A princesa desacertada (e seu...

By LadysDePemberley

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Essa é uma história com princípios e analogias cristãs. NÃO CONTÉM HOT! Tudo que a princesa Flora queria era... More

Personagens Principais
Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Vinte e seis
Vinte e sete
Vinte e oito
Vinte e nove
Trinta
Trinta e um
Trinta e dois
Trinta e três
Trinta e quatro
Trinta e cinco
Trinta e seis
Trinta e sete
Trinta e oito
Quarenta
Quarenta e um
Quarenta e dois
Epílogo
Agradecimentos
Pedido Especial

Trinta e nove

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By LadysDePemberley

Flora estava completamente convencida de que havia algo a mais no chá oferecido por Amelie na noite anterior, uma vez que adormecera rapidamente, algo impossível para uma jovem cuja mente e alma conturbadas provocavam uma onda de ansiedade que dificilmente a permitiria sequer fechar os olhos.

Acontece que o chá calmante — e ela pouco quis dar importância para qual substância havia sido adicionada à tradicional kamele — teria feito a princesa dormir até tarde se não fosse seu compromisso diante do desjejum real, na presença dos mais importantes nobres de Ach e reinos vizinhos. Afinal, apesar de toda a confusão instaurada em sua vida, ela ainda estava comemorando seu Tsalach e havia protocolos a seguir.

Enquanto caminhava, já devidamente produzida de acordo com o padrão esperado para uma princesa — e depois de fazer uso de alguns tônicos para acalmar sua feição ainda tensa —, Flora repassava em sua mente algo que atormentou seus pensamentos desde quando seus olhos se abriram e ela se deu conta de que a noite anterior não passara só de um sonho, mas era vida real.

Ela não podia negar que, muito embora tudo tivesse acontecido de uma maneira terrível, para não dizer assustadora, era de seu agrado o resultado de tudo aquilo. As palavras de Fergie, ditas antes dele se retirar dos seus aposentos, ainda lhe davam certa esperança de que talvez o destino realmente estivesse conspirando a seu favor. Ela, noiva de Philip, era algo muito agradável, para não dizer, desejável. Mas, Flora não queria ser injusta. Sim, ela realmente aceitara sua sina com um grau acentuado de alegria — para não dizer prazer. Contudo, ela não poderia impor o fardo para Philip. Oh, não! Não desejava que o guerreiro fosse apenas vítima de uma eventualidade não planejada, da qual ela devia sua vida. Por mais que a atitude de nosso herói fosse o esperado para um cavalheiro, a princesa não submeteria a ele uma carga que talvez não quisesse levar.

O plano estava feito. Ela conversaria com Philip e se ele estivesse realmente preso ao dever, e apenas isso, Flora o dispensaria da obrigação de manter sua palavra. Arrumaria uma maneira de fugir e o poupar de um provável fardo. Claro, ela não tinha se esquecido das vezes em que ele havia deixado clara a importância de seu encargo com Sua Majestade Chesed, o rei de Or. Ela sabia o quanto ele havia evitado uma união amorosa, uma vez que uma família o obrigaria a abdicar de muitas de suas viagens e responsabilidades.

Flora suspirou profundamente. Não queria pensar o quanto era penoso admitir a possibilidade de ser rejeitada, de alguma maneira, por Philip, agora que ela estava comprometida com o homem mais virtuoso que conhecera — mesmo ciente de conhecer poucos homens em sua vida. Porém, ela estava determinada a fazer a coisa certa, custasse o que custasse.

Estava pensando nisso quando uma voz repulsiva chamou pelo seu nome. Sentiu um calafrio e suas pernas tremeram levemente. Contudo, não se permitiu demonstrar pavor. Mantendo a cabeça erguida virou-se.

— Henry, pensei que a essa altura estivesse longe — ela disse num tom seco quando encontrou o príncipe caminhando com as mãos estendidas em sua direção.

— Eu não poderia partir sem esclarecer as coisas, Flora — ele disse num tom suplicante e um tanto galante. — Devo dar explicações.

Flora deu um passo para trás. Tal atitude alarmou os homens que a escoltavam. Fergie fez questão de aumentar a guarda da princesa e proibiu que ela permanecesse sozinha. Era por esse motivo que ela se encontrava, naquele momento, rodeada com meia dúzia de soldados.

— Você não precisa explicar nada, Henry. Sua atitude deixou extremamente evidente suas intenções — ela respondeu mantendo um tom firme, mas querendo a todo custo evitar que o assunto viesse a tona e, para piorar, fosse ouvido pelas pessoas ao redor.

Henry, sensível ao recuo dela, parou por um instante. Foi quando Flora notou a mulher que se encontrava logo atrás dele. Loira e de um corpo vantajosamente esculpido, vestia trajes de guerreira. Era extremamente atraente e, apesar de denotar fazer parte da guarda pessoal do príncipe, parecia querer desempenhar outra função ante aos homens.

Foi notando o olhar de Flora que Henry virou-se em direção à mulher para lhe dar ordens.

— Morgana, espere-me lá fora, por favor. Ficarei bem sozinho.

Ela fez uma reverência e obediente se retirou. Já a princesa fechou os punhos de maneira involuntária, sem se dar conta de que ouvir aquele nome e associá-lo a tal mulher fez um sentimento estranho manifestar-se em seu peito.

— Dê-me alguns minutos, por favor. Prometo não te fazer mal — ele pediu em voz baixa, arriscando dar mais alguns passos até ela.

— Como eu já disse, não há nada a ser explicado, Henry.

— Eu estava bêbado — confessou. — Não tinha noção do mal que estava prestes a causar. Seu pai... Seu pai negou meu pedido e eu fiquei furioso por saber que estava prestes a perder a mulher da minha vida. Pensei que pudesse arrumar uma maneira... Na verdade, eu pensei que você desejava o mesmo e me surpreendi com sua recusa. Por favor, me perdoe, minha amada.

O estômago de Flora se embrulhou. A menção da noite anterior fez algumas péssimas lembranças retornarem e ela perdeu a fala. Deveria adiantar-se e dar um tapa na cara do homem diante de si, mas viu-se incapaz de mover um músculo. Estava petrificada de raiva e horror.

Henry tentaria algo mais. Munido de sua vaidade e orgulho, era incapaz de perceber a dispersão da afeição de Flora. Cria que sua crise momentânea estava mais ligada à moral e o desejo de “fazer as coisas certas”, fruto de sua ingenuidade, do que a falta de consideração com que ela o olhava naquele momento. Ele acreditava, em toda a sua presunção, que com uma investida profunda e romântica, faria a jovem não só o perdoar, como ansiar pelo enlace tão necessário para ele.

Porém, o socorro veio na presença de Fergie. O príncipe, percebendo a aproximação de Henry da irmã, engoliu todo seu ódio e desejo de esbofetear a cara daquele engomadinho, e, sabendo exatamente como as coisas correriam dali a pouco, assumiu uma postura descontraída, de quem não fazia ideia dos acontecimentos da noite anterior.

— Ah, Henry, como vai? Creio que teremos a honra de sua companhia para o desjejum. Aliás — ele continuou com um sorriso e ofereceu o braço para a irmã pálida e sem compreender a disposição do irmão em ser gentil com o príncipe de Goi —, estamos atrasados. Creio que a maioria dos nobres já ocuparam seus lugares à mesa.

E sem esperar uma resposta, sentindo a mão falha da princesa em seu braço, a carregou dali. Ele sabia que ela estava confusa, por isso, com apenas um olhar do qual ela conhecia muito bem, ele requisitou sua confiança e a conseguiu.

Quando entraram no grande salão, cuja extensa mesa já estava praticamente ocupada, a figura deles despertou grande admiração. A beleza singular da princesa fora imensamente discutida desde a noite anterior, e a maioria dos presentes se alegravam com a possibilidade de desfrutar da visão de sua alteza sendo conduzida pelo príncipe herdeiro até uma das cadeiras ao lado do rei. Flora notou, sem muito esforço, Philip ocupando um dos lugares de honra logo a sua frente.

O rei, embora ainda estivesse bastante agitado devido aos acontecimentos, alimentou sua vaidade por expor uma filha tão bela como um dia havia sido sua esposa. Estava também bastante satisfeito com o rumo em que as negociações haviam tomado, graças à princesa e sua mão oferecida a um importante homem de Or. Porém, quando percebeu que logo atrás de seus filho a imagem embelezada de Henry se desacatava, encheu-se de cólera e num rompante ergueu-se, forçando todo o salão a fazer silêncio.

— Meus queridos irmãos, companheiros e nobres aqui presentes — ele disse antes mesmo que sua filha estivesse completamente acomodada na cadeira destinada a ela. — Tenho a honra de ser pai de uma jovem tão bela como é minha Flora. — Ele nem sequer fez questão de olhar para a filha. Sua concentração estava no príncipe de Goi que alcançava um lugar mais distante do que esperava. — Virtuosa como ela é, preciso dizer que mal teve sua apresentação e eu concedi sua mão para um honroso cavalheiro. Aproveito essa pequena reunião para anunciar o noivado da princesa Flora Jasmin com Dom Philip de Baruch, de Or.

De um misto de reações, foi como o salão se encheu. Contudo, focaremos aqui na surpresa desagradável que tal anúncio causou a Henry. Philip, que fora obrigado a se colocar de pé para aceitar as felicitações e fazer a honra da menção, notou com clareza o olhar de ódio destinado a ele pelo príncipe de Goi. Indignado, Henry, que mal sentara, ergueu-se e saiu dali pisando duro, deixando as coisas ainda mais interessantes para os fofoqueiros de plantão, que não demorariam muito para contar a humilhação na qual o rei havia colocado um dos seus maiores aliados. Àquela altura, não era segredo para ninguém que o pedido dele havia sido negado na noite do baile, no salão dos homens, por um rei quase enfurecido.

O que se seguiu depois disso, foi o que se espera após um anúncio dessa magnitude. Felicitações, seguida de muitas conversas paralelas sobre as vantagens e desvantagens daquela união, avaliações da beleza, postura e importância do sortudo guerreiro e uma princesa que mal conseguiu comer e sequer teve coragem de levantar os olhos em direção a seu — agora anunciado e oficial — noivo.

Quando aquela tortura terminou, Flora pode se retirar do salão disposta a refugiar-se em algum lugar onde ninguém pudesse encontrá-la. Contudo, a ideia de permanecer sozinha com seus pensamentos também não lhe era muito agradável. Sentia-se levemente perdida quando entrou no primeiro corredor sem um rumo definido. Então, novamente foi surpreendida ao ouvir seu nome na voz masculina que dessa vez a fez parar por outros motivos.

— Flora — Philip chamou, a voz calma e gentil, talvez tentando controlar uma possível insegurança. A princesa se virou de súbito, os olhares dos dois se encontraram. — Eu... — Philip perdeu a fala por um momento.

— Senhor Philip, como está? — Foi ela quem tomou a frente tentando demonstrar a ele que, embora estivesse bastante envergonhada naquele momento, como percebeu, não tinha a menor intenção de se desfazer dele e do que é que ele desejava falar. Na verdade, percebeu que a presença dele tivera um efeito calmante em sua alma.

Philip sorriu levemente e encorajado aproximou-se até se encontrar frente a frente a princesa. Sem cerimônia, ela ofereceu a mão com elegância e ele a tomou deixando um beijo entre os dedos enluvados dela.

— Eu estou bem, e estou aliviado de vê-la... — Ele ia dizer "bem", mas parou ali temendo ser insensível. Sabia que um sorriso discreto não significava a verdade dos sentimentos íntimos de um indivíduo.

— Oh, sim, estou bem, graças a você. Creio que ainda não agradeci o suficiente por salvar minha vida.

Philip notou o quanto estava constrangido. Era bastante desenvolto para muitas questões, mas em matéria do coração, notou que era péssimo aluno.

— Posso pedir uma pequena audiência privada com a senhorita? Pedi autorização ao rei e ele me concedeu. Podemos dar uma volta pelos belos jardins do palácio e lá você poderá expressar sua gratidão. Aliás, tenho muitas coisas para esclarecer antes de levá-la a Or.

Flora pressentiu que aquela seria a melhor hora para colocar as cartas na mesa. Sim, por mais penoso que era pensar naquilo, e ainda que o pai já houvesse anunciado seu noivado, ela permanecia com a mesma ideia com a qual acordara naquela manhã.

Com um meneio de cabeça, ela aceitou o convite e segurou no braço firme estendido. Philip escondera com destreza a ferida e a dor causada pela mesma no outro membro. Caminharam a maior parte em silêncio, falando uma ou outra trivialidade. Quando chegaram a entrada do jardim, ela dispensou os homens de sua guarda, proibindo-os de segui-los. E quando eles protestaram ante aquela ordem, ela deu uma risadinha desafiadora.

— Ora, estou com meu noivo e pelo que soube ele é um guerreiro e guilbor. Não estarei em perigo e vocês podem me vigiar por aqui, a distância.

Phil sorriu. Apreciou o comentário com discrição e ambos seguiram pelo caminho de pedra ladeado por as mais diversas flores coloridas. Em silêncio chegaram a beira do pequeno lago construído para o deleite do rei que gostava de passar alguns minutos de seu dia observando os peixes coloridos se alimentarem da ração que ele mesmo fazia questão de jogar aos animais.

— Tudo foi acertado essa manhã com o rei George. Embora, devo confessar que tive uma reunião secreta com o príncipe Fergie anteriormente — Philip começou o assunto buscando refúgio em palavras mais fáceis de serem ditas.

— Com Fergie? — Flora olhou rapidamente para Phil. — Aconteceu algo que eu não saiba?

— Não exatamente. — Ele riu. — Seu irmão apenas quis negociar diretamente comigo para evitar injustiças da parte de seu pai e quis me prevenir de possíveis abusos nos termos do contrato de casamento. Segundo ele, há alguns conselheiros que não hesitam em convencer o rei a sempre atuar com o braço pesado.

— Entendo — Flora disse e sua mente voltou à ideia de que Phil estava sendo prejudicado com tudo aquilo.

— Os conselhos de seu irmão foram excelentes e, de alguma maneira, por estar preparado, garanto que as negociações acabaram estabelecendo grandes vantagens para Or, principalmente no que se refere aos caminhos necessários para aqueles que buscam refúgio em Ach antes de serem aceitos em nosso reino. Creio que o rei Chesed ficará de grande modo satisfeito com o resultado desse enlace.

Flora soltou-se de Philip e deu um passo para frente sentido um nó se formar em sua garganta. Por mil pastos! Por que era tão difícil ouvir aquilo? E por que não dizia simplesmente as palavras que ensairara durante a manhã?

— Flora. — Philip aproximou-se e com delicadeza forçou a princesa a voltar-se a ele. Tomando coragem, ele resolveu ser sincero. — Talvez você tenha ouvido toda a sua vida que seu dever era fazer um bom casamento para garantir a estabilidade de Ach, e apesar de isso não ter deixado de ser uma verdade, porque através da nossa união seu pai saiu de uma grande enrascada, quero deixar claro que para mim isso não se trata apenas de um acordo vantajoso, tampouco vejo em você apenas o valor de uma aliança. Meus sentimentos estão de total acordo com minha proposta de ontem à noite.

— Ah, Phil... — Sem esconder a emoção provocada por aquela declaração, com olhos marejados, jogou-se aos braços do guerreiro sentindo-se indigna de tamanha consideração. Foi acolhida, como desejava, em um abraço reconfortante. — Sinto-me tão mal — disse quando conseguiu se recompor —, fui tão injusta e tola com você. Passei tanto tempo defendendo um libertino desavergonhado que tenho profunda angústia e me sinto indigna de sua estima.

Se Flora não tivesse com o rosto afundado entre as mãos apoiadas no peito do guerreiro teria visto o sorriso de contentamento que Philip foi incapaz de esconder.

— Devo entender que tal reação é uma acolhida aos meus sentimentos? — perguntou suavemente.

— Oh, é claro que é — ela murmurou ainda um tanto chorosa e envergonhada. — Por todas as águas dos oceanos, eu não mereço sua atenção, sei disso. Mas, devo confessar que o senhor me proporcionou grande alívio agora. — Tomando coragem ela se afastou e o encarou, o rosto ainda um pouco vermelho, deixando-a ainda mais bela aos olhos do seu amado. — Não queria ser um fardo em sua vida, principalmente por saber que eu devo a minha a você.

Phil sorriu e Flora permitiu-se admirar a beleza do seu noivo com a feição aberta.

— Bem — ele disse apoiando uma das mãos no cabo da espada —, se estamos em comum acordo, creio que há algumas coisas a serem conversadas, sobretudo em relação a sua mudança imediata a Or.

— Imediata?

— Sim, partiremos em dois dias. Enviei um mensageiro com a notícia para sua majestade avisando de nosso regresso. Devo contar como funciona a lei de Or para casos como o seu.

Philip e Flora decidiram sentar-se em um dos bancos ao lado do lago e naquela altura já haviam se recomposto ante qualquer palavra dita. Phil explicou claramente para sua noiva que ela passaria 40 dias na tutela de algumas mulheres mais velhas que se encarregariam de ensiná-las as regras, leis e costumes do novo reino. Teria acesso ao Livro da Lei e se dedicaria a aprender como uma cidadã de Or, deixando para trás qualquer costume de seu país que feriam os do seu novo lar. Da mesma maneira, seria ensinada sobre a história dos antepassados entre outros aprendizados que lhe seriam úteis a partir de então. Só após esse processo ela estaria pronta para o casamento e a cerimônia seria conduzida de acordo com a prática de Or.

A princesa ficou maravilhada com a perspectiva que lhe era apresentada. Fez algumas perguntas, prontamente respondidas por seu noivo e deixou-se levar pela emoção daquela mudança, sem recordar-se das pessoas que deixaria para trás — e aqui devo contar que mais tarde ela chorou amargamente ao compreender a distância em que viveria de seu irmão, sem saber ainda de outra grande falta que atingiria sua vida depois.

Quando Philip esclareceu tudo, desde a maneira como viajariam, até os acordos feitos, Flora já tinha se esquecido da pequena crise que abatera sua vida. Estava empolgada, para não dizer maravilhada com os novos rumos impostos a ela. Foi então, quando no meio da conversa, um assunto surgiu a tona.

— Philip! Meu pai deixou escapar ontem que você já tinha pedido minha mão a ele. Isso é verdade?

— Não te ocorreu, querida princesa, de que eu precisava garantir sua honra? Depois de viajarmos juntos e mais de uma vez termos sido considerado um casal, eu deixaria de assumir minhas responsabilidades diante de seu pai? — Ele fez uma pausa só para observar o rosto confuso dela. — Quando retornamos, eu relatei tudo a seu pai, exatamente como aconteceu e me dispus a corrigir a situação, como um homem deveria. Ele, claro, não ficou nada contente e além de me negar tal obrigação, expulsou-me imediatamente do palácio, deixando claro o quanto minha presença era indesejada e eu só não estava condenado a morte por ele possuir uma dívida comigo a respeito de sua segurança e retorno.

— Oh! Por isso partiu sem se despedir?

Philip fez que sim com a cabeça, mas resolveu não omitir nada.

— Mas, devo confessar que eu estava bastante nervoso com a situação e pensei que melhor seria partir imediatamente. Não preciso esconder o quanto fui duramente criticado por Jasper, e depois pelo príncipe Queves. Minha conduta foi inapropriada, peço perdão se a feri.

— Está perdoado por me fazer pensar que não tinha nenhuma consideração por mim, Philip De Baruch. Embora não pensasse que se passaria dos termos da amizade, eu de fato senti sua rompante partida.

Phil desviou o olhar dela por um momento e fixou numa árvore estrondosa no final de um dos caminhos que davam para o lago.

— Foi melhor assim. Acaso seu pai tivesse concedido sua mão, acredito que seria precipitado. Eu precisava me assegurar antes de que você já tinha tomado sua decisão de ir para Or e de que seria do seu agrado se tornar minha esposa.

Flora não respondeu porque sua mente imediatamente se pôs a pensar naquelas verdadeiras palavras. Ela precisou de um tempo a sós para compreender o desejo de seu coração em relação a Or, independente de um casamento ou outra obrigação. E foi também a distância que a fez entender os seus sinceros sentimentos.

— Fergie mandou anexado ao convite do seu baile uma pequena carta onde dizia que minha presença seria de suma importância, e apesar de ele ter deixado claro insinuações sobre você, eu não tive certeza de que estava tomando a decisão certa. Mas, graças as dificuldades de locomoção dos meus soberanos, fui obrigado a vir como representante legal, duplamente, para o baile e para entregar o pergaminho do rei.

Flora contou que Fergie sabia sobre a investida de Henry e Philip apenas atestou que era de seu conhecimento, elogiando a conduta do príncipe e a destreza em como conduziu tudo a seu favor. Informou, inclusive, que teria sido ele o responsável por atiçar a má conduta do príncipe de Goi antes do pedido de casamento negado. Preferiu não contar como ele fez isso.
Mas, posso eu deixar esse assunto às claras ao leitor. Sabendo do caráter libertino de Henry, Fergie deu um empurrãozinho para que o príncipe, já alegre da bebida oferecida sem reservas a ele, mencionasse na frente de todos o caráter igualmente libertino do rei de Ach, inclusive — apesar de não ser do agrado de Fergie ouvir maldades sobre sua mãe — apontando a pobre rainha, traída por diversas vezes, não sendo tal conduta devassa segredo a ninguém. Isso, apesar de declarado por Henry como grande vantagem, foi suficiente para acender a ira do rei George que só não o expulsou imediatamente do reino, porque se via obrigado a manter ligações com Goi.

— Eu não sabia o quanto meu pai estava preso a aliança com Goi. Muito pouco me foi revelado, mesmo sendo dito desde sempre que estava no meu destino manter tal convenção através do meu casamento.

— Seu pai contraiu grande dívida após a grande tempestade do Norte que atingiu Ach e foi Goi quem os socorreu, mas a um preço muito alto. Desde então, além de vê-se presos a importação de alimentos, o rei precisava quitar com o valor da dívida caso desfizesse o acordo. Pode parecer besteira, mas seu pai estava de mãos atadas quanto a situação. Assunto político é algo que me dá certo calafrio. Há muito mais por trás de qualquer termo. Enfim, creio que tudo ficou resolvido agora.

Flora sorriu para ele, concordando na parte em que também sentia calafrios com política.

— Oh! Por mil pastos! Você se feriu ontem! Como está? Quanta insensibilidade de minha parte. Diga-me, quanto foi o estrago?

Phil riu da ansiedade dela e compreendeu imediatamente que o desejo de informações não se dava apenas ao caráter de seu bem estar.

— O doutor me costurou, depois de fazer uma limpeza pior do que a que a senhorita fez quando me feri dias atrás. Não ficou nada bonito, mas ele me garantiu estar isento de infecções.

— Quantos pontos ele costurou? — indagou ela curiosa.

— Dez.

— Por mil pastos! Queria estar lá para ver!

A essa declaração tão espontânea, Phil apenas pode rir da aptidão de sua noiva. Bem, ao menos ele não precisaria mais de se preocupar com novas feridas. Suspeitava de que até mesmo um pequeno espinho teria valor medicinal para Flora e ele nunca mais estaria livre de cuidados constantes.

E por incrível que pareça, tal perspectiva lhe pareceu muito agradável.

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