tão resumida parecia um tanto preconceituosa, e me afetava de certa forma. Me afetava o suficientemente para me fazer franzir as sobrancelhas de maneira dolorosa e encarar Daryl quase que automaticamente. O percebendo me encarando de volta.

— Talvez tenham menos sangue nas mãos do que nós. — Theodore apontou como um bom argumento.

— Conheço esse tipo de gente. Porra! Eu cresci com eles! — Daryl acrescentou ao melhorar o argumento de T-Dog e voltou seus olhos de mim para Rick. — São degenerados, mas não psicóticos. Eu poderia estar com eles tanto quanto com vocês. — Alegou em um tom baixo.

— Então, você está nessa comigo? — Theodore perguntou ao caçador de forma esperançosa.

— Nem fodendo! — Daryl rebateu, fazendo T-Dog encará-lo com grande surpresa. — Eles que se arrisquem na estrada feito nós. Não por serem presidiários, mas porque não mereceram continuar com a gente. — Explicou enquanto gesticulava em direção ao portão de saída.

— Eu ainda acho que nós devemos...

— Quando eu era novato prendi um moleque de dezenove anos acusado de esfaquear a namorada. — Rick nos contou como se fosse uma boa história de vida. — Chorou feito um bebê no julgamento, colocou o júri no bolso. Foi inocentado por falta de provas. Duas semanas depois, baleou outra garota. — Mostrou como um exemplo do que não deveríamos seguir.

— Sinto muito, eu o respeito muito xerife, mas você não pode basear uma vida inteira em apenas um exemplo. — Rebati firmemente ao me tornar mais desperta. — Entenda, a sua ótica nesse ponto de vista é pequena e injusta. Nem todos os casos são o mesmo caso. — Lembrei pendendo a minha cabeça.

Rick acabou estreitando os seus olhos quase como uma acusação quando se virou em minha direção e todos naquele pequeno grupo pareceram me encarar de maneira desentendida.

Eu encarei todos os rostos ali, mas demorei um longo tempo principalmente no de Daryl, já sentindo o medo do que estava por vir.

— Então você também concorda que deveríamos deixá-los viver conosco? — Rick questionou em um tom repreensivo ao gesticular firmemente, parecendo sarcástico.

— Não. Eu estou dizendo que o fato deles serem prisioneiros não deveria pesar tanto. — Expliquei ao gesticular para Carol e me referir ao seu argumento anterior. — Ainda mais agora que todas as regras do mundo mudaram. Tudo como a gente conhecia foi para o bueiro. — Apontei decidida. — Shane era um policial e tentou matar você! E você, xerife, matou dois caras em vinte e quatro horas! — Mostrei o quanto isso era hipócrita.

— Isso foi bem diferente! — Rick rebateu de forma mais firme e irritada quando me ouviu tocar no nome do seu melhor amigo Shane. Mas eu estava disposta a pagar o preço de revirar aquela ferida. Afinal, estávamos lidando com uma feira de hipocrisia.

— Sim! Foi! Porque você teve os seus motivos. Todos têm os seus motivos. Isso é relativo. — Pontuei ao gesticular fingindo que desenhava um gráfico no ar. — Quer saber? Foda-se tudo isso, eu também sou uma ex-presidiária... — Confessei dando de ombros ao jogar meus braços de maneira derrotada.

Aquilo saiu dos meus lábios como se o mundo tivesse saído das minhas costas. Mas eu pude perceber o choque que havia causado quando todos ali ficaram petrificados e me encararam com olhares surpresos e perdidos, sem saberem como reagir com aquela informação.

Menos Daryl. O caçador já sabia daquilo há algum tempo e eu agradecia à Deus por não termos segredos entre nós. Entretanto, a forma como todos reagiram me fez perceber que teríamos que lidar com uma situação complicada. Me fazendo temer o olhar sério que ele lançou em minha direção.

— O que você disse? — O xerife perguntou lentamente ao se aproximar como uma ameaça e me encarar de perto como um valentão. Ele realmente estava reagindo de maneira firme sobre aquilo.

— Que eu já estive na prisão. Quer dizer, eu estava. Quer dizer, eu ainda estou. Não sei. Isso é um pouco confuso agora. — Fechei os meus olhos levemente e sacudi a cabeça por um segundo. — Enfim! O que quero dizer é que eu estive daquele lado! — Apontei para os dois prisioneiros presos dentro das cercas. — Mas eu ainda faço parte desse lado. — Apontei para o chão aonde eu pisava. — E eu provei para vocês que eu poderia ser útil. E confiável! — Defendi de maneira firme.

— Por que você não nos contou isso antes? — Rick perguntou mais firme exigindo mais explicações.

— Eu sei que vocês não me deixariam ficar se soubessem disso, ok? Como estão fazendo com os caras vestindo jeans ali. — Apontei irritada para os dois homens que ainda nos olhavam tentando ouvir.

— Você já sabia disso? — Carol perguntou referindo-se a Daryl como se cobrasse algo do homem e aquilo sim praticamente borbulhou o meu sangue com uma ira totalmente irritada e explosiva.

— Não! Ele não sabia de nada! — Defendi tentando poupar o caçador do problema. — Aliás, ele não tinha o direito de contar, o segredo é meu! — Exigi cerrando meus punhos de forma mais firme ao encarar os outros.

— Pelo que você esteve cumprindo pena, Heidi? — Rick perguntou ao se tornar ainda mais inquieto. Fazendo a sua voz surgir de uma forma completamente ameaçadora e exigente.

Engoli em seco. Eu sabia o quanto aquela situação era delicada. Algumas pessoas não compreenderiam completamente a situação que havia me arrastado até aquela fatídica reação.

As pessoas sempre achavam que havia uma forma melhor de resolver aquilo, um pedido de ajuda que funcionaria, uma fuga. Mas não. Ninguém sabia o quanto era solitário estar naquela posição.

— Eu perguntei, pelo o que você cumpriu pena? — O Xerife exigiu mais irritado quando me viu em silêncio por tempo demais e encarando a grama de maneira culpada. Mas eu acabei engolindo em seco o medo em minha garganta e levantei o meu queixo de maneira corajosa.

— Eu atirei no meu ex-marido. — Contei em um tom calmo e frio. Tentando manter toda a minha dignidade intacta ali. Mas um longo minuto de silêncio temeroso surgiu entre todos. — Você sabe essa historinha sobre o garoto de dezenove anos que você nos contou, xerife? — Olhei firmemente nos olhos claros do homem à minha frente. — Pois bem, eu era a garota esfaqueada. — Comparei apenas como um exemplo. — Mas eu tive tempo de apertar o gatilho. E, ao contrário dessa garota da sua história, eu optei por apertar. E eu paguei por isso. — Confessei sem qualquer tipo de vergonha.

O clima tenso já tinha se espalhado entre todos e não havia como voltar atrás. Todos me encaravam como se eu fosse algum tipo de ameaça. Aquele olhar chocado e amedrontado cheio de julgamentos que todos davam quando sabiam de algumas histórias e aquilo me machucou intimamente. Me machucou saber que, no fundo, talvez tudo o que eu tivesse sido até agora não fosse o suficiente. Principalmente quando todos acabaram encarando fixamente o caçador, como se quisessem avisar Daryl sobre o perigo de estar comigo.

— Ah! Ótimo! Olhem para o Dixon como se ele fosse o próximo a levar um tiro! — Briguei irritada ao soltar um suspiro ruidoso e muito frustrado. — Não estou tentando justificar nada, nem dizer que o que eu fiz foi certo. Nem que devíamos aceitar aqueles dois patetas no grupo. — Apontei suspirando profundamente. — Mas, o que quero dizer, é que nem sempre as coisas são tão pretas no branco assim. Nós estamos sobre novas regras aqui. As reações são diferentes. Devíamos pensar na possibilidade de que não somos mais quem éramos antes de tudo. — Pontuei bravamente.

— Nós precisamos conversar melhor sobre isso. — Rick alegou quando apoiou suas mãos nos quadris. Mostrando que deveríamos discutir bem mais do que aquele momento crucial.

— Não. Nós não precisamos discutir nada. Eu já sei aonde isso vai dar. — Garanti levantando meus braços em rendição e fitando o chão de forma irritada. — Eu sei como esse grupo lida com "problemas" e eu não vou ficar trancafiada dentro de uma gaiola de novo como eles, ou como Randall. Sem chance! — Apontei para o local aonde aqueles caras estavam. — Eu vou poupar o trabalho de vocês em se sentirem culpados por isso. — Avisei quando comecei a me afastar com passos lentos e comecei a subir novamente o pequeno caminho de pedras que me levaria de volta até o pavilhão do Bloco C.

Tentei ao máximo não encarar o rosto de Daryl, apesar da sua imagem estar praticamente tatuada atrás de minhas pálpebras. E continuei os meus passos decididos em direção ao pavilhão aonde estavam as minhas coisas. Eu precisava ir.

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