O Desassossego da Alma

Autorstwa fIawIess

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Submersa na monotonia, Charlotte decide fazer as malas e começar a sua vida num outro país, no qual pudesse r... Więcej

O Desassossego da Alma
001 - Música e Vinho Tinto
002 - Entrevista
003 - Solidão
004 - Experiências
005 - O dia seguinte
006 - Decisões
007 - Olhares
009 - Apatia
010 - Exasperado
011 - Probabilidades
012- Sufoco
013- Ansiedade
014 - Contacto
015- Relações
016- Convívio
017- Noite
018 - Borboleta
019 - Chuva

008 - Silêncio

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Autorstwa fIawIess

O batom vermelho ia marcando os lábios carnudos de Charlotte à medida que deslizava subtilmente pelos mesmos. O seu olhar, escuro e penetrante, focou-se na sua própria imagem refletida pelo espelho do seu quarto e um sucinto sorriso surge, devido à sua confiança e aprazimento pela sua aparência. Os seus dedos delgados e preenchidos por inúmeros anéis dourados entranham-se no seu cabelo, curto e negro, numa tentativa de o ajeitar, seguindo-se depois para o delicado tecido de cetim do seu top, de modo a ajustar na zona do peito. Charlotte já se havia habituado ao barulho dos carros que passavam na rua para a qual a sua janela estava virada, mas hoje estava especialmente incomodada, tendo, por isso, colocado os fones com o intuito de se abstrair, tendo, com isso, mergulhado numa onda de jazz pela voz do inconfundível Chet Baker.

Por entre a sua porta semiaberta espreitava o animal negro e, visto que se encontrava sozinha, tentou chamá-lo para lhe fazer uma festinha, mas, mais cedo ela se agachava para captar a sua atenção, mais cedo ele fugia. Os seus dentes mordiscaram levemente os seus lábios, insegura com aquela constante atitude, chegando mesmo a considerar-se uma pessoa repleta de energias negativas, pois só dessa forma era possível justificar, como é que, passado tanto tempo, a atitude daquele animal irracional permanecia igual.

Após calçar as suas botas pretas, retirou os fones dos seus ouvidos e reparou logo em algo diferente do habitual. Vindo da divisão comum, pareceu-lhe ouvir as notícias, algo que naquela casa só entrava em modo de jornal (muito raramente) ou através das publicações das redes sociais, devido à falta de uma televisão. Dirigindo-se para a sala reparou em Thomás, completamente curvado no sofá, já na companhia do seu animal, tão observador e antipático. O francês pareceu-lhe vidrado no ecrã do seu telemóvel mas, assim que reparara na entrada da sua colega de casa na sala, rapidamente saiu da aplicação, quase como se se tivesse assustado com a sua presença. O seu olhar, porém, uma vez que se levantara, observara a rapariga estrangeira de alto a baixo e as suas mãos pararam no seu rosto, cobrindo o pequeno sorriso que ela lhe provocara.

- Vais sair?

- Vou aproveitar o sol e conhecer mais um pouco da cidade. – disse Charlotte, enquanto colocava o livro que recentemente começara a ler, "O General no Seu Labirinto", de Gabriel García Márquez, na mala. – Se quiseres podes vir, de certeza que a Angèle e o Louis não se importam.

- Acho que vou ficar e trabalhar na minha arte. – disse, ligeiramente cabisbaixo, algo que não passou despercebido à britânica. – Mas obrigado pelo convite.

- Vou querer ver isso quando chegar! – exclamou, de modo a estimular a sua criatividade, achando que a sua atitude desanimada estivesse associada à falta de imaginação. Porém, o seu sorriso não deixara de contagiar, ainda que não lhe tivesse durado muito tempo.


.


Charlotte estava verdadeiramente encantada e sentia-se concretizada com a sua tarde recheada de cultura, na companhia de Angèle e Louis. A pedido da rapariga dos cabelos curtos, começaram por ver o Panteão de Paris, uma vez que se trata de um monumento neoclássico, dos mais antigos daquela capital francesa. A sua fachada principal, enaltecida por um pórtico de colunas coríntias, era sem sombra de dúvida marcante, não só pela sua beleza arquitetónica como também pela forma como demarcavam aquele espaço que envolvia a obra. Além disso, a sua altura monumental, em virtude da sua cúpula, arrepiara aquela pequena apaixonada, que só deseja que pudesse parar o tempo e apreciar aquele momento para sempre. Charlotte, de olhar apaixonado e brilhante, com receio de que a sua mente se esquece de tão belos pormenores, decidira aproveitar a oportunidade para desenhar.

Seguidamente, passaram pelos magníficos jardins de Luxemburgo, uma vez que se encontravam tão perto. Tudo naquela cidade parecia mágico para Charlotte, ela sentia-se tão completa que só queria ter tempo para contemplar todos aqueles espaços vezes e vezes sem conta, pois sabia perfeitamente que dificilmente se iria cansar. Ali ela sentia-se em paz, feliz, como se não existissem problemas ou preocupações à sua volta. Todavia, devido ao apertado horário, acabaram por prometer voltar ali numa outra altura para apreciarem o espaço de uma forma mais merecedora, uma vez que o seu grande plano para o término daquela tarde consistia em acabarem junto da Basílica de Sacré Coeur, a comer um crepe, sobre a vista de Paris. E, para conseguirem concretizar isso, ainda tinham bastante a percorrer e um metro para apanhar até lá.

A vista sobre a cidade de Paris arrepiava a britânica, fazendo-a verdadeiramente sentir que ali era o seu lugar. A música de um rapaz, que tocava na sua guitarra ligada a uma coluna, a uns degraus abaixo de onde eles se encontravam sentados, preenchera o seu coração. Paris, em certa parte, era diferente de Manchester; quase como se Charlotte fosse uma pessoa completamente diferente. Na cidade das luzes, a britânica sentia-se confiante, sonhadora, apaixonada pela arquitetura e motivada para dar o melhor de si. Em Manchester, Charlotte sentia-se presa, sentia-se em baixo e dificilmente conseguia comunicar com as pessoas sem sentir uma vontade colossal de se isolar de tudo e de todos. Ela gostava desta nova Charlotte.

- É uma pena a Manon não ter conseguindo vir. – Comentou Angèle, enquanto o seu olhar admirava a beleza que a envolvia. O vento frio do final da tarde começava a passar por entre os seus corpos, arrefecendo-os e alarmando-os das horas.

- Temos de planear uma saída à noite. Conhecer pessoas interessantes. – Louis sugeriu, dando com um tocar de ombro subtil em Charlotte, que apenas se rira, com um assentir de cabeça.

- Somos quatro pessoas completamente solteiras, aos vinte e quatro anos. – Angèle disse a brincar, prolongando o tema da conversa que Louis havia sugerido discretamente.

- Nem me digas nada. Acho que não quero nada sério tão cedo desde o meu último namorado. – Louis evitou o contacto visual com as duas raparigas, suspirando enquanto olhava em frente, para a cidade.

- Eu estou completamente bem com isso, sinceramente.

Louis pegou na mão de Charlotte e olhou para Angèle, achando que a rapariga estava claramente a alucinar. Angèle riu-se do dramatismo propositado do amigo e encolheu os ombros.

- Como é que consegues dizer isso? Não sentes falta do afeto, da atenção, do carinho? – Louis inquiriu, num tom dramático, mas com um pingo de verdade. A verdade é que Louis era extremamente carinhoso e não conseguia entender como é que as pessoas conseguiam passar tão bem sem terem uma pessoa com elas, a quem possam dar amor e, consequentemente, recebe-lo.

- Não podes sentir falta de algo que nunca tiveste.

A frieza no tom de Charlotte fez os olhares dos seus amigos arregalarem, claramente não esperando uma resposta tão direta e, talvez, insensível. O silêncio permaneceu durante algum tempo, mas Louis, não querendo que aquele ambiente tenso por muito mais tempo, logo procurou forma de dar a volta a situação.

- Já conheceste alguém aqui? Instalaste alguma aplicação cupido ou assim?

- Não, honestamente não sou muito fã desses encontros combinados. Não consigo falar com pessoas, sabendo que é para esses fins. – Confessou Charlotte, encolhendo os ombros. – No fim de semana passado saí com o Thomás e conheci os amigos dele, mas, honestamente, não consigo sequer pensar em envolver-me dessa forma com pessoas tão próximas dele. Só penso o quão estranho seria na manhã seguinte.

- O que é que isso importa? O que é que ele importa?

- Apenas não é muito o meu género. Fazer isso, quero eu dizer. – Explicou-se Charlotte enquanto retirava o seu maço de tabaco da carteira. Outra vez este assunto não...

- Nem com o Thomás? A Manon mostrou-me uma foto e-

- Muito menos com o Thomás, Louis! – repreendeu a rapariga.

- Eu compreendo o que queres dizer. – afirmou Angèle. – Acho que é perfeitamente normal duas pessoas de sexo oposto viverem juntas normalmente. Isso não significa que haja um clima entre elas.

Charlotte assentiu com a cabeça, repreendendo-se a si própria por já ter tido esses pensamentos obscenos. Mas, também, ela considerava algo inevitável, tendo em conta que toda a gente à sua volta sugeria isso. A culpa é de todas as assunções.

A chama do seu isqueiro acendeu a ponta do cigarro e o seu olhar observou o fumo a dissipar-se por entre o espaço. Aqueles pensamentos não eram inteiramente culpa sua, e, naquele momento, era tudo menos aquilo que ela precisava de pensar. Decidiu, portanto, focar-se na música que invadia o espaço.

Visto que o tema da conversa estava tão íntimo, Louis aproveitou a oportunidade para desabafar do seu antigo relacionamento. Charlotte sentia-se grata pelo facto de ter encontrado pessoas tão boas em tão pouco espaço de tempo, mas ela mal conseguia ver a hora de permanecer ali, sozinha, e ler o seu livro, sabendo que podia olhar para cima a qualquer altura e ver aquela cidade. A sua cidade.

Porém, após a sua partida dos seus amigos, o seu momento de leitura não durou muito pois passados uns minutos sentiu o seu telemóvel a tocar no seu bolso do casaco. Intrigada, uma vez que não era habitual receber notificações, decidiu ver e o espanto fez-se notar no seu rosto quando viu que se tratava de uma mensagem da Manon.


"Qual é o último nome do Thomás?"

– Manon, 18h23


Charlotte olhou confusa para a mensagem que havia acabado de receber, uma vez que não compreendia o contexto da mesma. Achou, portanto, que se trataria de um momento de pesquisa numa rede social qualquer e, sem querer dar grande importância ao assunto, acabou por responder.


"Moureau, acho que é assim que se escreve."

– Charlotte, 18h25


E, sem receber mais qualquer tipo de resposta, voltou à sua leitura.


.


Charlotte abrira a porta de sua casa quando o sol já não tinha força suficiente para iluminar a divisão comum. Estava tudo sossegado, demasiado sossegado se é que podia assumir isso. Sabia que Thomás estava em casa, uma vez que as suas chaves se encontravam pousadas no chaveiro, junto à porta da entrada, porém, a porta do seu quarto estava completamente fechada e não havia luz visível da frecha da mesma.

Ainda que a rapariga britânica tivesse esperado pacientemente para que este saísse do quarto, para jantar na sua companhia, isso não aconteceu. Não teve coragem para o chamar, considerando a hipótese de ele estar acompanhado. Esperou bastante, tendo passado umas belas horas desde a hora habitual da refeição, mas, pela primeira vez desde que ali estava a viver, ela jantara sozinha, apenas com o barulho das outras pessoas nas suas redes sociais para lhe fazerem companhia e preencherem o pesado silêncio que ali se acomodara.


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Desculpem tanto tempo de atraso mas os exames tiraram-me o tempo e este confinamento também me tem deixado doidinha ahahaha procura-se saúde mental 

Agora a história vai ficar tao interessante!! Digam se estão a gostar, comentem para me deixarem feliz ehehehe e obrigada a quem está a acompanhar! <33

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