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By hellenptrclliw

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➛ A segunda queda: livro 02 da série "The Four Falls". Apaixonar-se não era sequer a última das coisas que Et... More

OWH. #2 Série TFF
sinopse
dedicatória
epígrafe
prólogo
01. quem está julgando?
02. caos com íris cor de avelã.
03. dever e honra.
04. até onde você é capaz...?
05. ethan.jyoung.
06. se você diz.
07. calum young é um menino sábio.
08. quem é gwen evans?
09.1. eu não sei como você consegue.
09.2
09.3
10. movidos pelo instinto de sobrevivência.
11. precisamos parar de nos encontrar assim.
12. por que se explicar tanto para si mesmo?
13. temos tudo sob controle.
14. a verdade que há e suas promessas.
15. um dia, talvez?
16. até o sol nascer.
17. nada é como se apaixonar pela primeira vez.
18. a reputação que me precede.
19. quando o amor cai em mãos erradas.
20. no meu sangue.
21.1. a garota que me encara de volta.
21.2
22.1. os parágrafos escondidos e descobertos.
22.2
23. a sentença das nossas vidas.
24. misericórdia nunca foi o seu forte.
25. a vida acontecendo através desses sentimentos.
27. isso é sobre quem eu sou.
28.1. a liberdade do meu verdadeiro eu.
28.2
29. isso muda tudo.
30. e quem a protege de mim?
31. "juntos e essa coisa toda".
32. capítulos em branco.
33. é sempre assim?
34. como viemos parar aqui?
35. o narrador que conta a história.
36. neste momento, ele é o mundo inteiro.
37. aquela filha daquela família.
38. me diga que não é tarde demais.
39. me perdoe, eu me apaixonei.
40. boa fé da mulher que me amou primeiro.
41.1. é como deveria ser.
41.2
42. o monstro debaixo das nossas camas.
43. genuína.
44. o sangue puro e o sangue ruim.
45. julgamento
46. com um coração cheio.
47. rainbow
48.1. as constantes.
48.2
extra: pressentimentos.
49. você vem para o café da manhã?
50. a traição.
51. negação.
52. não esquecer o quanto você o ama.
53. é o único jeito, querida.
54. honra e morte.
55. se apaixonar.
56. este é o meu dever.
57. memórias: nós as construímos e elas nos constroem.
58. sem mais sentir muito.
59. era você que sempre estava lá.
60. o caminho de volta para casa.
epílogo.
nota final.

26. as estrelas que testemunham nossa queda.

886 88 118
By hellenptrclliw

Espere, desacelere
Não pense muito
Você é meu apoio
Você esteve aqui por meses
Oh merda, estamos apaixonados? Desacelere, não precisa se apressar

Eu nunca pensei que acabaríamos aqui
Você mudou a razão das minhas lágrimas
Eu te disse tudo
Você não tornou isso estranho
Eu nunca pensei que acabaríamos aqui
Eu só me apaixonei quando eu desisti

OH SHIT... ARE WE IN LOVE? | Valley.





ERA UMA NOITE COMUM do fim de setembro para metade do mundo, mas para mim foi quando Ethan me ensinou a localizar as constelações que tanto prendiam seu coração em uma paixão admirável. Eu encontrei a de Cassiopéia, Andrômeda ― depois de vinte minutos tentando vê-la ―, a constelação da Ursa Maior, de Pégaso e Cão Maior. Eu suspeitava que ele estivesse me guiando através das mais fáceis, mas fiquei extremamente orgulhosa de mim mesma por ter conseguido identificar todas.

Claro, eu realmente não fiz o trabalho difícil: Ethan ficou atrás de mim e segurou minha mão no alto, mostrando-me através de seus olhos toda a beleza da descoberta que ele fazia todos os dias. Foi difícil visualizar a constelação de Andrômeda e ele me disse que era normal, porque ela era menos brilhante e mais escondida. Porém, foi mais complexo porque eu só conseguia me concentrar no calor de seu peito em minhas costas e a respiração calma no meu pescoço.

Julgue-me.

― Conta uma história sobre alguma delas ― eu pedi alguns minutos mais tarde quando nos sentamos nos degraus de sua varanda.

Ethan se distraiu conferindo de perto pela primeira a pulseira de ouro branco e rosa que eu usava no pulso esquerdo. Ela ficava ligeiramente folgada em meu pulso, com duas delicadas pedrinhas de topázio azuis ligadas uma a outra. Era um presente do meu pai que eu me recusava a tirar, porque além de ser linda, também me remetia a tempos felizes ao lado dele toda vez que eu a sentia roçar contra minha pele.

Ele passou o polegar por cima das pedrinhas com tanta suavidade que quase disse a ele que não iria quebrar.

― Andrômeda era filha de Cassiopéia e Cefeu, que governavam a antiga Etiópia. Cassiopéia achou que era uma boa ideia se vangloriar de que era a mais bonita, mais do que as Nereidas que eram filhas de Nereu, um deus marinho, e eram conhecidas por serem lindas pra caramba ― Ethan me observou por baixo dos cílios como se para ter certeza de que eu entendia. ― As ninfas contaram a Poseidon, que não gostou disso e mandou Cetus, um monstro marinho também chamado de “Baleia”, que também conhecemos como uma constelação...

― Todo mundo ganha estrelas com seus nomes?

Era uma pergunta idiota do começo ao fim, mas Ethan riu e deu de ombros mesmo assim.

― Poseidon mandou Cetus para aterrorizar o reino dos etíopes e depois eles foram aconselhados pelo oráculo de Amon de que o único jeito de acalmar as coisas com o deus seria sacrificar a filha, Andrômeda. E assim eles fizeram, deixando-a lá acorrentada a uma rocha para que a Baleia fizesse o que diabos ela fazia.

― Eu não quis dizer tragédias quando pedi para você me contar uma história ― torci meu nariz em desgosto e Ethan levantou as sobrancelhas.

Mas ― frisou ele, me enchendo de expectativa ―, Perseu, que tinha uma paixão por ela, foi resgatá-la e usou a cabeça da Medusa para transformar Cetus em pedra. Foi tipo esses filmes de princesa, com cavalo alado e tudo. Há outra versão que diz que ele matou o monstro com sua espada de diamantes.

― Me deixa adivinhar ― gesticulei em direção ao céu noturno. ― Perseu também tem uma constelação?

Embora eu estivesse olhando para o céu, tomada pela fascinação de poder entender o que eu estava vendo e imaginando mil histórias para cada uma delas, seus olhos nunca deixaram meu rosto. Os orbes queimavam minha pele gelada pelo ar da noite com sua atenção inabalável.

― Ele tem. ― Ethan encolheu um ombro. ― Mas isso é tudo mitologia. Não me deixe te encher com essas histórias.

Ele nunca esteve tão errado em seus vinte e poucos anos se pensava que era entediante ou que eu não gostava. Eu poderia mudar todas as minhas noites por tempo indeterminado apenas para colocar um momento como esse em primeiro e último lugar. Queria que ele deitasse ao meu lado no sótão da minha casa e olhasse as estrelas pela claraboia, contando-me cada uma das histórias, lendas e mitos que ele guardava em sua mente.

Queria que ele discorresse por suas próprias opiniões e me deixasse mergulhar no fundo de seus olhos até que eu pudesse ver o universo que ele era como pessoa. Eu queria que ele nunca parasse de olhar para mim porque eu nunca queria parar de olhar para ele e isso me aterrorizava.

― Eu gosto ― falei baixinho, minha voz quase perdida no sopro do vento. ― Poderia te ouvir por horas.

Estava escuro e a luz das arandelas quase não chegava nesse degrau. Eu perderia o leve rubor no alto de suas bochechas se meus olhos não estivessem tão treinados a não perder nenhuma mudança em seu corpo. Como o jeito que ele se remexeu, desacostumado a ser valorizado por sua mente, talvez. Eu só poderia presumir isso quando ele nunca teve uma namorada e mesmo assim, as mulheres orbitavam ao seu redor como mariposas atraídas pela luz.

Eu as entendia, é claro. Desde a primeira vez que meus olhos reconheceram sua existência, muito antes de ele sequer pensar em olhar na minha direção, vi que ele era problema. Ethan era simplesmente lindo demais, tanto que era quase revoltante. Mas agora que ele havia me concedido o privilégio de ver além dessa superfície, da máscara que ele usava e que eu costumava julgar sem pensar duas vezes, fiquei estarrecida com sua beleza.

Tudo nele era inevitável. Olhar e não conseguir desviar o olhar. Ouvir sua voz e não conseguir parar de sentir o timbre ressoando no fundo da mente. Ver os raros sorrisos e não pensar em todas as maneiras possíveis no mundo de provocá-los mais vezes.

Eu queria tudo.

Queria tanto que não poderia ser saudável.

Era injusto deixá-lo no escuro como eu vinha fazendo enquanto eu tinha tantas vantagens: conhecendo sua família, seus amigos, parte de seus conflitos. Ethan agia como se fosse responder qualquer pergunta que eu fizesse. Como se fosse me dar qualquer coisa que eu pedisse e eu me perguntava se era por causa da emoção desses sentimentos que ele jurava nunca ter experimentado antes. Porque eu já havia os tido e não pude deixar de ver as semelhanças.

Aquele ar de possibilidades. De empurrar e ver até onde vai. Descobrir o quanto mais isso pode crescer, dobrar e multiplicar ― antes que explodisse de volta em seu rosto, esperanças e ilusões, é claro.

Talvez eu devesse dizer a ele. Talvez eu devesse alertá-lo sobre o perigo que era ter desencadeado isso nele.

Mas eu não podia lidar com a possibilidade de perdê-lo agora, então só pude torcer para que conseguíssemos parar antes de colidirmos em um caminho sem volta.

― O que você está olhando? ― perguntou ele, curioso, enquanto me observava através dos cílios cerrados.

As palavras vieram antes que eu pudesse processá-las.

― Você é lindo.

Ethan torceu o nariz, a pele se franzindo dos lados e na ponte e eu não pude evitar levantar o dedo e pousar a digital dele na ponta de seu nariz para sentir a reação quase inconsciente que eu adorava na minha pele. Queria que quando eu deitasse na minha cama mais tarde, a visão se espalhasse nos meus pensamentos e eu pudesse sentir o formigar do meu dedo com a lembrança correndo em meus sentidos.

Ethan curvou os dedos ao redor do meu pulso, os dedos facilmente dando a volta em meu braço. Eu sorri com a visão e ele também, antes de aproximar os lábios e deixar um beijo casto contra o meio da palma da minha mão. Eu senti a pressão e calor de sua boca se derramar nas minhas veias, subindo por meu braço e se espalhando em ondas quentes pelo meu peito e barriga através daquele ponto.

Ele revelava um lado surpreendentemente doce a cada dia que passávamos juntos. Eu nunca poderia ter imaginado se não tivesse nos dado a chance, e o pensamento deixava um gosto amargo na minha boca. Acho que nunca irei entender como ele esteve sozinho por todo esse tempo. Eu sei que muitas garotas devem ter apostado seu coração nele e perdido, mas me esforçava para compreender como ele nunca olhou para uma e se sentiu mais do que fisicamente atraído.

Até eu.

Era errado me sentir tão bem sabendo que eu era a primeira garota que realmente chamava sua atenção?

Não confiei nem um pouco nessa história quando ele a contou pela primeira vez e muito pouco pela segunda, mas agora eu não tinha dúvidas de que ele falava mortalmente sério ― algo que pude ver até mesmo na maneira com que seus amigos se empenharam em ajudá-lo.

Era tarde, mais tarde do que eu costumava ficar fora de casa. Meu celular jazia esquecido na minha mochila e meu carro muito bem estacionado na garagem da minha casa. Meu pai deveria estar soltando fumaça pelas orelhas. Minha mãe deveria estar adorando. Eu ouviria alguns desaforos quando voltasse, sem dúvidas.

Mas Ethan me deixava instável.

Instável quando se inclinava e colocava minha mão na parte de trás de seu pescoço.

Instável quando passava o braço por cima das minhas pernas e apoiava a mão no piso de madeira sob minha bunda, enjaulando-me para entretenimento particular. De repente, eu precisava de luz. Um monte. Eu precisava de um sol acima das nossas cabeças porque sua expressão mantida no escuro fazia coisas com meu corpo. Seus olhos enevoados e sombrios pareciam deixar uma marca viva enquanto traçavam seu caminho.

Os movimentos dele eram fluídos, pacientes e graciosos.

Como se ele já soubesse todos os possíveis fins para isso e estivesse apenas me dando um tempo para aceitar. Como se ele soubesse que eu não poderia fazer nada a não ser me render agora.

Era tarde.

Tão tarde.

Ethan Young estava me corrompendo. Corrompendo meus medos e abrindo caminho para algo mais profundo do que eles. Passando através da fortaleza das minhas paredes com uma calma que apenas predadores tinham. Corrompendo a solidão em que eu havia mergulhado minha pele e as curvas que eu queria esquecer em meu corpo, porque era como se o mundo as tivesse conhecido antes de mim.

Corrompendo a vergonha que me impedia de possuir todas as coisas que eu queria ter.

O ar frio da noite correu entre nós, soprando mechas do meu cabelo e ondulando contra a camiseta preta dele. Eu queria rir. Continue tentando, frio. Com o corpo dele parcialmente inclinado sobre o meu, eu estava protegida. Presa, mas protegida. Ele era quente, firme e confiante. Ele era grande, a presença imensa e seus olhos me engoliam como se ele pudesse me observar para sempre.

Penso em como eu o observei mais cedo e disse que ele era lindo e me acho simples, quase insignificante. Ele está me fazendo sentir mais bela que as ninfas de sua história com belezas abençoadas e nem disse uma palavra.

Nem uma.

Ele não era de desperdiçá-las mesmo. Ele fazia melhor.

A mão dele deslizou pela minha nuca e eu quase pude ouvir os fios do meu cabelo correndo entre seus dedos. Um arrepio atravessou meu corpo, tão forte que eu me encolhi e suguei uma respiração instável. Instável novamente. Instável mental e emocionalmente. Instável quando a ponta de seus dedos traçou minha nuca e passou pela região macia atrás da minha orelha.

Ethan era meticuloso enquanto me descobria.

Seus olhos examinaram os brincos que decoravam minha orelha. A linha da minha mandíbula e meu queixo. Suas pálpebras pareciam pesadas quando ele encarou meus lábios e a ponta da minha língua saiu, molhando-os. Uma única expiração pesada escapou por seus lábios entreabertos.

Ele vai me beijar.

Ele vai me beijar e ele tem que me beijar agora.

Não era problema meu. Estávamos conversando e eu era normal e ele tinha que ficar todo intenso e todo beijos doces e olhares profundos e eu me perdi novamente da mesma forma que fui detida por alguns segundos insanos na cozinha de sua casa alguns dias atrás. Ele fazia isso comigo.

Eu estava enfeitiçada e não conseguia ― não queria ― parar.

Mas ele não me beijou. Ele fez piorar.

Sua mão veio para minha garganta como um colar que eu queria usar todas as noites a partir deste segundo. Eu não sabia de onde ele estava roubando todos esses pensamentos vermelhos e aquecidos, mas eles fluíam com tanta confiança quanto aquele que os chamava sem nem perceber.

Seu polegar pressionou meu ponto de pulso frenético e acariciou delicadamente. A ponta de seus quatro dedos, uma do lado da outra, era apenas o sussurro de um toque se aprofundando na pele sensível e macia. Arrepios. Tantos, tantos arrepios. Eram como raios atravessando meu corpo. E Ethan nem parecia estar fazendo isso presunçosamente. Ele estava apenas me descobrindo ― nos descobrindo ― e me destruindo da forma mais doce possível.

Ele vai me beijar e vai me arruinar.

Ele já fez, penso comigo mesma quando ele escova seus lábios nos meus.

Enfiei meus dedos entre os fios de seu cabelo mais longos do que há um mês, mas tão macio quanto sempre imaginei que fossem, e firmei minha mão ali até minhas unhas rasparem em sua nuca. Seu piscar ficou pesado e suas pupilas dilatadas escondendo o avelã que eu tanto adorava.

Linda ― ele suspirou antes de tomar meus lábios nos seus.

Isso era ele. Paciência e ataque. Cautela e confiança. Suavidade e força. A escuridão lançada que se disfarçava em sua sombra alta e rija e a luz cintilante das estrelas que refletiram em seus perspicazes olhos castanhos claros. As borboletas desceram para o baixo da minha barriga e eu temia que elas fossem criar casulos em meus ossos.

Mas elas não podiam ir mais longe do que ali, porque havia muito calor em todo o resto. Se espalhando por minhas coxas, meus braços, mãos, atrás dos meus olhos e em meu peito. Entre as minhas pernas. Ninguém faria isso como ele e eu sabia. Era como eu o via agir com os irmãos e com os amigos, como ele existia a sua maneira e não perdia nada ― nem um único fôlego.

A língua dele se envolveu com a minha como se fizéssemos isso há mais do que dias. Dias, apenas dias e tão poucos. Eu sentia o movimento de seus lábios no meu, o calor molhado que compartilhávamos e eu sabia, sabia que iria precisar de mais do que isso embora não soubesse quanto meu passado me permitiria ter.

E eu também sabia que ele me daria tudo que eu pedisse por causa da ingenuidade dos sentimentos que eu trouxe à vida nele.

Eu sabia e era egoísta porque pegaria tudo o que ele me desse sem parar, faminta, com a chance de eu poder ser aquela que o arruinaria como alguém fez comigo antes. Poderia ser um ciclo sem fim? Uma piada? Uma brincadeira maldosa da vida comigo? A ironia das circunstâncias?

Eu poderia desenhar mil caminhos a minha frente e jamais preveria Ethan e como ele me atingiria.

A mão dele viajou até meu quadril, alisando a lateral da minha coxa até a cintura e repetindo uma, duas, três vezes antes que ele a descansasse em minhas costelas, perto do meu seio, e colocasse pressão o suficiente para apertar meu peito contra o dele. Meu coração vai explodir a qualquer momento e ele nem liga. Ele não ligou quando nos beijamos da primeira vez e não ligava agora.

Ele vai me corromper e nem se importa.

Eu vou arruiná-lo e nem me importo.

Eu sentia seu fôlego entrecortado contra minha pele e ele engolia meus suspiros de êxtase. Perto da meia noite sob o céu que ele me ensinava a ler e na varanda de sua casa Ethan me beijava com o intuito de me mostrar que ele era o melhor beijador que eu conheceria e as estrelas acima da minha cabeça testemunhavam minha queda.

Quando não conseguia mais respirar afastei meus lábios dele e abri os olhos, ofegante. Meu ritmo cardíaco acelerado contou seis batidas antes que ele abrisse os olhos e nossa, o que eram todas aquelas estrelas em suas pupilas dilatadas?

A boca dele estava vermelha e cheia depois do beijo e eu só podia imaginar a bagunça corada que eu estava, mas ele parecia adorar e eu não encontrei a vertente de constrangimento que esperava ver vazar e escorrer sob minha pele.

Eu passei dois dedos por seu lábio inferior gordo antes de erguer meu olhar para encontrar o seu vidrado em meu rosto.

― Eu me lembrei ― sussurrei sem fôlego ― você me deu dois apelidos e eu não tenho nenhum para você.

Ele achou isso divertido.

― Eu dei, é?

― Sim. Você me chamou de “querida” duas vezes e me chamou de “G” também. De onde veio isso?

― Eu não sei ― sua mão libertou minha garganta, mas a ponta de seus dedos continuou contando segredos contra minha pele. ― Só saiu. Você não gosta?

Eu pisquei para ele. ― Eu conto quantas vezes você os usa, Ethan.

Embora eu gostasse mais de “querida” quando era só para mim, especialmente quando ele estivesse ofegante depois de me beijar por humildes minutos que pareceriam horas.

― Do que eu posso chamar você?

Ele sacudiu a cabeça. ― De Ethan, por favor. Eu não gosto de apelidos.

― Mas você tem dois para mim.

― Só para você, Allie e Callie.

― Isso não conta.

― Conta, sim ― ele estava achando essa troca muito divertida. ― Eu não gosto das pessoas no geral, então minha atenção é bastante exclusiva. Se você me der um apelido, Alyssa vai querer me dar um também e assim por diante.

Eu imaginava que o apelido de sua irmã não seria tão dócil quanto o meu e nem poderia imaginar o de seus amigos sem ter vontade de rir.

Revirei meus olhos. ― Que chato ser você.

Um sorriso lento e malicioso cresceu em seus lábios.

― Eu não acho.

Seus olhos ressignificavam as poucas palavras com algo que fazia meu coração tremer. Eu não poderia parar o sorriso dele em meu rosto nem se realmente tentasse: pateta e bêbado. Não sei por que não nos beijamos antes. Ele deveria ter me beijado assim que bati em sua porta vestindo minha boba camiseta do Shrek. Ele deveria ter me beijado quando eu o insultei. Deveria ter me beijado entre as estantes empoeiradas de livros na biblioteca do campus.

Honestamente, ele poderia me beijar para sempre.

Ethan suspirou, soando como se estivesse muito satisfeito. Eu não poderia imaginar como ele, o infame mulherengo e meio que “adorado” por metade da população feminina estaria satisfeito em passar uma noite na varanda de sua casa dando amassos como um adolescente.

― Você quer entrar? ― perguntou ele, enrolando uma mecha do meu cabelo no dedo.

Eu endureci, mas ele estava muito entretido.

― O quê?

― Entrar ― repetiu calmamente.

Sinais de alerta estouraram em minha cabeça, mesmo que eu estivesse me esforçando para revisar corretamente a situação antes de dar um ataque. Claro, não funcionou, porque as próximas palavras escaparam de mim, estridentes e perplexas.

― Você quer transar?!

Ethan congelou, lentamente erguendo seu olhar para encontrar o meu. Meus olhos estavam tão arregalados que ele provavelmente poderia ver o reflexo dos seus ali. Ele perscrutou meu rosto antes de se afastar para realmente, realmente me encarar.

O quê?

Acho que a resposta é não, então.

― Do que diabos você está falando agora?

― Hum, sim? ― eu me encolhi. ― Eu, ah, pensei que uma coisa levava a outra e você iria querer continuar e, hã, como naturalmente acontece... ― Incrédulo, ele nem piscava e imaginei que, logicamente, ele não estava me entendendo. ― Sabe, afogar o ganso. Dar um tapa na periquita. Pimbar. Praticar o coito. Fornicar. Fazer glu glu e...

A risada que veio a seguir foi tão alta, tão escandalosa que os pais de St. John provavelmente ouviram do segundo andar de sua mansão. Ethan balançava a cabeça murmurando uma série de palavras como “inacreditável” e “muito foda” que antecedia uma nova faísca de riso em seu peito. Assim, rindo entusiasticamente, ele se levantou e me deixou plantada nos degraus com meu próprio constrangimento.

Um dia. Um dia eu aprenderia a hora de parar de falar.

Porém, eu não contive o sorriso que se espalhou por meu rosto. Ele não estava me intimando para transar ― claro que não estava ― e era incapaz de ficar bravo com minha presunção errônea. Eu fechei meus olhos, deleitada com o som de sua risada vindo de dentro de casa.

Tudo bem. Eu posso agir como uma idiota assim várias outras vezes se o resultado for ouvir o som mais bonito que já tive a oportunidade de ouvir.

― Vai entrar ou não, glu glu?

Eu parei no espaço entre a sala e a cozinha e cruzei meus braços, observando-o enquanto ele puxava duas cervejas da geladeira. O sorriso que insistia em ficar presente no rosto dele foi o suficiente para colar um no meu e levar para longe qualquer constrangimento que me faria desejar um buraco no fundo da terra para me esconder. Ele me achava muito engraçada, esse idiota, mesmo quando a maior parte da minha existência se resumia a mim me colocando em situações desconcertantes.

― Beba comigo, G ― ele empurrou o recipiente gelado de vidro em meus braços cruzados. ― Mal posso esperar para ver o quão pior pode ficar com você alta.

Murmurei um “idiota” sob a respiração, mas aceitei a bebida. Eu não era de beber, definitivamente não, especialmente quando em lugares que eu não conhecia e cercada por desconhecidos. Mas ele não era um, era? Tampouco essa casa que a cada dia se tornava mais acolhedora para mim. E eu tinha um porre marcado para acontecer se tudo isso funcionasse e eu conseguisse permanecer com esse disfuncional e curioso grupo de pessoas.

Melhor praticar com ele.

― Eu não bebo ― comentei, seguindo-o para o sofá da sala.

Ethan franziu o nariz enquanto jogava as almofadas para outro canto, deixando um espaço vago no meio. Afundando em um dos lugares disponíveis, eu ficaria presa entre ele e a nuvem de almofadas. Conveniente, o espertinho.

― Então não beba ― disse ele. ― Mas só tem água e limonada.

Sentei ao lado dele, divertida com o contraste de sua calça de moletom preta e camiseta da mesma cor, enquanto eu usava um jeans claro com bordados de flores na lateral esquerda da coxa e uma blusa ofensivamente rosa. Seus dedos longos seguravam a cerveja e ele levou o bico aos lábios para um gole e eu assisti o movimento de sua garganta ao engolir.

Com a barba feita, quase deixei um pedido escapar dos meus pensamentos. Eu já havia sentido roçar em meu rosto, mas nunca tempo suficiente para aproveitar a sensação.

O divertimento ainda brilhava em seus olhos quando ele virou o rosto para mim.

― O quê?

― Hã? ― eu ecoei estupidamente.

― Você está encarando de novo ― ele cantou, movendo-se para alcançar o controle remoto da televisão. ― Para.

― Você é agradável de olhar.

Ethan sacudiu a cabeça com um sorriso, mas não replicou. Imaginei que aqui, com a iluminação da sala nos banhando em qualquer curvinha de nossos rostos, ele não queria ser pego corando. Isso me fazia querer listar todos os elogios possíveis e recitá-los até que ele me calasse. Com um olhar bravo que conseguia ser incrivelmente intenso ou com um beijo, tanto faz.

― Quer assistir alguma coisa? ― perguntou ele, despertando-me do meu transe.

Eu olhei para a televisão e um sorriso surgiu em meu rosto, porque ele não havia desconectado minha conta desde que eu havia reconectado há uns quatro dias, coagida por sua irmã que estava “entediada pra caralho” e queria assistir algo decente. Eu me lembrava de Ethan olhando feio para ela e, como esperado, Alyssa abrindo um sorriso que dizia “foda-se” mais do que a própria palavra.

― Qualquer coisa está boa para mim ― dei de ombros. ― Embora eu esteja ansiosa para ver aquele com Liam Neeson que chegou uns dias atrás.

Ele não perguntou novamente, escolhendo o filme e ajustando o volume para não acordar Callie no segundo andar. Eu estava tão acostumada com a privacidade do meu quarto no canto oposto ao dos meus pais e com a conveniência de uma casa grande que não podia deixar de notar essas pequenas atitudes.

Como o jeito que ele caminhava mais devagar para suavizar o peso de seus passos no piso de madeira quando Alyssa e Calum estavam em seus quartos, ou como ele era ágil, nunca demorando mais tempo do que o necessário em uma atividade como se quisesse se certificar de tudo estaria disponível para os irmãos se eles decidissem precisar daquilo.

Eu pisquei repetidas vezes quando senti um baque na almofada do sofá e encontrei Ethan com a cabeça jogada para trás, os orbes acompanhando o filme com máxima atenção. Sua cerveja estava quase acabando e eu nem tinha tocado na minha, portanto, resolvi experimentar. Hesitantemente, quase como se a garrafa fosse me morder, eu levei o bico entre meus lábios e empinei um gole.

― Isso tem gosto de xixi ― resmunguei, meu rosto contraído como se eu tivesse experimentado limão azedo com sal.

As bochechas dele se contraíram. ― Embora eu nunca tenha provado mijo, muitas pessoas dizem isso nas primeiras vezes.

Balancei minha cabeça e assisti com uma careta de desgosto quando ele bebeu os três últimos dedos de bebida em um gole só, depositando a garrafa na mesinha de centro e apoiando os pés sobre ela também. As meias cinzas tinham um furo no dedão e ele reparou ao mesmo tempo que eu, porque suas sobrancelhas se franziram e ele mexeu o dedo.

― Bem, pelo menos eu não tenho chulé, certo?

Eu ri.

― Eu não quero isso ― empurrei a cerveja para ele. ― É muito ruim.

Suspirando como se eu o irritasse, ele pegou o vidro da minha mão e colocou ao lado da sua, reclinando-se contra o sofá novamente. Os sons de luta do filme pouco faziam para conquistar minha atenção. Alguns dias haviam se passado desde o incidente com Calum e o próximo, com meu desagradável encontro com a tia deles e as sombras de seus segredos espreitando-me por trás dos seus olhos.

Nós conversávamos. Beijávamos. Ríamos, embora eu fizesse isso muito mais do que ele. Ethan agia de maneira contida quando nos encontrávamos no campus e roubava beijos quando ninguém estava vendo. Sua mão assentava em minha coxa quando eu sentava à mesa com ele e seus amigos, que não tão surpreendentemente não hesitaram antes de abandonar a mesa cheia em que costumavam ficar e sentar conosco.

Aos poucos eu percebia que cada um deles usava uma máscara. Caden era aquele que estava sempre nos fazendo rir ― ou morrer de vergonha ―, Hunter tinha uma inclinação a acompanhar Caden, mas era um pouquinho mais sério do que o amigo. Ele sabia quando rir e quando parar, nunca se metia demais e embora exibisse um sorriso radiante que encantava qualquer mulher ― talvez até homens ―, havia sempre algo por trás de seus olhos marrons.

Algo quando ele deslizava os dedos pela pele negra do pescoço como se traçasse um caminho decorado até segurar a correntinha prata em seu pescoço, que eu ainda não havia tido a oportunidade de ver o pingente. E St. John era o que eu mais gostava até então, porque ele me entendia melhor do que qualquer um. Ele entendia como era cair no charme desses irmãos como se nada no mundo pudesse nos dar o poder de resistir ou voltar atrás.

Alyssa tinha uma língua afiada e frios olhos coloridos, mas sequer ela conseguia conter suas gargalhadas quando todos se juntavam. Se ela realmente se dedicasse a agir de acordo com a impressão que passava ― a máscara que usava ―, ela comeria os quatro vivos.

Mas, obviamente, meu favorito estava bem ao meu lado.

Ethan não falava nem metade dos palavrões que seus amigos e Alyssa despejavam diariamente, mas quando alguns escapavam, eu me sentia quente de um jeito perturbador. Um dia atrás, ele gritou um “porra” tão alto enquanto o esperávamos pegar sua bandeja no bufê do refeitório que mais de vinte cabeças viraram em sua direção.

Foi porque ele tinha sua primeira nota baixa desde o segundo ano, e eu não gostei disso também. Não era preciso pensar muito para ter certeza de que sua vida pessoal estava alcançando seu tão precioso desempenho acadêmico.

Ele ficou irritado o resto do tempo e nem seus amigos ousavam provocá-lo demais. Curiosamente (ou não), seu humor negro se dissipou depois de alguns amassos no meu carro.

― O que é tão interessante no meu rosto? ― ele questionou, voltando sua atenção para mim.

Eu bufei. ― Você não se olha no espelho?

Ethan encolheu um ombro.

― Eu acho que sou normal ― disse casualmente. ― Obviamente sou “agradável de olhar”, mas nada fora do comum.

― Você está louco ― eu murmurei.

Ele não respondeu e eu me forcei a dobrar os joelhos e me virar no sofá, meu peito alinhado com seu bíceps. Ethan fingiu não notar que eu estava o encarando como uma lunática, esboçando muito interesse no filme que eu sequer lembrava o enredo agora. Já assisti filmes o suficiente nesses anos de vida e tinha quase certeza que mulher nenhuma, com exceção de Alyssa, poderia dividir um sofá com esse cara e agir como se estivesse consciente de outra coisa que não fosse ele.

Ele era tão... ugh. Eu queria saber tantas coisas, tinha tantas perguntas.

― Você sabe que é irritantemente bonito demais, certo?

Ethan suspirou. ― Você é chata.

― Sim, eu sou. Mas você sabe?

Eu cutuquei sua bochecha com meu indicador quando o vi reprimindo um sorriso.

― Pare com isso ― eu exigi. ― Eles já são raros demais para que você me prive deles.

― Eu não sei do que você está falando.

Seu lábio inferior tremia com a contenção e eu puxei minha mão de volta, porque que droga, ele era doce e sequer percebia isso. Ele não escondia seus sorrisos de mim ― embora acontecesse inconscientemente de vez em quando ―, mas era realmente difícil quando ele fazia apenas para me provocar.

Seus olhos brilhavam com diversão quando ele olhou para mim e eu nunca vi as íris avelã tão bonitas do que quando me fitando desse jeito.

Ele adora isso e nem esconde.

― Eu tenho uma pergunta ― disse, de repente.

― Não me diga ― ele resmungou, mas não me negou.

― Você vai a encontros?

― É muito trabalho quando o que eu quero é só sex... ― ele franziu a testa para si mesmo, corrigindo-se rapidamente: ― Não, não vou.

― Você não precisa me poupar a verdade, Ethan ― inclinei a cabeça, mordiscando um sorriso. ― Então, sem encontros?

― Não antes ― ele enfatizou, a voz séria. ― Com você eu vou.

Não há mais espaço do que isso coração estúpido, pare de crescer aí dentro.

Ethan arqueou uma sobrancelha escura. ― Satisfeita?

― Não, eu tenho outra.

― Pensei que você queria assis...

― Com que frequência você... ― cocei minha bochecha, irritada ao sentir o calor inundá-las. ― Você faz... hum, aquilo?

Suas sobrancelhas se retraíram e ele fechou os olhos como se estivesse lutando para não rir. Eu podia ver isso pela maneira com que o canto de seus olhos se enrugava ele passava a língua nos lábios corados.

― Com frequência nenhuma atualmente ― respondeu, abrindo os olhos e deixando sua cabeça virar para mim, ainda descansando na almofada atrás de si. ― Por que isso agora?

― Estou curiosa ― você é a pessoa mais interessante que já conheci são as palavras que traduzem as duas que me permiti falar em voz alta. ― Mas e antes?

Um pouco do brilho leve de diversão desapareceu de seu rosto, mas eu não queria recuar agora. Eu queria saber. Eu queria conhecê-lo: cada partezinha que ele compartilhasse comigo seria como uma lasca de diamante para minha mente faminta ― e meu bobo coração ingênuo.

― Gwen... ― sua voz era mais baixa, resignada em um tom de aviso.

― Eu quero saber ― suavizei a minha, segurando seu olhar. ― Não vou quebrar e me diluir em lágrimas, Ethan. Não é como se eu não soubesse dos seus... modos libertinos.

Ele ri baixinho.

― Meus modos libertinos se resumiam a fazer aquilo quando tivesse a oportunidade e quando estivesse com vontade, mas eram bem parecidos com agora em épocas de prova e fim de semestre.

Eu considerei isso. Como as mulheres praticamente lhe entregavam calcinhas como cumprimento de bom dia e ele era um homem, supus que a frequência era mais do que eu gostaria de imaginar. Mas ele estava sendo honesto e me dando uma abertura, e eu não desperdiçaria.

― E quanto a sua libertinagem? ― ele me estudou com olhos curiosos. ― Eu sei de alguns encontros.

― Como aquele que te deixou tão curioso a ponto de sair correndo quando percebeu que tinha caído na tentação de perguntar?

Ethan levantou o braço e o esticou ao lado da cabeça, sua mão vindo para brincar distraidamente com a manga da minha blusa. A mera proximidade de seus dedos arrepiou meu pescoço e ele percebeu, suas pupilas dilatando com a vista.

Eu pigarreei, tentando afastar a sensação quente que começou a se espalhar como uma névoa por meu interior.

― Eu fui a encontros, sim ― respondi timidamente. ― Nenhum bem sucedido.

― Impossível ― ele me encarava como se eu tivesse dito um absurdo. ― Mas não posso dizer que sinto muito por você, logicamente.

Eu estreitei meu olhar nele. ― Você lembra aquele cara que encontramos quando fomos jantar?

Seus olhos ficaram escuros.

― Não poderia esquecer ― ele zombou. ― Foi terapêutico bater nele.

― Já que você mencionou, não bata mais em pessoas por minha causa.

― Você não é divertida ― ele fingiu mágoa.

Ethan não era violento e não vibrava com energia mal contida como seus amigos. Mas, de algum modo, uma voz no fundo da minha cabeça me dizia que ele poderia ser o pior se chegasse ao ponto de explodir. Ninguém poderia ter a habilidade que ele tinha ― e Alyssa ― de reprimir suas emoções até a última gota sem chegar um dia onde as consequências empurrariam um preço alto por isso.

Então eu não admitiria para ele, mas Nick mereceu aquilo porque eu não merecia ser tratada daquela forma.

― Bem, ele é uma prova do que estou dizendo ― dei de ombros, tentando soar blasé. ― Eles sempre querem mais do que eu posso oferecer.

Menos você, senti vontade de dizer.

Ethan franziu o cenho como se não compreendesse antes que sua expressão ficasse lisa com o reconhecimento.

― Ah, você quer dizer dar um tapa na periquita?

Entrei em combustão, mortificada, mas o som de sua risada me alcançou através disso e eu resisti ao impulso de esconder meu rosto. Ele nunca esqueceria isso.

― Não fique envergonhada, G ― ele pediu, a voz suave e com ar de riso. ― Você é muito divertida. Nem a minha alma obscura conseguiu resistir a isso.

Bem, ele tinha um ponto. Não muito tempo atrás, cheguei a pensar que um olhar seu poderia me congelar.

― E se isso era tudo o que eles queriam de você, são todos imbecis.

Eu apontei meu dedo para ele e arregalei meus olhos.

Sim! Foi o que eu disse pra minha terapeuta, mas ela só fez um “uhm”. Eu realmente acho que seria mais produtivo se ela os odiasse junto comigo.

― Por que você faz terapia?

A pergunta me pegou desprevenida e como se a resposta para essa pergunta e suas variações acionasse um gatilho invisível dentro de mim, a tensão disparou por meu corpo. Manter o sorriso em meu rosto foi tempo perdido, porque no instante em que Ethan percebeu minha reação, seu próprio rosto adquiriu uma expressão sombria.

Eu não estava pronta para contar a ele e não tinha certeza se estaria um dia. Estive tão focada em minha missão de voltar a “sentir” que não montei um plano de ação para caso acontecesse; embora suspeitasse que não adiantasse com esse cara. Nunca sei o que ele vai fazer ou o quão mais forte ele pode fazer meu coração bater.

O suor frio que molhou minhas mãos me fez esfregá-las no jeans cobrindo minhas coxas.

O que ele diria? Que eu fui burra por não ver isso vindo? Que eu era ingênua? Que eu era uma vítima? Que eu era fraca por ainda permitir que isso me segurasse com punho de ferro? Que eu cometi um erro e deveria aprender com ele?

Será que em algum possível cenário, ele me olharia diferente, quase como meu pai fazia?

— Gwen, você é... — desconforto enrugou sua testa. — Virgem?

Quem me dera. Balanceia a cabeça em uma única negativa. Minha garganta ficou apertada e eu me esforcei para engolir e dizer as próximas palavras.

― Eu te disse ― murmurei. ― Coisas ruins aconteceram. Antes que você me pergunte: não, não fui... forçada a nada, ou pior.

Ele me examinou como se eu fosse um de seus problemas de astronomia, indo através dos números e das palavras para encontrar o ponto chave da resolução. Eu praticamente podia ver as engrenagens em seu cérebro rodando e rodando e determinadas a descobrir meus segredos.

― É por isso que você tem tanta aversão por sexo? ― ele perguntou, me mantendo cativa em seu escrutínio calmo. ― Por causa dele?

Acho que seu poder de percepção ia mais longe do que eu gostaria, e meu silêncio foi toda a resposta que ele precisou.

Então, minha nova vista favorita aconteceu.

As íris avelã sempre tão cheias de caos e segredos e sombras se suavizaram, derretendo-se sob os cílios negros espessos e afugentando as garras que ameaçavam sufocar meu pescoço. Essas que ainda tinham o poder de conter minhas palavras e minhas verdades.

Suaves, tão suaves que quando sua mão veio em meu rosto e empurrou uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, eu não pude segurar. Inclinei-me para frente de maneira hesitante até que minha testa descansou contra sua clavícula. Senti a pressão gentil de seus lábios em meus cabelos e virei meu rosto contra seu pescoço, inspirando o cheiro familiar e quente de sua pele. O perfume, a nota de suor e o aroma do amaciante de suas roupas.

Era mais feminino do que qualquer um esperaria, mas é claro que ele cederia isso a Alyssa.

Seus braços me rodearam, pressionando-me contra seu peito. Era um abraço tão gentil e carinhoso com braços tão fortes que eu não poderia me sentir mais segura em qualquer outro lugar senão aqui. Meus olhos se fecharam e meus ombros caíram com a tentação do pensamento de que isso poderia ser meu.

De que, tecnicamente, estava sendo.

Eu era a garota, com exceção de sua família, que ele abraçava como se adorasse, e eu me perguntava se era porque um abraço desses não era distribuído para qualquer um ― porque não poderia existir tanto calor, força e ternura ―, em uma simples pessoa, então ele precisava manter isso em segredo junto com todas as outras coisas boas que ele descobria.

Minha bochecha pressionou contra seu peito e seu coração me contava todas as histórias que seus lábios ainda não estavam prontos para narrar.

Eu sei disso porque o meu bate da mesma maneira.

E é triste, porque eles não deveriam ser nossos prisioneiros.

― Uma vez, quando eu era criança ― sua voz vibrou contra minha pele, uma carícia que senti por cada terminação nervosa ―, um amigo meu morreu de câncer. Ele tinha onze anos e eu dez. Naquela época, eu não entendia o conceito da morte e não via como poderia fazer sentido depois disso; como, se tinha levado meu amigo que era só uma criança?

Seus dedos começaram a alisar meu cabelo, o cheiro de morango do meu shampoo se espalhando dentro de nossa pequena bolha.

― Então, depois do enterro dele, minha mãe sentou do meu lado nas escadas da Igreja e me olhou por um minuto inteiro antes de me puxar para os braços dela e me segurar ali. Ela não disse uma palavra, nenhuma durante todo o tempo desde que descobri sobre a morte dele.

Remexi-me em seu peito, mudando para uma posição onde minha nuca ficava contra seu ombro e minha barriga para cima para que eu pudesse ver o rosto dele. Ethan fitava seus próprios dedos enquanto os deslizava pelas mechas do meu cabelo.

― Mais tarde, eu perguntei a ela o porquê. Todo mundo dizia “sinto muito”, “ele está em um lugar melhor agora” ou “tudo vai ficar bem”. É o procedimento padrão, eu acho. Eu sei que na maioria das vezes as pessoas realmente querem dizer o que dizem e suas intenções são boas, mas não serve para muita coisa. Então, minha mãe me disse que...

Ele fez uma pausa, pensativo, antes de continuar:

― “Minhas palavras chegam aos seus ouvidos, mas não tanto em seu coração. Tudo o que eu posso fazer é te abraçar e torcer para que você se lembre de que há um lugar para se ancorar enquanto você procura os pedacinhos do seu coração partido e os coloca de volta”.

Lágrimas borraram minha visão e eu me recusei a piscar, me recusei a deixá-las vazar.

― “Não há vergonha em um coração partido, meu anjo. Não há culpa. Não há fraqueza. Todas as palavras que eu disser não serão capazes de expressar meu amor por você e minha fé de que vou poder estar lá enquanto você se cura. Meus braços estarão sempre abertos para te manter firme até o dia em que você não precisar mais e, ainda assim, haverá sempre um espaço para quando você simplesmente querer estar aqui”.

Ethan finalmente olhou para mim, usando o polegar para limpar o rastro de uma lágrima na lateral do meu rosto. A dor misturada à saudade em seus olhos não fez nada para pará-las, mas ele não fez com que eu me sentisse estúpida. Ele olhou para mim e lá nas profundezas de seus olhos, não havia acusação. Não havia julgamento. Não havia vergonha e não havia medo.

Apenas ele.

― Nunca me esqueci destas palavras, nem mesmo quando toquei seu rosto gélido e pálido em um caixão. Eu gostaria de ter, porque não havia nenhum abraço esperando por mim. Nenhum, apenas as palavras que eu passei a odiar.

― Por que você está me dizendo isso?

E, honestamente, por que eu sou uma torneira?

Ethan deixou que uma lágrima escorresse por meu rosto, seus olhos seguindo todo o caminho dela até deslizar por meu pescoço.

A vulnerabilidade em sua voz me acertou bem no peito quando sua voz reverberou entre nós novamente.

― Porque, como você bem sabe, eu não sou bom com as palavras. ― Ele baixou o tom de voz para que somente eu ouvisse as próximas palavras: ― Mas pode haver um lugar aqui sempre que você quiser, se você quiser.

Com uma careta, ele limpou minha bochecha com o dorso da mão.

― E se você parar de chorar, também. Pior do que eu falando sobre sentimentos sou eu com mulheres e lágrimas.

― Bom, você está se saindo muito bem aqui ― assegurei a ele.

― Não se acostume com isso.

Eu encarei esse cara que não foi nada além de gentil e paciente comigo e não tive outra resposta a não ser segurar sua nuca e trazer seus lábios aos meus. Sem hesitar, a pressão suave de sua boca me pegou uma, duas, três e quatro vezes em pequenos beijinhos e eu jamais teria associado Ethan ao tipo de homem que gostava de selinhos, e ele me provava que eu estava equivocada novamente.

Quando ele se afastou e manteve nossos narizes apenas a centímetros, eu abri meus olhos e encontrei os seus fixos em meu rosto. Eu poderia me perder nessas íris e desconfiava que não teria pressa para encontrar meu caminho de volta para longe delas. Em sua respiração eu puxei meu fôlego, sussurrando:

― Acho que não há nada mais que eu poderia querer, Ethan.

Aquele sorriso secreto e cheio de travessuras escondendo-se atrás da expressão estoica surgiu para mim e eu senti meu corpo inteiro relaxar contra ela, com o conhecimento de que ele não era o outro. E nem era alguém que eu devesse temer ― embora fosse conflitante separar meus sentimentos da pessoa que os provocava, bons e ruins.

― Eu ainda não sei o que aconteceu e o que ele fez ― sua voz era um vibrar profundo onde nos tocávamos ―, mas eu não vou te pressionar a fazer nada enquanto você não quiser. Sou um menino grande e estarei em boas mãos pelo tempo que você precisar.

Eu não perdi o trocadilho em “boas mãos”, e meu rosto ficou quente.

― E dar esse passo não precisa se resumir simplesmente a fazer sexo e pronto ― continuou ele, sua calma me invadindo a cada respiração. ― Nós podemos descobrir isso devagar.

― Eu vou te contar o que aconteceu ― disse a ele. ― Eu prometo.

― Eu sei que vai ― Ethan assentiu, seus olhos esquadrinhando meu rosto. ― Vou esperar por você. Não há outro lugar para mim também, G.

Eu sorri. ― Não. Agora você tem que me chamar de “querida”.

Seus olhos acenderam com bom humor. ― Por quê?

― Porque estamos sozinhos e você está me beijando, dã.

― Não estou te beijando agora.

Eu colei meus lábios nos dele, nós dois mantendo os olhos abertos.

― Agora você está ― enrolei as palavras contra a boca dele. ― Vá em frente.

Ethan emitiu um zumbido, claramente se divertindo antes de puxar meu lábio inferior entre seus dentes, a raspagem suave enviando um arrepio em minha nuca. Quando ele o sugou outra vez, sua língua deslizou para dentro da minha boca e tocou a minha com mais insistência do que quando ele me beijou na varanda e eu, caindo novamente na insanidade que ele provocava em meu corpo, correspondi com ainda mais vontade.

Eu adoro este cara.

Adoro sua calma. Adoro sua paciência comigo, o jeito perceptivo e a inteligência, a astúcia e a assertividade. Ele poderia muito bem ser policial se quisesse, embora astronomia não o colocasse de frente para nenhuma arma de fogo.

Adoro meus sorrisos. Adoro que ele não tenha reservas óbvias simplesmente por ser mais fechado que o normal e carregar mais bagagem do que o esperado. Adoro ser a primeira garota em seu sofá que ele nem hesita em admitir, mesmo que eu o faça. Adoro que ele não me pressione mas também não me deixe ir.

Adoro a maneira com que meu coração bate em sua presença.

Adoro acordar e saber que não estou mergulhando em mais um dia solitário, torcendo para conseguir passar mais invisível do que o anterior.

Os segredos dele, eu os quero.

Os medos, eu os quero.

A vulnerabilidade, eu a quero.

A paciência, eu a quero.

As risadas, eu as quero muito.

Mas as lágrimas também, se ele precisar deixar algumas sair.

O coração... eu acho que o quero mais do que deveria, e acho que ele pode me dar em uma bandeja de prata se continuarmos assim.

A questão é: será que eu sou a pessoa certa para tê-lo? Porque eu não me perdoaria por ser aquela que o macularia ― talvez o pouco que ainda não estivesse ― pela primeira vez e que seguiria pelo resto de sua vida, mesmo não estando mais lá fisicamente.

Mas ele me beija assim e eu me sinto incrível; sinto que posso fazer isso funcionar. Para ele. Para nós. Para mim.

Ironicamente, minha coragem veio da minha covardia de fugir dele há quase um mês agora. Ainda lamento pela maneira que o deixei parado em sua varanda, mas se ele me diz que não há nada para perdoar, não quero perder tempo no passado ― pelo menos no que ainda não me tem presa.

A única razão pela qual eu quero seu coração é porque... eu quero que ele queira o meu também.

― Obrigada ― eu ofeguei contra a quentura de sua boca. ― Obrigada por isso.

― Qualquer coisa para você, querida. Qualquer coisa.

Ethan me beijou novamente e eu me perguntei se ele conseguia ouvir meu coração. Porque eu, com certeza, sentia o pulsar acelerado do seu contra a lateral do meu seio.

Nós estamos caindo e não estamos fazendo nada para medir a queda.

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