Sonhos e realidade

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- "Quanto tempo você não me chamava assim?" – Seus olhos antes pequenos de sono, agora arregalados e cheios de água.

Odiava fazê-la chorar.

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Eu não vou chorar, eu não vou chorar, do que você está fugindo Dulce? Foi-se o tempo que você se controlava pra não chorar na frente dele. Mas e o meu orgulho? Ele foi diminuindo com o passar do tempo também. Não que tenha deixado de existir, é forte como uma pedra e teimoso demais, me diga como se manter orgulhosa diante disso?

- " Amor, amor, amor..." – Ele diz se aproximando e beijando meus olhos pra juntos fugirmos das lágrimas.

- "Louco" – Digo sorrindo, com vontade, sem medo.

- "Por uma só pessoa..." – ele aponta para mim com o dedo indicador, faz uma carinha de espertinho, sabia que eu agora estava mais que vencida, não sairia do lado dele por nada. Depois me abraça e se prepara pra terminar de me matar...

...Me matar de amor...

Sua boca vem lenta ao mesmo tempo em que sua mão toca meu pescoço com calma. Eu, que de olhos fechados já estava entregue, me contagio pela sua respiração a meio centímetro de mim agora. Enquanto uma de suas mãos segurava meu pescoço a outra libertava meus cabelos da presilha e por um momento a cena se paralisa enquanto ele me olha.

- "Gosto dos seus cabelos também assim, livres, soltos" – Ouço sua voz grave que desperta meu olhar, depois abaixo meus olhos e sorrio um meio sorriso, envergonhada. Seus elogios sempre vinham ao encontro dos meus desejos, ele sabia como fazer uma mulher se sentir bem, ele sabia como agradar.

– "...Livres, soltos como um dia ainda ousaremos ser"

Depois disso, não houve mais tempo para palavras, suas duas mãos já estavam segurando a mim, mesmo eu não precisando de nada para me segurar. Eu não ia sair dali. Mas ele ainda mantinha a sua maneira de me segurar porque antigamente, eu sempre achava um jeito de escapar, mesmo não querendo.

Eu disse, antigamente.

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Aqui estamos, outra vez. Não que tenhamos deixado de estar, mas agora em meus braços é mais seguro de afirmar. Por que não somos normais? Há sempre uma discussão seguida de reconciliação e sempre uma reconciliação seguida de uma discussão. Os antagonismos de nossas vidas. Os altos e os baixos, as verdades e as mentiras, a vontade e o cansaço, a luta e a desistência, o som e o silêncio e o que mais, os sonhos e a realidade e o que mais?

O sol e a lua...

Nas nossas vidas não existe um ou outro, é um e outro. Oscilações de sentimentos e de acontecimentos e nem por isso é menos amor. A verdade é que estávamos mesmo sem estar, ficávamos mesmo sem namorar, acreditávamos mesmo sendo difícil de acreditar. Quem entende, somos nós e somos assim, goste quem quiser, doa em quem doer, acredite se tiver capacidade de crer.

Não me peça explicações, isso não se explica somente se vive,

Do nosso jeito meio ou todo inconstante, vivemos...

Segurei-a firme, como sempre fazia, como sempre fiz. Meus dedos agora penetravam pelo meio de seus cabelos e a minha boca procurava incansavelmente pela sua. E quando encontra, não espera. Tomadas pela química de nossos corpos nossas bocas se movimentam num encaixe perfeito. Eu tinha sede da sua boca e você da minha. Sua mão estava em meu peito e as minhas não tinham se movido de seu pescoço. Seu hálito quente e doce fazia meu corpo tremer e você já estava dominada pela aventura.

Eu podia jurar que em um segundo a teria sobre mim, se não fosse...

- "Christopher?" – É a voz de Poncho do outro lado da porta, paro por um segundo e ela me puxa. – "Não deve ser nada" – Falo baixo consentindo a sua vontade de não parar agora.

- "Chris, estamos preocupados a Dulce tá com você?" – Agora era Christian que batia na porta e questionava. Em um segundo a tinha sobre mim e no outro ela estava em pé, ao lado da cama, prendendo os cabelos e tratando de respondê-los.

- "Tá tudo bem, eu tô aqui" – Viro de bruços, enfio a cabeça embaixo do travesseiro desejando jogar uma bomba e explodir o mundo inteiro para que possamos ficar em paz, que seja uma só vez. Ela arranca o travesseiro da minha cabeça e me beija na cabeça, despedindo-se:

- "Temos tempo" – sorrindo um sorriso safado ela sai com leveza.

"Volta..." penso comigo em meio ao seu cheiro impregnado em meu lençol.

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Disfraces y Antifaces (Português)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin