Onze

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Phil manteve-se profundamente quieto durante o trajeto até o primeiro vilarejo que surgiu às vistas do trio, após atravessarem uma estreita ponte e fazerem a curva em uma elevada montanha que protegia a entrada do local. Nosso cavaleiro estava tentando lidar com os sentimentos controversos lutando dentro de si, disputando quem atormentaria mais a sua alma.

Observar Flora interagindo alegremente com Jasper logo a sua frente, definitivamente, não estava fazendo bem para sua sanidade. Pegou-se, diversas vezes, contemplando os encantos da beleza da jovem e precisou se repreender por ficar muito irritado ao imaginá-la casando com o traste do príncipe de Goi. Mas, ele não tinha nada a ver com as escolhas daquela doce menina, não é verdade? Ele era apenas alguém que o destino havia se encarregado de cruzar os caminhos para poder protegê-la até chegar em segurança a seu palácio.

Mas por que raios ele estava se importando tanto com o futuro de uma quase desconhecida?

Em relação aos acontecimentos do trajeto, além do que já foi mencionado anteriormente, devo relatar o momento certo em que nossos viajantes saíram da estrada principal que os levariam até Gadol, convertendo seus caminhos para a estrada secundária, percorrendo as veredas movimentadas até a Torre do refúgio, destino onde Sr. Bascher aguardava, ansioso, a chegada do atrasado mensageiro. Phil continuou na retaguarda e não desviou por nenhum momento sequer o olhar da princesa; e quando eles fizeram a curva e Flora manteve-se completamente alheia à direção tomada, ele teve certeza de que ela não sabia exatamente o significado daquela drástica mudança.

Philip sentiu um estranho alívio ao vê-la à sua frente, mostrando-se devidamente interessada em tudo relacionado ao povoado movimentado. Ela parecia encantada, até demais, com a diversidade de pessoas e com o comércio agitado na porta da cidade.

Os três chegaram ao grande poço, uma espécie de pátio onde os animais poderiam ser alimentados e hidratados, enquanto seus donos caminhavam pelas ruelas comerciais do povoado. Flora sentiu novamente o efeito da exaustiva atividade em cima de um cavalo atingir suas pernas e nádegas quando desceu de sua montaria. Ajustou a saia e alongou o corpo como podia.

— A senhorita está bem? — Phil questionou preocupado ao notar na expressão dela um traço de dor, destacando-se, principalmente, nas linhas da testa.

— Sim, apenas cansada — Flora respondeu e endireitou sua postura para tentar esconder suas dificuldades em cima da sela do animal. Precisaria fazer uso dela por um bom tempo ainda até chegar ao palácio.

Phil percebeu que ela tentava esconder o desconforto e compreendeu o significado dos tormentos da princesa. Pensaria uma maneira de aliviar a dor, contudo, antes, precisava ir em busca de informações.

— Vocês dois, eu irei atrás de notícias — Phil disse com a mão apoiada em sua espada. — Alimentem os animais e não vão para longe.

Philip deu alguns passos e sinalizou para Jasper o seguir. Quando estavam relativamente distante da princesa, ele se inclinou um pouco em direção a seu escudeiro depois de espiar Flora acariciando seu cavalo.

— Jasper, não saia do lado dela, em nenhuma hipótese. Não a perca de vista — ordenou tentando em vão esconder sua preocupação.

Jasper sorriu e fez uma pequena mesura, levando a mão até a espada embainhada.

— Não se preocupe, senhor! Cuidarei dela.

Phil deu-se por satisfeito e sem mais demora, retirou-se, pegando o caminho que o levaria exatamente ao lugar certo, onde saberia todos os detalhes dos acontecimentos do Reino.

Jasper observou por um tempo seu mestre partir. Ponderou o quanto aquela presença feminina estava mexendo com lugares obscuros do coração de Philip e sorriu. Ele tinha grande consideração — e porque não denominar como amor? —, pelo homem de postura dura, mas coração mole afastando-se rapidamente.

A princesa desacertada (e seu irremediável destino)Where stories live. Discover now