Estar perto não é físico

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Acordo indisposta e sozinha, pelas 10:30 da manhã, contra a minha vontade. Por mim, dormiria todos esses dias até chegar o dia do show, enfim...não sei como cheguei ao hotel, mas foi muito rápido, me lembro de ter tomado uma ducha e me jogado na cama. O bom de beber é que você esquece de tudo e na hora que você deita o mundo gira ao seu redor. Tudo gira, o álcool faz o seu papel, o problema é depois...como eu queria saber a que horas ele se deitou, e se sozinho, e se bem...me levanto para outro banho fazendo questão de lavar a alma e poder seguir.

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Naquela madrugada, quando cheguei no hotel, alguns fãs estavam à minha espera. Já era de se imaginar, eles se comunicam nos pequenos grupos e como havíamos saído essa noite, era comum que nos esperassem voltar. Não havia problema para mim estar com os fãs, agradecia tranquilamente cada um deles e sem pressa. Algumas fotos depois, me despedi com um sorriso e entrei no hotel. No momento que estávamos era difícil subir para o meu quarto sem pensar em parar antes no quarto dela.

Era difícil resistir aquela proximidade distante...

Resolvi ser forte e aguentar, afinal, tinha me estendido na noite e...

era melhor assim.

Depois de um pouco de insônia, finalmente pude voltar a dormir, quando me viro pro lado e olho a hora no relógio 10:43.

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Estava saindo do banho e escuto baterem na porta. Me enrolo no roupão e saio pingando juntando uns pedaços de esperança que ia encontrando pelo chão...

-"Dul" – a voz da Any estilhaça toda a esperança que juntei. – "Já vou" – respondo e diminuo o passo assim como diminuem também as batidas do meu coração, antes acelerado. Abro a porta e ela entra.

- "Que noite foi essa?" – se joga na cama preparando um interrogatório, eu que não estava muito afim, pra nada, por nada, respondo com um "ahn" sentando ao seu lado.

- "Tudo bem?...que tal se, sairmos?" – ela já me conhecia bem o suficiente pra entender que eu não sou alguém de muitas palavras, reservo minhas energias pra escrever, sozinha, no refúgio do meu interior em que só a mim é permitido entrada. –"Onde?" – resolvo apostar.

- "Sei lá, por aí, Oso vai com a gente" – num instante, me lembrei da conversa de ontem, no restaurante, eu aconselhando todos ou um só a sair um pouco do hotel, pq o dia tava lindo e tal...Resolvi aceitar o passeio, assim eu me distraio dos meus pensamentos.

– "Tudo bem" - consenti com a cabeça – "...é só o tempo de eu colocar uma roupa qualquer".

- "Sim, eu vou terminar de me arrumar e depois a gente se encontra" – ela saiu num segundo e eu tratei de me apressar.

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Não fazia tanto tempo que eu havia deitado e não estava afim de levantar, não estava afim de ficar por dentro dos acontecimentos, não ainda. Precisava de um pouco de paz e somente isso, nada que eu não conseguisse nos meus sonhos, quando eles não vinham acompanhados de uma louca, sedutora e provocante alucinação de cabelos vermelhos, que brilhavam num sol intenso. Ela, seminua, apenas coberta por um pano transparente...de longe, eu podia ver a curvatura da sua cintura. Eu caminhava, um pouco pra perto, mas não conseguia alcançar, ela como essa visão, ilusão de ótica, sei lá. No fim, quando estava a ponto de tocá-la, despertava e me encontrava com o real, mais um dia. Isso tá me matando.

Viro para o outro lado, cansado, adormeço outra vez.

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Nada como um passeio matinal, confesso que isso não faz parte dessa nossa vida conturbada que se vê muito mais intensa durante a noite, para nós, o dia foi feito pra dormir. Só que era divertido ver a Anahí surtando com as vitrines das galerias por onde andávamos.

Florida, um bonito nome, e um assalto ao seu bolso também. Algumas coisas eram baratas, até, mas não adiantava, o consumismo era mais forte e algumas sacolas já se acumulavam nas mãos do Oso, e nas nossas também.

-"Era para conhecer o lugar e não sair comprando tudo" – eu brinco enquanto Any se deixava encantar por uma calça na vitrine de uma loja.

- "Ah, olha quem fala, quantos pares de óculos você já comprou?" – sorrio e disfarço, ela tinha razão, comprar óculos fazia parte de meus vícios rotineiros, assim como comprar bolsas e sapatos.

Andávamos tranquilamente, apesar de termos a sensação de estarmos sendo observadas. Essa sensação te persegue 24 horas do dia quando se vive a vida que vivemos, cuidando para não ser flagrada em algo que renda notícias e lucros nos bolsos de alguns às suas custas, da venda de sua imagem.

Engraçado, ontem eu deixei passar despercebida essa sensação, justamente por ser ele quem me observava.

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Me levanto, agora já pronto pra outro dia. Queria mesmo é comer alguma coisa e sair por aí, mais tarde quem sabe. Tomo um banho e coloco uma bermuda apenas, me olho no espelho e resolvo deixar a barba, passo um perfume, escovo os dentes e quando me preparava para ligar e pedir alguma coisa pra comer, ouço baterem na porta. Demoro um tempo pra abrir porque eu não tinha pressa alguma. As batidas voltam e agora com mais força e sem intervalo de tempo entre uma e outra. Eu já podia sentir, sabia decifrar seu nervosismo e falta de paciência.

Ela não sabia esperar quando se tratava de nós...

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Disfraces y Antifaces (Português)Where stories live. Discover now