Emma
Estava pronta para passar a noite no meu carro, tinha sido expulsa da pensão, política de proibido ex. presidiários, cortesia da Regina. Tudo o que eu tinha agora era um fusca, um jornal e uma lanterna. Foi quando Mary Margaret passou pela rua, parou e me ofereceu um quarto em seu apartamento. Mas, como eu disse eu sou teimosa, por isso rejeitei, e além do mais, eu já estava acostumada a dormir no carro.
De manhã eu encontrei com Henry no "seu castelo", o garoto disse que tinha encontrado o meu "Pai", o Príncipe Charming. Ele estava em coma, identificado como "Desconhecido" no hospital. Henry achava que devíamos contar a Mary Margaret, a Snow White. Ele insistiu que eu falasse com ela e assim eu fiz. Pedindo para que ela entrasse no jogo do Henry e lesse o livro de contos para o "Desconhecido". Para a minha sorte, a Professora concordou.
No outro dia eu e Henry aguardávamos Mary Margaret no Granny's para mais novidades sobre o "Desconhecido", até que eu precisei pedir ao garoto uma camisa, pois eu precisava colocar as minhas roupas para lavar.
O garoto me entregou uma roupa da sua Mãe, o que eu pude perceber apenas pelo aroma da peça, maçã, esse era o perfume da Regina. Revirei os olhos por reparar naquilo, e meus pensamentos foram interrompidos com o som da porta da lanchonete se abrindo, era a Professora:
-Ela está aqui. - Disse Henry animado.
-Não fique esperançoso demais, estamos só começando está bem? - Eu tentava conter o ânimo do meu filho, mais o garoto não era o único que estava animado.
-Ele acordou. - Mary Margaret disse enquanto se juntava a nós.
-O quê? - Arregalei os olhos, não estava esperando por isso.
-Eu sabia. - E lá se foram quais quer chances de conter a ansiedade do garoto.
-Não é que ele tenha acordado de verdade, mas ele segurou minha mão. - Continuou contando.
-Ele está se lembrando.
-O que o médico disse? - Perguntei.
-Que estou fantasiando, mas não sou louca. Sei o que aconteceu.
-Temos que voltar. Você precisa ler para ele de novo. - Disse Henry.
-Vamos. - Por mais absurda que fosse a ideia de Henry, Mary parecia ter esperanças de que aquilo desse certo.
-Espera um pouco, o quê? - Eu por outro lado ainda estava perdida e hesitante.
-Se eu conseguir atingi-lo, se fizermos uma conexão...
-Você não acredita que...? - Interrompi a Professora.
-Que ele seja o Príncipe Charming? Claro que não. - Mary me interrompeu de volta. - De alguma forma ele foi tocado por mim. - Com essas palavras Mary saiu do restaurante acompanhada pelo Henry, me deixando parada boquiaberta, mas eu não fiquei muito atrás e corri para alcançá-los.
Ao chegar no hospital nós três fomos avisados pelo Xerife que o "Desconhecido" tinha desaparecido. A própria Prefeita já tinha sido avisada e estava cuidando do caso.
-Mas que diabos estão fazendo aqui? E você? Achei que estava no fliperama, agora está mentindo para mim? - Regina foi até Henry irritada e puxou seu braço.
-O que houve com o "Desconhecido"? Alguém veio buscá-lo?
-Não sabemos ainda. Os fios foram arrancados, mais não há sinais de luta. - Enquanto Graham respondia as perguntas de Mary Margaret era possível notar Regina me olhando de cima abaixo. Ela havia notado que eu vestia a sua camisa e não parecia gostar nem um pouco da ideia, mas eu também não podia me importar menos. Apenas aproveitei da situação e cruzei os braços fazendo volume nos meus seios apenas para provoca-la.
-O que você fez? - Henry perguntou diretamente para Regina.
-Você acha que eu tenho algo a ver com isso?
-É curioso que a Prefeita esteja aqui. - Completei defendendo o garoto.
-Estou aqui porque sou o contrato emergencial dele.
-Você o conhecia? - Perguntou a Professora.
-Eu o encontrei a beira da estrada há alguns anos, sem identificação. Então, eu o trouxe para cá.
-A Prefeita Mills salvou a vida dele. - Dr. Whale surgiu por trás da Prefeita.
-Ele ficara bem? - A Professora não escondia a sua preocupação.
-Bem? Ele tem sido alimentado via sondas por anos, sob supervisão constante. Ele precisa voltar logo para cá ou, sendo honesto, "estar bem" pode ser uma ilusão.
-Vamos parar de bate-papo e começar a procurar então. - Disse pegando minha jaqueta e indo em direção à saída.
-É isso que estamos fazendo. Fique fora disso, Querida. - Retrucou Regina e eu me virei para olhar para ela. - E já que não consigo mantê-la longe do meu filho, acho que terei que mantê-lo longe de você. - Ela começou a sair do recinto, mas não se conteve e parou. - Aproveite a minha camisa, porque ela é tudo que você conseguirá.
-Continue repetindo isso até se convencer. - Disse em um tom de petulância e pisquei para ela vendo seu olhar de desafio recair sobre mim.
-Xerife? Encontre o "Desconhecido". Você ouviu o Dr. Whale. O tempo é precioso. - Ela disse por último e se foi.
-Doutor, quanto tempo entre seus turnos desde que o viu? - O Xerife perguntou para saber por onde começar a trabalhar.
-Doze horas.
-Então é com isso que precisamos contar.
O Xerife interrogou mais pessoas, mas ninguém sabia de nada, era como encontrar uma agulha no palheiro. Então reparei que os vídeos de segurança que eles estavam olhando era do dia errado, ao achar o certo pudemos perceber que o "Desconhecido" saiu sozinho há 04 horas atrás, indo em direção à floresta.
Com isso eu, Xerife Graham e Mary Margaret partimos rumo à floresta em busca do Desconhecido. Rastreá-lo não foi um problema para o Xerife, o que era impressionante, mas chegamos a uma altura que o rastro acabou.
Enquanto Graham procurava um possível rastro, Henry conseguiu nos encontrar:
-Eu posso ajudar, sei onde ele está indo. - Ele parecia determinado.
-E onde é? - Perguntou a Professora intrigada.
-Ele está te procurando. Você é a única que conseguiu acordá-lo, é a última pessoa que ele viu, ele quer encontrá-la!
-Henry... Não tem a ver comigo, acho que ele está perdido e confuso, ele esteve em coma por muito tempo.
-Mas ele ama você! Precisa parar de procura-lo, deixar que ele a encontre!
-Garoto, você precisa ir para casa, onde está sua Mãe? Ela vai me matar e você... E a mim de novo. - Reclamei levando a mão a minha testa.
-Ela me deixou em casa e saiu.
-Temos que leva-lo de volta imediatamente. - Me dirigi a Mary Margaret com um certo desespero.
-Não! - Ele gritou em protesto.
Regina ia me matar, isso era óbvio.
-Pessoal! - Graham gritou de longe colocando um fim na discussão.
O Xerife havia encontrado uma pulseira hospitalar do "Desconhecido" com um pouco de sangue. Ao adentar mais um pouco na floresta nós chegamos a um riacho que passava abaixo da ponte de pedágio. O rastro não parecia ter dado em nada, mas ao iluminar um pouco mais o espaço a Professora encontrou o corpo do "Desconhecido". O homem estava inconsciente na margem do riacho, ele tinha se afogado.
Com a minha ajuda e a do Xerife, Mary Margaret conseguiu tirar o homem do rio e começou uma massagem cardíaca, mas só quando ela juntou seus lábios com os dele para a respiração boca a boca que o mesmo voltou a respirar. Quando a Professora perguntou quem ele era o "Desconhecido" afirmou não saber.
Era um homem bonito, loiro dos olhos azuis e possuía uma cicatriz no queixo. Ao ser levado para o hospital uma mulher loira chegou gritando por ele:
-Quem é essa? - Questionou Mary Margaret que estava observando tudo pelo vidro.
-A esposa dele. - Regina pronunciou em alto e bom som fazendo com que todos se virassem e a encararem, a morena tinha um sorriso confiante no rosto. - O nome dele é David Nolan e essa é a esposa dele, Kathryn. E a alegria no rosto dela... Bom... Me deixa de bom humor para perdoar. - Ela olhava para mim enquanto falava, ela adorava me provocar, mas se esquecia que duas podem jogar esse jogo. - Falaremos da sua insubordinação mais tarde, você sabe o que significa insubordinação? - Isso foi dirigido ao Henry e o garoto fez que não. - Significa que você está de castigo.
-Obrigada. - A esposa de David entrou na sala agradecendo Mary Margaret. - Obrigada por encontrar o meu David.
-Eu não estou entendendo. Você não sabia que ele estava aqui em coma? - Perguntou a Professora.
-Há alguns anos, David e eu não estávamos nos dando muito bem. A culpa foi minha, agora eu sei. Eu era geniosa e distante. Eu disse que se ele não gostava de mim que fosse embora e ele foi eu não o impedi foi o pior erro que eu cometi. - Eu não engoli essa história.
-Você não procurou por ele? - Questionei.
-Eu supus que ele estava fora da cidade até agora. Agora eu sei porquê nunca mais o vi e sei o que quero fazer da vida... Dizer "eu sinto muito". Agora temos uma segunda chance.
-Isso é maravilhoso. - Encorajou Mary Margaret.
-Bom, isso foi um tipo de milagre. - Proferiu o Doutor ao adentrar na sala.
-Ele está bem? - Perguntou a Esposa.
-Físicamente, ele está se recuperando, mas a memória é outra questão, pode levar algum tempo.
-Como ele voltou? - Perguntou Mary.
-Não há explicação nesse caso, algo "ligou nele".
-Ele apenas se levantou e decidiu dar um passeio? - Ironizei.
-Ele acordou e estava delirando e a primeira reação dele foi procurar algo, creio eu.
-Ou alguém. - Henry sugeriu.
-Posso vê-lo? - Kathryn pediu.
-Sim, claro. - Concedeu o Doutor abrindo a porta.
-Henry, vamos embora. - Chamou Regina.
-Espera, minha mochila. - Henry voltou e disse alguma coisa para Mary Margaret que eu não consegui entender.
-Henry. - Regina chamou de novo já impaciente.
Fiquei pensativa por um momento sobre a história contada por Kathryn e depois decidi agir, corri para alcançar Regina:
-Prefeita...
-Espere no carro. - Deu a ordem ao Henry enquanto parava para me esperar. - Srta. Swan, deixei você fora disso, mas não abuse. - "Odeio quando ela me chama assim".
-Sinto muito, mas a Sra. Nolan... Sinto que a história dela não passa de besteiras. Todo esse tempo ele ficou em coma e ninguém notificou os jornais? Ninguém procurou por ele? Algo não está certo aqui.
-O que então faria sentido para você? Por que a Sra. Nolan mentiria? Você acha que lançei um feitiço nela? - Riu a morena.
-Eu acho que é muito estranho você sempre ter sido o contato dele para emergências todos esses anos e só agora a encontrou.
-Esta cidade é maior do que pensa, é perfeitamente possível se perder aqui. E inteiramente possível que coisas ruins aconteçam.
-E só quando lhe convém você resolve o mistério?
-Graças a você. A fita que você encontrou... Foi um golpe de gênio. Então voltamos e vimos s fitas antigas. O "Sr. Desconhecido" vinha falando dormindo, ele chamou por uma "Kathryn". Depois disso, não foi difícil juntar as peças, eu pensei que você e Mary Margaret ficariam felizes. O verdadeiro amor venceu, aproveite o momento, Querida, se não fosse por vocês, eles teriam vivido completamente sozinhos. Por isso perdoarei sua grosseria incessante, por que.... Tudo isso lembrou-me de algo tão mais importante... Como eu sou grata por ter o Henry, porquê não ter ninguém... É a pior maldição que se possa imaginar. - Suas últimas palavras foram como facadas no meu coração, então eu a deixei ir, pondo um fim na discussão. Afinal, se Regina estivesse mentindo em alguma coisa, ela era muito boa, porquê conseguiu se esquivar de todas as minhas insinuações.
Mais tarde na calada da noite eu finalmente cedi e bati na porta da Mary Margaret:
-Será que ainda tem aquele quarto sobrando?