Capítulo 30

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          O curandeiro não conseguia acreditar na audácia do macho alado que bateu, bêbado, à sua porta.

          – Você só pode estar de brincadeira comigo! Nas últimas 24 horas eu tive que cuidar das fraturas de seis machos e fêmeas que foram culpa sua! Você volta aqui, bêbado outra vez, pedindo que eu o deixe sóbrio?

          – É muito importante! Eu não dormi depois que saímos daqui, continuei bebendo e agora não consigo ouvir as sombras. – Azriel apoiava a mão no batente da porta.

          Azriel tinha levado alguns minutos para absorver o que Lucien tinha dito sobre Helion. Az se lembrou que a caçada irresponsável de Lucien foi no dia que ele e Helion conversaram no apartamento.

          É claro que aquela espada não seria dada para alguém com quem o Helion estivesse só se divertindo! Não é uma espada comum! Como fui burro! Por isso ele deu a espada a Lucien! Foi descobrir que era filho do Helion que o perturbou tanto! E naquela noite... – Az se esforçou para lembrar – Merda! Fui eu que falei da magia, o Lucien só falou “Eu não”. O que ele ia dizer se eu não o tivesse interrompido? Eu mal consigo raciocinar perto dele, principalmente naquela noite...

          – Eu bebi toda a água do apartamento, comi um sanduíche e tentei voar. – Azriel tossiu sob o olhar severo do curandeiro – Péssima ideia. Caí na varanda de um apartamento dois andares abaixo. Tive sorte pelo lugar estar desocupado, ou o apartamento estaria encantado para proteger os hóspedes e eu não teria conseguido arrombar a porta para sair.

          – Que bom que um de nós dois está tendo sorte hoje... – o curandeiro resmungou.

          – Eu levei mais de uma hora pra chegar aqui, não conseguia me lembrar do caminho que fiz com o Alden de madrugada. Eu sei, a culpa disso é minha também. – Azriel falou ao ver o curandeiro abrir a boca. – A questão é que os corredores ficaram muito parecidos porque eu sou um idiota bebendo há 24 horas, e perdi um tempo essencial até encontrar o corredor certo.

          – Alguém vai se ferir se você não ficar imediatamente sóbrio para ouvir as sombras?  – o curandeiro estava cauteloso. Não podia negar que essa determinação em alguém tão bêbado era impressionante.

          – Sim! – Azriel oscilou – Quer dizer, não fisicamente... eu preciso consertar... uma besteira que fiz!

          – Com o seu macho ruivo?

         – Isso! – A animação de Azriel por achar que o curandeiro ia ajudá-lo desapareceu ao vê-lo recuar para o apartamento. O illyriano perdeu um pouco do equilíbrio ao segurar a porta com a mão, mantendo espaço suficiente apenas para ver parte do rosto do curandeiro. – Por favor! Não consigo encontrá-lo! Eu falei coisas muito estúpidas e estava muito enganado sobre uma parte; acho que também me enganei sobre todo o resto. Mas o álcool e as péssimas lembranças não me deixaram raciocinar na hora e eu só falei! 

          – Você é um irresponsável! Não espera os machucados do ruivo se curarem, quebra o braço do Alden, quebra outros sete membros em poucas horas...

          – Sou! E devia ter parado de beber. O que eu disse ao Lucien foi horrível, não deixei que ele respondesse... e ele sumiu! Eu só posso ter errado muito com as minhas conclusões, porque o Lucien não some, não recua em uma discussão! – Az se lembrou de Lucien na sala do solar depois do resgate na Corte Invernal, encarando a fúria de Rhys.

          Lucien não recuou dos três illyrianos, não recuou nem mesmo de Amren, a quem obviamente temia. No entanto, as palavras de Azriel o tinham feito recuar. Az queria feri-lo da mesma maneira que se sentia ferido e fez com que ele desaparecesse. Em meio ao álcool e aos pensamentos dolorosos, não imaginou que poderia estar errado sobre alguma coisa, e agora já duvidava de tudo que tinha pensado.

Corte de Chamas e Sombras Where stories live. Discover now