Capítulo 26

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          Azriel voltou à clareira incinerada, antes do sol nascer, para finalmente buscar as facas de caça de Lucien, que tinham deixado para trás na noite que o encontrou ferido e desorientado. A bolsa e o cobertor tinham sido destruídos por algum animal atraído pelo cheiro dos sanduíches, a garrafa de vinho estava quebrada, refletindo a fraca luz do sol que surgia em seus cacos pontiagudos. Az usou o maior pedaço de tecido que encontrou para envolver as facas de Lucien, as lâminas manchadas com sangue e veneno seco há tanto tempo que talvez não pudessem mais ser salvas. Mas não foi isso o que mais o incomodou.

          O illyriano caminhou pela vegetação queimada, esquadrinhando cada centímetro da clareira, tentando entender o que tinha acontecido. Os olhos bem treinados de Azriel perceberam que o terreno tinha sido queimado de maneira uniforme, não havia buracos no solo ou partes em que o fogo parecia ter incendiado a vegetação com mais intensidade. A clareira era um círculo perfeitamente delimitado, e as árvores que foram preservadas ao ser redor sequer estavam chamuscadas. Os corpos que ainda queimavam na noite em que voou com Lucien para longe dali tinham sido consumidos até desaparecerem, sem que as chamas destruíssem o solo abaixo. As bestas teriam fugido de um incêndio daquele tamanho, não teriam ido até ele. A não ser que tivessem sido atraídas até lá.

          O encantador de sombras se sentou ao lado da árvore em que encontrara Lucien, concentrado em escutar o que o vento e as sombras lhe contavam sobre aquele dia; era quase como se pudesse ver exatamente o que tinha acontecido.

          A magia não explodiu. Lucien tinha criado a clareira com calma e precisão cirúrgicas, queimando as árvores em grupos de duas ou três, observando-as sendo consumidas lentamente, alternando a mão que controlava o fogo sem dificuldade. O Bogge foi morto primeiro, antes da abertura da clareira, então Lucien começou a usar o fogo, que apagava sempre que alguma criatura aparecia, retomando a queimada controlada das árvores depois de matar o que quer que o atacasse. Repetiu o processo por horas: queimar, matar, queimar, matar. Em um momento da noite várias criaturas horrendas apareceram ao mesmo tempo, e Lucien incinerou algumas sem sequer olhar na direção delas, enquanto estripava aquelas que estavam mais próximas a ele. As sombras contaram a Azriel da sanha assassina de Lucien, o levaram até as espadas curtas do macho, perto de árvores centenárias partidas ao meio.

          O illyriano voou até o lago próximo, a respiração pesada, lançando suas sombras na água para ter certeza que nenhum feérico inferior estava esperando para arrastá-lo para o fundo, e mergulhou. Emergiu alguns momentos depois e se sentou sob o sol, tentando entender como tudo tinha acontecido, tentando entender tudo o que vinha acontecendo nos últimos dias. Lucien controlou a própria magia sem nenhuma dificuldade durante horas no dia em que veio caçar; controlou sua magia de várias maneiras, não apenas o fogo.

          Três dias antes Lucien tinha controlado o fogo perfeitamente ao atirar as almofadas em chamas nos peregrinos intrometidos, ao queimar as almofadas enquanto estavam na sala. Dois dias antes controlou sua magia na floresta por horas enquanto lutava com as criaturas mais violentas que poderia encontrar; não teve receio de queimá-lo quando fizeram as pazes no quarto dele, após a explosão de sombras de Azriel; não teve receio de queimá-lo no dia seguinte na banheira. Na verdade, Lucien sequer tinha esquentado a água da banheira, mesmo que estivessem indo mais longe que qualquer outra vez; mesmo que na noite anterior tivessem ficado nus juntos pela primeira vez. Nenhum descontrole. E ontem à noite...

          Tinham acabado de chegar do coquetel e Lucien os jogara sobre as almofadas. Estavam sem camisas, as calças abertas, deitados sobre as almofadas. Azriel beijava as costas e mordia os ombros de Lucien, abraçado ao macho, o fazia gemer com sua mão massageando o pau dele, roçando o membro duro na bunda de Lucien. Os dois já estavam próximos a se desfazer de prazer mais uma vez naquela noite. O mestre espião puxou o macho para ficar de frente para ele, montado em seu colo, antes de retribuir o prazer que o ruivo tinha lhe dado na banheira e deslizar seus dedos ásperos para dentro de Lucien. A língua e os lábios buscavam sua boca com sofreguidão ao mesmo tempo em que o macho gemia, o agarrando com mais vontade a cada movimento dos dedos de Az para dentro e para fora. O illyriano mordia o pescoço de Lucien e tinha acabado de se livrar de sua roupa, ficando completamente nu debaixo dele, quando duas almofadas da sala explodiram em chamas a menos de meio metro dos dois.

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