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By hellenptrclliw

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➛ A segunda queda: livro 02 da série "The Four Falls". Apaixonar-se não era sequer a última das coisas que Et... More

OWH. #2 Série TFF
sinopse
dedicatória
epígrafe
prólogo
01. quem está julgando?
02. caos com íris cor de avelã.
03. dever e honra.
04. até onde você é capaz...?
05. ethan.jyoung.
06. se você diz.
07. calum young é um menino sábio.
08. quem é gwen evans?
09.1. eu não sei como você consegue.
09.2
09.3
10. movidos pelo instinto de sobrevivência.
11. precisamos parar de nos encontrar assim.
12. por que se explicar tanto para si mesmo?
13. temos tudo sob controle.
14. a verdade que há e suas promessas.
15. um dia, talvez?
16. até o sol nascer.
17. nada é como se apaixonar pela primeira vez.
18. a reputação que me precede.
19. quando o amor cai em mãos erradas.
20. no meu sangue.
21.1. a garota que me encara de volta.
21.2
22.1. os parágrafos escondidos e descobertos.
22.2
23. a sentença das nossas vidas.
24. misericórdia nunca foi o seu forte.
25. a vida acontecendo através desses sentimentos.
26. as estrelas que testemunham nossa queda.
27. isso é sobre quem eu sou.
28.2
29. isso muda tudo.
30. e quem a protege de mim?
31. "juntos e essa coisa toda".
32. capítulos em branco.
33. é sempre assim?
34. como viemos parar aqui?
35. o narrador que conta a história.
36. neste momento, ele é o mundo inteiro.
37. aquela filha daquela família.
38. me diga que não é tarde demais.
39. me perdoe, eu me apaixonei.
40. boa fé da mulher que me amou primeiro.
41.1. é como deveria ser.
41.2
42. o monstro debaixo das nossas camas.
43. genuína.
44. o sangue puro e o sangue ruim.
45. julgamento
46. com um coração cheio.
47. rainbow
48.1. as constantes.
48.2
extra: pressentimentos.
49. você vem para o café da manhã?
50. a traição.
51. negação.
52. não esquecer o quanto você o ama.
53. é o único jeito, querida.
54. honra e morte.
55. se apaixonar.
56. este é o meu dever.
57. memórias: nós as construímos e elas nos constroem.
58. sem mais sentir muito.
59. era você que sempre estava lá.
60. o caminho de volta para casa.
epílogo.
nota final.

28.1. a liberdade do meu verdadeiro eu.

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By hellenptrclliw

Eu vou te perseguir
Te esfolar vivo
Mais uma palavra e você não sobreviverá
E eu não estou com medo
Do seu poder roubado
Eu vejo através de você qualquer hora

Eu não vou aliviar sua dor
Eu não vou acalmar sua tensão

Você vai esperar em vão
Eu não tenho nada pra você ganhar

Estou pegando leve
Alimentando minha chama
Embaralhando as cartas do seu jogo
E bem na hora
No lugar certo
De repente jogarei meu Às

EYES ON FIRE | Blue Foundation.



HAVIA UMA TENSÃO ENTRE Ethan e eu desde a tarde anterior, e eu não estava certa sobre o que fazer para mudar isso. Se eu puxasse o mesmo assunto, seu orgulho e veemência sobre sua versão dos fatos só iria me irritar ainda mais, e ficaríamos nesse empurra e puxa até que alguém realmente perderia a calma. Eu não retiraria minhas palavras e sabia que ele também não faria, e não era como se alguém segurasse a carta da razão aqui. Seria hipocrisia e ironia brigarmos por isso: eu via coisas nele que ele não via sobre si mesmo, e ele via coisas em mim que eu não via.

Mas ouvir de sua boca de beijos demorados e sorrisos secretos a convicção de que ele poderia ser meu erro, meu maior erro ― quando esse era meu medo desde que comecei a cair por ele ― não era algo que eu podia simplesmente ignorar.

Portanto, quando Allie disse que ia deixar Calum na casa de um amigo e fazer “outra coisa” depois (tradução: fazer coisas com certo loiro), perguntei a ela se eu poderia ficar em sua casa e esperar por Ethan. Ela me olhou como se eu fosse um inseto e depois riu, o que eu interpretei como um “fique à vontade”. Mandei uma mensagem para avisar a mamãe que voltaria antes que fosse muito tarde, já que da última vez que perdi as horas com Ethan meu pai não encarou minha transgressão muito bem.

Se mamãe não fosse bater na cabeça dele com a primeira coisa que enxergasse, ele provavelmente decretaria um toque de recolher em casa. Um detector de garotos na porta e uma inspeção detalhada das minhas atividades diárias. E considerando que mamãe estava agindo de forma estranha desde a nossa conversa no closet no dia anterior, eu não ousaria testar a paciência de nenhum dos dois.

Ethan tinha um seminário importante hoje, segundo Alyssa. Algo que definiria suas chances de conseguir um bom estágio para a graduação e, com sorte, ser efetivado mais tarde. Eu não sabia muito sobre os planos dele para depois da faculdade, percebi tardiamente depois que ela me contou. Não muito sobre qualquer plano futuro, também. Claro que ainda havia muito a ser descoberto, mas desde a visita de Malorie e todos aqueles pontos de interrogações pairando ao meu redor, tudo parecia mais sombrio.

Resisti ao impulso de roer as unhas enquanto subia as escadas e sentia um conforto inusitado ao ouvir o rangido dos degraus e o baque surdo dos meus pés no piso de madeira. Vasculhei minha bolsa atrás dos meus bombons de emergência e usei meu pé para abrir a porta do quarto de Ethan. Não precisei verificar meu caminho até tirar os sapatos e subir em sua cama. Não entrei aqui desde que ele me escondeu de sua tia e a merda bateu no ventilador, mas uma vez foi suficiente para que eu memorizasse tudo.

O quarto era pequeno, masculino e até mesmo meio sem graça. Paredes de cor neutra, uma cama com cabeceira de parede no centro e uma janela de tamanho médio sem cortinas ou persianas na lateral. A pequena cômoda do lado direito com um abajur, um livro, um relógio de pulseira de couro aparentemente parado e um copo de vidro com dois dedos de água. A escrivaninha estava organizada desta vez, papéis empilhados, livros ordenados alguns post-its grudados na parede. “Prova 15/10”, “Imagens do universo primitivo”, “teste do Calum” e “reunião c/ professora de matemática do C.” entre outras que meus olhos apenas vagaram.

Seus livros ainda estavam em pilhas pelo chão, no entanto. Ele deveria ter uma linda estante na parede para todos eles e mais, pensei comigo mesma conforme desembrulhava uma trufa de chocolate com recheio de geleia de morango. Inspirei profundamente, desfrutando do cheiro dele no quarto e o ar da tarde que adentrava pela janela aberta. Sem meias sujas hoje, apenas o cheiro característico de mofo e o dele, o qual eu estava tão familiarizada a essa altura.

Sentei no meio do colchão e cruzei as pernas, espalhei meus bombons sobre o cobertor meticulosamente dobrado e esperei. O colchão não era muito macio e não era grande, mesmo para uma cama de casal. Eu me perguntava o que ele iria pensar quando conhecesse o meu quarto e todo aquele espaço, todos os móveis e todas as cores e detalhes. Eu não me sentia mal por ter aquele espaço só meu que era digno de uma princesa, mas conhecendo a natureza humilde de Ethan, poderia ele me achar mesquinha?

Quero dizer, isso considerando que ele vá à minha casa.

Considerando que meu pai não coloque policiais no pé da escada.

Considerando que os dois passem mais de vinte minutos no mesmo espaço sem que ninguém se altere.

Mas eu não estava com medo (eu estava) porque não queria esconder Ethan. Diferente do que ele pensava, eu realmente queria tudo isso. Eu estava aceitando os riscos e finalmente entendi o que St. John havia dito sobre seu amigo. Tudo parecia certo de algum modo. Talvez porque nós dois estávamos dispostos a tentar pra valer.

A porta da frente bateu e eu me empertiguei, a consciência de sua chegada arrepiando minha nuca e despertando as borboletas furiosas que voavam em minha barriga e em torno do meu coração. Meu corpo tinha uma reação padrão para Ethan Young: entrar em colapso total, sem equilíbrio e sem lógica. Meu pulso iria de lento a uma montanha russa de emoções na mesma facilidade com que conseguia me prender com aquelas íris avelã caóticas. Mãos frias, joelhos trêmulos e lábios patetas.

Eu olhei na direção do corredor a tempo de vê-lo caminhando na direção do banheiro, completamente alheio a minha presença. Ethan desabotoava uma camisa azul marinho e fitava o chão com o olhar perdido em pensamentos, e meu rosto se aqueceu com o vislumbre de seu peitoral e abdômen aparecendo na fresta da camisa. Aquele punhado de pelos negros e as linhas escondidas de sua tatuagem que eu ainda não havia tido a chance de conhecer, as linhas duras e firmes dos músculos que eu sentia pressionados contra mim com cada vez mais frequência.

Desviei o olhar como se o diabo estivesse atrás dele, assustada e meio impressionada com o quão rápido e fácil ele conseguia arrancar essas coisas de mim. Eu não era incapaz de me conectar com as necessidades físicas do meu corpo, mas não vinha com a mesma simplicidade do que há um ano. A excitação, a fome e a busca pela centelha que faria o fogo crescer e queimar sempre acabava vindo com uma onda nauseante e dolorosa de memórias cheias de vergonha, erros e mal estar.

Era por isso que os caras desistiam de mim ― não que eu sentisse que estava perdendo algo com esses bundões ―, e era por isso que eu estava tão irredutível quanto aos avanços de Ethan. Um único olhar dele era capaz de despertar cada centímetro do meu corpo. Era algo sobre a cor de seus olhos frios, mas sempre tão aquecidos para mim. Como ele era capaz de me dizer tanto sem usar palavras, sem desperdiçá-las com combinações vazias.

E quando ele me tocava, eu me perdia.

E eu amava cada segundo.

Mas e se quando avançasse eu ainda me sentisse inadequada e incompleta?

Minha terapeuta dizia que isso não viria de repente ― superar o dano ligado a mente e ao corpo nesse nível ―, mas que eu não poderia deixar o medo vencer. E com Ethan eu não queria. Eu queria ser corajosa. Eu queria que suas mãos traçassem caminhos diferentes e queria que ele me olhasse com respeito e admiração porque eu estava finalmente lutando por algo.

Porém, precisava ser honesta sobre o que aconteceu comigo. Eu podia ver como ele ficava quando nos beijávamos até nossa cabeça girar e nossas respirações serem tão frenéticas quanto às batidas do nosso coração. Nunca ousei avaliar a reação lá debaixo, mas não era ingênua de pensar que ele ficava inalterado simplesmente por respeitar meu tempo e a hora de parar.

Não posso negar que isso me deixa constrangedoramente satisfeita: saber que eu consigo provocar esse tipo de reação em um homem como ele.

É um bom cumprimento ao meu ego massacrado.

― Ei, Gwen ― a voz surpresa e hesitante dele me fez piscar e virar o rosto na direção da porta. Seus olhos alternaram entre o quarto e eu, e ele espiava pelo batente da porta como se escondesse algo. ― Eu não sabia que você estava aqui.

Arqueei uma sobrancelha em divertimento, porque esse era o ponto exato de ter ficado para esperá-lo ao invés de ir para casa e esperar que ele me mandasse um texto. Seu cabelo estava alguns tons mais escuros por estar molhado e alguns pingos de água escorriam pela lateral de seu rosto, pescoço e peito. Ainda sem roupas! Meus olhos seguiram o resto de seu corpo que não estava escondido atrás do batente e, ah, hum, ele estava só de toalha?

Uma nova observação sobre seu quarto surgiu: ele era muito quente. Ethan devia colocar outra janela aqui.

Ou roupas.

― Você está pelado ― eu observei.

Ethan levantou as sobrancelhas escuras. Eu desviei o olhar para um ponto qualquer acima de sua cabeça.

― Não que eu esteja pensando sobre isso ― uma risada abafada escapou dos meus lábios, meio instável. ― Porque eu não estou. Claramente, nem de longe.

― É ― ele pigarreou, mas eu ainda pude ouvir o sorriso em sua voz. ― Na verdade, estou de toalha. Você está bem?

Balancei a cabeça e exclamei um “claro”, mesmo que sentisse minhas bochechas queimando até começar a ser desconfortável. O escrutínio calmo, quase brincalhão de Ethan me fazia acreditar que ele podia ver atrás dos meus olhos e ler meus pensamentos, aqueles que eu ponderava enquanto ele estava no banho. Desejos que eu tinha mas que não sabia como ― o que ― fazer para torná-los reais. Desejos que ele colocou aqui.

Lutei para lembrar minhas razões de ter permanecido aqui para esperá-lo, mas era difícil pensar com um homem de toalha me encarando.

― Será que você vai se vestir? ― perguntei, mais para mim do que para ele.

Os lábios dele se contraíram. ― Obviamente, mas para isso eu preciso estar aí dentro?

Meus olhos saltaram para ele. ― Dentro de que?

Ethan pressionou a bochecha contra o batente e abriu um sorriso tão desprotegido e jovial que meu coração cresceu dentro do peito. Ele parecia uma versão mais jovem de si mesmo; os olhos brilhando com diversão e o sorriso amplo de alguém que não era tão cansado da vida, tão forçado a renegar gestos tão adoráveis e inocentes como esse por medo de que tudo lhe fosse tomado.

― Por enquanto, do quarto ― ele murmurou, segurando meu olhar.

Por enquanto.

Ahh. Certo.

Mmm-hm ― eu zumbi, sacudindo minha cabeça. ― Sim. Você está certo. Não sei que tipo de pergunta foi essa.

Ethan franziu a testa profusamente.

― Eu também não, G. Dentro do que mais eu poderia estar agora?

Abri minha boca para respondê-lo, mas fechei assim que percebi outro sorriso desenfreado surgindo. Esse cara estava me provocando para me ver me contorcer e nem tentava esconder que adorava. Ele sabia que eu era naturalmente propensa a dar chiliques pelas razões mais bobas e ao invés de agir com indiferença e fingir que não percebia, ele se aproveitava da situação e sempre acabava me fazendo rir e não chorar.

Que ele ria comigo tanto quanto ria com as poucas pessoas com quem se importa era apenas a cereja no topo do bolo.

Como se uma mão tivesse afastado todos os sentimentos ruins e duvidosos que espreitavam por detrás de todos os outros, eu sacudi minha cabeça e sorri.

― Você está zombando de mim ― eu apontei.

― Você torna impossível não fazer ― seu sorriso cresceu ―, mas eu sei que você acaba rindo comigo no fim, então eu nem tento.

Houve um momento de pausa e eu não fiz menção de levantar. Ele me observou com calma, avaliando-me no centro de sua cama com meus bombons ao meu redor, meu vestido de verão preto modestamente cobrindo minhas coxas e meus cabelos suavemente sendo soprados pela brisa fraca da tarde. Seu peito desceu com uma expiração lenta e seu sorriso ficou contido.

― Então... Vou entrar e me vestir ― declarou ele, elevando-se em toda sua altura na porta. ― E você vai ficar aí.

Não era uma pergunta, e eu não estava certa sobre a estabilidade das minhas pernas. A tatuagem dele, se não estava enganada, era uma constelação. Eu não poderia saber qual e não me lembrava com certeza de quando ele havia me contado, mas meus olhos seguiram as linhas pretas que desciam de seu pescoço pela lateral de seu peito até o começo de suas costelas. Havia também palavras, mas não consegui lê-las.

Minha pulsação acelerou, porque de repente me dei conta de que já passei minhas mãos por cada centímetro da parte superior de seu corpo. No entanto, parecia como um universo inteiro descoberto enquanto meus olhos traçavam sua pele nua e exposta sem nenhuma vergonha para mim, porque eu sabia que ele sabia que eu estava encarando, e eu estaria condenada se perdesse a chance.

Ethan caminhou pelo quarto até a cômoda do outro lado e eu acompanhei a ondulação de seus músculos conforme ele movia os braços, abrindo gavetas e vasculhando pilhas de roupas. A contração dos antebraços e bíceps e a elevação dos músculos de suas costas. Não sei se pisco. Ele é um gigante e tão homem, de algum modo maior sem roupas. Meus olhos caem na bunda coberta pela toalha branca e eu sinto a garganta seca, o corpo quente, o sangue pulsando em minha orelhas.

Nós nunca realmente tínhamos privacidade, e quando tínhamos sabíamos que era limitada. Talvez fosse outro motivo pelo qual Ethan nunca “avançava” de verdade. Calum estava sempre por perto ou no andar de cima, Allie também e não era como se quiséssemos ser presos por atentado ao pudor, então não era como se usufruíssemos de diversas oportunidades descaradas. Somando isso a minha preservação, não entendia como ele se segurava.

Eu parei de respirar quando suas mãos seguraram a barra da toalha em sua cintura como se ele fosse simplesmente arrancá-la bem ali, a um metro de mim. Alguma coisa no ar mudou; ficou mais pesado, magnético e impossível de ignorar, não importa o quão indiferente Ethan fosse e o quão estranha eu pudesse ser.

Meu coração se alojou em minha garganta e eu fui puxada em polos opostos. Eu queria? Eu não queria? Agora? Assim? Não iríamos fazer nada realmente definitivo só porque eu o veria sem roupas, mas não seria algo que poderíamos deixar para lá. Eu não, pelo menos. Ethan era lindo de qualquer ângulo que eu olhava e se mostrava cada vez mais impressionante por dentro, mas vê-lo tão inteiramente iria me arruinar.

Eu já não estou?

Ethan hesitou e afastou as mãos, puxando a boxer de cima da cômoda com certa violência antes de vesti-la por baixo da tolha. Eu não deixei de notar a tensão em seus músculos quando ele vestiu uma calça de moletom preta e finalmente dispensou a toalha, jogando-a alguns centímetros longe das minhas pernas.

Eu engoli, seco.

Um desespero cômico arranhou minhas entranhas quando ele agarrou uma camiseta.

Não ― eu respirei. ― Não veste a camiseta.

Ethan bufou. ― Eu não mereço um segundo encontro antes de você me pedir para tirar as roupas?

Eu ri, mas o tom ligeiramente mais rouco dele arrepiou minha nuca e enviou um calafrio através da minha espinha.

― Não fica sensível ― eu disse ―, nós já tivemos dois encontros.

Ethan se virou. ― Não tivemos, não. Foi um na sorveteria e eu particularmente achei desagradável ter aquele garoto enfiando punhais em mim com os olhos durante o tempo todo.

Eu lhe dei um olhar conspiratório.

― Te levei pra jantar depois que você me ajudou na Galeria, lembra?

Ethan foi até a janela e a abriu mais e graças a Deus, porque ele era grande demais para este quarto. A presença tão incisiva e masculina estava me deixando quente e sem ar, e ele nem parecia consciente do efeito que tinha. Foi uma coisa que me surpreendeu, se eu fosse honesta. A ausência da arrogância e o equilíbrio perfeito entre a paciência e a confiança dele, diferente de seus amigos que se portavam como se fossem reis e adoravam ser notados por onde quer que passem.

Ele voltou, arrastando-se para a cama e sentado ao meu lado, mas de frente para mim e apanhou uma das minhas trufas, desembrulhando-a e enfiando em sua boca sem cerimônia.

― Isso não conta ― ele contestou depois de engolir. ― Nós ainda éramos dois esquisitos perto um do outro e eu fiz você gastar combustível dirigindo pela cidade em silêncio sem nem tentar flertar. Que tipo de encontro é esse?

Eu cutuquei sua coxa. ― Que bom que você não tentou flertar comigo, porque eu teria batido o carro ou atropelado alguém na primeira tentativa.

Ele ponderou por um segundo, soltando um riso fraco e pegando outro bombom.

― De qualquer forma, ― ele engoliu um pedaço, lambendo o resquício do recheio de maracujá que escorreu por seu lábio ― ainda não conta como um encontro.

― Conta, sim.

― Então foi um encontro de merda.

Fiz uma careta, mas não segurei o sorriso.

― Você não sabe nada sobre encontros, idiota ― eu zombei. ― Nunca nem foi em um antes de mim.

Seu olhar se demorou no meu, trazendo palpitações ao meu coração. Ethan assentiu, seu sorriso terno me acertando em cheio.

― Você tem razão ― disse ele em um tom condescendente. ― Por favor, senhorita expert em encontros, me diga como deveria ser o ideal.

Toda garota imaginava o encontro ideal com a pessoa por quem ela está apaixonada em algum momento, mesmo quando o amor não é correspondido. Ethan não precisava que eu dissesse para saber que já tinha planejado um encontro perfeito com ele, embora jamais fosse admitir espontaneamente. Conhecendo-o, ele provavelmente pegaria minha mão e me levaria agora mesmo.

Porém, olhando em seus olhos nessa tarde ensolarada em seu quarto silencioso, não pude impedir que as palavras fugissem de mim em um tom sonhador.

― Deveríamos procurar um lugar alto na cidade, como na saída dela, por exemplo, onde há aquelas colinas na costa cercadas por árvores altas e que dão uma visão especial de toda a cidade ― eu digo a ele. ― Porque poderíamos ver o céu inteiro de lá, e você poderia passar horas me contando sobre lendas e mitos e histórias antigas sobre o universo, sobre as estrelas.

Ethan piscou, tão devagar que por um momento foi como se estivéssemos em câmera lenta.

― E deveríamos fazer um piquenique ― eu sugeri, abrindo um sorriso divertido. ― Sem ninguém para ficar com ciúmes e sem pratos caros para que você não fique olhando torto para todo aquele desperdício de comida.

Ele balançou a cabeça, mas não discordou.

― E sem ninguém por perto ― eu encontrei seu olhar, inspirada naquelas pupilas dilatadas ―, poderíamos ser nós mesmos. Você poderia rir até sua barriga doer e eu poderia me constranger até que você me salvasse de mim mesma com um beijo.

O sorriso que começou a surgir em seu rosto foi o mais lento que eu já havia visto. Era como se ele estivesse imaginando cada detalhe sobre o cenário que acabei de criar, como se pudesse sentir o vento balançando a copa das árvores e todas as coisas desconexas e idiotas que eu diria movida pelo nervosismo. Em seus olhos eu pude ver as luzes da cidade brilhando e a pele nua do tronco acetinada pela luz cinzenta da lua.

Este seria meu encontro ideal e único e somente dele.

E eu acho que ele gostou.

― Esse não pode ser o seu encontro ideal ― disse ele, baixinho. ― Você apenas colocou minhas duas coisas favoritas juntas e roubou para si mesma.

Minhas bochechas ficaram quentes e eu mordi um sorriso deslumbrado. Ele se referia a mim e sua paixão pelas estrelas e seu universo e eu não conseguia parar de sorrir como uma garotinha. Eu nem precisava ver meu reflexo para saber que meus olhos estavam brilhando de maneira boba e apaixonada, mas isso só fez com que o sorriso de Ethan se tornasse ainda mais carinhoso.

― Eu não roubei nada ― protestei. ― Você deveria ter me dito que tinha um encontro ideal em primeiro lugar.

Ethan se inclinou para frente, observando-me por baixo dos cílios negros e espessos como se fosse compartilhar um segredo supersecreto.

― Eu vou aonde você for, G ― murmurou ele. ― Me ofende que você ainda não tenha percebido isso.

Meu coração.

Meu coração.

Meu coração.

Meu coração está se apaixonando por cada movimento de seus lábios quando ele diz estas coisas que jamais imaginei que pudesse dizer.

Ethan não é frio. Ethan não é insensível. Ethan não é distante.

Ethan é apaixonante. E eu sempre soube.

Eu sempre soube e sempre soube, no fundo, que uma vez caindo em tentação, eu não conseguiria escapar.

Meus medos se encolheram dentro de mim com essa admissão, quase oprimidos pela força com que essa percepção me acertou.

― Não diz coisas assim ― eu sussurrei, meus olhos arregalados em deleite ―, eu tinha vindo aqui para arriscar brigar com você mais um pouco por causa de ontem à tarde.

Usando o antebraço, Ethan empurrou meus bombons espalhados para longe e ficou de joelhos, inclinando-se para mim de modo que me forçou a jogar a cabeça para trás para poder encontrar seus olhos.

― Eu sou muito pacífico para brigas ― declarou. ― Posso pensar em algumas coisas mais interessantes para hoje.

Meu coração saltou para minha garganta, mas antes que eu pudesse dizer algo, meus ― seus ― lábios caíram nos seus ― meus. As linhas começavam a se tornar confusas. Eu tinha esse sentimento primitivo de pertencimento me espiando pela borda de cada um dos sentimentos caóticos e massivos que ele evocava em mim e não sabia se o queria para ser meu ou se me queria para ser dele sem me importar com a noção do tempo, a noção incerta de futuro e de ações fora do nosso controle.

Meus sentimentos apenas estavam todos lá e existindo a sua própria maneira, com instintos e opiniões próprias muito bem formadas para duelar com o passado onde Ethan não pertenceu.

Eu imediatamente respondi afastando meus lábios e ele engoliu um suspiro de ansiedade com o calor de sua boca, sua língua mergulhando na minha e me extasiando com seu gosto familiar e a nota dos bombons que compartilhamos. Minha mão encontrou o caminho de sua nuca e eu enfiei meus dedos entre os fios macios e grossos de seu cabelo úmido, estremecendo com o pequeno e frágil som rouco que veio de sua garganta.

Antes que eu pudesse compreender o que estava acontecendo, minhas costas afundaram no cobertor macio e no desconfortável colchão. Meu batimento cardíaco ameaçava deixar minhas costelas doloridas e eu não sabia se era humanamente capaz de segurar tudo o que estava sentindo. O calor, o desejo, o medo, a ansiedade e os olhos sombrios e distantes da vergonha e do trauma me espiando de longe, ameaçando colocar as garras em mim a qualquer momento.

Eu senti o peso do corpo de Ethan sobre o meu, mas ele ainda deixou um espaço entre nós. Eu odiei. Eu amei. Eu queria mais mas queria mais devagar, e de algum modo, ele sabia. Sabia tanto que ao invés de me submeter à irracionalidade dos nossos corpos, Ethan apoiou uma mão de cada lado da minha cabeça e centímetros entre nossos peitos, seu quadril afastado do meu enquanto ele se mantinha nos joelhos e nas mãos.

Ethan rompeu o beijo e roçou a ponta de seu nariz no meu em um gesto atencioso de carinho. Meus olhos se abriram e encontraram as íris avelã vidradas e enevoadas, o tom algumas notas mais escuras do que o normal. Nunca vi seu rosto tão de perto assim.

Nunca vi ninguém olhar para mim assim.

Ok?Seus olhos me perguntavam.

Sim. Sim. Sim. Sim. Sim.” Eu queria responder.

― Mais devagar ― eu disse, porém.

Mas aquele olhar em seu rosto não se transformou. Continuou tão terno e carregado quanto há um segundo, como se minha palavra valesse a mesma coisa para sim e não e nunca e para sempre.

Ethan roçou seus lábios nos meus.

― Eu gosto de você ― ele murmurou, a voz rouca. ― Eu respeito você. Eu vou esperar por você. Eu vou ser bom para você pelo tempo que você me quiser. Mas eu preciso que você confie em mim, G.

A resposta vem de algum lugar profundo dentro de mim.

Um lugar que eu não reconheci até este exato segundo.

― Eu confio ― talvez não devesse, o conflito em seus olhos parecia me dizer. ― Você tem a minha palavra, Ethan. Eu confio.

Não consegui ler a expressão em seu rosto antes que ele se abaixasse e tomasse meus lábios de volta nos seus. Desta vez, seu beijo não teve ressalvas. Foi molhado, quente e profundo, tão profundo quanto o lugar onde minha confiança esteve escondida esperando pelo momento certo para poder nascer e se firmar em terra firme. Precisei ― tentei ― respirar fundo para conseguir retribuir a intensidade dele, minha cabeça afundando em seu travesseiro e minhas costas arqueando do colchão.

Isso era diferente.

Isso parecia um ponto de onde não poderíamos voltar.

Meu sangue pulsava como lava sob minha pele arrepiada e corada e eu deixei minhas mãos descerem por seus ombros, suas omoplatas e costas, maravilhada com a suavidade e a temperatura quente de sua pele. Quase afastei minhas palmas, despreparada para a sensação de tocá-lo pela primeira vez. Ethan suspirou, rompendo o beijo apenas por um milésimo de segundo para poder me encontrar em um ângulo diferente.

Nós quebramos um limite e embora houvesse outros, Ethan estava aproveitando sua recompensa com tudo de si. O tecido da calça de moletom roçou na minha pele quando ele arrastou sua coxa para o meio das minhas pernas e se elevou um pouco mais, pairando ligeiramente perto; seu peito quase pressionando meus seios.

Minha respiração engatou, nervosismo e hesitação quase barrando a onda de desejo que bateu em meus ossos e se espalhou em meu sangue. Agora o joelho dele estava entre a parte interna das minhas coxas apertadas juntas e eu não sabia se queria afastá-las ou pressioná-las ainda mais perto. Pressioná-las para pará-lo ou talvez para parar a pressão palpitante entre elas.

Uma de suas mãos deslizou por meus cabelos e segurou minha mandíbula, virando gentil e firmemente meu rosto para que sua boca encontrasse o caminho do meu pescoço. Sua língua traçou uma rota molhada atrás da minha orelha, afagando um ponto sensível ali que enviou um arrepio violento que se instalou em um lugar que fez uma camada de constrangimento se estabelecer em minha pele.

Ethan ― eu ofeguei, empurrando seu peito. ― Ethan.

Porém, quando ele ameaçou se afastar, eu o puxei de volta e com o impulso, seu joelho esbarrou onde eu não sabia que precisava; onde eu pensei que não queria. Houve um som no quarto e eu levei mais de um segundo para me dar conta de que havia sido um gemido, e levei mais um para perceber que havia sido eu.

Eu me senti exposta, envergonhada, e desci minha mão pelos músculos de sua barriga em uma tentativa confusa e atordoada de empurrá-lo para longe. Antes que eu pudesse, Ethan fez outro movimento com sua perna e eu me senti inquieta e molhada, incomodada e insatisfeita. O polegar dele passou pelo meu lábio inferior e eu levantei meu olhar com relutância.

― Diz que você não gosta ― ele murmurou, os orbes me mantendo cativa. ― Diz que você quer que eu pare e eu vou, Gwen.

Ethan pontuou suas palavras moendo sua coxa com mais insistência contra o meio das minhas pernas e eu engoli um suspiro, meus olhos quase rolando para trás. Eu não quero! Eu não quero! Eu não deveria querer! Eu queria poder querer!

― Não consigo ― esqueci que ele não usava camiseta e tentei agarrá-lo em meus punhos, cravando minhas unhas na pele de sua barriga. ― Não consigo, Ethan.

― Então relaxe pra mim ― ele pediu suavemente. ― Não fique envergonhada. Ninguém pareceu tão linda quanto você agora, querida.

Suas palavras doces não condiziam com o que ele estava fazendo comigo.

Uma pessoa não deveria ser capaz de ter o dom de invadir os pontos principais que moviam outro ser humano, mas ele tinha. Minha cabeça estava zonza, tudo havia virado mingau. Meu corpo só queria saber sobre aquele sobre ele. Meu coração ousava bater mais rápido do que aquele pulso secreto no lugar mais privado e eu não sabia o que ouvir, porque qualquer escolha me levava de volta à voz dele.

Encontrei um fio de racionalidade ao mexer as pernas na tentativa de descer a barra do meu vestido.

― Não quero ficar nua ― eu pedi, soando como se estivesse à beira das lágrimas e talvez estivesse, porque estava tão frustrada. ― Não quero que você me veja... ainda.

Ethan pressionou seus lábios nos meus com um beijinho amoriscado, embora seus ombros estivessem revestidos por tensão.

― Você não precisa ― ele me acalmou. ― Não vou olhar para nenhum lugar a não ser seus olhos, então abra as pernas e relaxe para mim.

Deus, ugh.

Eu não deveria obedecer.

Mas eu fiz.

E quando Ethan começou a moer sua coxa em um vaivém constante, tive quase certeza que faria qualquer coisa que ele quisesse.

Até libertar meu verdadeiro eu.

segundou muito bem pra gwenethan e espero que pra vocês também :)

converso mais com vocês no próximo, porque teremos momentos calientes, fofos e de lágrimas no seguinte (como de costume).

até o próximo e uma boa semana 💜

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