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By hellenptrclliw

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➛ A segunda queda: livro 02 da série "The Four Falls". Apaixonar-se não era sequer a última das coisas que Et... More

OWH. #2 Série TFF
sinopse
dedicatória
epígrafe
prólogo
01. quem está julgando?
02. caos com íris cor de avelã.
03. dever e honra.
04. até onde você é capaz...?
05. ethan.jyoung.
06. se você diz.
07. calum young é um menino sábio.
08. quem é gwen evans?
09.1. eu não sei como você consegue.
09.2
09.3
10. movidos pelo instinto de sobrevivência.
11. precisamos parar de nos encontrar assim.
12. por que se explicar tanto para si mesmo?
13. temos tudo sob controle.
14. a verdade que há e suas promessas.
15. um dia, talvez?
16. até o sol nascer.
17. nada é como se apaixonar pela primeira vez.
18. a reputação que me precede.
19. quando o amor cai em mãos erradas.
20. no meu sangue.
21.1. a garota que me encara de volta.
22.1. os parágrafos escondidos e descobertos.
22.2
23. a sentença das nossas vidas.
24. misericórdia nunca foi o seu forte.
25. a vida acontecendo através desses sentimentos.
26. as estrelas que testemunham nossa queda.
27. isso é sobre quem eu sou.
28.1. a liberdade do meu verdadeiro eu.
28.2
29. isso muda tudo.
30. e quem a protege de mim?
31. "juntos e essa coisa toda".
32. capítulos em branco.
33. é sempre assim?
34. como viemos parar aqui?
35. o narrador que conta a história.
36. neste momento, ele é o mundo inteiro.
37. aquela filha daquela família.
38. me diga que não é tarde demais.
39. me perdoe, eu me apaixonei.
40. boa fé da mulher que me amou primeiro.
41.1. é como deveria ser.
41.2
42. o monstro debaixo das nossas camas.
43. genuína.
44. o sangue puro e o sangue ruim.
45. julgamento
46. com um coração cheio.
47. rainbow
48.1. as constantes.
48.2
extra: pressentimentos.
49. você vem para o café da manhã?
50. a traição.
51. negação.
52. não esquecer o quanto você o ama.
53. é o único jeito, querida.
54. honra e morte.
55. se apaixonar.
56. este é o meu dever.
57. memórias: nós as construímos e elas nos constroem.
58. sem mais sentir muito.
59. era você que sempre estava lá.
60. o caminho de volta para casa.
epílogo.
nota final.

21.2

557 82 77
By hellenptrclliw

o atraso foi culpa de outer banks!
boa leitura :)

VÁ EM FRENTE ANTES que eu fique alto ― Caden avisou, piscando para mim ao servir-se de mais uma dose.

Só que, bem, eu não sabia ao certo o que eles esperavam ouvir. Ou sequer no que esperavam poder ajudar, porque como eu disse, a bola estava comigo há dias e tudo o que eu fiz fora chutá-la o mais longe possível. Como se meus olhos não o perseguissem desde sempre, como se a ponta de seus dedos não tivesse raspado nos meus naquela tarde na sala do campus, como se eu não tivesse me deleitado com seu primeiro sorriso sincero na porta de sua casa enquanto ele caçoava do meu estilo.

Eu não iria, de repente, contar toda minha história para esses três. A única pessoa que sabia de tudo além dos meus pais e minha terapeuta era Alyssa, e havia sido demasiadamente exaustivo enfrentar as lembranças e verbalizá-las novamente para ela. Talvez eu estivesse inconscientemente apenas procurando motivos para justificar a insanidade desses sentimentos indesejados que vieram junto com ele desde que o caos de suas íris avelã encontrou o abismo das minhas.

Estive procurando sentir algo por todo esse tempo com rapazes aleatórios, quase desistindo outra vez, quando o mais inesperado ocorreu sem que eu pudesse prever.

Em um dia, após nossos encontros desastrosos e meias palavras, olhei para seu rosto e percebi que meu coração tinha uma própria língua. Eu ainda não entendia o que ele estava dizendo, mas ignorá-lo e varrer seus quase reconstituídos pedaços para as sombras só fazia com que ele gritasse ainda mais na ausência daquele que lhe entregou letras novas para novos parágrafos nas páginas em branco que eu acumulei por tantas luas.

― Eu só... ― encolhi os ombros, encarando o esmalte cor de vinho em minhas unhas. ― Não sei como confiar nisso. Não posso me dar ao luxo de confiar tão facilmente, e não é como se Ethan inspirasse muito minha vontade de arriscar.

O que eu tinha, muito, mas acima desse anseio, vinha o instinto de me cuidar em primeiro lugar.

Eu disse isso a minha terapeuta em nossa última sessão. Ela não disse que eu estava errada, mas também não afirmou que eu estava certa na maneira com que equilibrava os dois extremos.

― Gwen, ― St. John ergueu o indicador, sua postura argumentativa ― corrija-me se eu estiver errado, mas como exatamente você pretende confiar em alguém, um dia e não necessariamente Ethan, se você não se dedicar a conhecê-lo?

Hunter entrou no assunto. ― Você não tem que se jogar com tudo. Honestamente, você assustaria o cara se fizesse isso, do jeito que ele é.

― Quero dizer, acho que é por isso que ele está tão obcecado ― St. John declarou. ― E não, não me refiro ao clássico "você é diferente das outras", porque convenhamos que é patético. Eu acredito que há sempre alguém que vai te compreender de maneiras diferentes, embora confusas e inesperadas, e a diferença está no contraste da charada do "entre todas que eu já tive, por que agora?".

Inclinei meu queixo, tentando decifrar suas palavras de acordo com minhas emoções. Sim, por que agora? E o que, exatamente? Onde? Em que momento? Em que fôlego?

Por quê?

― E na maioria das vezes nem vai fazer sentido, ou vai ser adequado. Na verdade, ― ele soltou um riso nasalar, meneando a cabeça ― parece que quanto mais inadequado, mais impossível de resistir se torna.

― Familiar para você, St. John? ― Caden provocou, referindo-se a Alyssa.

Hunter riu.

― Eu particularmente sei o quanto é difícil esse lance de confiar. Porra, eu reconheço que ele, nós ― o loiro gesticulou entre eles ― somos os menos indicados a ter essa conversa.

Ele fez uma careta ao virar outra dose, seu olhar na direção do teto como se fosse encontrar tudo o que precisava dizer escrito ali. Caden e Hunter permaneceram em silêncio, como se soubessem que o mais propenso a alcançar minha mente seria St. John; e algo ficou nítido pela primeira vez para mim.

A maneira como os quatro eram melhores amigos, mas se compreendiam melhor entre eles mesmos em pares. Como a troca de olhares entre Hunter e Caden quando um completava a frase do outro ou assentia em concordância, e como St. John tinha uma percepção muito mais pesada, conhecedora e confiante de Ethan, tanto ao me fitar enquanto falava quanto ao proferir as seguintes palavras, como se seu mundo inteiro fosse repleto de incertezas, mas essa, uma verdade absoluta:

― Nós não podemos controlar a vida e às vezes não controlar como reagimos é o único escape ― ele encolheu os ombros. ― Mas eu sei de uma coisa. Aquele cara nunca iria escolher machucar você. Portanto, você não pode culpá-lo por coisas que nem ele tem conhecimento ainda.

― Ou você, ― Hunter acrescentou, abrindo um sorriso dócil. ― O problema da maioria das pessoas é sempre pensar demais. Nem tudo precisa ser analisado ou estudado de diferentes ângulos. Algumas coisas na vida, você simplesmente vive. Sem arrependimentos, sem medo, sem recuar.

Hunter desviou o olhar, mas não rápido o suficiente para que eu não visse a sombra de algo parecido com saudade em suas íris marrons. Eu me perguntava se, por trás dessas armaduras de garanhões, destruidores de corações e dessa vida de sexo, glória e sorrisos fáceis, não havia o pulso antigo de uma dor, nada mais além do que causada justamente pelo sentimento que os trouxera até mim.

Aquele cujo fazia com que as pessoas pedissem paz e se preparassem para guerras. Aquele que consumia, incendiava, alastrava-se por todo o caminho que se seguia até que só restassem as cinzas.

Eu conhecia a sensação de se apaixonar. Sabia como meu estômago dava voltas, minha pele se arrepiava e queimava onde havia contato, como meu coração gaguejava e se perdia em meu sangue. Conhecia parte do mundo que o extraordinário amor expandia diante dos nossos olhos.

E sabia bem demais como era quando queimava sozinho.

Então, quando Caden lançou um olhar para o amigo como se compartilhasse seus sentimentos secretos, eu simplesmente sabia que não estava sozinha.

E foi tão bom sentir isso quase pela primeira vez que queria pegar em minhas mãos o calor que se espalhou por meu peito e guardá-lo debaixo do meu travesseiro. Para que nada o alcançasse, para que essa lembrança de como ainda poderia ser me mantivesse afastada do que eu nunca mais queria que fosse.

E o pensamento de que esse calor era facilmente provocado por Ethan, embora contradissesse tudo que eu me forçava acreditar, me fez soltar um longo suspiro pesaroso. Deixando meu rosto cair em minhas mãos, eu cedi.

Ugh. Eu estraguei tudo ― murmurei. ― Tudo mesmo.

― Não seja tão radical ― Caden tentou. ― Aposto que ele vai esquecer isso se você for sincera com ele. E, sério, não tenha medo de ser. Aquele idiota é tão sutil quanto um chute no saco.

― É, bem, acho que é isso é uma coisa que os irmãos compartilham ― St. John observou. ― Calum nem hesita em me mandar passear quando quer a atenção dos irmãos, e Alyssa... bem... ― ele se encolheu, como se uma lembrança ruim o atingisse.

Estranhamente, eu podia imaginar o que se passava por sua mente. Pelo menos Ethan tentava ser delicado, um pouco menos impetuoso e intimidante.

― Eu acho que é melhor ter certeza de que Ethan vale começar a se arriscar, Gwen. Eu quero ajudar e realmente acredito que vocês dois podem ser... Eu não sei, bons um para o outro. Até onde for possível ― havia um tipo de afeto protetor em seus olhos quando ele segurou meu olhar. ― Mas não é justo você querer descobrir sobre isso machucando ele. Existem outras formas.

Mais suavemente, ele acrescentou: ― Se você for um pouco mais corajosa, talvez.

Não era um insulto e, mesmo que ele me chamasse abertamente de covarde, nem sei se me ofenderia.

As maças do meu rosto estavam ininterruptamente enrubescidas desde que Caden fez a primeira piada ao me encontrar perdida entre a multidão na pista, portanto eu sequer me preocupei em concentrar mais constrangimento a isso. Embora, porém, tenha sentido uma nova onda de calor ao perguntar ― ou gaguejar:

― Vocês... Será que... ― respirei fundo, cuspindo de uma vez. ― Vocês acham que ele realmente me deseja ou deseja a ideia por trás disso?

Caden gemeu como se sentisse uma dor lancinante e eu pulei, assustada.

― Ai, caralho ― ele balbuciou. ― Por que as mulheres tem que ser tão inteligentes e articuladas?

Eu ri. ― Vocês, homens, realmente não se fazem algumas perguntas mais complexas de vez em quando?

― De vez em quando, Gwen ― ele ergueu as sobrancelhas, como se isso devesse ser óbvio. ― Não a cada cinco segundos.

― Só você pensa que a língua delas não serve para nada mais do que lamber... ― Hunter me deu um olhar respeitoso ao suavizar o palavreado. ― Suas partes masculinas.

― É, pode me crucificar, senhor Partes Masculinas ― Caden revirou os olhos. ― Todo mundo sabe que você é o pior de todos quando se trata de entender uma mulher.

Ah, para ― Hunter protestou e Caden seguiu retrucando, os dois se perdendo em sua própria discussão.

Que era um desperdício de tempo, se um deles me perguntasse. Mas, droga, eu estava gostando da companhia desses três.

― Respondendo a sua pergunta, ― St. John se aproximou até seu joelho quase encostar ao meu ― eu sei que ele sabia a resposta para sua pergunta no momento em que foi atrás de você.

Claro, ele sabia sobre a tarde onde Ethan havia me convencido de que éramos uma possibilidade.

― E eu acho que você também sabe a resposta para isso ― o canto esquerdo de sua boca se curvou em um sorriso. ― E eu agora entendo o porquê.

― Já estamos pronto para a reconciliação? ― Caden retornou ao assunto, como se não estivesse quase apanhando de Hunter cinco segundos antes. ― Com um grande pedido de desculpas e um beijo digno de uma competição de chupar mangas?

Cara ― St. John soprou, tão impressionado quanto perplexo com as palavras que saíam da boca de seu amigo. ― Você é tão desagradável.

Caden piscou, encarando o loiro sem mostrar expressão. Então, virou para mim, entrecerrando os cílios.

― Isso é verdade?

Eu mostrei a ele um sorriso enorme.

― E essa é a minha deixa ― anunciei, impulsionando minhas mãos no chão para me levantar. ― Eu não estou respondendo a nenhuma pergunta comprometedora.

― E quanto à reconcili...

― Cale a boca ― St. John interrompeu-o. ― Juro por Zeus, Caden...

Ok! ― ele ergueu as mãos na altura da cabeça, soltando um suspiro exasperado. ― Deus, vocês são tão esquentadinhos.

St. John estava tentando não colocar mais pressão depois que tudo correu particularmente bem, mas meu rosto se suavizou com a recém-adquirida percepção de que todos eles, supostamente, estavam do meu lado.

― Eu não sei ― respondi, empurrando uma mecha do meu cabelo para trás. ― E não, você não é desagradável, Caden.

Nenhum deles era. Na verdade, eles haviam sequestrado, executado e enterrado qualquer pensamento parecido que pudesse morar em minha cabeça após tanto tempo apenas ouvindo, e não realmente enxergando.

Eu ainda tinha muito trabalho pela frente comigo mesma; para melhorar, me restaurar, me encontrar.

Mas Deus sabe o quanto isso me anima pela primeira vez em meses.

Caden se levantou, dando dois passos até parar em minha frente. Seu perfume era refrescante, com uma nota mais forte misturada ao cheiro de bebida e menta do que parecia ser seu cabelo, como o shampoo ou algo assim. Sua camisa verde escura subiu um pouco nos pulsos quando ele, de repente, colocou uma mão de cada lado do meu rosto e beijou minha testa.

Ao se afastar, seu sorriso era igual ao que eu imaginava que receberia se tivesse um irmão mais velho.

― Foi um prazer, princesa ― ele disse, adotando o apelido que St. John usara minutos antes. ― Seja lá o que você decidir, eu concordo, porque jamais ousaria questionar uma mulher gostosa.

Senti meu rosto tão quente que cobri meus olhos com a palma da mão, minha risada nervosa ressoando entre nós seguida pelas risadinhas de Hunter e St. John.

― Eu concordo com esse cabeça-de-ovo ― Hunter ocupou o lugar de Caden em minha frente e a digital de seu indicador bateu gentilmente na ponta do meu nariz. ― Embora me divirta com o pensamento do eu-não-me-apaixono-por-ninguém comendo na sua mão, você não é obrigada a nada.

Quando os dois saíram do escritório, tinha quase certeza que ouvi "apostado" e "cinquentinha" antes que a porta se fechasse em suas costas. Suspirando, virei-me e observei em um silêncio agradável St. John recolher a bebida e os copos, cuidadosamente os colocando na mesa de Caden. Ao me pegar encarando, ele sorriu, e nossa, eu totalmente entendia Alyssa.

― Você veio de carro?

― Sim ― respondi, puxando as chaves e brincando com o chaveiro em minha mão direita, apenas para ter o que fazer com as mãos. ― Obrigada por... isso, aliás. Eu aprecio de verdade. É bom saber que Ethan tem amigos assim ao redor dele.

O loiro me surpreendeu ao colocar um braço em torno dos meus ombros, guiando-nos em direção a saída. Ele não disse uma palavra conforme atravessávamos a multidão, algumas pessoas chegando a abrir espaço para ele ao reconhecer o rosto do famigerado Leon Reed St. John. Francamente, até hoje, não fazia sentido para mim a razão pela qual os três pareciam tão adorados pela maior parte do campus. Além de sua notoriedade, é claro, eles não eram excepcionais. Lindos, com certeza. Mas fazia sentido agora que os conheci de perto.

E o contraste de suas personalidades com a de Ethan nunca ficou tão óbvio. Finalmente entendi que quando ouvia os sussurros das garotas ao seu redor, era porque entre os quatro, ele era o mais inalcançável. O mais tentador, com seu jeito fechado e misterioso junto à sua capacidade de parecer tão desinteressado sobre a atenção que recebia. Ele não queria se provar para ninguém, mas se esforçou para provar sua palavra para mim.

Ethan não era fácil como seus amigos, tampouco se importava em transparecer algo que não era. Ele só falava quando tinha o que dizer e quando queria ser ouvido. Seus sorrisos eram raros, quase como se ele não lembrasse mais que ainda existiam muitos motivos para torná-los frequentes. O som de sua risada era do tipo que ecoava em seu peito e desacelerava o mundo por alguns segundos, porque era simplesmente fascinante, especialmente vindo de alguém tão endurecido quanto ele.

Fosse pela vida, por seu passado ou seu presente, Ethan não tinha mais aquela suavidade de garoto. Eu suspeitava que houvesse sido sepultada junto com seus pais, forçando-o a se tornar um homem. Talvez não o melhor. Talvez não o mais certo. Definitivamente não o mais fácil.

Mas aquele que eu queria.

Assim que me acomodei no banco do motorista, o corpo de St. John pairou no espaço da porta aberta, seu braço tatuado elevado sobre minha cabeça e o outro com o antebraço apoiado na janela aberta. A carência da iluminação da rua deixou seus olhos sombrios, os traços de seu rosto mais enunciados e fortes.

― Eu sei que algo ruim aconteceu com você ― ele começou, pegando-me completamente desprevenida. ― E eu sinto muito, de verdade. Garotas como você, de algum modo, sempre acabam quebrando mais rápido do que outras pessoas que talvez mereçam mais.

Minhas sobrancelhas se franziram.

― Mas o que eu sei, também, é que se reerguem ainda mais fortes depois ― um sorriso melancólico cutucou suas bochechas. ― Então, o que eu quero dizer é: vá falar com ele. Simplesmente vá. Eu conheço aquele cara como a palma da minha mão e em quase cinco anos, nunca vi ele falar o nome de uma mulher como ele diz o seu.

Dizer que eu me derreti por dentro seria eufemismo.

― Não estou tentando te convencer a ver apenas o lado onde você corre para ele ― assegurou. ― Você está bem crescidinha para saber o que é melhor para si mesma. Um conselho? Não permita que o seu passado tire tudo o que há de melhor para ser visto, o que você sabe que merece.

Lágrimas arderam atrás dos meus olhos e eu travei minha mandíbula, segurando-as.

― Ethan é um bom homem ― disse ele, findando-se. ― Só queria que soubesse disso.

A veemência em suas palavras, novamente como se ele pudesse morrer para sustentar essa certeza e a confiança que seus pacientes e perspicazes olhos cor de âmbar me deixaram aérea por alguns instantes. St. John bateu a porta, certificando-se de que ela estava bem fechada e deu uma breve checada em meu carro antes de enfiar as mãos nos bolsos frontais de sua calça jeans. Sem ter ideia de que havia acabado de abalar o chão sob meus pés.

Estava prestes a girar a chave na ignição quando sua voz soou novamente: alta, grave, segura.

― E, princesa?

Respirei fundo.

― Sim?

Um sorriso charmoso iluminou seu rosto.

― Eu entendo ― seu sorriso cresceu. ― E seu segredo está a salvo comigo.

Um sorriso antecedeu a risada que vibrou em meu peito.

― E o seu está a salvo comigo.

Oferecendo aquele piscar de olhos galanteador que fazia calcinhas caírem, ele desapareceu dentro do Red Nightmare.

* * *

Meu polegar vagou pela tela e eu resisti à vontade de clicar no contato diante dos meus olhos e digitar alguma coisa. Qualquer coisa. Embora duvide que vá conseguir uma resposta, é quase como um impulso irresistível de ir atrás dele e reverter tudo o que nos levou a nos tornarmos estranhos novamente. Queria mandar uma mensagem de desculpas, mas não sei se sinto muito por ser quem eu sou. Não sei se sinto muito por estar um pouco quebrada demais para encontrar uma maneira de funcionar. Não é minha culpa e mesmo que supostamente eu seja a única a estar no controle da minha vida, não sou perfeita.

Se você está buscando pela perfeição, você vai se foder muito.

Deixando meu celular entre os lençóis da minha cama, parei em frente ao espelho na parede que me cumprimentou de tamanho inteiro e observei a estranha diante dele. Os cabelos escuros com mechas levemente mais claras perdidas entre as outras, as sobrancelhas negras emoldurando grandes olhos esverdeados e as maças do rosto pálidas em contraste aos lábios rosados. O formato da mandíbula, os dois brincos de pedrinhas brilhantes em minha orelha e os outros três que subiam pela linha da cartilagem, cintilando na parca iluminação do quarto.

Minhas digitais traçaram a pele do pescoço, dedilhando o ponto de pulso e seguindo para a clavícula, o volume dos meus seios no sutiã de renda que uso para ninguém além de mim. Girei apenas um pouquinho, analisando a lateral do meu corpo e sorrindo para o reflexo que vestia uma calça de moletom dois tamanhos maior.

Eu conhecia a garota que me encarava de volta.

Estava conhecendo a mulher que se arriscava a sorrir de volta.

Mas ainda...

Queria olhar para essa pessoa e erguer a cabeça. Queria me reconhecer como um todo, sem temer olhar muito de perto e ver todas aquelas velhas cicatrizes. Sem desviar o olhar porque minha pele está traçada por memórias ruins, memórias que me roubaram e que me marcaram como uma pecadora quando tudo o que fiz fora me dedicar àquilo que todas as almas puras reverenciam. Queria me encontrar de volta.

Queria encontrar o caminho de volta para casa, para mim, para tudo o que ele tomou ao quebrar meu coração e macular quem eu era; empurrar de um precipício quem sempre quis ser.

Eu conhecia estes olhos marejados e queria que essas lágrimas parassem de cair, mas elas não iriam, e não queria me envergonhar por isso. Não queria me esconder por isso. Eu tenho emoções intensas, confusas e bagunçadas. E daí? Elas eram dramáticas quando expressadas, desconhecendo a rasura.

Eu me canso todos os dias ao tentar me remodelar, me reprimir, me encaixar em algum padrão imposto por ninguém além de eu mesma. Minha terapeuta é a primeira a me salvar dessa condenação, mas é quase o mesmo que buscar a salvação para alguém que sequer quer ser ajudado. Não é uma mudança que nasce com o dia, onde se engole uma pílula e se resolve uma equação. É um trabalho distorcido, tênue e orgulhosamente bonito ― antes e depois, nem sempre durante.

E eu queria ser conhecida, também. Queria que meu pai me reencontrasse e ficasse orgulhoso, pois não era a mesma de um ano atrás. Mal era a mesma do mês passado. Queria amigos que segurassem minha mão, não amigos que as escondessem após me empurrar queda abaixo. Queria... um mundo inteiro de coisas.

Acima disso, porém, queria parar de morrer de medo toda vez que tinha a oportunidade.

Meus olhos seguiram o movimento do meu braço ao levar minha mão na altura do rosto. Meus dedos, com vida própria, tocaram meus lábios e minhas pálpebras caíram, meus olhos tremulando com a memória de quando eles foram tocados quase como se fosse à primeira vez.

Senti minhas bochechas antes pálidas tornarem-se rubras, e queria reviver mais lembranças sobre os lábios de Ethan contra os meus, mas não tinha, porque fugi. Porque o deixei lá, parado em sua varanda e recolhendo de volta seu orgulho ferido. Porque mudei de direção sempre que ele cruzava meu caminho no campus, porque nunca enviei uma mensagem e nunca lhe disse que todos os outros beijos haviam sido apagados da minha memória no momento em que senti o seu.

Então, eu troquei os inexistentes anseios pela imagem de seu rosto diante do meu enquanto as luzes da sorveteria piscavam e cintilavam em seus olhos e seus lábios insistiam em me mostrar vislumbres de sorrisos que me roubavam o fôlego. Conseguia sentir, se me esforçasse, o aroma de seu perfume dominando o ar dentro do meu carro quando dirigi por horas com ele ao meu lado.

O som de suas raras risadas.

Os olhares curiosos, resignados, tímidos.

A maneira com que seus olhos sempre se suavizavam quando eu corava, como ele tinha um universo mapeado em suas mãos, seus olhos, seus lábios e sua pele, por todo o centímetro, que eu estava tão desesperadamente ansiosa para descobrir.

Eram quatro horas de uma madrugada silenciosa e solitária quando finalmente permiti que meus dedos clicassem em enviar.

Não fiquei surpresa quando o sol nasceu e se pôs sem nenhuma resposta.

quem disse que seria fácil mentiu. deve ter feito cursinho com o leon.

até domingo o 22 sai.
eu acho.

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