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By QveenBDD

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+18 โ— ๐’๐“๐ˆ๐๐† [๐‹๐ˆ๐•๐‘๐Ž ๐ˆ] โ— โŽข โ๐€๐‹๐†๐”๐Œ๐€๐’ ๐๐„๐’๐’๐Ž๐€๐’ ๐’๐„ ๐’๐„๐๐“๐„๐Œ encurraladas pelo caos... More

โžณ ๐ƒ๐ข๐ฌ๐œ๐ฅ๐š๐ข๐ฆ๐ž๐ซ [Aviso legal]
โžณ ๐‘๐ž๐š๐๐ข๐ง๐  ๐†๐ฎ๐ข๐๐ž [Dinรขmica].
โžณ ๐๐ซ๐ž๐Ÿ๐š๐œ๐ž ๐•๐จ๐ฅ. ๐ˆ [Recado da autora].
โ— ๐‚๐€๐’๐“ โ—
๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— (๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐Ž๐Ÿ) โ— ๐๐ซ๐ž๐ฆ๐ข๐ž๐ซ๐ž
(Vol. I) Memรณrias Iโ”‚Dias de verรฃo.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Sitiados.
(Vol. I) Memรณrias II โ”‚ Doce dezesseis.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Enterro no asfalto.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚ Telhado de vidro.
(Vol. I) Memรณrias III โ”‚Conto de fadas.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Sobrevivรชncia.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Opulรชncia.
(Vol. I) Memรณrias IV โ”‚Um lar em uma caixa.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Reconhecimento.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚Lua cheia.
(Vol. I) Ano I p.eโ”‚Branca de Neve.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Trofรฉu de caรงa.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Lacrimosa.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Sob o luto.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Heranรงa genรฉtica.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ รŠxodo.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Cercas brancas.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Persistรชncia.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Alรญvio.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Vinho da meia noite.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Bourbon do Kentucky.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Pesadelo.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Cama ou sofรก.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Novelo de lรฃ.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ O que vale a pena.
๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐…๐ข๐ง๐š๐ฅ๐ž โ— Bandeiras Vermelhas.
โžณ ๐๐ซ๐ž๐Ÿ๐š๐œ๐ž ๐•๐จ๐ฅ. ๐ˆ๐ˆ [Recado da autora].
๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— (๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐Ž๐Ÿ) โ— ๐๐ซ๐ž๐ฆ๐ข๐ž๐ซ๐ž
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Territรณrio Novo.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Para onde todos vรฃo.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Longe de nรณs.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Ouro verde.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ O som das รกrvores.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Nem sempre uma famรญlia.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Delรญrios desentendidos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ A arte de sentir.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Pacรญfico.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Isca viva.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Mais perto.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Tortas de maรงรฃ.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Tormentas.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Boneca de pano.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ De volta.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Barganha.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Do outro lado.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Determinado.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Quase mortos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Puniรงรฃo.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Rodovias.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Renascer.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Asas de inverno.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Tudo por nรณs.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Vilรตes e mocinhos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Sentenciados.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Focos de incรชndio.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Pontas de flechas.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Perdas irreparรกveis.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Rifles amigos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Libertos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Achados e perdidos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Para o inรญcio.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Fogo na colina.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Em busca do cรฉu.
๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐…๐ข๐ง๐š๐ฅ๐ž โ— Moinhos de neve.
โžณ ๐๐ซ๐ž๐Ÿ๐š๐œ๐ž ๐•๐จ๐ฅ. ๐ˆ๐ˆ๐ˆ [Recado da autora].
๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— (๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐Ž๐Ÿ‘) โ— ๐๐ซ๐ž๐ฆ๐ข๐ž๐ซ๐ž
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Semeando o verรฃo.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Apenas em sonhos.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Caรงas macias.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Campo minado.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Das estrelas ou mais.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Acima dos mapas.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Fraternos.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Milagres.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Todos os detalhes.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Salvos pelo momento.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Alicerces.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Sem sapatos.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Vidas em curso.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Depois de nรณs.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Bravinha.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Vigรญlia.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Nรฃo pegue.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Em famรญlia.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Cavalo de Trรณia.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Neblina.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Contra a corrente.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Supostamente ser.
๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐…๐ข๐ง๐š๐ฅ๐ž โ— Caminhos.
โ— ๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— ๐‘Ž๐‘’๐‘ ๐‘กโ„Ž๐‘’๐‘ก๐‘–๐‘ โ—

(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Alรฉm do momento.

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By QveenBDD

A madrugada na fazenda havia se tornado um pouco mais fria. Aliás, o clima parecia esfriar um pouco mais a cada dia. E eu poderia tentar me enganar e dizer para mim mesma que o fato de não conseguir dormir direito era culpa da mudança de temperatura, ou então alegar que eu precisava ficar mais alerta para o caso de surgir qualquer ameaça nos arredores, mas isso não funcionaria. Não com o meu próprio cérebro.

A verdade era que eu ainda estava retornando e vivendo aquele momento no trailer várias e várias vezes, exatamente como um looping de entusiasmo. A presença de Daryl, o seu corpo tão próximo, as suas mãos em meu rosto, em meu corpo e os seus lábios nos meus. Eu estava mantendo aquela sensação viva dentro de mim enquanto uma onda de êxtase percorria meus nervos como uma linha férrea. E aquilo era tão perfeitamente agradável que agora me despertava o medo de nunca mais tê-lo.

Como eu reagiria perto dele a partir de agora? Aliás, como Daryl reagiria a isso? As coisas iam fluir? Ele ia fingir que nada acontecia? Droga, por que eu estava transformando isso em um drama?

"Seja sincero com ele", Dale havia me dito durante a nossa conversa, "E com você mesma". Seu conselho acabava me despertando uma sensação agridoce de acolhimento e desespero. Eu poderia simplesmente continuar sendo sincera e torcer para continuar sendo correspondida. Mas por quanto tempo nossa dinâmica de gato e rato funcionaria?

— Você pensa demais, Adelheidi. — Comentei em um sussurro quando finalmente me sentei em meu colchão de acampamento e encarei todo o espaço quase vazio daquela barraca.

Suspirei fundo e amarrei o meu cabelo em um rabo de cavalo com ajuda de um elástico preto preso em meu pulso. Fiquei de pé e senti a cãibra em minha canela por alguns segundos, me forçando a expressar uma careta de dor até que passasse.

Acendi a pequena lamparina sobre um cooler e retirei a regata cinza que usava para dormir, a trocando por uma camiseta preta de mangas curtas por culpa do frio que sentia. Porém tive que amarrar um pequeno nó na barra do tecido, na esperança de diminuir o seu tamanho, já que ela parecia ser uma peça masculina com o dobro do meu número.

Coloquei os coturnos em meus pés, escondendo as barras da calça jeans, e tratei de amarrá-los com força para que não escapassem por culpa do tamanho e nem me machucassem por culpa da tala. Prendi a bainha de couro com a minha faca em volta do meu quadril com ajuda do cinto. Depois disso, peguei um dos comprimidos dentro do frasco que Glenn havia trazido e tomei aquela dose com ajuda de uma garrafa de água que estava ao lado da lamparina.

Procurei a escova de dentes dentro da minha mochila até encontrá-la e então o mesmo copo costumeiro, segurando os objetos juntos em apenas uma mão quando finalmente saí da minha barraca tentando ser o mais silenciosa possível.

Encarei o espaço ainda escuro em minha volta. A fogueira no centro do acampamento havia sido apagada por questão de segurança. Não havia nenhum sinal das conhecidas pessoas responsáveis por todas aquelas barracas e automóveis em volta, todos pareciam ainda dormir, e o único ruído sendo ouvido era o som peculiar de grilos ou cigarras entre a grama.

Lembrar do comentário de Daryl sobre a minha dificuldade em dormir acabou me fazendo esboçar um leve sorriso sarcástico para o nada enquanto eu caminhava em direção à um grande tonel de plástico azul que estava sobre uma mesa improvisada debaixo de uma tenda e servia como um depósito de água potável. Peguei um grande copo de água com ajuda do recipiente que carregava e então me afastei do acampamento para escovar meus dentes em um espaço longe da clareira.

Já estava finalizando aquela escovação quando notei uma pequena luz branca se movimentando ao longe como um orbe. A luz, que tinha total certeza de ser uma lanterna de baterias, saiu das proximidades da casa principal de Hershel e parecia se afastar por um caminho em direção ao estábulo um pouco distante. Aquilo me fez franzir as sobrancelhas de maneira curiosa.

Esperei alguns minutos de forma analítica enquanto aguardava que aquela pessoa se aproximasse um pouco mais à ponto de se tornar identificável aos meus olhos. Deixei a escova de dentes junto com o copo aos pés de um grande carvalho, preso em uma fenda no tronco, e rapidamente consegui perceber o chapéu de cowboy, calça jeans e a jaqueta cinza passando pela trilha há alguns metros.

Não demorou muito para que eu reconhecesse aquelas bochechas coradas pelo frio da madrugada.

— Você está sonâmbulo? — Questionei assim que Jimmy estava quase passando por mim. O garoto parou subitamente, mostrando-se realmente surpreendido, mas logo acalmou suas feições quando percebeu de quem se tratava.

— Ah! Bom dia, moça! — Cumprimentou dando um leve sorriso educado com os lábios em linhas finas.

— Boa madrugada. — Rebati me aproximando dele com passos lentos. — Está indo buscar mantimentos? — Perguntei curiosa e, até mesmo um pouco desconfiada, pelo balde de ferro que o mesmo carregava em uma das mãos.

— Não, não. Preciso ordenhar as vacas. — Explicou levantando levemente o balde para me mostrá-lo.

— A uma hora dessas? — Insisti ao cruzar meus braços como uma acusação.

— Normalmente a ordenha é feita horas antes do sol nascer. — Jimmy continuou suas explicações quando nos aproximamos o suficiente para ficarmos frente à frente. Assim podíamos sussurrar sem sermos ouvidos, mas escutando um ao outro. — Vê a faixa mais clara aparecendo no horizonte? — Apontou para os montes verdes em volta da fazenda, demonstrando que logo o sol nasceria. — Tirar o leite agora impede que o calor estresse as meninas e aumenta a produção. — Esclareceu calmamente, porém eu acabei rindo quando ele se referiu aos animais como "meninas".

— Está falando sério? — Devolvi a pergunta com descrédito enquanto franzia o cenho. Jimmy acabou assentindo algumas vezes ainda se mantendo íntegro. — Cacete! Eu posso ir com você? — Pedi, achando extraordinária a ideia de assistir como aquilo funcionava.

— Claro, vamos! — Gesticulou levemente ao continuar os seus passos e eu o segui ficando prontamente ao seu lado.

Começamos a seguir a trilha que nos levaria em direção ao estábulo aonde o gado parecia estar abrigado. E apesar da falta de empecilhos, o que nos permitia ver a construção em madeira ao longe, a distância era relativamente afastada.

— Então... Você também é filho de Hershel? — Perguntei baixinho quando o único som ouvido eram os nossos passos sobre a grama e os insetos em volta.

— Não. Ele é mais como... um padrinho. — Respondeu apenas enquanto nos aproximávamos do galpão.

— Oh, entendo. — Assenti sem pretensões. — Ele parece ser um bom homem. Afinal, abrigar pessoas desconhecidas assim... — Dei de ombros enquanto encarava o chão à nossa frente.

— Sim, ele é. Hershel me ensinou a maioria das coisas que eu sei hoje em dia. — Garantiu ao encarar aquela linha no horizonte que parecia mais clara a cada minuto.

— Aposto que sim. — Concordei quando finalmente alcançamos aquele estábulo. — Ainda sinto como se ele estivesse louco para se livrar da gente, mas é óbvio que qualquer um teria uma reação como essa no momento em que estamos. — Lembrei ao apertar meus lábios usando uma expressão compreensiva.

— Não acho que as coisas estejam tão fora de controle. Afinal, temos tudo o que precisamos bem aqui. — O garoto comentou assim que entramos naquela construção.

Jimmy caminhou pelo corredor de baias aonde algumas vacas se encontravam presas. Eu esbocei uma expressão de choque, mas acreditei que ele não havia nem ao menos notado a minha surpresa. Porém me aproximei novamente do garoto enquanto ele abria a porta de uma das baias e começava a acalmar a fêmea que estava ali dentro.

— Amigo, você não deveria medir o mundo por sua régua. — Garanti cruzando meus braços enquanto o assistia amarrando um lance de cordas no animal a fim de contê-lo durante o processo. — Eu posso te dizer com total certeza, e com um grande currículo, que o mundo lá fora está um caos e vai te devorar vivo. Literalmente. — Expliquei em um tom repreensivo.

— Você perdeu alguém? — Ele perguntou assim que notou o tom ofendido em minha voz. Alternando o seu olhar entre mim e o animal que ele acariciava.

— Óbvio. Todos perdemos alguém em algum momento. — Apontei com frustração ao caminhar até ficar ao seu lado também.

— O seu marido? — Perguntou em um tom pretensioso quando retirou um pequeno banquinho que ficava pendurado em uma das paredes da baia com a ajuda de um prego. Eu franzi minhas sobrancelhas de forma desconfiada e confusa.

— Também. — Respondi ao vê-lo se sentar sobre o banquinho e posicionar aquele balde abaixo da vaca pronta para ordenhar. — Quantos anos você tem, garoto? — Questionei ao semicerrar meus olhos com dúvidas.

— Vou completar dezoito em breve. — Avisou em um tom bastante contido. E eu poderia estar louca, mas alguma coisa me dizia que a forma como ele havia respondido estava tentando tornar-se um pouco mais velho do que realmente era. — Quer tentar? — Propôs ao me mostrar o úbere do animal depois de ordenhá-lo por alguns segundos.

— Tem certeza? — Sondei para saber se não teria nenhum problema e o garoto assentiu me encorajando. — Ok! — Abaixei ao seu lado ainda de forma insegura, mas totalmente disposta.

— Você segura a sua mão aqui em cima, aperta bem levemente essa parte da pele e então faz esse movimento para baixo como se puxasse algo. Mas bem leve, para não a machucar. Ou então ela vai pular em você com raiva. — Brincou dando um leve sorriso.

— Você faz parecer fácil demais. — Comentei quando tentei fazer os seus movimentos, mas nenhuma gota de leite quis aparecer como fez com ele. — Acho que ela não gosta de mim. — Tentei mais uma vez e nada.

— Não, é só falta de experiência. — Alegou como um professor compreensivo. — Porém, também dizem que as vacas escolhem para quem elas dão o leite. Geralmente elas se acostumam com a pessoa que as ordenham todo dia. Dizem que até mesmo o cheiro do tratador faz com que elas entreguem o leite mais rápido. É por isso que, geralmente, é sempre a mesma pessoa que faz a ordenha. — Contou de um jeito bastante didático, misturado com uma nuance tradicional, e isso sim o fez parecer bem mais velho.

— Que safadinhas, não é? — Debochei com um sorriso animado e o garoto acabou rindo junto comigo enquanto eu ficava novamente ereta e dava espaço para que ele terminasse o seu trabalho.

Continuei assistindo ao seu serviço passando a mão no animal enquanto podíamos notar o dia nascendo levemente do lado de fora da construção. Perceber isso me fez caminhar para o lado de fora e passar a assistir o momento em que o céu mudava da cor escura para o mais confortável lilás e laranja. E rapidamente o sol começava a nascer perto da linha do horizonte como um evento revolucionário.

A paisagem aos arredores da fazenda eram dignas de uma pintura natural. Árvores distantes possuíam um tom esverdeado quase tão escuros quanto a noite. O vento um pouco frio tocava minhas bochechas e fazia o meu nariz gelar. Havia um pouco do gado pastando entre cercas distantes. A paz que aquele local silencioso proporcionava era surreal!

Eu entendia, de certa forma, porque aquelas pessoas não estavam tão alertas ou machucadas emocionalmente quanto nós. Afinal, eles ainda não haviam sidos expulsos do Éden.

— Com fome? — O garoto loiro saiu de dentro do estábulo e se aproximou de mim novamente. Ele carregava uma garrafa de metal por uma pequena alcinha totalmente fofa como se fosse de brinquedo e então a me entregou como se fosse um presente.

— Pra mim? Obrigada, senhor fazendeiro. — Debochei ao pegar aquela garrafa enquanto ele carregava o balde de metal com leite até a metade. Jimmy abriu um sorriso satisfeito ao voltarmos pela mesma trilha.

Fizemos todo o caminho de volta de maneira muito mais fácil por culpa do sol já nascido transformando os campos em dia. E conversamos um pouco sobre todas as coisas que antes existiam pela cidade próxima dali quando eu perguntei como era viver naquele local tão afastado da cidade grande.

Um pouco de normalidade banal às vezes era bom para acalmar um espírito conturbado. Mas nós dois tivemos que nos despedir e nos separar quando ele teve que ir para a casa principal da fazenda, aonde Hershel morava com a sua família, e eu tive que voltar para o acampamento na clareira depois de pegar o copo e a escova de dentes abandonados na fenda da árvore. Sempre segurando a minha garrafinha.

— Bom dia! — Cumprimentei Andrea assim que a vi saindo de sua barraca e indo para o centro do acampamento.

— Bom dia! — Ela respondeu e me analisou dos pés a cabeça com o rosto confuso. — Aonde você estava? — Questionou quando percebeu que eu parecia já estar de pé há muito tempo e ainda era muito cedo.

— Ordenhando uma vaquinha! — Expliquei entusiasmada quando lhe mostrei a garrafa de leite e me aproximei para colocar o recipiente sobre a mesa ao lado do depósito de água.

A mulher loira acabou rindo da minha animação e caminhou em direção à uma mesa de piquenique aonde estavam dispostas algumas das nossas coisas.

— O que você trouxe? — Carol perguntou ao perceber aquela garrafa sobre a mesa e eu ainda procurando por algumas coisas por ali.

— Leite fresco. — Respondi virando em sua direção e percebi que ela carregava um cesto de roupas relativamente grande em suas mãos. — Dia da lavanderia? — Questionei o óbvio e ela assentiu. — Você soube sobre a trilha de Sophia? — Perguntei com um tom animado e a mulher assentiu levemente em concordância.

— Daryl me contou que achou um refúgio. — Disse de forma resumida. Mas o tom meio triste de suas palavras me deixou um pouco desconcertada.

— Isso é incrível! Não é? — Indaguei ao não entender o motivo da sua melancolia.

— Eu não sei. — Carol balançou a cabeça em negativa ao encarar o chão de maneira depressiva. — Tenho medo de continuar alimentando esperanças e de repente só... — Suas palavras foram interrompidas por seus lábios se apertando afim de conterem o choro eminente. Eu me compadeci.

— Confie nele, Carol! — Pedi como se fosse o mínimo que ela pudesse fazer. — E mantenha as esperanças. É a única coisa que temos hoje em dia. Tenho certeza que Sophia...

— Oras, o que você sabe sobre isso? Não preciso mais ouvir essas frases de efeito. — Reclamou em tom irritado quando simplesmente interrompeu as minhas palavras de forma grosseira e se afastou de mim demonstrando toda a sua frustração e raiva.

Suspirei fundo e tentei conter a raiva que despontou levemente em minha mente como um ferrão. Afinal, eu precisava ser um pouco compreensiva com a mulher sofrendo um inferno. Perder um filho com certeza não era fácil. E Carol tinha razão, eu não sabia o que era perder um.

Entretanto, eu cogitaria uma boa surra naquela vadia assim que Sophia estivesse de volta e segura.

Peguei finalmente uma caneca de plástico resistente e decidi dar o primeiro gole no leite recém tirado. Para a minha surpresa o gosto foi um pouco mais decepcionante do que eu esperava. Apesar de já saber como era, mas o fato de ter tomado apenas os industriais em caixinhas a minha vida toda acabou dando uma grande diferença em algo tão natural.

Franzi o meu cenho em uma careta esquisita e encarei aquela caneca de maneira acusadora.

— Devia ferver isso aí... — Daryl comentou assim que passou por meu corpo sem me encarar, parecendo entender o que se passava naquele contexto apenas por observar o cenário, mas não parou os seus passos.

— É, deveria mesmo. — Concordei ao deixar a caneca novamente sobre a mesa e o observei se afastando em direção a sua barraca, parecendo se preparar para algo importante. — Você vai continuar as buscas hoje? — Perguntei o seguindo rapidamente até me aproximar o suficiente.

— Óbvio. — Respondeu quando começou a pegar algumas flechas que estavam no chão em frente a sua tenda e começou a encaixá-las rapidamente no suporte específico da balestra.

— Por favor, tome cuidado, ok? — Pedi em tom angustiado ao cruzar meus braços e observá-lo agachado no chão, arrumando aquelas flechas.

O homem nada me respondeu. Continuou com seus olhos sérios em direção as suas mãos habilidosas e permaneceu indiferente as minhas palavras tanto quanto a minha presença.

Respirei fundo ao tentar manter minha calma e compostura. Então o lance seria fingir que nada aconteceu? Não estava nem um pouco surpresa...

— Eu sei que você odeia quando fico nos seus calcanhares dizendo isso o tempo todo. Mas eu, obviamente, não posso segui-lo no momento. E isso faz os meus nervos fritarem! — Reclamei ainda de maneira exigente e angustiada quando ele finalmente se levantou e mirou aqueles belos olhos de perfil em minha direção com seriedade. — Regra número um sobre sobrevivência: Poderia pelo menos me dizer até onde você vai hoje? — Perguntei de um jeito mais gentil e compreensivo, tentando manipulá-lo.

— As regras do seu namorado não valem pra mim. — Apontou usando um tom firme e disposto, como se Anton ainda estivesse vivo e bem ali perto de nós. Eu respirei fundo e apoiei o meu peso apenas na perna sadia enquanto mantinha os braços cruzados com desdém.

— Mesmo? — Retruquei com um sorriso irônico. — Mas acho que você teria gostado dele se tivesse o conhecido. Vocês tinham algumas coisas em comum, sabe? Por exemplo, ele também te achava um babaca. — Contei de maneira sádica enquanto tentava provocá-lo.

Daryl se virou completamente em minha direção enquanto seus olhos se estreitaram parecendo surpresos e confusos. Eu sorri ainda mais, com satisfação.

— Ele era o meu terapeuta. É óbvio que eu falei sobre você. — Expliquei rolando meus olhos ao mostrá-lo que aquilo não era tão extraordinário.

— E vocês estavam transando por uma consulta? — Questionou de um jeito grosseiro quando novamente colocou aquela alça em volta do seu peito e arrumou a balestra mais confortavelmente em suas costas.

— Claro! Assim como eu estou tentando transar com você por um esquilo. — Reclamei irritada e em tom sarcástico quando desfiz os meus braços cruzados e fechei os meus punhos quase preparados para lhe dar um belo soco. — Sinceramente, quando eu penso que nós estamos um passo à frente, você simplesmente se volta contra mim, amarra uma pedra no meu tornozelo e me joga no rio! — Briguei claramente brava, mas Daryl simplesmente ignorou a minha reação e começou a se afastar com passos calmos de novo.

Aquilo feriu o meu coração estúpido tão rápido quanto uma de suas flechas. Eu estava sendo sincera com ele desde o início. E pensava que o meu prêmio pela sinceridade seria também um pouco de gentileza e honestidade da sua parte. Talvez eu realmente não tivesse tanta sorte com relacionamentos. Ou Dixon's.

— Você não faz a menor ideia, não é? — Indaguei com um sorriso azedo e mais uma vez ele se virou para me encarar com sua expressão séria. — Das coisas horríveis que você me faz sentir quando se comporta assim. — Expliquei meneando minha cabeça com expressão de dúvida e reflexão. — Se você gostasse de mim, como eu achei que gostava; se houvesse um pingo de sentimento aí dentro... — Apontei para o seu peito com o meu indicador exatamente aonde estava a alça daquela balestra. — Você nunca diria coisas como essa. — Garanti como uma certeza.

Para a minha surpresa, Daryl pareceu se tornar um pouco perdido pela primeira vez. Seus olhos se desviaram dos meus de forma envergonhada e o seu olhar dançou sobre o chão entre nossos pés. Porém nenhuma palavra ousou escapar por seus lábios enquanto eu continuava.

Eu sei que Merle te ensinou isso. — Lembrei voltando a me aproximar até que ambos estivéssemos em uma distância confortável. — Ele te ensinou a me tratar assim porque "garotas são fáceis e inúteis". Porque ele não queria que nenhuma foda ficasse entre ele e o seu irmãozinho caçula. Mas, hey, olhe em volta...! — Apontei ao abrir os meus braços de maneira exclamativa arqueando minhas sobrancelhas. — Merle não está mais aqui. Você não está mais no domínio dele. E, eu sinto muito! Eu sinto muito mesmo! Eu sei que ele é o seu irmão! Mas existem pessoas que se importam mais com você agora! — Avisei quase implorando.

— Merle não está mais aqui porque o algemaram em cima de um telhado como se ele fosse um cão. Porque você arrancou a mão dele fora! — Acusou de um jeito irritado e incomodado quando virou suas costas e passou a caminhar pela mesma trilha que o levaria direto para o estábulo aonde estavam os cavalos da fazenda.

— Ele não estava mais aqui bem antes disso, Daryl! Você sabe! Sempre! — Briguei enquanto continuava o seguindo pelo mesmo caminho. Não deixaria que ele finalizasse aquela conversa de um jeito tão fajuto quanto simplesmente fugir. Afinal, a situação delicada merecia um desfecho proporcional. — Merle sempre estava longe e quando voltava ele simplesmente te colocava em uma situação absurda! Só para que pudesse salvá-lo e você acreditasse que devesse alguma coisa para ele! — Acusei em tom muito afetado.

Minhas palavras pareceram alcançar algo mais grave dentro de si. Afinal, ele parou os seus passos subitamente e virou em minha direção como se pudesse me ferir ali mesmo. Porém eu não recuei. Não recuei da sua expressão quase mortal, dos seus olhos mórbidos ou movimentos irritados. Apenas fechei os meus punhos e esperei conseguir enfrentar tudo o que fosse preciso.

— Você tem um lance muito bom aqui, você sabe. E não estou falando de mim! — Avisei rapidamente e com firmeza. — As pessoas aceitam você e gostam de você. Elas se importam. Mesmo quando você é um completo idiota. Fico surpresa por ninguém nunca ter atirado em você! — Repreendi tentando dar-lhe uma bronca. — Além disso, você pode se sentir confuso o quanto quiser em relação ao que aconteceu noite passada naquele trailer... ou sobre todas as coisas que você pode estar ou não sentindo sobre mim. Me destruir não vai resolver a bagunça aí dentro. — Apontei para o seu peito com o indicador.

Fitei o seu rosto lívido por algum tempo enquanto desejava fortemente ter a capacidade de ler os seus pensamentos. Mas era inútil. Apenas decifrei os seus olhos cheios de compreensão e a sua inquietação que tanto o abalava. Torcendo para que, de alguma forma, as minhas palavras tivessem feito alguma diferença dessa vez.

— Mas você quer saber? Cansei de me importar com você. Eu não vou incomodá-lo mais. — Apontei ao soltar um longo suspiro de rendição e desviei os meus olhos até a cerca de madeira que adornava a propriedade não muito distante dali.

Mordi o meu lábio levemente e franzi minhas sobrancelhas demonstrando um pouco de dor, mas depois de algum tempo foi a minha vez de me afastar levemente para trás e então, girando sobre os meus calcanhares, ir embora em sentindo contrário ao caçador.

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