Dezessete

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De antemão, peço perdão pela demasiada demora em postar esse capítulo! Tive compromissos que me impossibilitaram de escrever. Entretanto, não temem, eu retorno!

...

Flora observou o olhar preocupado de Jasper ser novamente direcionado a Philip, que dormia como um lactente alheio aos problemas do mundo. O rapaz demonstrava-se muito atormentado com o estado de seu mestre e foi necessária a intervenção da princesa diversas vezes para que ele deixasse o homem dormir.

— Jasper, eu já lhe assegurei, é normal ele estar dormindo. O chá de rougicera é um calmante natural e unido ao efeito do chá de cogumelo vermelho, os efeitos se intensificam.

Jasper agachou ao lado da brasa de uma fogueira acesa horas antes para o preparo da refeição. Ainda ansioso, colocou alguns gravetos e atiçou o fogo.

— Não é isso — ele disse sem encarar a princesa. — Se ele continuar dormindo por muito tempo, ficaremos sem abrigo durante a noite. Aqui não é um lugar seguro, precisamos nos retirar.

— Não podemos acampar aqui? — Flora indagou obrigando Jasper a encará-la. Pelo olhar sóbrio do rapaz, ela compreendeu a resposta. — E onde poderíamos encontrar um abrigo seguro?

Jasper levantou-se e avaliou mais uma vez a posição do sol. Coçou a cabeça, olhou para Philip e voltou-se à mulher.

— Precisamos partir logo — olhando para a estrada, completou — e nem assim tenho garantia de que encontraremos um local propício para passar a noite.

Flora, outrora sentada perto do fogo, levantou-se e limpou as mãos na saia.

— Bem, talvez possamos tentar acordá-lo... — Flora parou e ponderou antes de corrigir. — Você possa acordá-lo. Contudo, não saberemos se ele está restabelecido.

— Se for possível montar, podemos levá-lo — Jasper disse e tentou não rir diante das lembranças do falatório de Philip e de seu péssimo equilíbrio.

— Céus! — Flora ergueu as mãos para o alto e encontrou-se sem saída. — Tudo bem. Vou aproveitar e repor nossa água.

Jasper observou Flora partir depressa — quase fugindo — com os vasilhames de água vazios. Por um momento pensou em como, apesar de tudo, a presença dela tinha tornado aquela a melhor viagem de todas. Seu caráter doce e gentil, sempre disposta a ajudar e consolar diante das dificuldades, tornava o ambiente muito mais agradável. De alguma maneira ela fazia bem até mesmo para Phil.

A mulher, por sua vez, rapidamente se esqueceu dos infortúnios causados pelo cavaleiro atordoado. Sentia a brisa suave tocar sua face e o sol do fim da tarde, já não mais tão quente, esquentar a pele branca — não mais tão branca — dela.

Quando chegou ao rio, as águas cristalinas eram um convite para o corpo cansado da jovem. Após olhar ao redor e se certificar de que estava sozinha, retirou os sapatos e ergueu as saias até os joelhos, rindo sozinha ao pensar em quanta repreensão receberia de sua tutora se soubesse daquele gesto indecoroso. Com cuidado, sentou-se na beira do rio e enfiou os pés na água gelada, apreciando o contato do corpo com a água corrente.

Sem pressa, Flora lavou primeiramente o rosto. Depois, aproveitou para ajeitar os cabelos, molhou a nuca e lavou os braços. Nunca pensara que um dia estaria se lavando escassamente a beira de um rio e por um breve momento, um lampejo de saudade atravessou seu coração.

— Flora?

A jovem ouviu seu nome ser pronunciado na voz grossa e hesitante de Philip às suas costas. Atordoada por ser pega em um momento íntimo e com os joelhos expostos, tirou os pés da água e acabou se enrolando no tecido da saia quando, no instinto, tentou ficar de pé. A cena seguinte a ser descrita, talvez já tenha sido imaginada de antemão pelo leitor. Flora, desengonçada, terminou sua trajetória dentro do rio.

A princesa desacertada (e seu irremediável destino)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora