Dezoito

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Flora percebeu a tensão no ar quando os raios de sol perdiam cada vez mais a intensidade luminosa, prestes a se esconder atrás da alta montanha no final da estrada. Philip e Jasper mantinham a marcha de seus cavalos acelerada, diminuindo gradativamente em determinados trechos do caminho. Extremamente concentrados, revesavam-se na guarda, colocando-se, vez por vez, um deles na dianteira, enquanto o outro permanecia ao lado dela. Poucas palavras foram trocadas durante o trajeto.

Depois de um dia tão embaraçoso, o silêncio poderia representar um alívio para Flora, se seus pensamentos não estivessem tão confusos. Havia uma curiosidade não saciada envolvendo o homem ao seu lado que, aliás, tornara-se de alguma maneira mais belo aos olhos da princesa depois de banhar-se nas águas geladas do rio e aproximar-se com os cabelos úmidos e jogados displicentemente para trás, de onde ela e Jasper aguardavam prontos para partir. Havia também o senso de responsabilidade começando a gritar dentro de si, condenando-a por sua saída e extensa ausência. E isso despertou dentro de seu coração uma falta de casa que até então ela desconhecia.

— Estamos quase chegando — Philip disse quando notou o olhar distante e triste da jovem após os cavalos diminuírem, mais uma vez, gradativamente o trote.

Flora olhou rapidamente para ele e, desviando o olhar, assentiu.

— Sua cabeça melhorou? — ela questionou de fato preocupada com o estado de saúde do seu companheiro.

— Ainda sinto algumas dores fortes, como pontadas agudas, principalmente na nuca, mas creio que uma noite de descanso apropriada será suficiente para minha total recuperação. — Philip olhou mais uma vez o perímetro ao redor. — Teremos abrigo seguro com nossos amigos.

Aquela foi a fagulha necessária para acender a curiosidade que Flora tanto tentava deixar apagada.

— Philip...

— Flora...

Os lábios de ambos se repuxaram moldando um sorriso ao falarem ao mesmo tempo, ambos com certa hesitação presente no tom de voz.

— Por favor — Flora disse, deixando espaço para o cavaleiro prosseguir.

Phil segurou as rédeas com as duas mãos e as apoiou na sela.

— Eu não agradeci devidamente o que a senhorita fez por mim no Vilarejo das virgens. Pode parecer exagerado de minha parte, mas salvou minha vida.

Flora abriu mais o sorriso. Philip ainda era uma incógnita para si, hora carrancudo, hora gentil. Embora, ela precisava ser justa, demonstrasse ser um homem distinto e íntegro.

— Também não tive oportunidade de mencionar as medidas que tomei em relação ao seu sumiço. — Philip suspirou. Ainda não estava seguro de que deveria revelar à princesa sobre seus atos, nem tampouco tinha certeza de que se sentia confortável em precisar pensar nos dias seguintes da viagem. E ainda não poderia garantir sua própria segurança diante da posição que ele se colocou mantendo-a junto de si em seu caminho. — Quando estávamos no vilarejo, tomei providências para que Amelie seja informada de seu estado de saúde e segurança.

Flora surpreendeu-se com a notícia. Mil perguntas se formaram entre seus lábios, mas Phil esclareceu boa parte delas antes mesmo dela precisar dar voz a seus questionamentos.

— Deixei uma carta com um amigo de confiança e o pedi para despachar com urgência. Enderecei à sua amiga e pedi para certificarem-se de que ela seja entregue nas mãos corretas.

Um calorzinho acendeu-se no interior de Flora, porém, ela não teve tempo de pensar sobre ele.

— Provavelmente Amelie informará Adrey sobre o conteúdo da carta e ele rastreará nossos passos. Não duvido que nos encontrará antes que o senhor me leve até o castelo!

A princesa desacertada (e seu irremediável destino)Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu