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By hellenptrclliw

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➛ A segunda queda: livro 02 da série "The Four Falls". Apaixonar-se não era sequer a última das coisas que Et... More

OWH. #2 Série TFF
sinopse
dedicatória
epígrafe
prólogo
01. quem está julgando?
02. caos com íris cor de avelã.
03. dever e honra.
04. até onde você é capaz...?
05. ethan.jyoung.
06. se você diz.
07. calum young é um menino sábio.
08. quem é gwen evans?
09.1. eu não sei como você consegue.
09.2
09.3
10. movidos pelo instinto de sobrevivência.
11. precisamos parar de nos encontrar assim.
12. por que se explicar tanto para si mesmo?
13. temos tudo sob controle.
15. um dia, talvez?
16. até o sol nascer.
17. nada é como se apaixonar pela primeira vez.
18. a reputação que me precede.
19. quando o amor cai em mãos erradas.
20. no meu sangue.
21.1. a garota que me encara de volta.
21.2
22.1. os parágrafos escondidos e descobertos.
22.2
23. a sentença das nossas vidas.
24. misericórdia nunca foi o seu forte.
25. a vida acontecendo através desses sentimentos.
26. as estrelas que testemunham nossa queda.
27. isso é sobre quem eu sou.
28.1. a liberdade do meu verdadeiro eu.
28.2
29. isso muda tudo.
30. e quem a protege de mim?
31. "juntos e essa coisa toda".
32. capítulos em branco.
33. é sempre assim?
34. como viemos parar aqui?
35. o narrador que conta a história.
36. neste momento, ele é o mundo inteiro.
37. aquela filha daquela família.
38. me diga que não é tarde demais.
39. me perdoe, eu me apaixonei.
40. boa fé da mulher que me amou primeiro.
41.1. é como deveria ser.
41.2
42. o monstro debaixo das nossas camas.
43. genuína.
44. o sangue puro e o sangue ruim.
45. julgamento
46. com um coração cheio.
47. rainbow
48.1. as constantes.
48.2
extra: pressentimentos.
49. você vem para o café da manhã?
50. a traição.
51. negação.
52. não esquecer o quanto você o ama.
53. é o único jeito, querida.
54. honra e morte.
55. se apaixonar.
56. este é o meu dever.
57. memórias: nós as construímos e elas nos constroem.
58. sem mais sentir muito.
59. era você que sempre estava lá.
60. o caminho de volta para casa.
epílogo.
nota final.

14. a verdade que há e suas promessas.

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By hellenptrclliw

Houve um tempo, quando eu estava sozinho
Sem lugar para ir e sem lugar para chamar de lar
Meu único amigo era o homem na Lua
E às vezes até, ele ia embora também

LOST BOY | Ruth B.

ROLANDO O ANEL ENTRE meu polegar e indicador, me encontrava entorpecido com a violência da quantidade exorbitante de pensamentos que rodeavam minha cabeça, a respeito de tudo e nada ao mesmo tempo, enquanto fitava o escuro do meu quarto como se todas as soluções que eu precisava fossem flutuar magicamente no ar.

Se não fosse pela garoa fina que respingava na janela e no telhado, eu sairia. Talvez eu devesse apenas discar um número rápido e encontrar alguma distração, algo que cansasse meu corpo o suficiente para ganhar essa batalha contra minha mente, mas no fundo, sabia que não funcionaria. Eu provavelmente acordaria com algum pesadelo se tentasse, e para ser franco, ouvir os de Alyssa no quarto próximo já era aterrorizante o suficiente.

As lamúrias e o choro silencioso. Às vezes ela implorava. Às vezes ela aceitava. E às vezes ela simplesmente chorava e chorava como uma pobre alma miserável até que caísse em sono profundo novamente.

Mas ela sempre agia normalmente na manhã seguinte.

Seguir em frente.

Que piada.

Um som distinto alcançou a sensibilidade dos meus ouvidos despertos e eu enrijeci, deslizando o anel para baixo do travesseiro e girando no colchão até meus pés tocarem o piso frio. Meu rosto se contraiu em concentração conforme eu tentava distinguir o que era, mas antes que pudesse chegar a uma conclusão, o rostinho de Calum apareceu na minha porta iluminado pela luz do corredor. Pensei que fosse Allie, porque ela tinha alguns problemas com insônia como eu, mas aparentemente, após chegar emburrada de mais um turno no Red Nightmare, ela tinha cansaço o suficiente para não levantar e não ter os pesadelos que assolavam a parede que dividíamos.

— Ethan? — Callie chamou, estreitando os olhos para poder discernir minha figura no escuro.

— Oi, carinha — puxei a cordinha do abajur, a luz imediatamente banhando o canto esquerdo da minha cama. — Qual é o problema?

— Tive um pesadelo — ele sussurrou, ainda lá, parado. — Você pode ficar comigo por, hum, só um tempo?

A contração em meu peito fez o oxigênio se recusar a inflar meus pulmões. Calum nunca havia vindo até mim nesse mês inteiro desde que chegaram, e enquanto Alyssa mantinha os detalhes dos anos que permanecemos separados trancafiados nas profundezas de sua mente inalcançável — com exceção a sua aversão a Malorie —, eu simplesmente não queria pressioná-lo tão depressa. No momento em que sentisse que ele confiava em mim, talvez tentasse.

Por mais que ele fosse uma criança, ele ainda era uma pessoa, e conhecendo nossa genética e a vida que temos em comum, em conjunto com todas as tragédias que enfrentamos e éramos, não fazia sentido tratá-lo como estúpido. Ele não era tolo, mas ainda era dependente de nós para crescer e com isso vinha à responsabilidade de ser um exemplo e mostrar a ele que caminho seguir.

— Você quer me contar sobre o que foi?

Silêncio.

Inclinei minha cabeça e gesticulei em sua direção com o queixo.

— Calum, entra e vem deitar — sugeri, arrastando-me contra a cabeceira de madeira da cama. Os lençóis estavam começando a ficarem velhos, ásperos e gastos em determinadas regiões, e meu travesseiro, a essa altura, deveria estar no lixo. — Hein?

Meu irmão mais novo hesitou, parecendo subitamente desconfiado.

— Talvez eu deva acordar a Allie — disse ele, prestes a se retirar.

— Não — repliquei, mantendo minha voz firme e suave; ou o máximo que podia. — A Allie está cansada, Callie, e ela tem aula amanhã cedo — baixei meu tom, tentando instigá-lo a ceder um pouco. — Você pode falar comigo.

Ele usava a parte de cima de um pijama com estampa de hambúrgueres e batatas fritas com um fundo amarelo e uma calça de moletom cinza que se arrastava em seus calcanhares. O cabelo de um tom escuro de loiro estava bagunçado e com um pequeno ninho cheio de nó na lateral, porque se havia alguém que não dormia de maneira elegante, era ele. Calum provavelmente teria problemas de coluna apenas por dormir como se não tivesse ossos em seu corpo.

Sua boca se crispou com aceitação e ele deu de ombros.

— Beleza, então... — mas uma dúvida infundada ainda pairava em seus ombros quando ele se arrastou para o colchão e eu o alcei por debaixo dos braços, erguendo-o por cima de mim e deitando-o do outro lado da cama. — Uau. Você tem uma cama grande.

Não era exatamente grande. Sim, havia espaço para duas pessoas, mas eu era muito grande e, consequentemente, a outra pessoa só dormiria confortavelmente se tivesse o tamanho de Calum ou Allie. Ou não. Esse colchão era uma droga, na verdade. Minhas costas doíam todos os dias, mas com o tempo, acostumei.

— Sobre o que era o seu pesadelo? — questionei, entrelaçando meus dedos em meu colo e cruzando os tornozelos. Meus pés ficavam alguns centímetros longe da borda do colchão nessa posição, enquanto os de Calum mal alcançavam meus joelhos.

— Sobre a mamãe e o papai — ele suspirou, parecendo cansado. — É sempre como se tivesse algo errado. Como se eles devessem ficar em casa no sonho, mas eles não ficam, e então eu nunca mais os vejo.

Basicamente, são apenas fatos que o chateiam enquanto dorme.

Baixei meu olhar para seu rosto. As sobrancelhas loiras estavam contraídas com um tipo de frustração infantil, um pouco de vergonha — que não deveria estar ali —, e certamente aquela velha amiga conhecida como dor. A injustiça com a qual a vida trabalhava todos os dias não deixou sequer ele passar batido. Durante os anos que estive longe, nunca deixei de tentar ser presente das formas que podia. Eu ligava e ficava horas no telefone quando era bem vindo. No início nem tanto, porque não tinha condições. Eu ouvi suas primeiras histórias sobre a escola por repetidas vezes e nunca pedi para parar. Eu o ouviria por toda a minha vida se dependesse de mim. Assim como Alyssa.

Eu não era o cara mais sensível e suave, ou tampouco agradável. Talvez eu devesse rir mais, me expressar mais, abraçar mais. Mas isso não era quem eu era, e se não tivesse a liberdade para ser eu mesmo com as únicas pessoas que amava — e que me amavam de volta — o que seria? Nunca pedi por nada disso. Nunca pedi para ser o vilão da história, aquele em que nem uma criança pode confiar. Mas era um sacrifício que precisei fazer para mantê-los a salvo.

E não importava, realmente, se demoraria a me tornar confiável aos olhos dele.

Contanto que houvesse alguma coisa. Sinais de que eu estava fazendo a coisa certa.

Então, agora, mesmo não sendo sua opção segura — ou a primeira —, estava aqui para ele. Quando ele nasceu, há quatro anos, ontem e hoje e estaria pelo tempo que respirasse. Família não se definia por sangue, mas tive a sorte de conseguir uma que além disso, que estava tão enraizada em meus ossos que nenhum passo meu nessa Terra estava separado dos deles. A cada olhar meu na direção do céu procurando constelações, desvendando o universo, eu estava olhando pelo bem deles. Se eu fosse um cara religioso, diria que orava por uma vida melhor.

Alyssa era carinhosa como podia com Calum. Eu também poderia fazer isso por ele — apenas por ele. Porque era assim que ele deveria crescer; seguro, amado e rodeado por pessoas que priorizavam seu bem estar acima de tudo. Fora dessa forma que Alyssa e eu crescemos e apesar dos imprevistos no caminho, Calum poderia ter isso também.

Eu podia fazer isso.

Claro que sim.

Só precisava superar os mil e quatrocentos e tantos dias em que me perdi de tudo o que costumava ser.

Esses pesadelos precisavam ir embora, nem que eu precisasse pagar para que ele tivesse a chance de fazer terapia. De crescer saudavelmente. Alyssa e eu já sabíamos como era não ter um lugar seguro dentro da nossa própria cabeça e ele não precisava disso.

— E às vezes — continuou, alheio aos transtornos dos meus pensamentos — sonho que acontece a mesma coisa com você e a Allie.

Que tortura.

— Sei que não é real — acrescentou ele, depressa. — Quer dizer, pelo menos a parte de vocês dois.

— O quanto você lembra sobre aquela noite? — perguntei, cauteloso.

Calum me deu um encolher de ombros. — Pouco, mas a Allie me explicou. Ela nunca mente para mim.

Sim, para mim, ela mente o suficiente por nós dois.

Você acha que eu mentiria para você?

Calum ergueu o rosto, o azul de seus olhos concentrado unicamente no escuro dos meus.

— Eu não sei. Ela disse que você nunca contou a sua versão do que aconteceu naquele dia.

Minha boca ficou seca, meu sangue gelado. Não, nunca contei, e nunca iria. Algumas coisas na vida você simplesmente não deseja nem ao seu pior inimigo.

"Minha versão" sobre aquela noite era uma dessas.

— Bem, não contei porque não é importante — menti. — O que ela te contou é toda a verdade que há.

Calum assentiu, mas pouco convencido. Desviando o olhar, ele mordiscou o lábio inferior e soltou, passando a fazer o mesmo com o outro canto. Ele fitava seus dedos conforme pensava no que dizer — ou decidia-se sobre acreditar em mim ou não. Seu silêncio me enervava, mas eu tinha que dar a ele o tempo necessário para que sua mente desacelerasse a viesse para esse momento, comigo tentando ser o irmão que ele gostaria de ter.

Crianças perdiam o interesse rapidamente e criavam fortes convicções que eram difíceis de quebrar se você não estivesse realmente disposto a estar lá com ela, observá-la, entendê-la e compreender que sua visão do mundo muitas vezes será equivocada e errônea, mas que não a faz inválida por tal.

Minhas omissões me alcançariam cedo ou tarde, mas lidaria com elas quando chegasse a hora.

— Sei que sou só uma criança — falou, a voz surpreendentemente dura. — Eu realmente entendo que a Allie... hum, você e a Allie sabem mais do que eu. Tenho oito anos; não sou burro.

Eu empurrei seu ombro com meu bíceps.

— Ninguém está dizendo isso, bobo. E ninguém está insinuando, também. Nós sabemos que você é muito espertinho e tal, um pouco demais pro meu gosto.

Um meio sorriso curvou o canto esquerdo de sua boca quando ele estufou o peito.

— Sou o mais inteligente da minha classe — orgulhoso, ele proferiu. — E era da lá de casa também, sabia?

— Tenho certeza que sim — assenti, sem dúvida alguma. — E, além do mais, nem você nem Alyssa me deixaram esquecer isso. Mas por que você diz que te tratamos como inferior?

— Porque é verdade — disse, simplesmente. — Porque eu sou criança.

— E o que você quer que façamos?

— Que não façam isso.

Meu cenho franziu tanto que a pele deu um repuxão.

— Não quer ser tratado como uma criança? — sacudi a cabeça. — Não está em negociação, campeão. Você não pulará as fases.

— Então quando vou ouvir toda a verdade? — perguntou ele, irritado. — Sem que vocês fiquem deixando as coisas mais fáceis e simples para mim?

Suspirei. Isso não estava indo como o esperado. Não sabia exatamente como Alyssa queria levar isso e não queria me precipitar acima do que ela estava ensinando a ele. Não era sequer remotamente minha intenção passar por cima dela se tratando de como criá-lo, mas não dar a ele uma resposta seria dar mais convicção a ideia que ele estava defendendo.

Ele faria nove anos em Abril. Quando nossos pais começaram a nos mostrar fragmentos da realidade sem adoçar nada? Merda. Não conseguia lembrar. Já era um bom dia quando conseguia lembrar o tom exato de suas vozes, quem dirá algo de dez anos atrás.

— Cara, você tem que entender que não pode pular o processo. Sua irmã e eu somos honestos com você e sempre vamos te dar a atenção que você quiser, sobre o que quiser e quando quiser. Mas algumas coisas simplesmente não estão na hora. — Expliquei calmamente. — Perderá todo o curso se ficar pensando no fim. Você é uma criança, ok? Não há porque querer descobrir tudo sobre o mundo agora e esse é o processo. Quanto mais velho você ficar, mais entenderá. Se apressar, você fará as perguntas erradas sem esperar o momento certo e tudo vai ficar mais complicado depois.

Procurando seu olhar, continuei.

— Vamos mimar você quando quisermos e vamos te proteger do que acharmos que devemos. Não há uma discussão acontecendo sobre isso, então aceite. — Calum fez uma careta. — É isso aí. E você tem total liberdade para querer esclarecimentos e a verdade, ok? Mas há algumas coisas que não seriam boas para ninguém se ditas agora. Muito menos para você.

— Então — ele suspirou —, que tal quando eu fizer dez?

Ele abriu as mãos na altura do rosto, mostrando-me os dez dedos de suas pequenas mãos. Um sorriso cutucou minhas bochechas por livre e espontânea vontade.

Deus, ele era fofo.

— Talvez, — parei, protestando estridentemente: — Ei! Não está em discussão, lembra? Não tente trapacear.

— Mas e sobre meus pesadelos?

— O que tem?

— Posso falar sobre eles?

Levantei as sobrancelhas enfaticamente.

Sempre — assegurei. — Comigo e Alyssa. Você pode contar para qualquer coisa.

— Hã — sua testa se enrugou. — Se eu posso contar para qualquer coisa, por que vocês não fazem meu dever de casa?

Dei um peteleco em sua testa, fazendo-o gemer e esfregar a região com a mão.

— Espertinho — bufei. — Digamos que você pode contar para a maioria das coisas.

— E se eu precisar esconder um corpo?

Fingi uma careta de dor.

— Ah, não faça isso pelos próximos anos, cara. Não tenho dinheiro para pagar um advogado e já tenho problema na coluna. Não quero ter que cavar buraco nenhum.

Uma risada gostosa fez um sorriso tremendamente adorável iluminar seu rosto e ele deslizou pelo colchão até deitar, virando-se para mim e colocando a mão entre a bochecha corada e o travesseiro.

— Posso dormir aqui hoje? — indagou, a voz tão baixa que quase não ouvi.

— Se você não estiver com gases — zombei, inclinando-me para seu lado.

Calum arregalou os olhos.

— Eu não estou com gases! — protestou.

Eu ri, apenas virando o braço para apagar o abajur. Revirando-me ao seu lado para encontrar uma posição confortável, deixei minhas pálpebras cederem como se realmente fosse ter uma boa noite de sono.

— Bom para você, porque eu estou.

Pontuei minhas palavras com uma bufa definitivamente fedida. Calum gemeu e se debateu, acertando minhas costelas ao erguer a mão para cobrir o nariz.

Sua voz era puro riso quando ele exclamou:

— Ethan! Para de peidar! — as risadas continuavam, gargalhadas cheias e abafadas enquanto ele tentava não respirar. — Meu Deus! O que você tem aí?

Uma voz alta, clara e feminina surgiu na conversa, vinda do quarto próximo:

— Ethan, pelo amor de Deus, porra!

Uma risada sacudiu meus ombros.

— Foi só um! — gritei de volta.

O barulho inconfundível de outro traseiro dando uma aliviada foi audível o suficiente para fazer Alyssa rir. Calum jurara que não estava com gases.

— Por que vocês garotos são tão nojentos! — Alyssa reclamou.

— Sua vez! — Calum gritou para ela, debruçando-se na minha barriga.

— Nos seus sonhos, porquinho — rebateu ela, soando como se ele tivesse sugerido uma loucura.

— Você não é divertida — eu disse, tentando para caramba parar de sorrir.

— E vocês são nojentos pra caralho.

— Olha o palavrão! — censurei.

Calum bufou dramaticamente e eu pude ver que ele me encarou na penumbra do quarto.

— Um dia você acostuma, sabe.

— Mas eu não quero que você repita — comentei.

Senti seus ombros sacudirem.

— Não, ela não deixa. A política do "não faça o que eu faço e não diga o que eu digo, porque é para isso que Ethan nasceu".

— Eu sou o bom exemplo, huh?

Desnecessário dizer que a região em meu peito ficou quente.

— É o que ela diz. E tipo, é meio engraçado quando ela começa a falar palavrões e tenta parar e se desculpar, mas acaba só piorando as coisas.

É, eu sabia. Alyssa não conseguia consertar seu vocabulário sujo — não que ela não fosse educada quando era extremamente necessário —, e curiosamente, isso nem me incomodava mais. Provando os traços proeminentes de sua mentalidade, ele já sabia que não era exatamente um modelo a seguir.

— Eu estou autorizado a dizer um pouco de "merda" e "droga", mas porcaria funciona.

Dei um tapinha delicado no topo de sua cabeça e soltei uma risada.

— Sim, homenzinho. Continue assim pelo tempo que conseguir.

— Vocês vão parar de peidar e me crucificar? A coisa ruim aqui precisa dormir — Alyssa pediu do outro lado, apesar do carinho segurando suas palavras junto.

Calum riu e gritou "boa noite", mas ainda ficou rindo e se remexendo até finalmente adormecer, comigo mantendo guarda para afastar seus pesadelos e conceder-lhe todos seus sonhos.

Estes pequenos momentos; os pequenos detalhes eram tudo o que eu precisava para continuar.

* * *

Na manhã seguinte, ainda tinha um coração dividido em dois no meu peito, um lado me dizendo para ficar e o outro me implorando por um pouco de liberdade. Alyssa não poderia entender, claro. Não era como se fossemos aqueles que compartilhavam tudo — não mais, pelo menos.

Eu a abracei apertado, no meio de um dos corredores da universidade, desejando que todas as partes que estavam corrompidas irremediavelmente entre nós se juntassem milagrosamente e expandissem um novo horizonte; um onde éramos irmãos muito além do sangue e de um passado trágico em comum.

Alyssa estava rígida em meus braços e, notando seu desconforto final, como ela não conseguia compartilhar a proximidade, me forcei a recuar e a libertei da prisão dos mesmos.

— Eu te amo! — gritei antes que ela se fosse, recebendo apenas um breve sorriso como resposta.

St. John, que havia chegado há cinco minutos após eu chamá-lo para perto de nós e relembrá-lo sobre minha excursão, desviou o olhar fingindo se importar em nos dar privacidade. Algo estava curiosamente estranho com ele desde que meus irmãos chegaram. Antes, associei o comportamento à mudança em nossa estrutura familiar com o acréscimo de Calum e Alyssa, que talvez ele estivesse sentindo algum tipo de ciúmes ou melancolia pelas transformações que eles impunham em nossos costumes antigos, mas ultimamente tenho analisado isso de outro ângulo.

Talvez sua estranheza seja apenas por causa de um dos meus irmãos.

Mas por quê?

Que ela chamava a atenção por ser linda e especialmente por partilhar a mesma habilidade em manter um suspense sobre quem era que eu, além de ter se entranhado entre pessoas conhecidas tão rapidamente, era um fato. Mas St. John. Ele poderia ter a garota que quisesse na Califórnia inteira e possivelmente fora também.

Então, eu entenderia se ele apreciasse a vista. Completamente.

Porém, o homem simplesmente não parecia no domínio de si mesmo quando minha irmã estava por perto, sendo raramente educada ou o ignorando por completo — o que acontecia com frequência — e isso clareava alguns fatos que deixei passar anteriormente. Como a noite em que a levei comigo para o apartamento de St. John, após a visita de seu pai, e a deixei esperando por mim junto com ele. Como molhei meu rabo esperando por ela na portaria e precisei subir para pegá-la, encontrando-a um pouco descabelada e com uma aparência seriamente furiosa.

Pensei que tivessem discutido, já que além de ser ignorado, se desentender com ela na noite em que saí com Gwen e ele ficou assistindo filme com ela em nossa casa foi o que conseguiu de Allie.

Agora... algo não cheirava bem, e isso parecia a lealdade de St. John.

— Eu nem me lembro da última vez que ouvi um "eu te amo" saindo da boca dessa garota — comentei, aproximando-me do meu melhor amigo com suspeitas estabelecendo-se em meus instintos a cada movimento que ele fazia.

Ele piscou, um pouco melancólico.

— Os detalhes estão nos gestos, James — falou, arrastando seus pés para caminhar ao meu lado. — Então, Portugal, hm?

— Sobre isso, cara — algo frio percorreu minha coluna com o que estava prestes a dizer —, queria te pedir um favor.

O loiro sequer hesitou ao acenar com firmeza.

— Claro. O que é?

Um grupo de garotas dobrou o corredor, seus grandes olhos assanhados mirando em nós dois quase instantaneamente. O silêncio foi involuntário após tanta prática em flertar aleatoriamente nos corredores, e os sorrisos eram cheios de promessas secretas que não eram assim tão secretas. Ao passar por nós, tive que virar meu rosto para poder acompanhar o movimento de suas bundas antes que um alarme de repreensão soasse a todo volume dentro de mim.

Merda. Esse negócio de celibatário não parecia mais uma ideia tão brilhante quanto pareceu no momento em que prometi me manter santo.

— Cara — eu assoviei, permitindo-me esse deslize. — Você viu aquela bunda?

Leon bufou. — James, o favor. — Relembrou, dando-me um olhar conhecedor. — Uma bunda daquelas você consegue estalando seus dedos.

Engraçado, porque prometi para uma garota algo que me impedia de estalar os dedos por aí — e ela nem me deixava passar o tempo secando a bunda dela, para sermos justos aqui.

Quase quis contar as atualizações sobre a garota Evans para St. John, mas por algum motivo, parecia privado demais para falar a alguém. Quero dizer, era tão difícil para ela quanto era para mim, aparentemente, e eu não queria lhe dar motivos para não sentir que eu estava sendo sincero... até onde poderia.

— Você poderia ficar de olho na Alyssa?

St. John esbugalhou os olhos dourados, parando bruscamente no corredor.

Novamente... esquisito pra caralho.

— Desculpe, não ouvi direito — seu cenho se franziu quando ele cruzou os braços defensivamente. — Você acabou de me pedir para ficar de olho em uma mulher de vinte anos?

Basicamente, mas diante de seu choque, poderia ter pedido para que ele vendesse um rim na DeepWeb. Abri a boca para esclarecer minhas preocupações, mas ele ergueu o indicador para me silenciar.

— Ainda mais em uma mulher como Alyssa? — Indagou, rindo. — Cara, mais fácil ela ficar de olho em mim.

Rá, você gostaria, idiota.

Sei que Alyssa sabe cuidar de si mesma. Apesar de assumir ser alguém que ela não era por alguma razão distante da minha compreensão, insistindo em afirmar os termos pejorativos que nossa tia associava a sua má conduta e notável má reputação, Alyssa tinha sua cabeça no lugar quando se tratava disso, especialmente com Calum. Todavia, tudo isso ainda era recente. Mudar-se e recomeçar. E com o pai de St. John por aí, mais perto do que nunca, só quero ter certeza de que há alguém disposto a proteger o que tenho de mais importante na vida.

Ou talvez eu só estivesse inventando desculpas. Por ter partido antes e por não querer ir agora.

Balancei a cabeça, sentindo-me pequeno.

— Você provavelmente está certo. — Meneei a mão no ar como se isso pudesse dispersar meus pensamentos. — Eu só... Já falhei muito com ela, sabe?

O rosto dele suavizou.

— James, isso não importa mais. Gastar energia com o...

— ...que não podemos mudar é perda de tempo — completei, já tendo sua filosofia memorizada. — Certo, St. John.

Aquele peso em meu estômago ficou mais firme, garras em meus ombros me forçando em mil direções ao mesmo tempo quando mal encontrei uma fixa o suficiente para me orientar. A sutileza da mão amiga de St. John pousou em meu ombro e eu encontrei seu olhar, toda a diversão já desaparecida de seus orbes.

— Se eles precisarem de qualquer coisa, eu estarei lá — e eu não tinha dúvida alguma sobre isso. — Faria qualquer coisa por você, cara. Nem precisava pedir.

Parte do meu medo, seja lá de onde era oriundo, diminuiu.

— Eu sei, o mesmo por você — assegurei, pronto para a próxima pergunta que ele não teria consciência até que já tivesse obtido as respostas por mim mesmo. — É foda porque qualquer um com dois olhos parece estar a fim da Alyssa, sabe? Se eu pedisse isso ao Caden, definitivamente não ficaria tranquilo.

Sua pálpebra direita se contraiu em um tique nervoso.

Meu sorriso cresceu, nada além de uma forjada amabilidade confiante.

Oh, pobre garoto inocente.

— Minha irmã está com toda a certeza fora dos limites para você, John.

As íris douradas se voltaram na direção do teto como se ele estivesse tentando reordenar pensamentos ou pedindo por intervenção divina. Eu já entendi que ele estava farejando minha irmã. Só precisava avaliar o quadro como um todo e decidir o que faria com ele — isso é, se Alyssa não o socasse primeiro. Ela é minha irmãzinha. Ele não pode esperar tocá-la sem passar por mim, cedo ou tarde.

E por seu maldito bem, que seja cedo. Amigos ou não, minhas mãos em torno de sua garganta estarão completamente irracionais se ele encontrar alguma forma de machucá-la.

— Pode ficar tranquilo, James.

Aham.

— Seu pai — eu parei, uma carranca contraindo meu rosto antes relaxado. — Ele não está por aí, está?

Seu completo silêncio fez meu intestino se revirar em gelo.

— Não fode, St. John. Não tem chances de ele procurar por você lá, certo?

O loiro molhou os lábios e os reprimiu, quase consternado.

— Eu não sei — a sinceridade em seus olhos combinada a agonia cuidadosamente contida no timbre de sua voz me fez praguejar, levando embora qualquer excitação que eu estava reunindo sobre a viagem. — Ethan, cacete, você acha que eu deixaria aquele pedaço de merda encostar nos seus irmãos?

Seu tom se exaltou, beirando a raiva. Entretanto, ela não era direcionada a mim ou minha insinuação. Ela era redirecionada pela culpa que ele sempre sentiu por amar tanto quanto seu gigantesco coração exigia sabendo que a escuridão nunca o permitiria provar o real sabor da liberdade. E pelo medo que escondia, mas que assolava seus sonhos.

— Você sabe que essa não é a questão — disse calmamente. — Joseph é desprovido de moral, John. Ele é completamente louco. Se ele encontrar qualquer maneira de te afetar, nem hesitará.

Sua mandíbula endureceu e, como se finalmente houvesse compreendido a magnitude do que meu pedido significava, ele balançou a cabeça com determinação.

— Vá para sua viagem, James. Seus irmãos ficarão bem.

Promessas.

Na maior parte da minha vida, a maioria jamais fora cumprida.

MIL PERDÕES PELA DEMORA!
acontece que junto com o bloqueio veio a falta de tempo pra escrever, e como eu sou chata pra caralho com a escrita, não consigo avançar a não ser que eu "sinta" que tudo o que precisa tá ali, sabe?

DE QUALQUER FORMA, esse capítulo corresponde ao 14/15 de Amnésia I (lembrando isso apenas se alguém se perder na linha temporal). ou seja, a primeira/segunda vez johnallie acontece nesse meio tempo e agora, FINALMENTE vamos começar a compreender a lógica vs emoção que levou o Ethan a desistir da viagem e começar a pegar mais no pé da Alysss pra ela deixar ele entrar.

E ÓBVIO, a participação crucial que a Gwen teve durante todos os momentos a partir do capítulo anterior onde ele tomou uma atitude e foi atrás dela.

e, em seguida, as diferentes formas com que tudo vai dar errado mais vezes do que vai dar certo. mas prometo que vocês têm muito que se apaixonar por esses dois e eu tô tão super pra caralho ansiosa pra mergulhar no romance dos dois após a volta antecipada do ethan *(suspirando apaixonadamente)*

é isso por enquanto. vejo vocês no próximo — que não vai demorar tanto assim.

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