Capítulo 36

6.3K 496 846
                                    


          Azriel pousou na varanda do apartamento e ficou um pouco desapontado ao ouvir a respiração lenta de Lucien no quarto oposto ao seu. Sabia que o feérico não descansara direito durante os últimos dias e se deu uma sacudida mental.

          Melhor deixar que ele descanse mesmo. E se ele não dormiu no meu quarto, é porque deve estar exausto mesmo. Ou precisando de um pouco de espaço. Falei coisas sérias demais para conseguir que ele me desculpe tão rápido... Acho que é melhor eu não ir para lá com ele adormecido, sem saber se ele me quer lá... É diferente de quando saímos da funilaria e fiquei com ele porque estava preocupado...

          Az entrou em seu quarto e encostou a porta, sem fechá-la totalmente. Nuala foi fazer companhia a Cerridwen no corredor, agora que Azriel estava de volta. A verdade é que ele também estava exausto e mal conseguia raciocinar; Lucien tinha dormido mal nos últimos dias, e Azriel tinha dormido pior ainda. Nem tinha dormido por algumas noites, na realidade.

         O mestre espião tomou uma chuveirada rápida e deixou as roupas no chão do banheiro. Ele se jogou na cama e puxou o lençol macio até os ombros, deixando as asas descansando no colchão.

          Eram quase duas horas da manhã e a pista que o espectro descobriu não os levou a lugar nenhum; tinha perdido a primeira noite romântica com Lucien sem necessidade. Ninguém sabia dizer quem era o peregrino que tinha rondado o bar naquela noite; não conseguiam dizer sequer se era macho ou fêmea. Não conseguiam ou tinham sido muito bem pagos para não se lembrarem. Azriel sabia que poderia resolver essa questão de memória rapidamente com a reveladora da verdade, mas precisaria da permissão prévia de Alden ou de Thesan para torturar alguém da Corte Crepuscular que poderia estar escondendo alguma informação. No entanto, não queria falar com Alden agora porque sabia que teria que pedir desculpas por suas acusações; já tinha falado de seus sentimentos demais para um dia só.

          – Az, está tudo bem?

         Lucien estava na porta de seu quarto, segurando a maçaneta com uma das mãos e parecendo desconfortável. Ele usava apenas a calça do pijama e o cabelo solto estava um pouco arrepiado. O coração de Az acelerou em seu peito, os olhos admirando Lucien.

        – Sim, tudo bem – O mestre espião se sentou e o lençol caiu em um montinho em volta da cintura. – Por quê?

          – Nada, eu... – O ruivo jogou o peso de um pé para o outro, ansioso – Por que você veio para cá?

          – Está tarde e achei que você devia estar cansado...

          – Ah...

          Azriel enrugou a testa com a resposta de Lucien.

           – Qual é o problema? – Az percebeu que Lucien farejava seu quarto. O quê ele está procurando? O illyriano esticou a mão – Entra, Luci.

          Lucien respirou fundo, como se precisasse tomar coragem, e se sentou ao lado de Azriel na cama. Só então o illyriano percebeu o traço de medo no cheiro do ruivo. Um movimento leve de sua mão acendeu uma das luzes feéricas do banheiro, iluminando o quarto fracamente.

          – Você teve outro pesadelo?

          Lucien confirmou com a cabeça, sem olhar realmente para Azriel. Ele sentiu que o cansaço o estava deixando burro e havia alguma coisa que ainda não tinha entendido.

          – O que você sonhou?

          – Sonhei que... – Lucien mordeu o lábio, hesitante, e Az precisou se esforçar para não ficar encarando a boca vermelha. – ...que você tinha mudado de ideia e estava em algum apartamento com os peregrinos. E quando eu acordei estava sozinho, e você estava aqui...

Corte de Chamas e Sombras Onde as histórias ganham vida. Descobre agora