Capítulo 15

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          Lucien acordou com as batidas fortes na porta de entrada. Estava de bruços com o rosto afundado nos lençóis, respirando o cheiro de Azriel, e só se mexeu quando a voz de Helion ecoou pelo apartamento:

       – Lucien! Ainda está bêbado, garoto? Nós temos uma reunião! Acorde!

        O feérico se apoiou nos cotovelos e uma queimação incômoda surgiu em seu estômago quando viu o quarto vazio. Onde Az está? O cheiro dele está nos lençóis... Ele não pode ter decidido me ignorar de novo...

       – Lucien!

      – Um momento, Helion! – ele gritou de volta e se levantou da cama para abrir a porta.

         Helion, vestindo uma túnica branca e um cinto dourado que realçavam a cor de sua pele, levantou as sobrancelhas.

       – Pela mãe! Você chegou da festa agora?

         Lucien olhou pra baixo e viu que estava com a pele manchada de vinho, o cabelo embolado e o botão da calça aberto. Ele percebeu que podia sentir o cheiro de Azriel na sua pele e que Helion também podia, antes de o rubor se espalhar por seu rosto e pescoço.

        – Calma, garoto. Eu só estava brincando, não precisa entrar em ebulição! Vai tomar um banho. Eu espero. – Helion foi na direção do bar e serviu uma bebida antes de se sentar no sofá, cantarolando distraído.

       Lucien tinha acabado pegar a primeira roupa que encontrou na cômoda ao lado da janela quando reparou no papel sobre a mesa de cabeceira. Em alguns passos ele sorriu quando percebeu que era um bilhete de Azriel. Ele não está me ignorando!  O sorriso foi breve, pois a palma de sua mão começou a fumegar. Lucien guardou o papel na mesa de cabeceira antes que o incendiasse acidentalmente e entrou no banheiro, onde estacou de frente para o espelho.

        "Ruborizado" não chegava nem perto de como ele estava. Helion tinha razão, parecia que Lucien ia entrar em ebulição, a pele tão vermelha que parecia ter sofrido queimaduras graves. Exceto que ele não sentia dor nenhuma, só calor. Lucien ficou na água gelada da banheira até sua pele perder o tom avermelhado.

       – Até que enfim! – Helion comentou quando Lucien entrou na sala vestido com a túnica cinza escuro com bordados verdes nas costas, o longo cabelo ruivo preso em um meio rabo.

       – Eu estava completamente vermelho quando entrei no banheiro. – Lucien se sentou no pequeno sofá ao lado do que o Grão-Senhor ocupava. – Demorei tanto porque minha pele não voltava ao tom normal. Não sei o que está acontecendo, minha magia já devia estar melhor depois da cura de Thesan.

        Helion foi até o bar e voltou com seu copo cheio e meio copo de bebida que ofereceu a Lucien.

        – Talvez isso possa levar alguns dias. É muito difícil alguém sobreviver ao ataque de um Devorador, praticamente não há registros de sobreviventes... Por isso os caçamos em Prithyan até o fim, há séculos atrás. – Helion tomou um gole de sua bebida antes de se virar pra Lucien – Eu preciso continuar fingindo que não percebi nada ou já posso te parabenizar por ter fisgado o Azriel? Caramba!

         Helion deu uma risada quando Lucien cuspiu um pouco da bebida no tapete antes que ele terminasse de falar.

       – Ora, por favor! Eu observo o encantador de sombras há séculos. Ele estava estranho ontem no coquetel, mais... inquieto que o normal. – Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso. – Lá estou eu, perto da gaiola dos pássaros de Thesan com a bela Nuan ao meu lado, e vejo vocês dois conversando baixinho atrás de nós, cheios de sorrisinhos e sem tirar os olhos um do outro. Mais interessados no que estavam falando do que em qualquer outra coisa que falamos ao longo da noite...

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