Revelação - parte II

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Sonhos utópicos: "um passo de cada vez" tentei me consolar dizendo a mim mesma.
Rapidamente desliguei o telefone e senti mãos quentes em meus ombros.

Eu precisava me acalmar, mas não sei se era capaz.

Aliás, existem tantas coisas que eu não sei.

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- "Qual é o problema com ela?" – Pensei inúmeras vezes antes de lançar essa pergunta a ele.

- "Cansada demais pra essas coisas". – Christian me respondeu desviando o olhar para Anahí e Poncho que se distraiam com uma câmera.

- "Não é disso que estou falando, quer dizer, quem era ao telefone?" – procurei não ser questionador demais, mas quis saber se ele poderia estar por dentro de algo.

- "Não sei. Eu não faço muitas perguntas, sempre deixo que ela me conte o que a aborrece, sabe? Dulce às vezes se fecha tão particularmente que acaba mantendo as pessoas longe dela".

- "Eu sei, mas ela não é obrigada a fazer isso, ela sabe que pode confiar em nós. Eu não entendo, sério! Têm muitas coisas na Dul que ainda me surpreendem. E essa forma de se fechar é uma delas."

- "Não sei se devemos julgar. Não que eu não me preocupe, ela se manteve longe ultimamente, mas eu confio na vontade dela, sei que uma hora ela volta. Você sabe disso melhor do que eu".

- "É, eu sei" – Desviei meu olhar de Christian e procurei por ela outra vez que agora lia, em silêncio, o livro que eu havia lhe dado.

Quantas vezes eu havia me trancado em meu mundo procurando respostas para esse sentimento que me invadia com uma frequência absurda, quantas vezes eu procurei esquecer de tantas formas mais absurdas do que a própria proporção dessa invasão. Tentei me colocar em seu lugar. Não achei motivos para tanto silêncio. Por mais que eu tivesse resguardado meu sentimento por ela, uma hora ou outra eu não aguentava e achava um modo de jogar pra fora, de me livrar dele.

Por outro lado, Christian tinha razão, uma hora ela vai voltar.

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"5 minutos" – ouvi alguém falar quando distraída pela leitura de meu livro. Calmamente, levantei do sofá e me olhei no espelho. Ajeitei um pouco o cabelo e pronto. Christopher sentou ao meu lado e eu pude sentir como se estivesse me dizendo que estava tudo bem. Eu sabia que tinha que enfrentar essas entrevistas recorrentes de fim da banda e de promoção da turnê que se acabava, mas ainda não me sentia preparada pra dizer adeus nesses ambientes. Mais cedo ou mais tarde isso ocorreria, eu sei. No entanto, o que eu não podia esquecer era o que viria pela frente.

Era para ser o começo, eu repetia. Seria um intervalo, eu tentava me consolar.

A pessoa certa, o momento errado.

"Com que frequência você encontra a pessoa certa?

Apenas uma vez."

Christopher e eu não sorríamos muito. Era uma reação natural naqueles tempos, apesar de ter sido uma entrevista distinta da que estávamos acostumados a dar. As perguntas foram mais pontuais e diferentes. Pude sentir uma energia boa naquele lugar. Talvez porque nunca tínhamos ido para a Argentina com esse intuito, de fazer um show para um público grande. O frio na barriga voltou na hora que pensei que seria o primeiro e o último show que faríamos ali.

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Após a entrevista, descemos até o hall do edifício para umas fotos. Havia uma pequena concentração de fãs a nossa espera. Em uma roda conversávamos descontraidamente. Dulce evitava os olhos eufóricos e se colocou de costas para o vidro de onde nos observavam.

Enquanto arrumavam tudo para podermos sair em segurança, mantivemos a nossa conversa. De frente para ela e ao lado de Poncho, falamos sobre coisas banais. Poncho lembrou de um momento recente em que Dulce "estava nas nuvens", o que sempre aconteceu, porém, agora vinha acontecendo com mais frequência. Entrei na brincadeira e começamos a brincar uns com os outros.

Como tudo o que fazíamos, eu e Dulce, éramos muito intensos. Christian só complementava a conversa com mais gargalhadas, enquanto eu e ela comandávamos o assunto.

- "Dul, eu disse pra você prestar atenção aquela vez" – falo despertando os seus olhares – "...mas quando me virei você já tinha entrado pro mundo da lua outra vez" – Jogo minhas mãos pro alto e Poncho solta uma gargalhada, já ela, tenta se defender sem muito sucesso. Poncho me abraça e diz pra ela que não tem jeito, eu sempre tenho razão. Christian concorda com ele e os dois se abraçam. Já ela, teimosa e orgulhosa, não desiste de tentar trazer a razão para si. Poncho e Christian desistem dela e eu e ela continuamos discutindo observados por Any. Ela olha pra Any pedindo um auxilio feminino e eu levo minha unha até a boca pensando em quando ela desistiria. Poncho e Christian voltam para a conversa e eu insisto mais uma vez na falta de atenção de Dulce.

Pelo menos nos divertíamos com aquilo. Gostava de ver a sua teimosia transformada e persistência. Assim, ela começou a agir também com a nossa relação. Any também resolveu dar razão a nós e agora eram quatro contra uma.

"Desista" – pensei comigo, mesmo sabendo que mais tarde ela tocaria novamente no assunto e não sossegaria enquanto não conseguisse o que queria.

Entramos no ônibus através de um corredor de gritos e fomos direto ao hotel.

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