STING โ— [๐‹๐ˆ๐•๐‘๐Ž ๐ˆ] โ— dar...

By QveenBDD

195K 18.6K 15.8K

+18 โ— ๐’๐“๐ˆ๐๐† [๐‹๐ˆ๐•๐‘๐Ž ๐ˆ] โ— โŽข โ๐€๐‹๐†๐”๐Œ๐€๐’ ๐๐„๐’๐’๐Ž๐€๐’ ๐’๐„ ๐’๐„๐๐“๐„๐Œ encurraladas pelo caos... More

โžณ ๐ƒ๐ข๐ฌ๐œ๐ฅ๐š๐ข๐ฆ๐ž๐ซ [Aviso legal]
โžณ ๐‘๐ž๐š๐๐ข๐ง๐  ๐†๐ฎ๐ข๐๐ž [Dinรขmica].
โžณ ๐๐ซ๐ž๐Ÿ๐š๐œ๐ž ๐•๐จ๐ฅ. ๐ˆ [Recado da autora].
โ— ๐‚๐€๐’๐“ โ—
๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— (๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐Ž๐Ÿ) โ— ๐๐ซ๐ž๐ฆ๐ข๐ž๐ซ๐ž
(Vol. I) Memรณrias Iโ”‚Dias de verรฃo.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Sitiados.
(Vol. I) Memรณrias II โ”‚ Doce dezesseis.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Enterro no asfalto.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚ Telhado de vidro.
(Vol. I) Memรณrias III โ”‚Conto de fadas.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Sobrevivรชncia.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Opulรชncia.
(Vol. I) Memรณrias IV โ”‚Um lar em uma caixa.
(Vol. I) Ano I p.e. โ”‚Reconhecimento.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚Lua cheia.
(Vol. I) Ano I p.eโ”‚Branca de Neve.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Trofรฉu de caรงa.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Lacrimosa.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Sob o luto.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Heranรงa genรฉtica.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ รŠxodo.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Cercas brancas.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Persistรชncia.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Alรญvio.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Vinho da meia noite.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Bourbon do Kentucky.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Pesadelo.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Cama ou sofรก.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ Novelo de lรฃ.
(Vol. I) Ano I p.e.โ”‚ O que vale a pena.
๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐…๐ข๐ง๐š๐ฅ๐ž โ— Bandeiras Vermelhas.
โžณ ๐๐ซ๐ž๐Ÿ๐š๐œ๐ž ๐•๐จ๐ฅ. ๐ˆ๐ˆ [Recado da autora].
๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— (๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐Ž๐Ÿ) โ— ๐๐ซ๐ž๐ฆ๐ข๐ž๐ซ๐ž
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Territรณrio Novo.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Longe de nรณs.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Ouro verde.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ O som das รกrvores.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Nem sempre uma famรญlia.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Delรญrios desentendidos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ A arte de sentir.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Pacรญfico.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Isca viva.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Mais perto.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Alรฉm do momento.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Tortas de maรงรฃ.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Tormentas.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Boneca de pano.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ De volta.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Barganha.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Do outro lado.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Determinado.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Quase mortos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Puniรงรฃo.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Rodovias.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Renascer.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Asas de inverno.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Tudo por nรณs.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Vilรตes e mocinhos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Sentenciados.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Focos de incรชndio.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Pontas de flechas.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Perdas irreparรกveis.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Rifles amigos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Libertos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Achados e perdidos.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Para o inรญcio.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Fogo na colina.
(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚Em busca do cรฉu.
๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐…๐ข๐ง๐š๐ฅ๐ž โ— Moinhos de neve.
โžณ ๐๐ซ๐ž๐Ÿ๐š๐œ๐ž ๐•๐จ๐ฅ. ๐ˆ๐ˆ๐ˆ [Recado da autora].
๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— (๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐Ž๐Ÿ‘) โ— ๐๐ซ๐ž๐ฆ๐ข๐ž๐ซ๐ž
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Semeando o verรฃo.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Apenas em sonhos.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Caรงas macias.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Campo minado.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Das estrelas ou mais.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Acima dos mapas.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Fraternos.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Milagres.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Todos os detalhes.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Salvos pelo momento.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Alicerces.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Sem sapatos.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Vidas em curso.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Depois de nรณs.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Bravinha.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Vigรญlia.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Nรฃo pegue.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Em famรญlia.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Cavalo de Trรณia.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Neblina.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Contra a corrente.
(Vol. III) Ano II p.e. โŽฅ Supostamente ser.
๐’๐ž๐š๐ฌ๐จ๐ง ๐…๐ข๐ง๐š๐ฅ๐ž โ— Caminhos.
โ— ๐’๐“๐ˆ๐๐† โ— ๐‘Ž๐‘’๐‘ ๐‘กโ„Ž๐‘’๐‘ก๐‘–๐‘ โ—

(Vol. II) Ano I p.e.โ”‚ Para onde todos vรฃo.

2K 198 152
By QveenBDD

Alguns dias nasceram e morreram durante o tempo em que permanecíamos na estrada em direção a fronteira de Atlanta e em busca do Fort Benning, o nosso destino. Continuava avistando quilômetros e quilômetros de longas estradas e rodovias asfaltadas e infestadas. Bairros abandonados, corpos espalhados e destroços envolvidos por uma camada de poeira e escombros. Era uma visão aterradora.

Parávamos só pelo tempo necessário para abastecermos os automóveis com combustível, fazermos as alimentações precárias e atendermos ao pedido da natureza com nossas necessidades básicas. Tempo esse que eu também utilizava para caminhar e esticar um pouco as minhas pernas.

Uma dor cansada fazia a minha panturrilha parecer pesar mais do que um balde de chumbo e os pedais da caminhonete velha não ajudavam muito; porém eu havia decidido levar o carro junto comigo. Talvez por apenas uma questão sentimental, ou quem sabe por uma precaução. Afinal, eu acreditava que precisava ter um meio de fuga disponível apenas para mim.

O som da motocicleta se aproximando do meu carro começou a aumentar mostrando que ela não se encontrava muito longe. Ficando alto o suficiente até ultrapassar o som cansado do motor da caminhonete.

Eu encarei o espelho retrovisor e vi o homem dirigindo aquela Triumph Chopper ficando cada vez mais próximo. Acelerando tão forte aquele motor e desviando da linha de automóveis como se costurasse o seu próprio caminho. Até finalmente alcançar a minha picape vindo pela parte de trás da lataria e passou exatamente ao lado da minha janela do motorista.

Daryl dirigiu por poucos segundos exatamente debaixo da minha janela como se quisesse se vangloriar um pouco. Seus olhos estreitos por culpa do sol olharam para os meus como se quisessem dizer algo e o seu rosto totalmente sério ficou em minha direção por um momento curto.

Levei minha mão até a minha testa e fingi levantar a aba de um chapéu imaginário, o cumprimentando como os heróis do Texas, e abri um leve sorriso satisfeito quando simplesmente afundei o pé naquele acelerador e tentei correr mais rápido do que a sua moto, o desafiando. Entretanto a brincadeira foi em vão. O homem, bem mais adaptado do que eu, acabou acelerando mais e me ultrapassando sem grandes problemas. Me fazendo desacelerar quando o frio no estômago me deixou nervosa e ele praticamente voou em direção ao horizonte.

— Exibido! — Falei alto ao rir sozinha dentro daquele carro.

Descemos por uma longa rodovia e tivemos que pegar uma curva antes de alcançarmos uma linha reta. E não chegamos a atravessar tanto o asfalto retilíneo quando nos deparamos com um cenário um tanto desconcertante.

Um engarrafamento de veículos abandonados se abria à nossa frente como um leque perturbador até se perder de vista. Dezenas e dezenas de carros e caminhões de vários modelos e tamanhos, alguns destruídos e virados. A pegada macabra de um momento desesperador de tantas pessoas. Pessoas que tentavam a todo custo fugir da cidade e acabaram presas em uma ratoeira metálica e mortal.

O silêncio junto ao calor daquele dia era sufocante.

— Que diabos! — Exclamei cuspindo baixo por entre meus dentes quando freei a caminhonete e passei a andar muito devagar até parar totalmente. No mesmo momento em que Daryl voltava do meio da bagunça de carros e se aproximava novamente da nossa caravana silenciosa. — Hey! — Eu o chamei quando ele estava perto o suficiente do meu carro. — Não dá para passar? — Questionei apoiando meu braço para fora da janela.

O Dixon só olhou para o caminho por onde veio, voltou-se em minha direção assentindo algumas vezes com afirmação e acenou com sua cabeça tentando demonstrar que era para nós o seguirmos.

— Ok, me mostre o caminho, neném. — Sussurrei quando ele fez a volta por trás da picape e começou a adentrar o meio dos automóveis abandonados de novo.

Lentamente, comecei a guiar aquela caminhonete através do caminho que Daryl fazia na frente. Infelizmente um caminho sinuoso e estreito. Me fazendo morder o lábio com força enquanto tentava juntar toda a minha concentração para desviar dos obstáculos. Esticando o meu pescoço o máximo que podia para ter uma visão mais ampla do capô em relação aos outros carros.

Para o meu azar, acabei esquecendo da parte traseira e só me lembrei disso quando senti, e ouvi, o som metálico da lateral direita esbarrando em um dos carros tombados próximos ao meio fio.

— Merda... — Sibilei tentando desviar o mais correto possível e não fazer tanto barulho. — Foi mal! Minha culpa! Me mande o número do seguro! — Falei enquanto encarava se estava tudo bem pelo espelho retrovisor interno.

Acabei me assustando quando ouvi um estouro alto, exatamente como um tiro, só que um pouco mais abafado e seguido por um apito. Me fazendo frear rapidamente e olhar pelo espelho retrovisor o que poderia estar acontecendo. Só então entendi que o trailer de Dale, que ainda estava um pouco afastado atrás de mim, estava soltando uma fumaça branca e espessa de dentro do seu capô.

— Maldita mangueira, Dale! — Reclamei enquanto desligava a picape e verificava com cuidado o lugar aonde havia parado antes de sair do carro. Mas tudo ainda parecia seguro.

Desci da caminhonete e fechei a porta com força logo em seguida. Comecei a caminhar em direção ao trailer, porém acabei parando para verificar o arranhão que eu havia causado na pintura há poucos segundos. E eu estava passando os meus dedos sobre o enorme arranhão que arrancou um pedaço da pintura quando Daryl passou ao meu lado fazendo o caminho de volta com a sua moto.

— Acha que o conserto vai ficar muito caro? — Debochei ao encarar o motociclista que parava levemente para entender o que é que eu estava fazendo.

— Aonde você aprendeu a dirigir? — Perguntou em tom de revolta e deboche ao continuar o seu caminho em direção ao trailer e eu o segui ainda rindo.

Acompanhei os passos de todos até o veículo de Dale, que já se encontrava em frente ao mesmo enquanto expulsava toda aquela fumaça abanando com uma das mãos.

— Eu avisei, não foi? Pelo menos umas mil vezes. — Dale comentou com expressão emburrada e tom irritado. — Agora ele está morto. — Falou sobre o trailer.

— Problemas, Dale? — Rick perguntou ao se aproximar com Lori, Carl, Carol e a sua filhinha loira.

— Só o fato de estarmos presos no meio do nada e sem esperanças de... — O homem velho acabou parando suas palavras quando começou a olhar ao seu redor e reparou na quantidade de carros que haviam ali. — Quer dizer, retiro o que eu disse. — Reformulou um pouco mais calmo.

— Com tantos carros, se não achar uma mangueira de radiador aqui... — Shane comentou ao se aproximar empunhando o seu rifle na frente do peito.

— Devem ter muitas coisas para achar por aqui. — Daryl falou ao revirar algumas bagagens que estavam presas no porta-malas de um dos automóveis abertos.

— Podemos pegar combustível desses carros para começar. — T-Dog lembrou ao se movimentar em direção ao seu carro novamente. Eu apoiei as minhas mãos na cintura e comecei a observar os carros em volta.

— Será que encontramos água? — Andrea questionou cruzando os seus braços, mostrando uma expressão que a deixava um pouco doente.

— Talvez tenha comida. — Glenn lembrou parecendo esperançoso.

— Eu não sei o que pensar sobre isso. — Lori comentou de repente, mostrando-se bastante nervosa com aquele ambiente e situação. — Isto é um cemitério. — Acrescentou angustiada ao apoiar suas mãos na cintura.

A tensão fúnebre lambeu nossos corpos como uma onda tão quente quanto o sol acima de nossas cabeças. De repente todos mudaram as suas expressões de esperança para algo enlutado e passaram a olhar para aqueles carros com um silêncio depressivo e culpado.

Eu acabei rolando os meus olhos.

— Não. Isso é um shopping! — Exclamei sem me importar com suas aflições ou como reagiriam a aquilo quando simplesmente me afastei do grupo e comecei a caminhar de volta para a minha caminhonete.

Alcancei a picape sem perturbações. Apenas abri a porta do passageiro e peguei a minha bolsa inseparável que mais parecia um saco velho de sarja com uma alça transversal. Tratei de esvaziá-la rapidamente, guardando os pertences sobre o banco de couro e voltei para a parte de trás do veículo.

Houve um pouco de dificuldades, mas consegui abrir a porta da caçamba, deixando tudo livre. Encarei o espaço disponível que ainda tinha lá graças a retirada da moto de Daryl e então subi sobre a caçamba e empurrei tudo o que ainda tinha ali para o fundo, tentando arranjar mais espaço ainda.

Confesso que estava um pouco animada demais com a possibilidade de conseguir novas coisas para adquirir por ali. O que parecia doentio em um primeiro momento, era verdade, mas que me despertava um instinto primitivo de sobrevivência e recompensa. Fazia muito tempo que eu não tinha uma oportunidade como essa!

Estava tão focada na missão que acabei não notando a presença do Dixon mais novo se aproximando sorrateiramente por trás da picape e só o percebi ali quando me virei e o vi pegando o tonel de gasolina junto com a velha mangueira de borracha.

Arrastei o meu corpo para fora da caçamba com o intuito de não forçar minha perna até tocar o chão energicamente de novo. Verifiquei a faca de caça presa na bainha de couro do meu cinto e deixei a arma para fora da minha blusa na esperança de deixá-la livre para ser pega.

"Esse vai ser o saque da minha vida!", pensei animada antes de começar a me afastar.

— Hey, Heidi! — Ouvi Daryl me chamar quando comecei a me afastar já formulando um plano organizado. Apenas me virei em sua direção girando sobre meus calcanhares e o encarei esperando. — Não fique tão cega, isso aqui ainda é perigoso. — Garantiu como se tivesse percebido a minha animação e julgasse isso como um risco. — Não se afaste muito e fique aonde dá para ver. — Aconselhou ainda pegando as suas coisas e sem me encarar diretamente.

Um sorriso malicioso começou a surgir em meu rosto como um deboche. A sua preocupação me pegou como uma onda refrescante naquele asfalto quente. Me obrigando a morder o meu lábio com satisfação enquanto sentia as borboletas afiadas flutuando em meu estômago à ponto de torná-lo frio de contentamento.

E acredito que fiquei o encarando por tempo demais, me afundando demais naquele sentimento de vitória, já que o mesmo levantou os seus olhos em minha direção ao me perceber parada ali, ainda com aquele sorriso realizado. Os seus olhos semicerrados sempre me encantavam. Me puxavam com uma vibração conturbada. Ele não fazia ideia do que me causava.

— Oh, merda! — Exclamei com expressão surpresa e assustada. Levando a minha mão até o meu pescoço para tocá-lo em busca de algo. — Ela não está aqui! Eu a perdi! — Reclamei tateando a minha pele por todos os lados.

— O que? — Ele perguntou ao se virar em minha direção e arrumar melhor a alça da balestra atravessada em seu peito que agora parecia lhe incomodar um pouco. Ou talvez ele só estivesse nervoso demais com aquela situação para ficar parado.

— A minha coleira! — Zombei meneando minha cabeça levemente e arqueando as sobrancelhas algumas vezes, mostrando que era uma piada.

— Se foder, Heidi. — Reclamou baixo e rouco quando apenas continuou os seus passos, caminhando por mim e indo em direção a bagunça de carros por ali.

Eu continuei rindo com o coração cheio de satisfação enquanto seguia os seus passos. Se aquela busca já estava sendo o evento do ano para a minha vida, agora tudo havia ficado muito melhor!

— Não é muito difícil, certo? — Questionei não querendo demonstrar tanto interesse quando finalmente alcancei os seus passos e fiquei ao seu lado. — Mostrar que se importa com alguém de vez em quando. — Acrescentei ainda encarando o asfalto simplesmente para não olhá-lo diretamente. Mas ainda não conseguia disfarçar aquele sorriso teimoso quando nos afastamos para direções diferentes.

Aquele local era promissor, mas ainda assim era perturbador. Os corpos de alguns passageiros ainda estavam dentro dos carros e por isso o cheiro de putrefação preenchia meus pulmões de maneira ardida. Me fazendo perceber e encarar os restos mortais de pessoas mumificadas com expressões de terror. Moscas voando com seus zumbidos irritantes e larvas ainda se arrastando pelas cavidades enegrecidas.

Me obriguei a ignorar aquilo, de qualquer forma.

O primeiro carro escolhido foi uma mini van utilitária na cor preta, pois o acesso seria mais fácil graças a porta traseira já aberta. Escolhi revirar primeiramente uma mala de viagem verde escura e com rodinhas que me pareceu bastante promissora. Havia um cadeado minúsculo que trancava o zíper, mas não foi muito difícil abri-lo com a ajuda do canivete suíço pendurado em meu pescoço.

Uma coleção de roupas masculinas se libertou de dentro do objeto como se precisassem sair dali rapidamente. Calças sociais, camisas de botões, regatas e bermudas. Porém o que mais chamou a minha atenção foi uma jaqueta feita de jeans claro que provavelmente ficaria muito grande em mim, mas o tecido grosso serviria como uma camada extra de proteção, como uma armadura.

Obviamente não daria para usá-la naquele calor de quarenta graus da Georgia, como estava naquele momento, mas eu tinha plena certeza que ela seria útil no inverno e ela viria comigo. Por isso a amarrei em minha cintura para não ocupar muito espaço em minha bolsa.

Já estava puxando a segunda mala para verificá-la também quando senti a presença de alguém se aproximando lentamente. Me deixando terrivelmente surpresa quando notei se tratar de Shane.

— Nós podemos conversar agora? — Ele perguntou em um tom desconfiado e com expressão sorrateira, como se nós já tivéssemos combinado de fazer isso antes.

— Não. — Respondi secamente ao mostrar que isso era óbvio e continuei puxando a mala.

— Ok, eu não espero um pouco de simpatia da sua parte. — Shane continuou mesmo assim ao mirar os seus olhos no chão. Eu soltei um riso rápido de escárnio. — Eu estava bêbado e não sabia aonde tínhamos nos metido. — Alertou um pouco mais enérgico. — Cacete, aquele cara parecia um esquisitão; me deixava maluco... — Comentou sobre o doutor Jenner. Eu o encarei de maneira desconfiada e com uma expressão emburrada. — A verdade é que eu cometi erros e passei dos limites. Eu admito! E eu peço desculpas por isso. — Pediu ao mirar seus olhos escuros nos meus e eu me virei totalmente em sua direção.

— Longe de mim me meter na sua vida, mas não se preocupe comigo, eu acho que você deve desculpas à outra pessoa. — Insinuei sobre Lori quando apoiei minhas mãos na cintura e o encarei com expressão firme. Shane soltou um sorriso debochado.

— Não, eu te devo um pedido de desculpas sim... — Interrompeu a minha fala quando abaixou um pouco a sua cabeça ao tentar disfarçar aquele assunto. — Eu não sou um vilão. — Garantiu como se tivesse que me provar isso.

— Olha, Shane... — Respirei fundo. — Eu gosto desse grupo. — Fui sincera. — E eu gosto de ter companhia. Gosto de estar segura e gosto de muitas pessoas. Mas eu não gostaria de ficar aqui pisando em ovos com a ideia de que eu poderia ser deixada em qualquer lugar a qualquer momento! — Apontei de maneira muito firme. — É por isso que eu aceito o seu pedido de desculpas. Quero colocar uma pedra sobre esse assunto e simplesmente sairmos do caminho um do outro, ok? Vamos fingir que nada aconteceu. — Negociei ao cruzar os meus braços.

O policial continuou me encarando por um tempo antes de virar o seu olhar para os outros carros em volta como se procurasse por algo e então me encarar de novo.

— Ok. — Concordou, finalmente, assentindo ao mesmo tempo em que afastava-se dando pequenos passos para trás.

Respirei fundo me sentindo mais aliviada dessa vez. Eu sabia que não esqueceria aquela história entre ele e Lori, e consequentemente envolvendo o xerife, porém me bastava saber que pelo menos eu teria a chance de fazer parte daquele grupo me sentindo mais à vontade, assim como os outros.

Observei os corpos de dois adolescentes ainda presos pelo cinto de segurança no banco de trás daquela van. Me fazendo engolir em seco de puro horror quando um arrepio tenebroso desceu por minha espinha.

Voltei meu olhar e mãos novamente para aquelas malas. Ainda havia muito trabalho pela frente.

Continue Reading

You'll Also Like

916K 54.7K 47
Atenรงรฃo! Obra em processo de revisรฃo! +16| ๐•ฝ๐–”๐–ˆ๐–Ž๐–“๐–๐–† - ๐•ฝ๐–Ž๐–” ๐•ฏ๐–Š ๐•ต๐–†๐–“๐–Š๐–Ž๐–—๐–” Mel รฉ uma menina que mora sozinha, sem famรญlia e sem amigos, m...
19.5K 1.4K 10
๐‘ซ๐’๐’–๐’“๐’‚๐’…๐’ | "The mystery behind those golden eyes" Onde Sophie Swan e seu irmรฃo se mudam para a pacata e chuvosa cidade chamada Forks. Sophie od...
37.8K 3.7K 28
"-Olha, eu nรฃo posso fazer isso o dia todo porque a minha paciรชncia รฉ bem curta. - Saco a arma e atiro em seu ombro. - Entรฃo resolvo do meu jeitinho...
35.2K 3.2K 11
๐‚๐Ž๐‘๐‘๐„๐๐ƒ๐Ž ๐๐€๐‘๐€ ๐•๐Ž๐‚๐„ฬ‚ | Onde Kate e Daryl se conheceram anos antes do mundo acabar. Uma confusรฃo acontece, ambos sรฃo separados tragicam...