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By QveenBDD

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+18 โ— ๐’๐“๐ˆ๐๐† [๐‹๐ˆ๐•๐‘๐Ž ๐ˆ] โ— โŽข โ๐€๐‹๐†๐”๐Œ๐€๐’ ๐๐„๐’๐’๐Ž๐€๐’ ๐’๐„ ๐’๐„๐๐“๐„๐Œ encurraladas pelo caos... More

โžณ ๐ƒ๐ข๐ฌ๐œ๐ฅ๐š๐ข๐ฆ๐ž๐ซ [Aviso legal]
โžณ ๐‘๐ž๐š๐๐ข๐ง๐  ๐†๐ฎ๐ข๐๐ž [Dinรขmica].
โžณ ๐๐ซ๐ž๐Ÿ๐š๐œ๐ž ๐•๐จ๐ฅ. ๐ˆ [Recado da autora].
โ— ๐‚๐€๐’๐“ โ—
๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— (๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐Ž๐Ÿ) โ— ๐๐ซ๐ž๐ฆ๐ข๐ž๐ซ๐ž
(Vol. I) Memรณrias Iโ”‚Dias de verรฃo.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Sitiados.
(Vol. I) Memรณrias II โ”‚ Doce dezesseis.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Enterro no asfalto.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚ Telhado de vidro.
(Vol. I) Memรณrias III โ”‚Conto de fadas.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Sobrevivรชncia.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Opulรชncia.
(Vol. I) Memรณrias IV โ”‚Um lar em uma caixa.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Reconhecimento.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚Lua cheia.
(Vol. I) Ano I p.eโ”‚Branca de Neve.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Trofรฉu de caรงa.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Lacrimosa.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Sob o luto.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Heranรงa genรฉtica.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ รŠxodo.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Cercas brancas.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Persistรชncia.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Alรญvio.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Vinho da meia noite.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Bourbon do Kentucky.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Pesadelo.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Cama ou sofรก.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Novelo de lรฃ.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ O que vale a pena.
๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐…๐ข๐ง๐š๐ฅ๐ž โ— Bandeiras Vermelhas.
โžณ ๐๐ซ๐ž๐Ÿ๐š๐œ๐ž ๐•๐จ๐ฅ. ๐ˆ๐ˆ [Recado da autora].
๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— (๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐Ž๐Ÿ) โ— ๐๐ซ๐ž๐ฆ๐ข๐ž๐ซ๐ž
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Territรณrio Novo.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Para onde todos vรฃo.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Longe de nรณs.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Ouro verde.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Nem sempre uma famรญlia.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Delรญrios desentendidos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ A arte de sentir.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Pacรญfico.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Isca viva.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Mais perto.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Alรฉm do momento.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Tortas de maรงรฃ.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Tormentas.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Boneca de pano.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ De volta.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Barganha.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Do outro lado.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Determinado.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Quase mortos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Puniรงรฃo.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Rodovias.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Renascer.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Asas de inverno.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Tudo por nรณs.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Vilรตes e mocinhos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Sentenciados.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Focos de incรชndio.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Pontas de flechas.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Perdas irreparรกveis.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Rifles amigos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Libertos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Achados e perdidos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Para o inรญcio.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Fogo na colina.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Em busca do cรฉu.
๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐…๐ข๐ง๐š๐ฅ๐ž โ— Moinhos de neve.
โžณ ๐๐ซ๐ž๐Ÿ๐š๐œ๐ž ๐•๐จ๐ฅ. ๐ˆ๐ˆ๐ˆ [Recado da autora].
๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— (๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐Ž๐Ÿ‘) โ— ๐๐ซ๐ž๐ฆ๐ข๐ž๐ซ๐ž
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Semeando o verรฃo.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Apenas em sonhos.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Caรงas macias.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Campo minado.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Das estrelas ou mais.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Acima dos mapas.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Fraternos.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Milagres.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Todos os detalhes.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Salvos pelo momento.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Alicerces.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Sem sapatos.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Vidas em curso.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Depois de nรณs.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Bravinha.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Vigรญlia.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Nรฃo pegue.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Em famรญlia.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Cavalo de Trรณia.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Neblina.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Contra a corrente.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Supostamente ser.
๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐…๐ข๐ง๐š๐ฅ๐ž โ— Caminhos.
โ— ๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— ๐‘Ž๐‘’๐‘ ๐‘กโ„Ž๐‘’๐‘ก๐‘–๐‘ โ—

(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ O som das รกrvores.

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By QveenBDD

A tarde começou a ir embora enquanto o sol se tornava cada vez mais alaranjado até se tornar assustadoramente escuro como um filtro estranho. E foi exatamente nesse início de noite tão esquisito que todos puderam ver quando Rick saiu de dentro daquela floresta junto com Daryl e os dois homens se aproximaram de volta ao asfalto aonde a maior parte do grupo estava.

O choro de Carol tornou-se mais alto quando todos percebemos que Sophia não estava com eles.

— Droga... — Xinguei ainda encarando a cena de longe, de joelhos dentro da caçamba aberta da minha picape. E fiquei apenas observando a conversa e consolo de todos em volta da mulher totalmente desesperada.

Eu sabia como era a dor da perda. E eu sabia que não existiam perdas maiores e perdas menores quando se tratavam de pessoas, afinal, todo mundo sente a dor de uma forma diferente. Mas eu tinha total convicção do quanto aquela mulher estava sofrendo agora. Ela estava literalmente passando pelo pior pesadelo de uma mãe. E isso me despertava um sentimento muito ruim de pena e tristeza.

Suspirei profundamente e voltei a organizar as coisas metodicamente para tentar facilitar a retirada de qualquer coisa útil que estivesse garimpada ali dentro. Eu apenas queria ficar longe da tragédia.

— Hey, você tem um pouco de água aí? — Ouvi a voz masculina perguntar enquanto eu permanecia de joelhos sobre a caçamba e com minhas costas viradas para Daryl.

Era uma grande surpresa percebê-lo se aproximando de mim por algo tão simples como água, mas alguma coisa me dizia que provavelmente ele estava tentando se afastar do centro dos acontecimentos, ou simplesmente disfarçando para saber como eu estava após o ocorrido.

A segunda opção era bem mais interessante.

— Depende, você tem alguma garotinha loira aí? — Perguntei como se fosse uma recompensa, permanecendo ainda de costas e com um meio sorriso ao tentar provocá-lo.

Peguei uma das garrafas de água mineral que eu havia deixado dentro de um cesto quadrado e me virei em sua direção a esticando para entregá-la. Foi uma surpresa terrível quando o cheiro de putrefação avançada totalmente acentuado chegou em minhas narinas e invadiu os meus pulmões como um furacão nojento e sem qualquer permissão.

Eu sabia muito bem que o mal cheiro dos mortos estava praticamente impregnado no mundo como uma marca registrada agora. Mas na situação em que Daryl estava, parecia que ele carregava um cadáver preso nas costas.

— Que porra de cheiro é esse?! — Exclamei alarmada ao entregar a garrafa de água e levar a minha mão até o meu nariz para tapá-lo.

— Encontramos um daqueles filhos da puta no meio da trilha de Sophia. — Ele explicou sem se importar com o meu quase surto por culpa do cheiro. Ele tinha o rosto todo sujo e as roupas estavam piores.

— É? E ele vomitou em você por acaso? — Perguntei ainda franzindo meu cenho e me sentei de pernas esticadas na parte mais vazia da caçamba da caminhonete para livrar minha torção do peso do meu corpo.

— O mordedor havia acabado de engolir alguma coisa. Eu e Rick tivemos que estripar o desgraçado para saber o que ele tinha comido. Era uma marmota. — Me explicou ao beber a sua água tranquilamente.

Meu cenho se franziu em um desgosto evidente. Eu não me importava com o fato de ter que matá-los, afinal, era a lei da sobrevivência. Ou éramos nós ou eram eles. Mas imaginar tal cena em minha cabeça foi de longe a coisa mais perturbadora e maluca que havia acontecido. Ainda mais bizarra do que o "rebanho" de mortos-vivos fluindo pelo asfalto.

— É realmente uma história do cacete! — Respondi ainda totalmente impressionada. — Mas será que você poderia contá-la a favor do vento? — Debochei finalmente tirando a mão do nariz e tentando me acostumar com aquele cheiro horrível. — Então quer dizer que você abriu o filho da puta e revirou as tripas do morto? — Repeti com nojo em minha voz.

— Igual a um chilli. — Daryl completou com um sorrisinho de escárnio, me fazendo expressar ainda mais incômodo.

— Nunca mais eu vou conseguir comer chilli de novo. — Resmunguei para mim mesma com asco e balancei a minha cabeça em negativa algumas vezes.

Daryl acabou se curvando sobre as laterais da picape, jogou a garrafa de água de volta em um dos cestos e apoiou seus dois antebraços na lataria ao tentar analisar melhor todos os objetos que estavam guardados ali dentro e ocupavam quase todo o espaço.

— Você passou o dia inteiro entulhando coisas? — Perguntou franzindo a ponte do seu nariz em uma careta como se estivesse me acusando de ter exagerado um pouco. Eu apenas sorri animada mostrando que aquilo era algo de que eu me orgulhava.

— Olhe só o tanto de coisa legal que eu consegui! — Gesticulei para os objetos como se fossem o meu grande império. — Uma barraca de camping. Três lanternas. Naquela caixa estão todas as baterias. Consegui garrafas de água. Comida enlatada. Um colchão de acampamento. Na mala preta estão as roupas de verão e na mala vermelha estão as roupas de inverno. — Expliquei metodicamente, lhe mostrando que tudo estava organizado. — Também consegui um par de coturnos novos! — Levantei um dos meus pés na altura do seu rosto enquanto lhe lançava um grande sorriso bastante animado. — Estão folgados, mas a tala não machuca e eu os amarro forte!

— Cacete. — Resmungou com a voz rouca, como se eu fosse uma louca descontrolada, quando empurrou meus pés de volta para o chão da picape.

— Olha! Eu tenho algo pra você! — Revelei quando puxei a peça de roupa de cima da mala de inverno e estiquei o poncho de tecido marrom com estampas geométricas em cores terrosas. — É um poncho Cherokee. Eu achei bem parecido com você quando o vi. — Expliquei ao jogá-lo em sua direção e o homem pegou com as duas mãos para olhá-lo. — Não se preocupe, não foi tão caro. Estava de graça! — Debochei com um sorriso.

— Vai acumular coisas 'pros' outros também? — Provocou ainda segurando aquele agasalho como se não fosse grande coisa. Eu fiz uma expressão entediada.

— Aceita logo a porra do agasalho, Daryl! — Briguei rolando meus olhos. — Você vai me agradecer quando os seus bracinhos branquelos estiverem tremendo de frio no inverno! — Reclamei mirando meus olhos nos seus com total certeza.

Daryl continuou analisando a peça de roupa como se não soubesse o que pensar sobre aquilo, ou não estivesse acostumado a receber presentes, o que acabou me fazendo sorrir de maneira satisfeita. Pois apesar das suas palavras teimosas e sua expressão sempre fria, ele simplesmente não me devolveu o agasalho. Apenas o jogou sobre o ombro de forma sorrateira mostrando que o aceitaria. Aquilo me fez sorrir com carinho.

Pra mim, parece mais que você está indo embora. — Ele comentou com uma expressão um pouco acusadora. O que me fez pensar que ele falava sobre a quantidade de coisas que eu havia guardado.

Eu encarei os objetos guardados e então o seu rosto novamente, como uma criança confusa. Havia uma nuance um pouco preocupada em seus olhos claros como o céu. Algo como se ele precisasse se certificar e aquilo me deixou um pouco perdida. Daryl estava realmente tentando atestar a minha permanência ali, ou eu simplesmente estava totalmente iludida com a ideia da nossa interação?

Não seria a primeira vez que o meu coração seria quebrado por minha própria imaginação.

— É claro que sim! Ou você acha que eu vou morar aqui mesmo? No meio dessa rodovia? — Brinquei na esperança de expulsar aquele pensamento confuso que não me deixava entender as coisas direito.

Porém eu pude notar quando o homem apenas mordeu a parte interna dos seus lábios como um garoto ansioso e encarou o chão da picape enquanto parecia refletir sobre alguma coisa. Algo que ele não me contaria, eu tinha plena certeza disso, mas que com certeza o preocupava. E quando aquele momento passou, eu realmente me arrependi de não tê-lo dito. De não ter dito todas as coisas que gostaria. As coisas que importavam.

— E eu ainda nem te contei a melhor parte! — Avisei ao puxar o pacotinho com os cigarros de dentro do meu bolso e estendê-lo na altura do seu rosto para que ele entendesse o que era aquilo. — A cidade das esmeraldas! — Brinquei ao abrir aquele pacote e começar a pegar um dos cigarros de cannabis junto com o isqueiro metálico que os acompanhava.

— A porra do apocalipse está devorando todo mundo e você vai ficar chapada. — Criticou em um tom desacreditado quando os seus olhos se estreitaram um pouco. Mas eu acabei sorrindo calmamente enquanto fingia que tocava um violino invisível sobre meu ombro.

— Essa é a frase mais poética que eu escutei desde quando o mundo acabou! — Avisei levando um dos cigarros até os meus lábios e tentando acender um com o isqueiro que falhava um pouco.

— É a coisa mais idiota para se fazer no meio do nada com um bando de mortos-vivos na sua bunda. — Comentou ainda me encarando com repreensão.

— É por isso que eu tenho um plano! — Avisei finalmente conseguindo fazer o isqueiro funcionar e acendi a ponta enrolada do cigarro com rapidez.

— Hmm. — O ruído que saiu por sua garganta não passou de nada além de um resmungo escapando por suas cordas vocais.

— Eu fumo e você vigia! — Avisei tragando um pouco da fumaça que se formava através do conteúdo e rapidamente levei tudo aquilo para dentro dos meus pulmões. Uma expressão de choro veio até meu rosto quando senti o primeiro baque do gosto, da substância, até que ela voltasse por meus lábios como uma fumaça branca e espessa acariciando meus lábios e subindo para o ar como um tiro.

Encarei o homem que me observava atentamente ainda com uma expressão séria, porém talvez um pouco mais relaxada. Ou talvez fosse só a erva começando a fazer efeito em meu cérebro. Os seus olhos azuis pareciam mais intensos como se refletissem todos os tons que só seriam encontrados no céu. Um pedaço do paraíso na terra queimando como o inferno.

Estiquei a minha mão em sua direção ao oferecer um pouco do cigarro que consumia. Mas Daryl acabou balançando a cabeça rapidamente quando se negou. Me fazendo levar o mesmo para os meus lábios novamente.

— Daryl... — Eu o chamei baixo e sorrateiramente quase como um assovio no escuro. Alguma coisa me dizia que isso já estava ficando mais frequente do que antes. — Hey, escute... — Comecei. — Se toda essa merda de pandemia na verdade não fosse com mortos que andam e sim com vampiros... — Formulei enquanto gesticulava como se fosse uma grande explicação científica. — Mas com vampiros como aqueles que víamos na televisão, você sabe? Os caras bonitões! Você acha que nós fugiríamos ou faríamos uma fila? — Questionei arqueando as minhas sobrancelhas.

— De que porra cê tá falando? — Ele devolveu ao franzir o cenho em total confusão. E aquilo me fez simplesmente cair no riso como se fosse a coisa mais surreal que eu já tinha ouvido.

— Não, falando sério! Agora é sério! — Tentei continuar enquanto ainda ria de um jeito insano e jogava a minha cabeça para trás. O que acabou fazendo o meu movimento se tornar um pouco exaltado e acabei batendo minha cabeça na lataria metálica da caminhonete com força demais. — Porra! — Reclamei levando a mão até o lugar latejando.

Aquilo pareceu ser o suficiente para o homem que me encarava. Daryl simplesmente deu a volta na picape até alcançar o meu corpo e agarrou aquele cigarro, assim como também pegou o pacote com o restante, os puxando de minhas mãos com destreza. E eu tentei reclamar, mas os movimentos rápidos de suas mãos jogaram o restante do cigarro aceso no asfalto e arrastaram com seu pé o esmagando completamente para apagá-lo.

— Não! — Reclamei fingindo choramingar e esticando meu braço em direção ao asfalto de maneira dramática. Mas ele não parecia arrependido e nem havia muito o que ser feito, então eu apenas encostei meu rosto na lataria fria e respirei fundo ainda sentindo aquela vibe subindo em minha respiração. — Você é um careta filho da mãe, sabia? — Cochichei de forma relaxada demais para brigar.

O meu coração parecia mergulhado em uma banheira quentinha e confortável do meu próprio sangue. Fazendo com que coisas tão antigas viessem até a minha mente como uma onda de flashes constantes e intermináveis. Me obrigando a me jogar delicadamente e me deitar de braços abertos e apoiada sobre os objetos que estavam guardados na caminhonete como uma cama desconfortável. Eu queria apenas sentir.

Meus olhos miraram no céu agora tão escurecido. Me fazendo regular a minha respiração como um tique de um relógio enquanto tantos pensamentos corriam minha mente rapidamente como fogo sobre uma linha de pólvora.

— Eu sei o que você espera que eu diga. — Sussurrei calma e relaxada. — E você está certo... eu quero ficar! — Falei enquanto observava as primeiras estrelas aparecerem brancas em pontos muito distantes naquele céu.

Nós éramos tão insignificantes em relação àquelas estrelas! E ainda assim perdíamos tempo com tantas bobagens formais.

— Eu gostaria de ficar. Aqui. — Forcei o meu corpo até que eu conseguisse sentar e encarei os olhos azuis que me encaravam de volta do outro lado da lateral. Olhos que pareciam mais profundos e melancólicos do que eu me lembrava. — Quero ficar aqui com vocês. — Resmunguei esfregando meus olhos como se estivessem pesados de sono. — Você sabe? Eu quero ficar aqui com você. — Avisei de um jeito choroso e triste como se alguém me impedisse.

— Você pode. — Ele me respondeu em um tom baixo e rápido que quase me fez duvidar se ele havia dito ou não. Eu sei que depois eu duvidaria. Mas agora aquelas palavras me trouxeram um certo tipo de conforto ainda mais seguro do que qualquer promessa.

Fiquei presa naquele rosto por um momento que pareceu uma eternidade. Suas palavras pareciam alimentar algo faminto em minha alma. Algo que se tornava cada vez mais à vontade e corajoso. Me obrigando a me perguntar se aquilo seria real ou se eu estava sozinha nessa. O quão cruel seria se eu simplesmente estivesse caminhando em direção a uma caixa vazia?

As estrelas brilhavam como luzes de natal a ponto de me fazer perceber as pequenas mantas de cosmos feitas por elas. Incrivelmente belo.

— Todas às vezes que eu olho para você eu consigo ouvir a música. — Revelei como se fosse o meu segredo mais profundo por simplesmente não conseguir manter o filtro de minhas palavras. Entretanto, não fazia ideia do que eu estava dizendo. — Sabe, aquela música. — Tentei fazê-lo entender quando notei a sua expressão confusa e desconcertada.

— Não tem música nenhuma, Heidi. Você está chapada! — Alertou um pouco impaciente enquanto balançava a sua cabeça rapidamente em negativa, mostrando-se mais enérgico.

— Porra Daryl, não está ouvindo a música? — Questionei exigente quando levantei o meu dedo em riste na esperança que ele fizesse silêncio.

Eu conseguia ouvir a melodia tão longe como se apenas pudesse ser ouvida no mais profundo silêncio da minha alma. As notas se combinando calmamente exatamente como as canções que saiam de todos os rádios de todos os automóveis naquela estrada anoitecida. E então eu comecei a cantarolar a mesma canção enquanto fechava meus olhos calmamente e voltava a me deitar de novo sobre todas aquelas coisas.

Não soube especificar se realmente era culpa do cigarro recente, se eram os últimos acontecimentos de um dia tão cansativo, ou simplesmente a combinação dos dois, mas a sensação de relaxamento total tomou o meu corpo como uma onda aconchegante de sono. De uma forma tão confortável que eu simplesmente não conseguia nem ao menos me mover ou me manter acordada. E nem queria resistir.

Simplesmente me entreguei ao sono como se não estivéssemos desprotegidos em um mundo hostil. Naquele momento o cannabis havia me dito que não tinha nada para me preocupar.

Senti quando Daryl simplesmente agarrou o meu braço e me puxou em direção ao seu corpo de forma desajeitada, porém firme. E apesar de ficar bastante surpresa, eu simplesmente decidi aproveitar o momento e fingir que dormia. Principalmente quando Daryl me colocou em seu colo de maneira rápida e simplesmente soltando um suspiro frustrado muito longo como se não tivesse mais capacidade para lidar com aquilo. E eu quis rir, mas não consegui. Eu nem se quer quis me mover, só queria ficar ali quietinha em seus braços.

Mantinha meus olhos fechados e por isso percebi pelos outros sentidos que o homem começou a me levar de volta em direção ao trailer de Dale sem muita pressa. E eu sabia disso muito bem pois o homem mais velho pareceu muito surpreso assim que avistou aquela cena.

— Ela está bem? — Ouvi Dale perguntar de forma preocupada enquanto eu ainda fingia dormir nos braços do caçador. Pela distância da voz o velho deveria estar no teto do seu trailer, talvez vigiando.

— Está. Só está... chapada. — Daryl explicou com dificuldades para entrar no trailer ainda me carregando nos braços como uma boneca de pano.

Senti quando o homem simplesmente me jogou sem delicadeza nenhuma em cima de um dos sofás que ficavam em volta da mesa do trailer no primeiro compartimento do automóvel e eu decidi ficar ali apenas por aproveitar a carona e finalmente poder dormir um pouco.

— Se ela tentar sair daqui pode derrubá-la com isso. — Dixon brincou para alguém ao colocar algo pesado sobre a mesa, talvez uma arma que carregava na cintura, e pela risada baixa que houve em resposta eu pude perceber que ele falava com Andrea.

Após isso o homem se afastou calmamente dentro do trailer apertado e pareceu entrar no único banheiro do automóvel. Eu virei o meu corpo de frente para o estofado do sofá e arrumei melhor a minha posição enquanto o único som ouvido dentro daquele carro foi o som do chuveiro sendo ligado por ele dentro do cômodo. Não foi muito difícil simplesmente dormir profundamente.

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