Vinte e sete

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Aquilo que Flora imaginou sendo o alívio de um confronto desnecessário, tornou-se uma verdadeira batalha. Em questão de segundos, após ouvirem a voz da princesa e ela se deixar ser reconhecida ao descer da carruagem, os homens de Adrey agiram e, num piscar de olhos, Phil estava ao chão, imobilizado, Jasper tinha uma espada encostada em seu pescoço e um dos soldados puxava ela para longe da confusão.

— Por mil pastos — ela gritou quando braços firmes e ágeis a carregaram para trás do veículo. — Solte-me, agora mesmo!

— Perdão, alteza, mas sua segurança em primeiro lugar.

Irritada e sem opção, Flora passou a gritar por Adrey, desesperada, forçando o homem que comandava a rendição de Phil e Jasper e fazia um pequeno interrogatório com eles, a voltar sua atenção a ela.

— Adrey! — ela esbravejou. — O que você pensa que está fazendo?

Conseguindo se desvencilhar, enfim, dos braços do soldado após o líder dar uma ordem, claramente insatisfeita, ela caminhou até onde Philip e Jasper estavam sentados ao chão, humilhados,  com mãos e pés amarrados. Porém, uma mão firme a impediu de chegar até eles.

— Solte-os, agora mesmo! — deu a ordem ao amigo que não moveu um músculo, nem mesmo os de sua face.

— Sinto muito, alteza, mas eu sigo ordens de seu irmão e ele foi muito enfático em me proibir de obedecer qualquer ordenança da senhorita — ele esclareceu sem nenhum rodeio.

— Adrey! — A raiva de Flora aumentava a cada segundo em que via seus dois amigos sendo tratados injustamente. — Eles não são bandidos! Pelo contrário, estavam me levando em segurança para o palácio.

As sobrancelhas de Adrey se ergueram e ele encarou os dois antes de levar Flora para um lugar reservado onde poderia falar com ela sem expor as peripécias da desacertada princesa.

— Onde você esteve esse tempo todo, Flora? Sabe como o rei se encontra? Ele está muito irritado!

Embora a menção sobre seu pai — e pior, sobre seu humor — lhe fosse de grande interesse, Flora cruzou os braços em frente ao peito e sem esconder sua petulância, encarou o rapaz.

— Amelie já deve ter te contado sobre minha aventura, já que está aqui.

— Sim, mas ela deveria ter durado apenas um dia. A senhorita não retornou, minha irmã entrou em pânico. — Num tom de repreensão quase paternal, Adrey balançou a cabeça em negativa. — Ela precisou contar tudo ao príncipe Fergie.

— Digamos que as coisas saíram um pouco do controle — Flora disse com naturalidade e deu de ombros. — Agora, por favor, solte-os!

— De maneira nenhuma! Não sem antes me certificar de que eles não estão envolvidos no seu sequestro.

— Sequestro? Pelos raios da alvorada! — Flora ergueu as duas mãos ao céus. — Não vê que estou bem?

Adrey analisou atentamente a princesa e respirou aliviado ao constatar que de fato ela não parecia ferida, embora, quando contemplou seu rosto, percebeu marcas escuras ao redor dos olhos que denunciavam exaustão.

— Você não foi sequestrada? Interceptamos uma mensagem com um pedido de resgate há alguns dias.

Flora ia dizer que não, mas lembrou-se do primeiro dia fora dos portões do palácio.

— Sim, mas...

Com a expressão vitoriosa, Adrey quem cruzou os braços dessa vez.

— Fergie me mandou levar os responsáveis de seu sumiço até ele e é isso que farei. Até ser provado que eles são inocentes, ficarão sobre nossa custódia até chegarmos ao palácio.

A princesa desacertada (e seu irremediável destino)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora