Vinte

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Phil proibiu o trio de parar ou diminuir o passo enquanto não avistassem vestígios da Torre do refúgio, ainda que a dor em seu braço fosse cruciante. Não suportava pensar sobre o perigo que havia colocado Flora ao propor aquela ideia insana que quase custou a vida de Jasper e poderia ter ferido a princesa gravemente caso ela insistisse em intervir na caminhada do jovem enfeitiçado pela criatura.

Depois de percorrerem um longo caminho na escuridão — a princípio em disparada — na fuga do vale, conseguiram avistar luzes distantes, denunciando a proximidade do vilarejo tão esperado.

— Está doendo muito ainda? — Flora questionou quando a claridade a permitiu enxergar o semblante de Philip e a mão repousada pressionando o local da investida do inseto.

Phil a encarou e mesmo a pouca luz pode identificar compaixão nos olhos dela. Por um instante, inevitavelmente, ele comparou a disponibilidade de Flora em pensar no outro e não apenas nos próprios interesses.

Disposto a não preocupar ainda mais aquela doce criatura, forçou um sorriso e tentou parecer mais natural.

— A dor está tolerável, não forte o suficiente para me fazer chorar — ele tentou brincar.

Flora riu mais do esforço dele em parecer divertido do que da piada por si só.

— Quando chegarmos à torre, farei uma mistura para aliviar um pouco a dor local — ele informou tentando confortar o homem que estava visivelmente sofrendo.

— Agradeço sua preocupação.

Phil observou maravilhado o sorriso preencher o rosto daquela bela mulher. Há tempos estava relutante em assumir, mas a cada instante a princesa se tornava mais bonita e mais agradável a seus olhos. A doçura contrastava com a força de seu caráter. Flora era delicada, mas destemida. Ingênua, mas perspicaz. Convicta, mas pronta a perdoar. Rica e poderosa, contudo se demonstrava humilde. E todas essas características recém-descobertas pelo nosso herói estavam confundindo seus sentimentos e coração.

Não demorou muito para que a grande torre — que na verdade se tratavam de duas torres —, responsável por dar nome à pequena aldeia, se revelasse imponente diante dos olhos do trio viajante. Havia luzes vindas de dentro da construção antiga de cinco andares, toda de pedra, e algumas tochas iluminavam ao seu redor.

— Bem vinda à Torre do refúgio — Phil disse, apontando para o monumento logo à frente. —Enfim, chegamos ao nosso destino. Espero que a Sra. Bascher esteja preparada com uma de suas deliciosas refeições, ainda que seus convidados estejam tão atrasados.

Flora pensou que uma refeição cairia bem para seu estomago faminto. Também desejou um banho e, se é que poderia ter ousadia de sonhar com isso, uma cama macia para abrigar seu corpo dolorido. Não fazia ideia de quais acomodações seriam oferecidas ao grupo e não tinha pretensão em se decepcionar com a recepção, seja ela qual fosse.

Os desejos de Flora foram rapidamente correspondidos. Antes mesmo de adentrar no vilarejo, fizeram a curva para a direita, contornando a torre e adentrando no portão de uma grande propriedade. Embora a escuridão da noite ocultasse praticamente toda a beleza do casarão, bem como os seus jardins, a princesa teve certeza de que ao menos um quarto confortável ela teria naquela noite.

Jasper esteve calado durante praticamente todo o caminho. Embora o próprio Philip tivesse pedido que se mantivessem concentrados e silenciosos durante o trajeto, ele parecia ainda um pouco em choque, não se atrevendo dizer nada até que se sentisse de fato novamente seguro.

Os cavalos pararam em frente a uma escadaria, onde um funcionário devidamente uniformizado esperava para recebê-los. Phil pulou rapidamente de sua montaria pronto para auxiliar Flora, guardando apenas para si o deleite que sentia devido à rápida proximidade entre eles quando em um só movimento a tirava com facilidade de cima de seu animal.

A princesa desacertada (e seu irremediável destino)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt