Fome

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Ela arranca o travesseiro da minha cabeça e me beija na cabeça, despedindo-se:

- "Temos tempo" – sorrindo um sorriso safado ela sai sorrateira.

"Volta..." penso comigo em meio ao seu cheiro impregnado em meu lençol.

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Abro a porta nem um pouco afim de abri-la, mas assim são as coisas na nossa vida. Todos me olham como se eu fosse uma criança que tivesse cometido a mais terrível travessura do mundo. Sabe o que? Não dou satisfações, não falo nada. Apenas me viro e pego a direção do meu quarto, Christian sorri entendendo, enquanto Poncho já tinha arranjado outra coisa pra fazer nesse meio tempo que não fosse me incomodar, obrigada. Antes de entrar no quarto, dou uma última olhada pra trás, me lembrando de como aconteceram as coisas hoje e sorrio com vontade. Tudo começou nesse corredor e num instante, estávamos juntos...

"Louco, insensato, lindo, perfeito...e meu?"

Eu brinco com o sofrimento, eu sei...

Descrevo em meus poemas tudo o que me toca.

Tudo o que é nosso.

Sabia que terminaríamos assim, por hoje. Se bem que, o dia nem acabou! Tomar um banho pra esfriar esse corpo é uma boa alternativa agora, não? Vou rápido ligando a ducha gelada pra apagar o fogo que infelizmente ele não apagou, ainda. Que disposição! Rejuvenesci ou o que? Noto olhando meu reflexo no espelho que minhas bochechas perderam a cor amarela de antes e agora se viam coradas, cor-de-rosa e sem blush, juro. Penteio os cabelos relembrando de como ele me olhava quando eu os prendia e do seu elogio de uma hora atrás. Acho que devíamos sair, agora me deu uma fome! Termino de me arrumar rapidamente e saio em busca de todos para irmos desfrutar de Buenos Aires. A Any estava no andar de baixo enquanto os meninos, no mesmo andar que o meu. Resolvo ir até o Christian e convidar ele e Bj para jantarmos.

-"Chris?" – Bato na porta e sorrio pensando na possibilidade de sairmos um pouco e respirar ar fresco, todos juntos, claro.

- "Olá, nena" – Ele sorri e eu logo percebo o seu olhar malicioso louco pra ficar por dentro dos acontecimentos desta tarde.

- "Nem vem, tô com fome agora" – Disfarço, olhando pra ele que me abraça e aproveita pra soltar uma das suas:

- "O que? Nosso tigre não te deu de comer antes é?" – Fico vermelha e insisto no convite.

- "Vamos logo, outra hora te conto, é que realmente tô com fome" – Falo sem dar mais chances pro assunto correr, ele sorri e me apoia com um beijo na bochecha.

- "Parece que a Any e o Poncho também ficaram de ir, vou chamar o Bj e o Christopher – me olha piscando – e vamos todos, mas vai indo na frente que Bj ta no banho."

- "Ok, vou pegar minha bolsa e ir descendo" – Saio em direção ao quarto e depois encontro Pepe no elevador que já estava arrumando tudo para sairmos.

Rapidinho, entramos num carro, eu, Any, Poncho e alguns seguranças.

Destino: Puerto Madero.

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Levanto-me depois de recuperar o fôlego e corro pro banho. Coloco uma calça e uma camisa, passo um perfume, dou uma ajeitada no cabelo e pronto. Estômago roncando, depois de um pouco de esforço a fome vinha como uma sequela. Ouço baterem na porta e atendo rápido.

- "Vamos comer, tigre" – Christian me dá um tapinha nas costas e sorri.

- "Adivinhou, meu estômago tá reclamando" – Concordo rapidamente com a brilhante ideia e não deixo de perguntar – "E a Dul?"

- "Foi na frente, corre atrás" – ele fala e sorri.

- "Sem pressa" – entro na brincadeira e sorrio também.

Em um instante estávamos todos prontos. Eu, Christian, Bj e uma amiga dele entramos no carro e logo chegamos a Puerto Madero, no restaurante em que já nos esperavam. Pude vê-la de longe com um sorriso diferente.

O que me fascina é a sua maneira de ser indecifrável.

Jantamos, desfrutamos, conversamos. Alguns fãs nos seguiram, mas estiveram a uma certa distância, sabiam que os seguranças os estavam marcando. Por essa noite, tudo mais tranqüilo, não nos evitávamos tanto e eu queria mesmo é saber o que pensava aquela cabecinha louca, que se passava? Quando me olhava firme nos olhos é porque estava segura de si, confiante. Não era sempre que isso acontecia, Dulce era muito mais insegura e indecisa do que do contrário. Gostava de ver como ela se comportava depois que ficávamos juntos.

Agora era hora de saber mesmo o que se passava. Por mais que eu gostasse do mistério, confesso que às vezes me preocupava muito a sua instabilidade, seu jeito inconstante. Eu sabia de cor os seus olhares de ciúmes, os seus tons de voz na hora em que brigávamos, de como seu queixo tremia antes de começar a chorar, mas não sabia nunca quando ela estava realmente feliz. Dulce tem uma forte resistência a se sentir feliz completamente, pelos mesmos motivos de sempre, "não sei". O seu sorriso agora parecia me dizer que estava alegre, talvez se sentisse plena. Foi então que aproveitei...

- "Dulce" – chamei por seu nome enquanto ela bebia o último gole de seu copo.

- "Christopher" – Ela me olha deixando escapar um sorriso pequeno e um brilho nos olhos.

- "Tem vontade de sair?" – Respondo seu sorriso com um dos meus aproveitando pra terminar também com a minha bebida.

- "Onde?" – ela pergunta e eu decido terminar com esse enorme diálogo.

- "Sei lá, andar, por aí" – Ela sorri se levantando e pronta pra sair sem dizer nada apenas deixando-me tomá-la pelas mãos aproveitando que não nos observavam.

De mãos dadas saímos livres.

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Disfraces y Antifaces (Português)Where stories live. Discover now