Capítulo 3

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      Lucien girava a taça vazia entre os dedos, perdido em seus pensamentos. Vassa percebeu que precisaria quebrar o silêncio antes que o amigo se fechasse novamente.

     - Ele recebe seus relatórios duas vezes por semana.

     - Isso não quer dizer nada. Ele é o Mestre Espião da Corte Noturna.

     - Quer dizer sim! Ele é o Mestre Espião, então tem vários espiões com quem ele trabalha há séculos que poderiam receber os seus relatórios. No entanto, é a ele que você se reporta.

       - Ele não teria delegado a proteção da Corte com a Guerra tão próxima, ele é um guerreiro.

      - E você também é! - Vassa rebateu

      - É apenas trabalho. Talvez Rhysand não confie em mim como afirma, depois de eu já ter deixado duas Cortes.  

      - Não. Ele observa você. Você. Com mais atenção do que observa os outros. Eu vi depois de vencermos os exércitos de Hybern. Não era qualquer tipo de olhar, era intenso, desejoso. E, com certeza, não era o olhar que ele lançou a mim ou a qualquer um dos outros feéricos ali. Incluindo a Morrigan.

       Vassa finalmente esvaziou sua taça de vinho, e se esticou para pegar a garrafa na mesa. Ela não fez nenhuma questão de esconder a surpresa ao perceber que restava menos da metade da segunda das três garrafas que Lucien trouxera. Ele estava mais nervoso do que ela tinha percebido.

       - Você entende - Ela voltou a falar lentamente enquanto servia enchia a taça dos dois - que ele poderia ter morrido na guerra, e você viveria pela eternidade com esse desejo não realizado? Pensando em como poderia ter sido?

       - Pela mãe, Vassa! - Lucien se colocou em pé com um pulo, mas se obrigou a sentar novamente e respirar devagar quando reparou no olhar de Vassa. Ela não o julgava, parecia tão ansiosa quanto ele com o que poderia ter acontecido contra Hybern. -  Eu tive pesadelos em que chegava ao campo de batalha e encontrava o corpo dele destroçado, os sifões azuis apagados. E quando eu finalmente cheguei ao campo de batalha, ele tinha essas enormes cicatrizes nas asas! Foi então que eu perdi completamente o controle dos meus desejos! 

        - Desejo ou amor, Lucien? Não precisa responder agora. - ela acrescentou rapidamente quando o ruivo enrijeceu as costas como se tivesse sido atingido por um raio. - Só pense nisso, está bem? Seja uma coisa ou outra, não há nada de errado em viver o que você quer.

       - Eu o quero tanto, Vassa... Se você fosse feérica estaria sentindo o desejo inundando o meu cheiro... - Lucien riu e um rubor atingiu suas bochechas - Quando estou próximo dele tenho que ficar pensando em outras coisas ao mesmo tempo pra não me perder olhando pra ele, ouvindo a voz dele... E o cheiro da pele dele, Vassa! - ele gemeu enquanto tomava mais um gole de vinho - Eu nunca senti nada tão delicioso! 

     Vassa riu delicadamente.

      - Fico aliviada de você finalmente estar admitindo o que sente, amigo!

      - Não depende só de mim... - Lucien argumentou bruscamente, olhando para Vassa com olhos ansiosos.  Ele meneava a cabeça como se percebesse que era uma batalha perdida.

     - Você é bonito, leal, corajoso e honesto. Ele seria um tolo em recusar você! E, honestamente, não acho que ele queira recusar você. Não com tanta intensidade no olhar que lhe dirige. - Vassa passou a mão pela testa de Lucien, secando o suor que brotava ali. - Acalme-se. Vamos, me conte um pouco das vezes que vocês conversaram.

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