Livres

157 10 0
                                    

- "Sei lá, andar, por aí" – Ela sorri se levantando e pronta pra sair sem dizer nada apenas deixando-me tomá-la pelas mãos aproveitando que não nos observavam.

De mãos dadas saímos livres.

______________

Tomados talvez pelo impulso de hoje a tarde entrelaçamos nossos dedos e por alguns instantes parecíamos não nos importar com nada do que pudesse acontecer, apenas vivíamos aquele impulso, aquele momento em que nossas mãos se convertiam em uma só e nós dois desfilávamos livres, instantaneamente. Ao sair do lugar, nossos dedos se soltaram incentivados pelos olhares dos outros, como já estavam acostumados a fazer. Por mim, prolongaria esse momento o máximo possível, e logo tratei de caminhar devagar para que houvesse muito tempo para nós dois.

- "Quer falar sobre hoje a tarde? – Ele interrompeu o silêncio enquanto acompanhava meu ritmo lento e olhava sorrindo pra mim.

- "Temos o que falar? – Eu respondi com outra pergunta como fazia muitas vezes...

- "Acho que não, somos melhores agindo, não é?" – surpreendendo-me, mas ele tinha razão. Nunca fomos muito bons com palavras, magoávamos mais um ao outro ao usar delas do que do contrário, por esse motivo silêncio, por isso também, tantos olhares.

- "...melhores ou piores" – encaixo minhas palavras na sua frase fazendo-o parar e me olhar fixamente...

- "...para o bem ou para o mal, é melhor fazer do que deixar passar..." – ele já procura pela minha mão e quando acha segura firme e eu discordo, abaixando o olhar e sentindo meu coração acelerar.

- "nem sempre Chris, nem sempre" – falo em tom firme para que ele entendesse que nem sempre agir assim, por impulso, faz bem a mim. Nem sempre as ações são capazes de resolver as coisas, muitas vezes elas até as pioram.

Mas agora que ele queria falar porque eu o impedia?

Por hoje não precisávamos de palavras. Ou o medo de que essas viriam cobertas de outras mil palavras e coisas que havíamos deixado acumular, que não havíamos resolvido definitivamente. Conversas pendentes, assuntos por se cumprir. Medo que isso estragasse aquele momento. Às vezes eu me pergunto, porque sou tão contraditória? Nem sempre quando sorrio quero sorrir, nem sempre quando fico em silêncio desejo permanecer calada. Meus sentimentos nem sempre correspondem aos meus atos e é você que me consola quando olha pra mim e me mostra o caminho incerto por onde desejo me arriscar. Tu que me incentiva a me questionar todas as vezes que não faço o que sinto. E agora, novamente, tu me convidando a falar o que sinto, a gritar o que calo e eu outra vez fugindo de ti, fugindo de nós.

Eu espero que você saiba decifrar meus olhares,

são os únicos que podem responder suas perguntas, nesse momento.

Quando estávamos quase chegando a ponte que ligava aos outros restaurantes de Puerto Madero, algumas pessoas se aproximaram, pedindo fotos. Confesso que me deixei ficar nervosa por estar ao lado de quem eu sabia que não era meu amigo apenas, como dizíamos. Por saber que aquele que estava ao meu lado era quem eu tinha vontade de entrelaçar meus dedos e desfilar livremente em qualquer canto do mundo, a qualquer hora do dia, como havíamos feito minutos atrás.

Depois de nos reencontrarmos com todos voltamos ao hotel.

::

Parece que agora, todos fãs de Buenos Aires descobriram onde estávamos hospedados. A essa hora tinha bastante gente na frente do hotel e o mais adequado foi entrar pelo estacionamento, talvez porque estávamos juntos? Era sim, porque chegávamos juntos, livres sem estar...

De que nos escondíamos? De quem nos escondíamos? Por que nos escondíamos?

Esperei ela descer do carro e logo a segui. Não pude deixar de recordar anos atrás em que estacionamentos se tornavam lugares extremamente divertidos para nós dois. Segurei em seu braço tentando acompanhar seus passos rápidos. Logo, a fiz diminuir o ritmo e em um instante estávamos parados, um ao lado do outro, esperando pelo que nos faltava. Abracei sua cintura fazendo vir de encontro ao meu corpo e levantar seu olhar para mim. Pensei ter ouvido um sussurro que questionava: "aqui?".

E por quê não aqui?

______________

Disfraces y Antifaces (Português)Where stories live. Discover now