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By hellenptrclliw

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➛ A segunda queda: livro 02 da série "The Four Falls". Apaixonar-se não era sequer a última das coisas que Et... More

OWH. #2 Série TFF
sinopse
dedicatória
epígrafe
prólogo
01. quem está julgando?
02. caos com íris cor de avelã.
03. dever e honra.
04. até onde você é capaz...?
05. ethan.jyoung.
06. se você diz.
07. calum young é um menino sábio.
08. quem é gwen evans?
09.1. eu não sei como você consegue.
09.2
09.3
10. movidos pelo instinto de sobrevivência.
11. precisamos parar de nos encontrar assim.
12. por que se explicar tanto para si mesmo?
13. temos tudo sob controle.
14. a verdade que há e suas promessas.
15. um dia, talvez?
16. até o sol nascer.
17. nada é como se apaixonar pela primeira vez.
18. a reputação que me precede.
19. quando o amor cai em mãos erradas.
20. no meu sangue.
21.1. a garota que me encara de volta.
21.2
22.1. os parágrafos escondidos e descobertos.
22.2
23. a sentença das nossas vidas.
24. misericórdia nunca foi o seu forte.
25. a vida acontecendo através desses sentimentos.
26. as estrelas que testemunham nossa queda.
27. isso é sobre quem eu sou.
28.1. a liberdade do meu verdadeiro eu.
28.2
29. isso muda tudo.
31. "juntos e essa coisa toda".
32. capítulos em branco.
33. é sempre assim?
34. como viemos parar aqui?
35. o narrador que conta a história.
36. neste momento, ele é o mundo inteiro.
37. aquela filha daquela família.
38. me diga que não é tarde demais.
39. me perdoe, eu me apaixonei.
40. boa fé da mulher que me amou primeiro.
41.1. é como deveria ser.
41.2
42. o monstro debaixo das nossas camas.
43. genuína.
44. o sangue puro e o sangue ruim.
45. julgamento
46. com um coração cheio.
47. rainbow
48.1. as constantes.
48.2
extra: pressentimentos.
49. você vem para o café da manhã?
50. a traição.
51. negação.
52. não esquecer o quanto você o ama.
53. é o único jeito, querida.
54. honra e morte.
55. se apaixonar.
56. este é o meu dever.
57. memórias: nós as construímos e elas nos constroem.
58. sem mais sentir muito.
59. era você que sempre estava lá.
60. o caminho de volta para casa.
epílogo.
nota final.

30. e quem a protege de mim?

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By hellenptrclliw





GWEN É BONITA DEMAIS para seu próprio bem.

Eu quero dizer... Realmente bonita. Inteiramente, por dentro e por fora. Ela nunca estará a salvo da vida desse jeito. Pessoas como ela sempre são os alvos favoritos de tudo e todas as coisas que tornam o mundo um lugar cheio de desesperança, sombrio e amargo. O que por sua vez era apenas mais uma razão que me tornara tão ressentido para/com a vida. A maneira que ela opera, como ela nos distribui e distribui as coisas mais poderosas em suas mãos. Amor e perda, ódio e perdão. Tudo é muito caro. Tudo é muito consequente.

Tudo é muito injusto.

Mas eu aprendi a não ficar me lamentando pelos cantos todos os dias da minha vida ― eu apenas mantinha isso na minha própria cabeça. Não fazia diferença e chorar pelo leite derramado somente faria com que eu fosse fraco para o que realmente importa. Eventualmente, parte da feiura que foi mantida longe de mim por quase toda a minha vida me alcançou e me fez parte dela.

Como você encara os diferentes tipos de força?

Sou forte porque resisti e sobrevivi a tudo e continuava lutando, apesar de todas as partes simbólicas que tornavam a minha existência singular e minimamente admirável estarem perdidas? Ou seria mais forte se tivesse resistido com tudo de mim, me agarrando ao que realmente sou e nunca perdendo a bondade, gentileza e esperança que existiam ― também ― dentro de mim? Que eu um dia fui capaz de ter, senão tanto quanto Gwen Evans?

Eu perdi isso.

Eu passei através da tragédia e de ruas escuras e bolsos vazios, ossos doloridos e olhos secos e continuava aqui. Não tão inteiro quanto fui um dia. Certamente não admirável.

Mas Gwen, ela passou através de sua própria tragédia e olhares repugnantes e furtivos que foram perpetuados em sua pele, tão jovem, e ela prosperou. Ela poderia não saber reconhecer isso, mas eu ― acredito que qualquer um ― podia ver claro como o sol que se pôs horas atrás depois que ela chorou até dormir em meus braços.

Pessoas como ela.

Pessoas bonitas assim estão fadadas a constantemente terem garras em torno de seu pescoço, mãos frias e nojentas segurando as suas com promessas que nunca serão cumpridas ― simplesmente porque uma vez que um ser humano genuinamente bom anda por esses caminhos, é inevitável que não nos fascinemos com todas as possibilidades que temos de arruiná-lo.

Nós não sabemos conviver com coisas belas. Nunca soubemos e todos os dias isso é provado e nunca parará.

As pessoas boas sempre são os alvos mais cobiçados e eu realmente não entendo a mecânica.

Mas, mais uma vez, ela ainda prosperava em sua própria essência e nem tinha ideia.

Eu odeio a ideia de seu sofrimento. Odeio ser capaz de ver perfeitamente tudo o que aconteceu: como ela estava feliz por ter dado “aquele” passo, o amor que batia em seu coração, o sorriso e a alegria que pulsava em suas veias. A confiança dela ― o que eu mais queria ― oferecida em uma maldita bandeja de ouro puro para alguém tão desprezível.

Não posso sequer me forçar a acreditar na capacidade de alguém em fazer algo tão vil como isso. Para qualquer mulher, mas em especial para Gwen. Não porque eu estou, bem, "apaixonado" e tal, mas porque... Porra. Olhe para ela. Mesmo um idiota como eu, sempre hesitei antes de fazer qualquer coisa que pudesse magoá-la de verdade porque simplesmente olhar naqueles olhos castanho-esverdeados suavizava algo dentro de mim ― até mesmo com minha rude e insensível irmã. Instantaneamente com meus amigos. Com Calum que ficara receoso com a presença dos caras por um tempo e praticamente grudou nela desde o momento em que a conheceu.

E quando ela sorria. Merda. Eu só podia imaginar ― era tudo o que eu tinha ― como era o sorriso dela antes que ela quisesse escondê-lo. Antes que ela o temesse e pensasse em todas as formas com as quais ele não era mais algo bom. Ela sorria assim para ele. Olhava para ele com olhos cheios de confiança que dois, quase três meses depois eu ainda não via com tanta frequência quanto gostaria.

Se Deus ou o destino forem sensatos, nunca o colocarão no meu caminho. Honestamente, não tenho certeza se me orgulharia do que eu poderia fazer com ele.

Sentado ao seu lado na beira da cama, estiquei o braço para tocar seu rosto e afastar uma mecha de cabelo que caía sobre sua boca. Suas bochechas estavam coradas de calor e a ponta do nariz vermelha de tanto chorar, a pele ao redor dos olhos irritada pelas lágrimas. Ela chorou. Tanto. Levaria muito tempo para que eu pudesse lembrar isso sem sentir um peso enorme afundar em meu estômago e repuxar meu peito.

Tudo fazia sentido agora. Porque ela era tão irritantemente desconfiada e tinha tão pouca fé em mim. Porque mesmo Alyssa me disse, quando perguntei sobre Gwen pela primeira vez, para ter paciência independente do que eu quisesse com ela. Não dei a devida atenção ao aviso quando me foi dado, mas me sentia melhor por nunca tê-lo desconsiderado também. E pareceu irreal quando St. John disse que ela era tão popular e agitada em sua antiga cidade, mas agora só me deixava com mais raiva.

Ele tirou isso dela. Aquela chama por trás de todas as suas características que quando juntas ascendia e a tornava irresistível. Agora ela a mantinha baixa, quase apagada, como se nunca mais pudesse ver queimar novamente.

Mas ela estava errada.

Tão errada, a bobinha.

― Você brilha ― eu disse a garota adormecida em minha cama. ― Mais do que qualquer coisa que já vi na vida.

E eu lutaria com qualquer um que quisesse provar o contrário, mesmo que meu adversário fosse ela mesma.

E quanto à emoção do que fizemos mais cedo... Bem, restou apenas a gratificação de saber o que aquilo realmente significava, porque o prazer em si foi completamente anulado pelas revelações posteriores. Eu tentaria o meu melhor para não fazer com que ela se arrependesse de ter contado tudo, mas não sabia se teria sucesso.

Fui pego despreparado quando ela de repente abriu os olhos, piscando algumas vezes para se acostumar à luz suave do abajur ao lado da cama. As íris esverdeadas pareciam mais claras nesse tom sonolento, revelando uma inclinação a um tom de mel se enraizando atrás da pupila que rapidamente se dilatou ao ver meu rosto. Na teoria era dito que isso acontecia quando víamos algo do que gostávamos, portanto...

Gwen se remexeu, virando de barriga para cima e descansando as mãos ali. Um pequeno sorriso quis se insinuar em seus lábios e meus olhos imediatamente se fixaram neles, ansiosos por um desde que tudo o que eu havia visto eram lágrimas. Mas ele congelou no caminho e quando encontrei seu olhar novamente, quase era capaz de ver o jeito com que as lembranças a atingiram.

Suas sobrancelhas se retraíram e seu sorriso despencou, os orbes se agitando em constrangimento, medo, ansiedade, tudo de uma vez só e eu mal podia começar a compreender como era possível que ela ainda conseguisse se expressar com tanta habilidade, com tanta vivacidade.

Gwen estava com medo de que sua confissão tivesse me assustado. Conhecendo-a, ela provavelmente acreditava que eu pensaria que ela não valia todo esse esforço e nesse exato momento, deveria estar se perguntando de que maneira polida e minimamente educada eu a mandaria embora.

Ela acreditaria nisso sem pensar duas vezes antes de cogitar que, talvez, eu apenas tivesse me “apaixonado” um pouco mais.

Pagar pelos pecados dos outros.

Isso também era algo que me fazia ter ainda menos apreço... Pela vida, eu acho.

― Ei ― eu murmurei, espalmando o colchão bem ao lado de sua cabeça, enjaulando o lado esquerdo de seu corpo. ― Aí está você.

Era meio louco pensar em tudo o que aconteceu em tão pouco tempo e eu sabia que ela estava pensando o mesmo. Então, para tirá-la de sua miséria, eu me inclinei para frente até que meus lábios tocaram os dela em uma carícia suave. Gwen fechou os olhos, cedendo ao toque, mas em um segundo empurrou meus ombros e rolou para o outro lado da cama.

O cabelo dela estava selvagem, cara.

― Não me beija! ― exclamou ela, as sobrancelhas franzidas em uma cara feia. ― Eu acabei de acordar e não estamos em um filme. Eu tenho bafo.

Conter o sorriso doeu em minhas bochechas.

― Você vê ― meneei a cabeça, fingindo espanto. ― E eu pensando em ir ver se tinha algum animal morto debaixo da minha janela.

Gwen esticou a mão para me dar um de seus tapas, mas eu agi mais rápido ao segurar seu pulso e puxá-la contra mim. Leve e pequena ― e meio pateta ― como ela era, nem precisei me esforçar. Ela colidiu em meu peito e o ar escapou de seus pulmões, nossos narizes a centímetros de distância provando que ela estava errada sobre o mau-hálito. Ela nem tinha dormido tanto assim. Apostava que ainda tinha o gosto dos bombons que comemos.

― Não me bei...

Eu a beijei.

Em um primeiro momento ela se recusou a abrir a boca e eu ri meio que sabendo o que isso fazia com ela toda vez que ouvia. Mordi o lábio inferior e o suguei entre os meus, me aproveitando do pequeno suspiro indefeso que ela deixou escapar para deslizar minha língua para dentro e comprovar que sim, ela ainda tinha gosto de chocolate.

Eu queria mostrar a ela do jeito que podia que nada iria mudar.

Eu ainda a queria, até mais do que antes.

Eu ainda não a merecia e ainda era egoísta, mas disso ela não precisava saber. Não até que chegasse a hora, pelo menos.

Ele não ficaria entre nós dois.

Como de costume, ela se derreteu em mim e esqueceu a neura de seu bafo estúpido. Meu coração saltou do alto de cada uma de suas batidas como se dissesse “Ei! Você! Olhe aqui! Me veja!”, de tão vendido que era por ela. Era bom na maioria do tempo. Ou por enquanto. Você sabe, essa coisa de estar “apaixonado”. Mas em momentos como aquele, onde ela chorou e chorou como se não pudesse aguentar manter aquilo dentro de si... Em momentos assim, quase dá vontade de renunciar a todos esses sentimentos até que eu pudesse me convencer de que meu coração estava realmente morto.

― Eu te disse para não me beijar ― ela murmurou baixinho em meus lábios quando me afastei.

― Eu só quis conferir se o bicho morto estava aqui ― ela tentou me empurrar, mas eu vi o pequeno sorriso em sua boca. ― E ele não está. Então volte aqui.

Eu fui para beijá-la novamente, porém, Gwen recuou. E o olhar em seu rosto era aquele “não” que não deveria ser ludibriado ou menosprezado, e eu imediatamente soltei seu pulso e a nivelei com um olhar cinco vezes mais sério que o anterior.

― Não faz isso ― disse a ela. ― Não fica toda esquisita por causa de antes.

― Eu te contei ― Gwen engoliu em seco. ― Te contei tudo. Quase pensei que tinha sido um sonho – ou melhor, um pesadelo, mas realmente contei tudo. Você não tem nada pra dizer?

Tentei ignorar a tensão enrijecendo meus ombros para que ela não me interpretasse mal. Eu não sabia o que dizer porque simplesmente não era bom com as palavras. Nem com um bom dia e muito menos com isso.

Curvei meus ombros. ― O que você quer que eu diga?

Gwen recuou, as feições endurecendo. Meu coração disparou no peito.

― Eu não sei, Ethan ― ela soltou uma risadinha amarga. ― Eu acabei de te contar como meu ex-namorado fez um vídeo de sexo nosso – meu – e espalhou por uma cidade inteira, e muito provavelmente ainda há alguns arquivos perdidos na internet até hoje. O que eu posso querer que você diga?

É inadequado, mas não posso deixar de sentir uma pontada de orgulho pela firmeza em seu tom e a expressividade sem receios de seus pensamentos. Quase quero provocar uma discussão apenas para assistir o fogo em seus olhos queimar, porque como eu disse, ele ainda estava lá. Ela apenas o continha da melhor forma que podia.

― Eu sinto muito ― falei, meu tom espelhando o dela. ― É suficiente? Não, não é. Você ainda vai se lembrar disso amanhã e desejar passar por invisível em todos os aspectos da sua vida, porque você ainda está traumatizada. Você está trabalhando para superar essa merda e um sinto muito chega a ser estúpido de se ouvir.

Fiz uma pausa, ponderando sobre minhas próximas palavras antes de olhar para ela, minhas sobrancelhas se franzindo em frustração e quase ameaçadoras quando minhas palavras se juntaram a minha expressão.

― E eu também não quero ficar ouvindo você pedir desculpas toda vez que algo que fizermos for demais. Sobre o sexo, sobre ficar nua, sobre qualquer coisa que ainda acione um gatilho – eu não quero ouvir você dizendo isso. Eu odeio essas três palavras de qualquer forma ― sacudi a minha cabeça. ― E eu não quero ver você se desculpando por algo que não é, nunca, sua culpa.

― Mas...

― Não há “mas” aqui ― Gwen fechou a boca, os olhos grandes e atentos. ― Estou aqui, né? Você não me assusta, G, então pare de tentar se convencer de que pode. Já vi coisas muito piores do que uma boa mulher, linda e forte como você, superando alguma merda que foi injustamente posta no seu caminho.

― Uau.

― É. Uau ― eu murmurei fracamente, desviando o olhar para onde minha mão estava nos lençóis.

Será que falei demais? Será que só falei bobagem? Eu deveria ter falado com St. John. Ele era o cara que sabia usar as palavras, sabia usar os sentimentos e tinha um poder de acalmar qualquer colapso entre nós quatro com as palavras certas. Eu não. Eu só cuspia as palavras em suas formas brutas e torcia para que ninguém começasse a chorar.

― “Você brilha” ― a voz dela era apenas um sussurro. ― “Mais do que qualquer coisa que já vi na vida”.

Eu reconheci as palavras e a ponta das minhas orelhas ficou conscientemente quente.

― Foi o que você disse antes, né?

― Pensei que você estivesse dormindo ― respondi de mal grado, enrijecendo a mandíbula. ― Mas eu disse, sim. É a verdade.

Ela me surpreendeu ao rir. Não uma risada de raiva ou de irritação. Simplesmente uma risada. Levantei meu olhar, sabendo que a confusão estava estampada no meu rosto enquanto a assistia cobrir a boca com a mão sacudir a cabeça. Seus olhos cintilavam com diversão.

― Não sei por que pensei que você fosse reagir de outro jeito e não esse ― ela ri novamente. ― Porra, você é o melhor.

Meu queixo caiu na cama e rolou para o chão.

― Você acabou de falar palavrão? ― perguntei, chocado.

Ela encolheu os ombros, rosa se derramando em suas bochechas.

― Você é mesmo o melhor ― repetiu, como se isso explicasse o desvio em seu linguajar.

Ainda meio espantado, deixei que uma risada incerta escapasse de mim. Gwen continuou me encarando com aqueles grandes olhos esverdeados, e eu senti minha pele se arrepiar com a consciência daquela atenção.

― E você também tem uma boca suja que eu não tinha imaginado ― apontou ela, a voz cheia de significado.

Estreitei meus olhos nela. ― Não mude de assunto, espertinha. Espero que você tenha me ouvido bem, porque não vou pegar leve com você.

A morena me observou por baixo daqueles longos cílios escuros e depois de uma pequena pausa, onde eu daria um dinheiro que não tinha para descobrir o que se passava por sua cabeça ― se ela estava percebendo gradualmente que eu era um idiota ―, Gwen se aproximou novamente e entrelaçou os dedos atrás do meu pescoço, pressionando seus lábios nos meus com um daqueles sorrisos que faziam até mesmo meu coração desajustado ficar mole.

― Obrigada ― ela ronronou, roçando a ponta de seu nariz no meu carinhosamente. Encontrando meu olhar, acrescentou: ― Por ser você. Fiquei tão acostumada a ver pena e todos pisando em ovos sobre isso que a sua reação é meio refrescante.

― Eu deveria ser gentil ― apontei.

― Mas você é ― ela respondeu. ― Do seu jeito.

Eu sei que não é o suficiente, mas não sinto vontade de puxar essa discussão quando, de algum modo, consegui fazê-la retornar aos meus braços. Arrastei uma palma por sua panturrilha e coxa, arriscando mantê-la alguns centímetros sob a barra de seu vestido. Os arrepios que senti contra a mão me fizeram sorrir e provocaram a típica reação que eu adorava nela: faces coradas e lábios entreabertos. Eu duvidava que fosse capaz de não tocá-la por longos períodos de tempo depois do que fizemos.

O que me fez pensar...

Meu olhar foi de um lado para o outro no dela, não querendo perder nada quando perguntei:

― Você gostou? ― limpei a garganta na tentativa de clarear meu tom de voz. ― De antes? Ou foi demais?

― Eu gostei ― ela sussurrou, visivelmente se esforçando para confessar isso a mim. ― Foi difícil no começo, sabe... por causa disso ― ela bateu o indicador contra a têmpora. ― Mas ficou bom depois. Muito bom.

Soltei a respiração que não sabia estar segurando. Eu não diria alto e claro, mas estava morrendo de medo que isso a tivesse assustado de algum modo. Ou, pior, a feito me comparar com aquele pedaço de merda que sequer merece ser chamado pelo nome. Seria difícil, mas eu me esforçaria para não jogar seu nome na barra de pesquisas. Eu o odiava o suficiente e não o odiava o suficiente, e colocar um rosto e uma história só me faria considerar todas as formas que eu poderia ter de colocar as mãos nele.

Gwen abriu a boca uma e duas vezes antes de desviar o olhar para algum ponto entre meu nariz e boca. Mesmo com a iluminação fraca do abajur eu podia ver a ponto de pulso em seu pescoço acelerando cada vez mais.

― E você? ― perguntou ela, baixinho. ― Eu sei que deve ter sido nada comparado a tudo que você já fez, mas foi legal? Para você?

Eu ri. ― Eu acho que desmaiei por um segundo, G. O que você acha?

― Estou falando sério ― ela murmurou.

― Eu também. O que você quer ouvir, hein? Nunca passei tanto tempo sem transar e só com a companhia da minha mão e você...

― Mas eu não... ― ela me interrompeu, mas então sua voz morreu quando a compreensão se estabeleceu. ― Ah. Ah. Certo. Você... ah.... certo. Hã. Então, você... ― pigarreia, apoiando as mãos nos meus ombros. ― Você faz isso e... uh, fica pensando em mim?

Acho que o cérebro dela acabou de superaquecer.

― Sim, ― respondi honestamente.

Era a verdade, o que tornava sua insegurança ainda mais irritante para mim. Todos os dias em que eu a agarrava até não podermos mais respirar e até nossos lábios estarem vermelhos e inchados e formigando, meu pau era uma presença irritada e dolorosa entre nós ― e eu tentava ao máximo escondê-lo. Mas se ele fosse uma pessoa, seria a mais rancorosa e vingativa que já conheci. Minha mão nem era novidade mais, mas era tudo o que eu tinha. Nem me passava pela cabeça procurar molhar o pau em outro lugar. Nem outras mulheres sequer me passavam pela cabeça, fosse para bater uma ou em qualquer outro momento do dia.

Não tinha tanta diferença também. Não era como se eu me importasse com alguma antes de Gwen, então não havia muita comparação.

Eu sabia que ela iria vir com essa besteira para cima de mim, e eu não tinha a delicadeza necessária para aplacar seus medos com palavras doces e gentis. De novo.

― Não importa o que eu fiz antes ― digo a ela. ― Era só sexo. Eu não me lembraria de nem metade da metade de nomes nem se você colocasse uma arma na minha cabeça. Eu sei que vai parecer coisa de babaca, mas eu apenas não me importava. Tudo o que eu queria era uma distração e eu conseguia assim.

Gwen torceu os lábios, contemplativa.

― Bem, acho que é melhor do que usar drogas, né?

― E eu estou limpo ― continuei, querendo colocar tudo para fora de uma vez. ― Não faço exames periódicos nem nada, mas esses sim. E tenho quase noventa e nove por cento de certeza que não tenho nenhum filho perdido por aí.

Gwen arqueou uma sobrancelha e era difícil deduzir o que ela estava pensando.

― Não há nenhuma ex-louca com que você precise se preocupar. E a maioria das garotas não é mesquinha a ponto de ir te provocar no campus sobre nós, mas se acontecer é só você me contar.

Por que eu simplesmente não paro de falar?

Uma vez que esclarecemos isso, acho que você precisa entender o quanto antes que não importa ― diminuí o tom de voz ao acrescentar: ― Você importa. Tudo é tão novo para mim quanto para você, só de maneiras diferentes. Só em te ter me fodendo a seco antes, já significou mais do que qualquer outra coisa.

Especialmente agora que eu sei, foi o que eu não disse em voz alta, mas permiti que ela visse nos meus olhos. Gwen assentiu, mas eu sabia que levaria um tempo para que ela superasse completamente essa insegurança. Minha insegurança era saber que ela merecia coisa melhor. Talvez eu realmente temesse que ela encontrasse mais cedo do que meu egoísmo prevalecia.

Gwen endireitou os ombros e recuou, colocando uma distância segura entre nós e descansando suas mãos em minhas coxas. Eu esperei pacientemente pelo que ela tinha a dizer, meus orbes esquadrinhando as formas e detalhes de seu rosto, mesmo que a essa altura eu já pudesse vê-lo perfeitamente de olhos fechados. Eu sentia a textura de sua pele mesmo quando ela não estava em minhas mãos. A maciez e quentura de seus lábios. A ternura daqueles pequenos beijos entre grandes beijos.

Meu coração inchou no peito e eu respirei fundo, meio que tentando controlar as sensações que ela causava. Nunca me senti tão fora do plano. Havia anos desde que senti tanto descontrole, embora as circunstâncias fossem incomparáveis.

Esse descontrole me levava a imaginar como seria viver tudo isso.

O outro apenas me fazia imaginar como seria morrer.

― Eu quero descobrir essas coisas... com você ― Gwen começou, o tom baixo, porém, firme. ― Não é como se eu fosse virgem em qualquer uma dessas coisas – bem, na verdade só o meu traseiro, mas...

Abafei uma risada com o punho na frente da boca e sacudi a cabeça.

― Peço desculpas ― bufei, tentando segurar uma risada. ― Não estou rindo da sua bunda virgem. Eu juro.

Gwen aprumou os ombros e levantou as sobrancelhas, divertida.

― Você pode rir o quanto quiser dela ― declarou. ― Já que nunca vai colocar nada nela.

― Você quer apostar? ― perguntei maliciosamente, nunca desviando o olhar ao me ajustar na cama e me deitar no colchão, colocando um braço dobrado atrás da cabeça. ― Eu posso ser muito convincente.

Gwen estreitou os olhos. ― Fique fora da minha bunda, Ethan.

Encolhi os ombros, fingindo minha melhor expressão de inocência. Claro, ela não comprou.

Enfim, ― enfatizou ― não é como se eu tivesse boas memórias agora. Dessas experiências.

E assim, qualquer ar de riso desapareceu do meu rosto. A tensão retornou, fazendo com que Gwen curvasse um pouco os ombros antes tão retos e seguros. Eu nem pensei antes de fazer. Agarrei sua cintura e a parte anterior de seu joelho com a outra, puxando-a para meu colo. Gwen ofegou e tentou sair, mas eu apenas me deitei novamente e a prendi pelas coxas com minhas duas mãos abertas sobre elas.

Montada em mim enquanto eu estava deitado, ela tinha certa aparência de alguém que estava no controle ― porque ela realmente estava ―, então assisti sua luta morrer e um lampejo de prazer entrar e sair de seu rosto.

― Continue ― pedi.

Gwen engoliu em seco, deixando suas mãos descansarem sobre as minhas.

― É isso. Eu não pensei que fosse conseguir... chegar lá com você até que aconteceu ― suas bochechas ficavam cada vez mais vermelhas, mas ela prosseguiu através disso: ― Acho que foi por isso que eu fiquei tão sentimental e contei tudo. Foi muito importante para mim.

Segurei sua mão esquerda e comecei a acariciar o dorso de sua mão com o polegar, tentando oferecer todo o suporte que eu podia enquanto ela navegava por essas ondas que tanto insistiam em afogá-la.

― Pergunta ― soltei de repente.

― Faz.

Molhei o lábio inferior com a ponta da língua e estudei seu rosto por um par de segundos antes de voltar a me concentrar em seus olhos.

― Você disse que não pensava que ia conseguir gozar, né? ― Gwen assentiu. ― Mas isso é só quando você está com um cara? Ou também é difícil para você se fazer gozar?

A garota iria entrar em combustão a qualquer momento a julgar pela forma com que seu pescoço começou a assumir tons de rosa junto com seu rosto.

― Não, eu consigo ― ela balançou a cabeça. ― Mas nem sempre é muito bom, porque eu nunca consigo me concentrar e desligar a minha cabeça.

― Você... ― pigarreei, dividido entre sanar minhas dúvidas e salvá-la do constrangimento. ― Você sabe explorar opções para si mesma?

Um pequeno sorrisinho se insinuou em seus lábios.

― Se eu uso vibradores?

Estremeci. Calor começou a surgir em minhas veias.

― Sim.

Gwen assentiu e eu fiquei quieto. Por que diabos estou colocando Gwen, “gozar” e vibradores na mesma frase?

Minha mandíbula enrijeceu e eu a puxei mais para frente até que ela estava quase sobre meu abdome. Gwen começou a soltar risadinhas que eu acharia muito fofas se não estivesse irritado comigo mesmo.

― Desculpa ― suspirei. ― Juro que estou levando essa conversa a sério e estou curioso porque é importante para nós, mas meu pau só ouve o que interessa.

― Deve ser péssimo não poder esconder isso ― ela comentou.

― Você não tem ideia.

Gwen balançou a cabeça.

― Respondendo a sua pergunta ― ela riu novamente, rindo de mim. ― Eu uso, sim. Eles são bons.

― “Eles”, hein? ― provoquei, cutucando sua coxa.

Gwen gemeu e levantou uma das mãos para mexer nos brincos em sua orelha, um gesto nervoso que agora eu reconhecia e adorava.

― Isso é tão constrangedor ― ela murmurou.

― Não é, não. É normal. Pessoas fazem sexo. Pessoas se masturbam. Eu bato várias pensando em você e você tem vários vibradores e acabou de me deixar perplexo com o fogo que tem debaixo do vestido. ― Abri um sorriso. ― Viu? Normal.

Gwen reprimiu os lábios para segurar um sorriso e bateu no meu peito.

― Eu não tenho fogo ― argumentou ela. ― É só...

Muito fogo?

Gwen se remexeu para me acertar novamente e eu segurei seu pulso, puxando-a para meu peito. Seus lábios se abriram automaticamente quando ela pensou que eu iria beijá-la, mas ao invés disso, inclinei meu rosto para perto de sua orelha; quase podendo ouvir as batidas pesadas de seu coração.

― Você me tem ― eu sussurrei. ― Venha para mim quando você quiser usar seus vibradores. Agora você só os usará se eu estiver junto para ver.

Era um teste, mas ainda a mais honesta verdade. Eu queria ver como ela reagiria a esse tipo de conversa ― se não gostava, se achava intimidante, demais ―, e porra, o gemido baixo que ela deixou escapar contra meu pescoço e vibrou entre nossos peitos me fez fechar os olhos e implorar por qualquer grama de autocontrole que eu tivesse ― que nunca precisei de verdade ― para me ajudar a ser o que ela precisava.

Mordisquei a linha de sua mandíbula, plantando um beijo naquela área macia atrás de sua orelha. Era uma das minhas partes “insignificantes” favoritas no corpo de uma mulher. Gwen passava perfume ali, então além de sentir a maciez e a temperatura aquecida da pele, eu ainda podia inspirar e beijar e ela ainda se contorcia como se eu estivesse beijando entre suas pernas.

― Ok?

Gwen balançou a cabeça.

― Fala ― eu exigi. ― Não precisa concordar, ok? Mas se estiver disposta, eu vou te dar o que você precisa.

― Nós podemos ir devagar? ― perguntou ela. ― Sem... você sabe.

Era quase uma dor física o pensamento de não poder vê-la nua, mas eu estaria condenado se fosse incapaz de entender isso.

― É claro que sim, G ― soltei seu pulso e trouxe minha mão até seu rosto, espalmando sua bochecha e encontrando seu olhar. ― É você que decide tudo. Se for demais, nós paramos. Se algo estiver errado, nós paramos. Tudo o que você tem que fazer é me dizer o que quer.

― Ser honesta como você?

Eu sorri. ― Se você conseguir me acompanhar, bem, então sim.

Um sorriso cutucou suas bochechas e eu fiquei ali, fitando seu rosto pairando acima do meu com o que sabia ser admiração.

― Ok.

― Então tá. Sou seu novo vibrador ― eu falei. ― Você tem as seguintes opções: roçar, dedos, língua, vibradores inferiores e a categoria “outros”.

Gwen apoiou o cotovelo ao lado da minha cabeça e inclinou a sua contra a base da mão, encarando-me com um misto de excitação e diversão.

― O que é a categoria “outros”?

― Bem, esse é o charme. Mistério e tal ― Eu arregalei os olhos, fingindo surpresa. ― Alerta de spoiler: inclui planos com sua bunda virgem. Eu sou de qualidade, G. Jamais a negligenciaria dessa forma.

― Ethan, você não vai mexer na minha bunda.

― Eu aposto ― provoquei. ― O que você quiser.

Gwen rolou para o lado e eu a deixei ir. Seus cabelos escuros se espalharam pelo travesseiro e eu fiquei de lado, me elevando no antebraço para observar seu rosto virado na direção do teto enquanto ela considerava minha oferta. Eu estava tão empolgado que era difícil manter o sorriso fora do meu rosto ― ou pelo menos contido e não enorme ―. Excitado pelo que estava por vir, ansioso para esse passo. Nunca me senti assim. Ter a confiança dela para realizar algo tão importante me faz querer confessar o quão apaixonado estou por isso.

Por ela.

Por nós, portanto.

Cara, vai doer quando acabar.

― Certo, então. Se você está tão convencido ― Gwen arqueou as sobrancelhas, sua melhor expressão ameaçadora. ― Se você mexer na minha bunda, eu vou mexer na sua.

Um sorriso amplo, malicioso e cheio de dentes irrompeu em meu rosto e eu arriscava dizer que Gwen havia ficado pálida.

― Feito ― eu dei de ombros. ― Você falha mais uma vez em me assustar.

― Mas...

― Feito?

― Mas, Ethan...

Eu levantei minha mão acima de seu peito e destaquei meu indicador para ela, cutucando seu quadril com meu joelho.

― Vamos ― ela ergueu a mão, hesitante. ― É assim que você faz promessas e fecha acordos comigo.

Gwen encarou nossas mãos enquanto levantou seu dedo indicador e a luz do abajur iluminou o momento em que sua digital tocou a minha. Calum havia inventado isso, assim como a escala de zero a dez que usaríamos para definir uma boa convivência aqui. Se chegássemos a dez desrespeitando, brigando ou magoando um ao outro, estaríamos em apuros. No fim não serviu de muito: éramos tão silenciosos quanto à dor que carregávamos e causávamos como se ela fosse desaparecer se a ignorássemos.

Alerta de spoiler: não desaparece.

― E nós temos um acordo, G.

― Tanto faz ― ela resmungou. ― Você não vai conseguir mesmo.

Eu segurei o dorso de sua mão e trouxe aos lábios, depositando um beijo bem no centro de sua palma. Um dos cantos de sua boca se ergueu em um sorriso carinhoso e o gesto refletiu em meus próprios lábios. Estiquei o braço por cima de sua cabeça e apaguei a luz.

― Ei, sabe de uma coisa?

Gwen se remexeu no escuro ao meu lado, murmurando algo em resposta.

― Nunca passei a noite com uma garota.

Ela fez uma pausa. ― Sério? Uau. Sou sua primeira, hein?

Sim, você é.

E estou feliz que seja você.

Mas, só porque o dia já havia trazido muitas emoções, eu soltei um suspiro dramático.

― Você é ― eu quase pude ouvir o sorriso dando a volta em sua cabeça. ― Assim como eu vou ser na sua bun...

― BOA NOITE, ETHAN! ― ela exclamou, virando-se na cama com tanta irritação que a estrutura protestou. ― Deus, você não presta.

Eu sabia que não iria dormir, mas pelo menos esta noite havia um sorriso no meu rosto quando tentei fingir que sim.

. . .

Pela manhã, aqueles introspectivos olhos coloridos me observaram por cinco segundos. Apenas o tempo necessário para que, de algum modo, ela encontrasse minha velha irmã mais nova em algum lugar e visse através da superficialidade fria e controlada dos meus olhos. Ela tinha aquele olhar por trás da máscara vivaz de frieza: aquele que me dizia que ela dormiu tanto quanto eu. Nada.

― Ela te contou ― Alyssa constatou, a voz neutra.

Sacudi minha cabeça e dei a volta na ilha, apanhando um copo plástico e o enchendo de água. Havia um tempo desde que senti tanta raiva e ela oscilava entre me consumir e se acalmar desde ontem. Eu me orgulhava de não ser o cara que perdia o controle facilmente, que gritava e agia por impulsividade antes de sequer dedicar um único minuto a pensar logicamente. Eu preferia deixar que as pessoas assumissem que eu era frio e cínico na maioria das vezes porque gostava de ser deixado em paz. As pessoas tendem a chatear mais quando aprendem a procurar seus nervos e apertar seus malditos botões, então eu simplesmente agia como se não pudesse ser alcançado.

E, geralmente, eu não podia. Com exceção da família e de vez em quando os caras. Aprendi da maneira difícil a ser visto como um adversário admirável pela vida, afinal, ela não pegava leve com ninguém e se eu não respondesse de volta a altura, seria apenas mais um dos fracassos esquecidos pelos cantos. E eu nunca tive esse "luxo", porém.

Eles não podem tomar o que não existe, certo?

Dói, não é saudável e não é um exemplo a ser seguido, mas foi a única opção que tive.

Alyssa, como se pudesse sentir o que eu sentia, manteve a voz calma como se o bálsamo para todos os pensamentos sombrios e feios que enchiam minha cabeça.

― Não deixa isso subir a sua cabeça ― aconselhou. ― Sério. Se você se agarrar a raiva, Gwen vai sentir isso também e você sabe como ela é.

Fiz um bom trabalho ontem à noite, mas...

Como é que no inferno eu iria olhar para ela sem me lembrar disso?

Como é que no inferno alguém teve coragem de fazer isso com ela?

Como é que no inferno vou fingir que não quero matar o filho da puta?

Tudo voltou. A verdade ainda era crua demais para que eu simplesmente a deixasse de lado.

Ethan.

Eu espalmei a superfície plana do balcão e me curvei, deixando minha cabeça cair para frente como se cedendo sob minha exigência mental. Embora eu tivesse vestido uma camiseta, os arranhões que ela deixou nos meus ombros e costas ainda ardiam quando o tecido roçava na pele sensível. Eu ainda conseguia ouvir os sons que ela fez e a expressão em seu rosto quando chegou lá, a completa surpresa e realização ― como se ela realmente acreditasse que era incapaz de ter isso.

Uma mão pequena pousou no meu antebraço e eu não precisei abrir os olhos, reconhecendo a aproximação da minha irmã por conta do aroma familiar de seu perfume suave. Ela ficou em silêncio por alguns instantes, como se soubesse como era ser refém de sua própria mente através das pessoas de quem mais gostava.

Isso porque ela provavelmente é. Todos são.

― Eu sei que é uma merda ― começou ela ―, tudo isso é. Mas você não pode agir como se ele estivesse lá agora para você também, Ethan. Isso vai deixar ela triste – quer dizer, ela fica triste por qualquer coisa, mas isso vai deixar ela fodida.

― Eu sei, mas não consigo... ― minha voz era áspera, trêmula de raiva ― Não consigo parar de pensar nela descobrindo que... Cristo. Olhe para ela. Como ele pôde?

Alyssa puxou sua mão de volta e eu abri meus olhos a tempo de vê-la pular sentada na bancada.

― Muito estúpido, né? ― ela perguntou retoricamente. ― Que depois de tudo, ainda nos surpreendemos com o tipo de coisas que as pessoas são capazes de fazer. Especialmente quando envolve qualquer tipo de amor distorcido.

Ela tinha razão: não deveríamos nos surpreender mais. O que eu queria dizer, no entanto, era que... Apenas olhe aqueles olhos castanhos esverdeados cheios de gentileza e doçura e aquele rosto delicado e que tinha sorrisos tão esperançosos e me diga como encontrar coragem para mover um dedo contra ela?

Balancei minha cabeça e bufei, como se a conversa dentro da minha própria cabeça fosse uma terceira pessoa nessa cozinha. Não é coragem, eu disse para mim mesmo. Não pode ser. É apenas crueldade. O mundo nunca foi um grande lugar bonito e inspirador, mas quando mais novo, costumava pensar que minha irmã o fazia parecer melhor do que era. Porque ela era boa também. Ela é. Mas a vida não hesitou antes de colocar suas mãos nela, assim como tirou nossos pais deste mundo sem aviso prévio.

Eu me preocupava todos os dias com todas as formas que o mundo encontraria de machucar Calum e me matava saber que por mais protetores que fossemos com ele, ainda não poderíamos mantê-lo a salvo de tudo.

E agora, esse sentimento sufocante e venenoso de impotência criava suas próprias vertentes no caminho que Gwen fez até me alcançar.

Como eu poderia protegê-la?

Protegê-la do que se o passado já havia causado o dano?

E quem a protegeria de mim?

― Nós temos nossos problemas, você sabe ― Alyssa murmurou, encarando suas coxas. ― Um monte deles. Discutimos mais vezes do que conversamos quase, temos dúvidas às vezes se realmente... ― ela pigarreou, meneando a cabeça. ― Se realmente conhecemos um ao outro.

Eu encarei o perfil de seu rosto, odiando ser cada diz mais capaz de ler seu rosto e a dificuldade anormal que ela tinha para usar as palavras e se expressar. Eu também tinha, por isso preferia mantê-las para mim, mas não me impedia de obter algum êxito quanto tentava. Com ela, só era como se doesse fisicamente.

― Mas... ― sua voz ficou ainda mais baixa. ― Nunca tive e não tenho dúvidas sobre o tipo de homem que você é. Foi com você e meu pai que eu aprendi como devo ser tratada e a não aceitar merda de otário nenhum. O que eu disse sobre você partir o coração dela...

Eu não esperava um pedido de desculpas, mas ela me dá um do seu jeito:

― Eu estava só sendo uma vadia ― Allie encolheu um ombro. ― Minha versão de boa amiga, eu acho. Não é muito boa porque eu nunca precisei usar.

― Nós não somos os melhores em fazer amigos, né?

― Eu falo por mim. Você tem três melhores amigos. É tipo... você fez um pacto com o cara aqui debaixo ou algo assim?

Um pequeno som vibrou em meu peito e refletiu nela. Uma risada.

― Honestamente, acho que nunca vou saber como consegui a proeza. ― Encontrei seu olhar, surpreso ao vê-la já me observando. ― Talvez só porque Leon não deu outra opção a não ser me engolir.

Ela sorri e nem deve saber disso, mas há um novo tipo de suavidade incomparável que surgia em seu rosto a qualquer menção do meu melhor amigo. Isso me deixava estranhamente tranquilo; não era o ideal, mas ela sabia lidar com isso sozinha sem precisar estar sozinha.

Listar as coisas boas e blá blá blá era o que eles diziam.

― De qualquer forma ― ela suspirou ―, você tem caráter e nunca faria algo assim com uma garota. Eu sei disso. Também sei que você é um bom homem nos sentidos que mais importam então a escolha de Gwen não foi a pior.

― Uau, obrigado.

― É verdade. Portanto, eu sei que é escuro aí enquanto você tem a cabeça enfiada na bunda, mas não seja um babaca ― ela advertiu. ― Gwen não precisa que você se prenda a isso também. Ela te contou porque confia em você para fazer algo diferente por ela.

Assim, como se simplesmente não tivesse iniciado uma das interações mais saudáveis que tivemos em meses, ela saltou da bancada e caminhou para fora da cozinha. Eu a assisti ir, o cabelo castanho balançando ao movimento de seu andar e se derramando em suas costas quase até a cintura. Ela era tão pequena e aparentemente inofensiva, mas ela era como mamãe. Você não a via como ela realmente era até que fosse muito tarde, no sentido bom ou ruim.

Eu gostaria de ter mais da nossa mãe. Mas eu tinha muito mais do lado do meu pai, embora Allie não concordasse.

― Bom dia! ― eu gritei antes que ela desaparecesse no segundo andar.

― Só se for pra você ― resmungou.

Sim, isso é mais como ela

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