Regresso (1a parte) Cap. 7

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10.15h

O táxi desliza pelo asfalto como se patinasse sobre gelo. Ultrapassa as demais viaturas que ocupam a estrada com a agilidade de uma cobra, atacando todos os mínimos espaços existentes no trânsito. Entra na ponte Gálata sobre o Bósforo e irrompe no bairro Fatih. O motorista Ahmet mantém sempre debaixo de olho o carro onde Nefise segue raptada.

– Com que então um saudita que renasceu na Turquia? Como é que isso é possível? – pergunta Ahmet, num momento em que é forçado a parar no meio do trânsito.

– A Turquia teve esse poder sobre mim. E deu-me um grande amor também.

– Pela mulher que vai ali no carro que estamos a seguir?

– Exactamente.

É grave o semblante do motorista ao ouvir estas palavras.

– Sei o que lhe está a passar pela cabeça. Sei o que pensam dos sauditas aqui na Turquia. Estamos sempre debaixo do jugo do preconceito.

– Bom, se de facto é meio turco, como diz, não vale a pena escondê-lo. Nós evoluímos para um modelo radicalmente diferente do modelo saudita. Queremos ser livres. Não europeus como se diz por aí, às vezes, erradamente, mas simplesmente livres e justos. Ouviu falar no caso noticiado há pouco tempo atrás de um certo barbeiro turco que vivia na Arábia Saudita? Não? É muito simples: o governo saudita considerou que ele disse algo terrível em relação a Alá e agora quer executá-lo. E depois há o modo como tratam as mulheres por lá... não está nada no topo das minhas preferências que algum dia uma filha minha case com um saudita.

– Sei perfeitamente disso – aquiesce Yousef sem nunca tirar os olhos da estrada e do automóvel perseguido. – Como lhe disse, estamos sempre debaixo do jugo dos preconceitos. Sucede em todos os países do mundo. E, contudo, sou saudita, nunca bati em nenhuma mulher e amo verdadeiramente a Nefise. Desejo fazê-la feliz. Ainda assim estou longe de ter sido um poço de virtudes ao longo de toda a minha vida. Atenção, estão a parar.

– Estou a ver.

– Pare aqui atrás.

Ahmet pára o carro uns dez metros atrás do carro perseguido numa rua movimentada.

– Boa sorte, saudita. Estão a sair do carro. Parece que vão para o Grande Bazar.

– Se não te importas, chamo-me Yousef e não saudita. Espera aqui por mim. Vai valer a pena – Yousef retira um maço valioso de notas do bolso de modo a que Ahmet as veja bem, depois entrega-lhe umas quantas e guarda as restantes no bolso.

– Essa é a parte boa dos árabes! Têm petróleo – declara Ahmet, sorridente, guardando o pagamento generoso.

Yousef salta para fora do carro e avança em direcção ao Bazar. Dentro do carro, mirando o saudita, Ahmet murmura baixinho:

– Boa sorte, saudita.

O Milagre de YousefUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum