O Desassossego da Alma

By fIawIess

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Submersa na monotonia, Charlotte decide fazer as malas e começar a sua vida num outro país, no qual pudesse r... More

O Desassossego da Alma
001 - Música e Vinho Tinto
002 - Entrevista
003 - Solidão
004 - Experiências
005 - O dia seguinte
006 - Decisões
007 - Olhares
008 - Silêncio
010 - Exasperado
011 - Probabilidades
012- Sufoco
013- Ansiedade
014 - Contacto
015- Relações
016- Convívio
017- Noite
018 - Borboleta
019 - Chuva

009 - Apatia

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By fIawIess

A ausência do seu companheiro de casa fez-se sentir até ao dia seguinte. A porta do seu quarto, que se encontrava em frente ao de Charlotte, ainda estava fechada e sem qualquer luz visível na frecha do chão. Confusa pela situação, sem saber se devia bater à porta para questionar se estava tudo bem, decidiu ir preparando o seu pequeno-almoço, considerando que ele apenas se estaria a deixar dormir por um pouco mais tempo que o costume. Talvez tenha tirado férias...

Charlotte sabia que ele estava em casa pois as suas chaves continuavam no chaveiro, contudo não conseguia confirmar de que ele estivesse naquele quarto sozinho. Assim que termina a sua torrada, decide pegar na sua chávena de chá e levá-lo para a varanda. As pessoas na rua andavam de uma forma rápida, agitada, e o dia ainda mal tinha começado. Charlotte preferia, por esse motivo, olhar em frente, ver o esplendor que tinha perante ela, mas, inevitavelmente, o seu olhar espreita por cima do seu ombro, mirando a porta do francês, que ainda não havia dado sinais de vida. Um suspiro sai entre os seus lábios assim que termina a sua bebida quente e acaba por decidir que seria melhor certificar-se de que estava tudo bem. Às tantas, ele só adormeceu...

Hesitante, leva os nós dos seus dedos em direção à porta, de um modo não muito forte, também para não o sobressaltar, caso ainda esteja a dormir. A sua voz pronuncia-se, ainda que pouco segura de si mesma.

- Thomás? Já é tarde, adormeceste?

- Eu hoje não vou trabalhar. – Soou, num tom bastante distante e baixo.

Charlotte assentiu com a cabeça, não deixando passar ao lado uma certa distancia e frieza na voz do seu colega de quarto, e, ainda que a preocupação tomasse parte de si, acabou por sair de casa. Ela hoje iria ter um dia em cheio e não poderia chegar atrasada.


.


Charlotte não se conseguia concentrar naquela manhã e, naquele dia particular, as horas pareciam teimar em não querer passar visto que ela sentia que já se encontrava ali sentada há horas e ainda nem era altura da pausa habitual do meio da manhã. Tudo parecia extremamente calmo e sossegado até Charlotte levantar o seu olhar e ver a rapariga loira, aproximar-se da sua mesa num passo apressado. Primeiramente, Charlotte achou que alguma coisa de urgente no trabalho havia acontecido, mas quando viu Manon a apontar para o telemóvel, numa ansia tal, logo colocou de lado tal hipótese.

- Charlotte, preciso mesmo de falar contigo!

- Olá para ti também! – exclamou para Manon que parecia ofegante com a sua pequena corrida até à sua secretária.

- Bom dia, jolie. – E sem grande rodeio, Manon passou logo ao motivo que a levava ali, àquelas horas. - Ontem escreveste o último nome do Thomás corretamente?

A britânica estranhou a questão, encolhendo com os ombros enquanto pensava seriamente se teria ou não escrito bem. A verdade é que ela nunca havia prestado atenção a isso, uma vez que nunca havia sido preciso para nada da sua vida prática e, a prova disso consistia no facto de ela já nem sequer se lembrar de como lhe havia escrito ontem. Na altura não considerou isso muito importante, mas a verdade é que agora não conseguia entender o motivo de tanta urgência e aflição.

- Não sei, porquê?

- É possível que seja escrito assim?

Manon revela então o nome "Moreau", escrito no bloco de notas do seu telemóvel. Charlotte não conseguia compreender aquela atitude tão em êxtase perante o último nome do seu colega de casa, mas, tendo em conta a recente obsessão de Manon, considerou, tal como no dia anterior, que seria tudo "normal".

- É capaz, acho que sim. Mas porque é que estás tão obcecada com o último nome dele?

- Achas que ele pode estar ligado àquele caso das notícias?

- Espera. – Charlotte olhou-a genuinamente confusa. - Que caso?

- Não tens visto as notícias ultimamente? O nome Moreau tem aberto os jornais televisivos todos, desde ontem!

- Manon, nós não temos televisão em casa e, honestamente, aqui não costumo acompanhar as notícias. Mas o que aconteceu?

- A família Moreau, uma família bastante endinheirada aqui de França, foi associada a um desfalque enorme da própria empresa e agora têm uma investigação a decorrer. A acusação é que esta família desviou uma quantidade enorme de dinheiro e agora estão a investigar a fundo, mas, em princípio, isto vai mesmo ser levado a tribunal.

Charlotte sentiu-se estranha à medida que Manon lhe contava aquela situação, mais detalhadamente. O seu corpo receava que realmente fosse verdade e, em certa parte, parecia justificar o comportamento estranho e cabisbaixo de Thomás desde ontem. Por momentos considerou-se paranoica e dramática, como se, no meio de tantas pessoas, ele fizesse parte dessa tal família rica. Isso não faria sentido pois, caso ele fosse realmente uma pessoa abastarda, com certeza que não estaria a viver naquele apartamento humilde, muito menos a dividi-lo com alguém. Além disso, ele trabalhava num museu. Não, não faz qualquer sentido.

- Achas que pode ser a família dele? – Manon inquere, analisando o espanto no rosto da estrangeira.

- Provavelmente não, Manon.

Porém, havia algo que não fazia sentido. Charlotte não se conseguia desapegar da preocupação que sentia perante o seu colega de casa. Se ela pudesse descartar o resto do dia, ela estaria naquele preciso momento no gabinete do seu superior a dizer que não se encontrava bem e que necessitava de ir para casa. Porém, aquele dia era extremamente importante e inevitável e, como tal, teria de aguentar até a reunião da tarde terminar. Está tudo bem.

Mas, no fundo, algo lhe dizia que não.


.


Charlotte nunca subira tão rápido as escadas em caracol do seu prédio. O cansaço nem se pronunciara, visto que toda a sua atenção recaia na preocupação que estava a sentir, naquele momento, pelo seu colega de casa. Ainda que ela quisesse acreditar de que tudo estava bem, no fundo ela tinha uma sensação estranha com toda aquela situação. Dentro da sua cabeça, só conseguia pensar no quão invulgar havia sido o comportamento de Thomás desde o dia anterior. Assim que abrira a porta, o seu olhar não queria acreditar no que estava diante dela.

A rapariga permaneceu por alguns segundos imobilizada, em choque, com o caos que se encontrava instalado na sala. A divisão estava completamente suja, se é que se podia assumir tal, cheia de papeis rasgados e telas desfeitas por todo o lado. O sofá, que habitualmente se encontrava encostado à parede com a maravilhosa vista sobre a cidade, estava agora perdido no meio da sala, sendo que a única coisa que permanecia intacta era o móvel que suportava o gira-discos. O coração de Charlotte acelerou bruscamente e as suas pernas enfraqueceram por breves segundos, pensando que o pior poderia ter acontecido, mas logo sossegou quando reparou no corpo de Thomás sentado no sofá.

Charlotte fechara, por fim, a porta da entrada, ponderando qual o melhor comportamento a ter perante aquele seu possível surto. Logo entendeu que Manon estava certa ao associar o Thomás à tal família abastada que se havia tornado polémica nas notícias recentemente. Por outro lado, sabia perfeitamente que isso agora era um momento a evitar ao máximo, pois isso só o iria deixar ainda pior.

À medida que se aproximava de Thomás, reparava no fumo que saia por entre os seus dedos, assumindo que ele estaria a fumar dentro daquele espaço. Isso não a incomodava, muito menos num momento como o que ele estaria a passar. A única coisa que a incomodava era o facto de estar cada vez mais perto dele e não saber o que fazer, ou dizer.

- Thomás?

Contudo, o olhar do rapaz não se desviara da parede vazia em que se focava, desde que ela ali chegara. A sua mão também não se mexia, deixando apenas o cigarro lentamente desaparecer, de tão perdido que ele se encontrava dentro de si mesmo. As cinzas do mesmo iam apenas caindo no chão e acumulando-se, mas ele não parecia notar sequer. Fora só quando a mão de Charlotte tocara na sua perna que este regressara à realidade e o seu olhar se desviou, ainda que não a tivesse olhado por mais de três segundos, voltando de seguida a contemplar o nada.

- Eu depois limpo.

Foram as primeiras palavras que saíram da sua boca, tão frias que fizeram Charlotte estremecer. Os braços da rapariga envolveram, inesperadamente, o corpo magro do rapaz, porém, ele parecia continuar apático, sem forças para retribuir o gesto caloroso. Uma vez que desfeito, a mão magra e pálida de Thomás leva o cigarro, já quase acabado, até aos seus lábios e, assim que nota o quão pequeno este está, acaba por o apagar e o deixar cair para junto dos outros. O cenário era caótico naquele ambiente, agora tão calmo e sereno.

Charlotte estava completamente sem palavras. Ela não sabia o que lhe dizer, pois não queria tocar no assunto, visto que ele não se encontrava em condições de falar sobre aquilo, porém também seria insensato falar de outra coisa qualquer pois, independentemente do quer que fosse, ele tinha mais com o que pensar. Perdida num debate com os seus pensamentos, acabou por simplesmente se sentar a seu lado.

O silêncio vivido por ambos era contundente, avassalador, ainda que Thomás nem conseguisse senti-lo de tão abstraído que ele se encontrava de tudo o que era físico naquele espaço. Ela desejava reconfortá-lo, mas não sabia ao certo a melhor atitude a tomar perante o seu estado de apatia e desanimo. Morosamente, e de um modo muito delicado, rapariga levou a sua mão delgada ao cabelo ondulado e escuro de Thomás, procurando transmitir-lhe um certo carinho e atenção. Ela nunca havia sido boa com estas pequenas demonstrações de afetos ou a transmitir os seus sentimentos, no entanto, naquele momento, fora quase que se algo mais forte do que ela mesma a tivessem inclinado a tomar tal atitude.

Enquanto o silêncio proliferava cada vez mais alto, a mão carinhosa de Charlotte arrepiava Thomás, levando-o, aos poucos, a ceder. O seu corpo, tenso e rígido, acabou por lentamente relaxar e se encostar ao corpo de Charlotte, que esboçara um pequeno sorriso ao sentir a cabeça de Thomás deitar-se sobre o seu ombro. Os olhos do francês, aos poucos, foram-se enchendo de lágrimas, comovido com o afeto e, a muito custo, procurava um modo de guardar para si toda aquela sua versão vulnerável e instável. Ele odiava-se por estar naquele transe de tristeza e apatia, mas, infelizmente, não tinha sequer forças para o esconder.

- Está tudo bem... - Charlotte murmurou, com a intenção de o consolar. Os seus dedos continuavam a percorrer o seu cabelo, de modo a sossegá-lo e, num impulso, os seus lábios tocam suavemente na testa daquele rapaz tão sentido. Os olhos de Thomás fecham-se com o toque daqueles lábios quentes e ternurentos e uma lágrima, inevitavelmente, acaba por percorrer o seu rosto enquanto ela lhe sussurra, tão perto de si "Eu estou aqui".

Thomás virou calmamente o seu rosto quando o de Charlotte ainda estava próxima de si. O seu olhar triste e pesado, repleto de lágrimas, que forçava aprisionar a todo o custa, encontra o da rapariga, repleto de preocupação. A respiração quente e lenta da britânica ia de encontro à sua pele pálida e o seu lábio inferior é mordiscado, num ato de insegurança, quando mais uma lágrima escorre pelo seu rosto. Ambos permanecem próximos, completamente ausentes do que os envolvia, apenas focados nos seus olhares e nas suas respirações pesadas. Thomás intuitivamente colocou a sua mão no rosto cálido de Charlotte, fazendo-a suspirar involuntariamente. Os seus olhos fecham-se ao sentir aquele toque, tão privado de afeto. As pernas de Charlotte perderam a força perante o contacto inesperado e o seu coração acelerou brutalmente, não conseguindo esconder tais efeitos devido à nova cor do seu rosto.

Thomás ao ver os olhos se Charlotte fecharem-se, aproxima o seu rosto um pouco mais perto do da rapariga, criando uma tensão maior entre ambos. Ele sentia-o e, naquele momento, não havia nada que o fizesse afastar-se dela. A tensão acabara por atingir o seu auge quando os lábios tocarem tão docilmente uns nos outros, apenas encostados, de tão próximos que eles estavam. As respirações quentes, e cada vez mais aceleradas, faziam-se sentir um no outro. Fora, então, quando Thomás passara a sua mão para a nuca da rapariga e a puxara mais para si que todo aquele clima colapsara. Tão carentes e tão repletos de desejo, envolvem-se num beijo que se ia tornando, progressivamente, mais ávido e sôfrego. As mãos de Thomás agarravam aquela rapariga e puxavam-na para si, como se aquele contacto não fosse suficiente e Charlotte, aproveitara o facto de a sua mão ainda estar naqueles cabelos tão escuros e ondulados, para os agarrar, num gesto carente e tão exasperante.

Quando os seus lábios se separaram, ambos tinham o rosto quente, corado do momento que as suas cabeças ainda se encontravam a processar. Os seus olhos agora não se olhavam, tímidos com o momento partilhado. Charlotte tentou-se ajeitar no sofá, desconfortável com a posição em que agora estava, mas, achando Thomás que ela não iria ficar ali por muito mais tempo, coloca a sua mão na perna da britânica e, num tom muito desgastado e melancólico, pede-lhe.

- Fica. Pelo menos por agora.

E ali permaneceram. Novamente imersos por um silêncio, mas reconfortados pelo momento que ambos queriam prolongar por um tempo que nem eles mesmos sabiam se chegaria a um fim.


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AAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Eu queria muito chegar a este capítulo!!! Eu vivo isto ahahahah

São 2h30 da manhã, estou cansadíssima mas como disse que postava "hoje" tive que levar isto até ao fim ahahahah

Comentem o que acharam deste capítulo revolução porque eu 100% que adorei e daqui para a frente vai ser tão mas tão bom!! Tenho muitas ideias planeadas eheheheh


P.S: Eu tinha dito que imaginava o Thomás como young Leonardo DiCaprio mas a verdade é que agora só o consigo ver como Alex Turner kkkkk mas cada um imagina o que achar melhor (é só para o caso de não estranharem caso meta alguma foto dele no inicio do capítulo)

Não se esqueçam de votar nos capítulos e comentar <333 ly

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