O desapontar do dia mal tivera seu início e Flora foi acordada delicadamente pela garota responsável por seus cuidados. Sentiu uma dor intensa quando ergueu, um pouco assustada, sua cabeça. Seu corpo também estava dolorido e percebeu que havia dormido com sua capa enroscada no corpo e outra, desconhecida, estava do lado da cama.
— Oh! — a jovem exclamou observando o estado em que se encontrava Flora. — O que aconteceu com a senhorita?
Flora se jogou de volta na cama, sentindo os efeitos do dia anterior refletirem em seu corpo. Não só isso, as lembranças se uniram às dores físicas para atormentá-la ainda mais.
— O senhor Philip pediu para prepará-la para a viagem, contudo, a senhorita não está em condições de se levantar da cama.
— Oh, não! — Flora apertou os olhos e massageou as têmporas. — Me dê alguns minutos e estarei perfeitamente pronta, capaz de viajar.
A menina, compadecida com o estado da jovem deitada, aproximou-se timidamente.
— Prepararei um chá de flor de catagema, ela vai ajudar a aliviar o inchaço de seu rosto.
A imagem dos olhos inchados fez Flora se contrair arrependida de ter chorado tanto. Porém, agradeceu a disponibilidade da menina, e esperava que a ideia funcionasse. Por fim, completou:
— Dentro da minha bolsa de couro você encontrará uma frutinha roxa. Por favor, preciso delas e de uma xícara de água fervendo. — Ela ouviu os passos da menina dentro do quarto, indo em direção a seus pertences. — Isso me ajudará com a dor de cabeça.
Flora foi deixada sozinha. Não tentou reagir, pelo contrário, manteve-se praticamente imóvel, até a garota voltar com uma pequena travessa cheia de um líquido quente cujo cheiro delicado exalava pelo ambiente e a xícara com a água fervente.
— Coloque, por favor, duas bolinhas de dipigina na água. Quando o líquido ficar roxo, me avise, por favor — Flora pediu antes de sentir alívio devido ao contato do pano quente, embebecido na substância preparada pela garota, em sua testa e olhos.
Quando o chá estava pronto, Flora bebeu de uma só vez o chá amargo que ela esperava remover a dor cruciante de sua cabeça.
O pano foi novamente aquecido no liquido e voltou a tampar o rosto da princesa. As duas concordaram que um banho seria viável e, minutos depois, Flora estava mergulhando em uma banheira de metal, cheia de água quente e pétalas das flores de catagema, que prometiam renovar sua pele. Enquanto isso, sua fiel serva organizou todos os pertences da hóspede, adicionando, a mando de Ana, um vestido a mais na bolsa. Também separou um traje confortável para a viagem.
Quando Flora desceu as escadarias, estava devidamente vestida. Seus cabelos penteados deixando fios propositais soltos na frente, para balancear a feição de seu rosto e esconder os, agora poucos, sinais do choro noturno. A dor de cabeça era um leve incômodo.
Ela encontrou uma grande movimentação no pavimento inferior. Estavam todos ali, aguardando apenas a descida dela, para se despedirem dos viajantes. A expressão melancólica de Ana fez os músculos de Flora se retraírem. Era nela que a princesa fixou os olhos, evitando encarar outra pessoa que tanto lhe causava incômodo e já estava ali, um tanto impaciente.
— Minha querida, lamento tanto sua inesperada partida — ela declarou segurando as duas mãos da princesa. — Tentei, a todo custo, convencer Philip de que esperassem um pouco mais, mas ele e a teimosia de sempre. E, ainda por cima, exigiu uma partida tão cedo!
Flora olhou pela porta aberta do casarão, os primeiros raios de sol iluminando, ainda fracamente, o jardim.
— Mas ele está certo — Flora disse e sorriu, embora com grande esforço. — Eu preciso voltar!
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A princesa desacertada (e seu irremediável destino)
SpirituálneEssa é uma história com princípios e analogias cristãs. NÃO CONTÉM HOT! Tudo que a princesa Flora queria era encontrar seu prometido, príncipe Henry, dono de sua intensa e sonhadora paixão. Com a aproximação de seu baile de apresentação, uma união...