Um pouco de ar

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- "Querer estar por ti e contigo, só isso. Impeça-me disso, se for possível..."
- "Não me peça isso, quem sou eu pra te impedir de alguma coisa."
- "Então não me impeça. Não me impeça de estar aqui, é mais forte do que eu"
[...]

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Naquele dia, eu não dormi, e isso não é comum a mim. Faziam dias que estávamos em outro país e na manhã de hoje, nos preparávamos para partir. Outra cidade, outro concerto final. Mais um adeus...
A saída do hotel estava marcada para às 9 da manhã, mas como tudo atrasa, eram 11 e ainda não tínhamos partido. Eu não tinha motivos pra me atrasar, aliás, poderia ter tomado banho bem cedo, estado pronta cedo, não encontrei forças para isso. Até quando eu aguento sozinha?

Inferno astral, essa semana não foi das melhores.

[Argentina, novembro de 2008]

-"Vão mesmo visitar o cemitério?" - ele diz e logo me encara de cima abaixo enquanto Poncho me puxa como de costume, e eu me despeço com um sorriso pouco.

Eu estava mesmo afim de ir, era um ponto turístico de Buenos Aires, pois lá estavam enterradas pessoas famosas isso me intrigava, talvez motivada pelo meu humor mórbido de uns dias para cá. Queria tirar esse dia para descansar de tudo e só.

Nada como o silêncio dos mortos.
Depois do passeio acabamos indo jantar.

Puerto Madero, o lugar era lindo. Fomos tratando de se acomodar em umas mesas por lá e eu logo beliscava qualquer coisa. Anahí e Christian tinham chego e por mais que o lugar fosse bonito eu não conseguia mais me concentrar nisso, porque me faltava algo, pra ser mais clara alguém. Com o passar dos minutos contados, eu não tinha mais fome só preocupação e por um impulso quase solto um grito de cobrança - por que a demora - quando o noto de longe se aproximar, vestido com o seu sorriso habitual, uma calça jeans e camisa preta. Sem demorar, puxou uma cadeira e sentou-se na minha diagonal.

Assim, o meu sorriso pouco se faz presente, ao seu dispor.

- "E então Poncho, como foi o passeio?" - ele pergunta enquanto olha para mim.
- "Foi tranqüilo, até melhor do que esperava." - eu tinha a impressão de que ninguém além de mim era capaz de perceber aquele olhar, o sorriso de que eu já estava acostumada, ligeiro, singelo e forte demais pra deixar passar despercebido, pelo menos por mim.
- "Vocês deviam ter nos acompanhado, o dia tava lindo pra ficar no hotel" - entrei no jogo dele de cabeça baixa.
- "Silencioso demais pro meu gosto" - Anahí interrompe e nos desperta.
- "A noite tá melhor, qual vai ser o destino de hoje?" - ele pergunta jogando o seu olhar lá pra fora.
- "Por que não?" - Poncho responde por mim.

Se é festa que ele quer, vamos a bailar!

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Argentina. Tínhamos estado por aqui no começo do ano, só que tinha sido um pouco diferente, ou não. Logo que chegamos eu percebi a intensidade do lugar, fãs no aeroporto, perseguições de táxi, câmeras e mais câmeras, isso me fez recordar outros lugares. Aliás, não por menos, fãs do Brasil estavam por todos os lados e algo me dizia que eles iriam tornar a nossa experiência um pouco mais intensa. Mas eu estava tranquilo, consciência tranqüila pronto pra viver esses 6 dias, enfim...

Primeiro dia e festa. Era algo de que eu precisava, já que de uns tempos pra cá eu havia diminuído o meu ritmo, nem sei porquê, nem sequer por quem, o fato é que eu estava disposto a curtir a festa, na minha. Queria que isso fosse possível, assim como queria muitas outras coisas.

- "Os fãs estão por aí" - Christian chega falando perto da nossa mesa. Eu nem prestei muito atenção no que os outros responderam, a minha atenção estava em outro lugar...
- "É bom se conter, então" - eu respondo meio minuto depois, observando de longe ela se mover com Anahí no meio das pessoas.
- "Você tá falando isso por que?" - Christian dá um sorriso malicioso e desvia o olhar pra ela.
- "Por nada" - eu pego o meu copo e resolvo ir ao banheiro tomar um ar. Até quando eu ia agüentar ficar olhando de longe? A minha cabeça está respondendo bem até agora, mas não sei até quando ela vai ser capaz de controlar o meu corpo...

Na ida ao banheiro, eu resolvo lavar o rosto, jogar um pouco de água gelada. Ela sabia o quanto isso era capaz de me provocar. Dançava provocante, com aquela blusa rosa que fazia com que ela se destacasse de longe. Mas do que eu queria me enganar? Eu seria capaz de reconhecer ela metros de distância em qualquer lugar, no meio de dezenas de pessoas, não é por causa dessa blusa que eu olho pra ela. Apoio-me na pia levantando a cabeça e olhando no espelho, "acorda Christopher, se controla".

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Disfraces y Antifaces (Português)Where stories live. Discover now