Capítulo 58

2.2K 289 335
                                    

          Eris atravessou os poucos metros que o separavam de Koré e cobriu o corpo dela com o seu, protegendo-a com o escudo que conjurou. Podia ouvir as flechas ricocheteando nos escudos que os outros participantes da reunião conjuraram.

        Havia fumaça e destroços voando pela sala.  Koré gritava a plenos pulmões em seu pescoço, as unhas cortando sua nuca. O colar de Helion caiu quando Eris se jogou sobre ela e o cheiro delicioso da parceira quase desapareceu sob o odor do medo avassalador que ela sentia.

           Eris percebeu que a apertava com força no chão, suas pernas pressionando as coxas delicadas sob o tecido fino da saia, o vestido rasgado no ombro revelava muito da pele clara. A poltrona em que ela esteve sentada desmontara debaixo deles. O estômago de Eris embrulhou, o fogo sumindo das veias por um segundo. Não tinha conseguido convencer Koré que não era o monstro que a Corte Noturna pensava e ela estava com medo que ele a violentasse. O feérico fez menção de se afastar, enojado com a máscara que criara para si mesmo. No entanto, o alívio o atingiu como uma pedrada quando Koré se agarrou mais a ele.

          — Não me deixe sozinha. Por favor, por favor — Koré suplicou com a voz rouca, o corpo inteiro tremendo.

          Ela estava com medo, mas não medo dele. As unhas estavam cravadas em sua nuca porque ela estava desesperada para que ele não se afastasse. Koré confiava nele. Além da mãe, nenhuma fêmea jamais mostrara sentir que Eris podia protegê-la.

         — Nunca — Eris a abraçou, se agachando no chão enquanto a mantinha colada a seu peito.

         Eris levantou a cabeça procurando por Lucien. O irmão estava protegido pela magia dos sifões de Cassian, pelo escudo enorme que um espectro segurava e por um segundo espectro, que cobrira o corpo do irmão como ele fez com Koré. Os olhares dos ruivos se cruzaram e Eris viu o fogo da Outonal e a luz da Corte Diurna brilhando no olho de Lucien.
Ele ainda não consegue separar completamente os poderes, por isso os espectros o protegeram. Não conseguiu quando era criança e estava aprendendo a manipular a magia, e terá mais dificuldade agora, depois de séculos reprimindo parte do poder. Nossa mãe estaria morta antes de eu retornar à Corte.

           A mente começou a trabalhar febrilmente. O cheiro do medo de Koré era insuportável, a fêmea soluçava em seu pescoço e o pavor dela sacudia o laço de parceria no coração de Eris. Lucien estava em perigo, e a mãe deles ficaria em perigo assim que o irmão usasse magia e se protegesse. Cassian era um general, logo sairia para comandar os illyrianos que trouxe na batalha.

         Através da janela destruída o céu estava escuro com a quantidade de feéricos voadores preparando uma nova saraivada de flechas. Gritos vinham da cidade e do castelo. Alguém gritou que não era mais possível atravessar e as peregrinos saíram voando pela janela, prontas para enfrentar os batalhões voadores inimigos. Cassian voou atrás delas e Lucien se preparou para lutar.

          Koré não parara de tremer. O fogo brotou de Eris, envolvendo seus braços, fazendo um casulo ao redor dele e de Koré. Ela não se afastou, ainda chorando no pescoço de Eris.

          Os olhos âmbar focalizaram os batalhões inimigos que se dividiam no ar para emboscar os peregrinos e os illyrianos que surgiam de todos os lados. Eles não seriam o suficiente para conter as centenas de inimigos que continuavam surgindo no céu, seria um massacre. Eris viu as mãos de Lucien mergulhadas nas chamas da Outonal, e viu também as chamas brancas e a luz da Corte Diurna prestes a explodir. Isso não pode acontecer! Não tão perto de ficarmos livres!

          Eris rugiu, queimando com o ódio acumulado por cinco séculos. Os batalhões inimigos explodiram, focos de chamas muito maiores e poderosos do que aqueles que conjurou para Koré no apartamento. Centenas de guerreiros se tornaram cinzas, incapazes de se proteger do fogo do herdeiro da Corte Outonal. Os peregrinos e os illyrianos se afastaram, mas Eris podia distingui-los com facilidade. Uma nuvem negra de flechas pegou fogo no ar a meio caminho do palácio, assim como as flechas que foram disparadas contra a população nas ruas.

Corte de Chamas e Sombras Onde as histórias ganham vida. Descobre agora