Yousef (2a parte) Cap. 14

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Numa amena conversa nas montanhas do Afeganistão, Omar Rasoul Sharif ia informando Yousef sobre a criação da Al-Qaeda. O primeiro encontro formal da organização com numerosos novos recrutas seria realizado dentro de dias. O derradeiro objectivo sendo a criação de uma nova nação islâmica do Sul de Espanha até à Indonésia, totalmente livre de quaisquer ocupações por exércitos infiéis e regida pela Charia.

– Presta bem atenção Yousef. A missão desta organização é fazer história. Vai ter responsáveis militares, políticos e de todas áreas de governo. Vamos perseguir os objectivos sem tréguas, na base do modo heróico como agimos aqui em Jaji e, sempre, com a graça de Deus. Ouve bem: a nossa organização precisa de ser global mas eu não sou global. Sou um árabe. Profundamente árabe. Se me tiram do meu mundo árabe não sou ninguém. Tenho consciência disso. Mas preciso de alguém de confiança do lado de lá, no Ocidente, para levarmos a jihad até eles. E não vejo ninguém mais indicado do que tu para seres os olhos, os ouvidos e a mão da justiça do lado de lá.

– Farei o que for preciso.

– Óptimo. Tenho estima por ti. Sei bem que já me carregaste aos ombros debaixo de uma chuva de pesado fogo inimigo. Não me esquecerei disso nunca, podes estar certo. Dinheiro não te faltará assim como vários passaportes para que te movas sem restrições. Tratarei de estar pessoalmente atento a tudo. A tua missão será de crucial importância. Prevejo que só conseguiremos ser bem sucedidos quando conseguirmos transportar a jihad para o Ocidente, produzir ataques e vítimas lá. Para isso terás de procurar infiltrar-te o mais possível na sociedade ocidental, entendê-los na sua pequenez para depois lhes infligirmos a seu tempo, duros golpes onde mais lhes doer. Quero que te preocupes em conhecer o seu modo de pensar – Omar apontava o dedo à cabeça de Yousef. No meio das montanhas, a cabeça do rapaz parecia que girava, sentia uma espécie de enjoo. Tudo aquilo era demasiado complexo para ser cabalmente compreendido em tão pouco tempo e quanto mais se concentrava, mais se sentia mareado. – Estás a ouvir-me Yousef? Estás a prestar atenção?

– Sim, claro. Seguirei à risca tudo o que a organização quiser de mim até à vitória final. O importante é a nossa causa.

– Apesar da valentia que tens, não penses que tudo se faz com combate directo, com choque frontal. Sei que sabes disso e é por isso que estás vivo até agora. Por isso sobrevives e és tão ágil a nadar no meio do mar de sangue à tua volta. Sabes ver o sangue com a sua cor verdadeira. Paciência, Yousef. Atacar, só quando chegar a hora certa e sempre com o máximo de recursos possível para nunca perder. É assim que deves agir sempre. Quanto aos recursos deixa comigo que proverei para que nada te falte. Irei ao teu encontro quando me for possível.

– Entendo.

– Só mais uma coisa. Dado que tão cedo não voltarás a ver a tua família, é justo que tenhas direito a passar uns dias em Djeda. Lá encontrarás o contacto que te vou dar e terás alguns dias para resolver o que precisares. Quando voltares a deixar a Arábia Saudita para trás, passarás a viver com vários nomes diferentes. Deves saber que, embora tenha dado conhecimento sobre esta tua futura actividade a quem de direito, ninguém da organização responderá por ti. Ninguém confirmará sequer a tua existência. Os teus registos de nascimento ou quaisquer outros oficiais vão ser queimados. Do ponto de vista burocrático passarás a ser não mais que cinzas que a terra um dia há-de reclamar quando chegar a tua hora. Em contrapartida, terás tantos nomes quanto a tua imaginação conseguir abarcar, encimados por inúmeras fotografias tuas em mil e um passaportes e cartões de identidade nacionais. Vou dizer-te quem deves procurar para obteres tudo o que precisas para iniciar a missão. Não voltarás a falar comigo tão cedo e não deves mencionar o meu nome nem o da organização a quem quer que seja a não ser que recebas precisas instruções da minha parte ou de alguém da minha confiança para o fazer. Compreendido?

        Yousef estava por demais zonzo. As palavras ecoavam na sua cabeça. O céu azul e as nuvens rodavam à sua volta como se estivesse montado num carrossel.

O Milagre de YousefWhere stories live. Discover now