Trinta e cinco

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Flora precisou de alguns segundos para processar a informação quando os olhos de Philip encontraram os seus antes dele se curvar numa reverência demonstrando modos impecáveis.

Sim, era Philip diante dela, muito embora estive vestido completamente diferente do que ela havia habituado a enxergá-lo.

Trajes nobres, cabelo rigorosamente penteado e preso e botas de cano alto devidamente lustradas faziam um contraste com o guer viajante com quem ela conviveu. Apenas a espada presa à cintura fazia menção do Philip que ela conhecia.

Quando ele se ergueu novamente, Flora sentiu-se incapaz de pronunciar qualquer palavra. Estava sobremodo surpresa e ao mesmo tempo confusa. Percebendo o silêncio constrangedor e sem ter certeza dos sentimos de Phil para com ela, desviou o olhar rapidamente, antes que o dele pudesse ler o seu.

— Por favor — ela pediu ao funcionário responsável em anunciar os convidados —, pode repetir a apresentação?

O homem em sua postura ereta pigarreou antes de anunciar mais uma vez:

— Dom Philip de Baruch, representante oficial de sua Majestade rei Chesed e irmão da princesa Katherine de Chanun, do Reino de Or.

Flora usou aqueles poucos segundos obtidos para pensar. Era certo que seu coração parecia ter entrado em uma disputa de corrida acirrada, dada a velocidades com que batia, contudo, ela não poderia demonstrar o quanto a presença dele a abalara. A partida rompante, sem nenhuma tentativa de despedida, voltou à sua mente trazendo-a de volta à realidade. Philip, com toda certeza, queria manter a distância e frieza apropriada a relações puramente sociais.

Claro, ela não poderia estar mais errada em relação aos sentimentos do guerreiro que naquele instante estava tão perdido quanto ela em como agir na frente de toda a nobreza de Ach e dos Reinos vizinhos. Não poderiam ser apenas Philip e Flora, os viajantes desconhecidos que se tornaram companheiros por alguns dias. Tampouco poderia demonstrar seus reais sentimentos, aquele com os quais havia lutado bravamente nos dias seguintes do seu retorno.

— Dom Philip, irmão da princesa Katherine, então — foi Flora quem iniciou a conversa e, embora estive séria, ele percebeu uma pontada de provocação em seu tom de voz.

— Sim, alteza, às suas ordens — ele respondeu com uma leve mesura. — Vim como representante de meu Rei, que devido à idade está impossibilitado de viajar, e do herdeiro, príncipe Queves, que lamenta muito a ausência nesse momento importante para nosso Reino amigo. — A voz de Philip era calma e grave, completamente adequada para a situação. — A princesa Katherine, minha irmã, está a espera do primeiro herdeiro do príncipe e ele se recusa a se afastar dela para longas viagens. Por isso fui enviado como representante e mensageiro no lugar.

Foi inevitável. Flora sorriu.

— Em breve o senhor se tornará o tio Philip, então.

Philip queria manter a compostura, mas ele deixou os lábios se curvarem um pouco.

— Assim espero.

Silêncio por mais um momento. Philip ajustou o casaco com uma das mãos e a outra revelou um pequeno baú que até então havia passado despercebido aos olhos da princesa.

— Meu rei enviou um presente em homenagem a data de seu nascimento — ele disse, por fim, estendendo o baú para ela. — É algo de um valor imensurável, espero, sinceramente, que seja de seu agrado.

Sem palavras, com apenas um olhar, Philip fez Flora compreender a relevância daquele objeto. A princesa segurou em suas mãos e sentiu uma palpitada forte no peito. Virando-se para um dos guardas ao lado, chamou a atenção dele com suas ordens.

A princesa desacertada (e seu irremediável destino)Where stories live. Discover now