Oito

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Philip se arrependeu de acordar quando a dor dilacerante rompeu em sua pele, fazendo seus músculos se retraírem de imediato. Sua nuca ardia e o cansaço o dominava. Parecia estar finalmente em plena consciência, muito embora sua cabeça doesse ao tentar se recordar dos acontecimentos passados. Contudo, o timbre de uma doce, reconfortante e angelical voz que o fez pensar várias vezes em meio a suas alucinações que havia morrido e chegado ao céu ainda era bem vívido em suas lembranças.

Com dificuldades, apoiando-se nos braços, ergueu o tronco disposto a ignorar a terrível e penosa sensação que o atingira, partindo da nuca até alcançar todo o seu corpo.

— Por favor, senhor Philip, tenha cuidado. O senhor ainda está muito debilitado. — Ele ouviu aquela voz novamente e, instintivamente, virou-se para descobrir a identidade de quem cuidara dele com tanto afinco. Flora estava de pé, com as mãos cruzada em frente ao corpo, observando-o com zelo.

— O que aconteceu? — ele indagou ainda aturdido.

— Fomos surpreendidos por uma tempestade do norte e o senhor foi atingido — ela explicou e se aproximou colocando a mão atrás das costas do homem, ajudando-o a se sentar. — O senhor foi acometido por uma febre muito alta e padeceu muitas dores.

— Você teve sorte, Phil — a voz de Jasper rompeu do lado contrário do recinto e denotava certa preocupação —, de a princesa ter muitos conhecimentos sobre ervas medicinais.

Philip aceitou a cuia oferecida por Flora que, com um sorriso, elucidou a cerca de seus conhecimentos.

— Eu passei muito tempo, desde minha infância, trancada na biblioteca, sendo incentivada a me aplicar com afinco à leitura. Amava passear pelos livros proibidos — ela explicou e deu uma risadinha, recordando-se de suas artimanhas para ler sobre assuntos que sua governanta julgava inapropriado para uma dama. — Dediquei-me com muito empenho, debruçada sobre alguns livros específicos sobre esse assunto e, embora desenhasse com precisão as folhas, raízes e flores que possuíam caráter curativo, poucas vezes tive real contato com essas plantas.

Philip observou os olhos de Flora e mesmo estando dentro de uma caverna com pouca luminosidade, pôde ver um brilho de satisfação iluminando seu rosto. Só então percebeu o quanto ela estava perto e, desviando o olhar, apreciou o liquido quente que lhe foi oferecido.

— Tome tudo, esse chá auxiliará em sua recuperação.

Philip obedeceu e suspirou cansado, entregando a cuia vazia nas mãos da mulher que se levantou, pronta para voltar às tarefas a ela designada diante da imprevisível situação a qual haviam sido colocados. Ouviu o relincho do cavalo ao lado de fora e, imediatamente, alertou-se sobre a saúde de seu animal.

— Onde está Ezer? — indagou aflito, ponderando o quanto ele tinha sido afetado.

— Não se preocupe, Phil — Jasper respondeu prontamente, disposto a aliviar as preocupações do mestre. — O seu corpo protegeu grande parte do lombo dele, que sofreu apenas uma leve queimadura em uma das patas traseiras. Flora também cuidou da ferida de Ezer e eu posso garantir que ele sofreu muito pouco se comparado a você.

Flora aproximou-se e delicadamente pousou uma das mãos no ombro de Philip.

— Deixe-me ver como está sua ferida, senhor Philip.

Ao ouvir o pedido de Flora, Philip recordou-se do quanto se sentia irritado quando se encontrava debilitado e fraco. Raramente aceitava auxílio e odiava ser um atraso na vida das pessoas. Contudo, a maneira gentil como a princesa parecia cuidar dele desarmou todas suas defesas e ele, obediente, abaixou a cabeça, deixando a área da nuca exposta para ela poder agir.

A princesa desacertada (e seu irremediável destino)Where stories live. Discover now