Capítulo 88

1.4K 161 108
                                    

Lucien desceu as escadas com o cabelo ainda molhado. Não tinha feito amor com Az na noite anterior, mas sabia que o cheiro dele estaria misturado ao seu por terem dormido abraçados.

Não conseguiu convencer Azriel a esperá-lo no quarto, e também se recusou a entrar com ele como seu guarda-costas, o que ofenderia seus antigos companheiros sentinela. Demoraram um pouco demais para chegar a um consenso: Azriel se manteria escondido na sombra de Lucien e só se mostraria se houvesse alguma ameaça real. Apesar do cuidado exagerado, Lucien achou a presença oculta do illyriano reconfortante. O feérico estava pensando em como sentira falta do mestre-espião, e só na metade da biblioteca percebeu quem o esperava e estacou.

Amren estava sentada na grande mesa da biblioteca com o queixo apoiado nas mãos com longas unhas vermelhas, obviamente se divertindo por Tamlin, o dono daquela biblioteca, ter sido obrigado a esperar em pé a seu lado. Se bem que Tamlin, com o cabelo embaraçado e sujo e as roupas puídas, mal lembrava a figura do Grão-senhor encantador que tinha sido. Bron e Hart estavam atrás da cadeira em frente à mesa, com expressões de choque e tristeza.

— O que aconteceu? — perguntou Lucien, confuso pelas diferentes expressões nos rostos dos feéricos presentes.

— Nós sentimos muito, Lucien — Hart murmurou.

— Realmente não fazíamos ideia — Bron completou, e Lucien percebeu com surpresa que os olhos dos amigos estavam inchados e vermelhos.

— O que… — ele tentou novamente.

— É melhor você se sentar, Lucien — Tamlin pediu com uma gentileza que Lucien não se lembrava de ter ouvido dirigida a ele. A última vez que ouviu aquele cuidado na voz rouca, Feyre era humana e Tamlin a enviava de volta para as terras humanas em uma tentativa de protegê-la de Amarantha.

— Que drama desnecessário! — Amren bufou, revirando os olhos prateados.

— Lucien — Tamlin ignorou o comentário de Amren e voltou a falar quando o ruivo se sentou —, recebemos a carta esta manhã, um pouco antes da chegada de nossa…visitante.

Bron e Hart fungaram, Amren revirou os olhos novamente e as sombras de Azriel cutucaram a nuca de Lucien querendo transmitir alguma mensagem que ele não entendeu. Os olhos verdes de Tamlin se encheram de tristeza quando ele tomou fôlego para falar.

— Seu pai está morto.

Lucien sentiu o ar em seus pulmões virar pedra, o fogo subitamente desaparecendo das veias gélidas. Ele apertou os braços da cadeira com força quando a biblioteca começou a girar, as batidas dolorosas do coração ecoando em seus ouvidos.

Não, Helion não!, Lucien tentou inspirar e sentiu a garganta travar. A carta dele chegou ontem, o que pode ter acontecido? Estávamos prestes a ir para lá, sequer pude viver com ele.

As sombras de Azriel em sua nuca tomaram a forma da mão áspera do illyriano. Lucien sabia que ele estava prestes a se revelar, o que causaria uma confusão maior ainda, mas não fazia ideia do que ele queria que entendesse. Só conseguia pensar em Helion sorrindo para ele na Corte Crepuscular, no carinho que sempre via nos olhos âmbar quando o Grão-senhor conversava com o filho que acabara de descobrir. E agora tudo estava perdido.

Os dedos de Azriel começaram a se tornar sólidos quando Amren falou, quase aos berros, atraindo a atenção de todos na biblioteca:

Beron era um porco! — Os olhos prateados estavam fixos na base do pescoço de Lucien, onde a feérica tinha visto as sombras se mexendo de forma suspeita — Vocês não podem pensar que Lucien sentirá falta de um crápula como o Beron! — ela enfatizou novamente o nome, os olhos perfurando os de Lucien.

Corte de Chamas e Sombras Onde as histórias ganham vida. Descobre agora