Não se deixe enganar

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"E sentia que com o fim da banda, atravessaríamos períodos turbulentos, não só pela distância física, ela no México para gravação da novela e eu Los Angeles, em estúdio e compondo. Combinamos que nos falaríamos sempre e nos veríamos quando conseguíssemos. O mais difícil era confiar que Dulce não desistiria de tudo, já que tantas vezes a vi desistir. Mas confesso que os tempos eram outros e estávamos dispostos. Pela primeira vez em anos, a nossa comunicação fluía sem espaço para as nossas neuroses.

E como eu esperava, os meses que se sucederam foram repletos de amor, em meio a algumas crises...Eu nunca imaginei que pudesse ser tão forte a ponto de sustentar emocionalmente a mim e a ela..."

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Ação. As palavras do diretor são lançadas e flashes de luz mirados para você. Atuar estava colado na minha pele, tamanha proximidade que tinha com minha profissão. Mas, qual era a minha versão? E o que disso era a versão do diretor? Quando você vive tão intimamente o seu ofício, desde suas primeiras palavras em vida, o que é a sua vida e o que é o seu trabalho? Me vi diante desse questionamento em diversas etapas que atravessei. Em meu relacionamento com Daniel, meu primeiro amor, depois quando me envolvi com Alfonso e toda a loucura que foi conviver diariamente com uma pessoa que havia feito parte tão intensamente de minha adolescência e juventude. Às vezes penso que fui obrigada, pela minha vida profissional, a amadurecer depressa demais. A lidar depressa demais com o trabalho e o amor, meti os pés pelas mãos, afinal era tão jovem...

Quanto de vida vivi em frente às câmeras?

Folhear rascunhos escritos por mim nos últimos dias e encontrar um mais antigo e que agora fazia tanto, mais tanto sentido, mexeu demais com minhas emoções.

"Neste mundo de fantasias e máscaras, o mais puro torna-se confuso e torna-se difícil distinguirmos o real do trivial, o banal do essencial. Às vezes a raiva é mais sincera do que um sorriso disfarçado de mentira, uma palavra áspera é mais sincera do que uma carícia fictícia que se desfaz na rotina da vida. Às vezes não valorizamos a honestidade das pessoas que ainda preservam a verdade, nos deixamos levar pelo que os outros falam, fica mais fácil acreditarmos em pessoas disfarçadas. E no final quando nada mais tem disfarce, quando só resta o seu desejo de amar, talvez você se encontre sozinho repousando os dias de sua vida em que encontrou o amor e o deixou passar, em que encontrou lealdade, e não soube valorizar, porque era mais fácil flutuar do que arriscar de verdade e se entregar até o fim. Não se deixe enganar, observa com muita atenção depois de simplesmente olhar!"

Não se deixe enganar, observa com muita atenção depois de simplesmente olhar!"

Queria pedir que ninguém se deixasse enganar pelo aparente. Queria pedir que não deixassem de acreditar na magia que construí dia a dia em todos os momentos que estive submersa na vida que ultrapassou as telas e passou a ser a minha vida real.

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Meu celular tocou e sorri ao ler seu nome na tela.

-"Meu amor, já estava saindo para te buscar... Está tudo bem?"

- "Estou com saudades, preciso de você aqui... Achei uns rascunhos do meu livro e me deu uma nostalgia... queria partilhar com você, parece que o passado repete-se no futuro...estou um pouco pensativa sobre isso."

- "Já estou de saída, nos vemos e continuamos essa conversa, está bem? Fique tranquila, tudo está no seu devido lugar."

- "Sim, tenha cuidado meu amor. Te quero muito."

- "Também te quero..."

Desligo o telefone e logo termino meu trabalho no computador. Tomo um banho rápido, passo um perfume amadeirado, do jeito que ela gosta e eu também, coloco uma calça jeans escura, uma camisa azul, pego as chaves de meu carro e desço rapidamente.

Quando chego a sua casa, ela está com os olhinhos baixos, a agarro rapidamente e a beijo, assim descarado, na porta de sua casa. Ela usa um vestido leve de flores azuis e amarelas pequeninas e uma jaqueta jeans, assim casual.

-"Meu amor, por que demorou" - Levei meia hora desde que nos falamos, mas pude notar que ela tinha um pouco de ansiedade na voz.

-"Linda, você está linda...vamos logo, quero te levar num restaurante que me indicaram, você vai amar, tenho certeza."

Corremos de mãos próximas, quase entrelaçadas para meu carro e no caminho fomos ouvindo rádio, tocava Adele e ela amava. Ficamos em silêncio e curtindo o momento. Coloquei minha mão em suas coxas para ver se a distraia um pouco do seu mundo dulce & por vezes amargo. Ela apoiou seus dedos nos meus e depositou um beijo suava em meu pescoço...

-"Assim vou ter que mudar o rumo, vamos ao motel!" - Sorrio de canto e ela me bate levemente nas mãos.

- " Você está louco, Christopher, você está louco..."

-"Sou Dulce Maria, sou louco...você sabe da minha loucura por..." Olhei com meu olhar mais atrevido e ela sorriu também... Assim que a queria, seu sorriso me abastecia.

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-"Uau, comida tailandesa. Você com certeza andou olhando as minhas buscas recentes?" - Sorri e o abracei antes de entrarmos no restaurante em Colônia Condessa, bairro da cidade do México em que Christopher mantinha seu apartamento.

-"Meu amor, você não sabe que deliciosa essa comida. Queria muito que você experimentasse comigo..."

- "Você não é real...não pode ser." - sentei enquanto ele puxava a cadeira para mim e passei minha perna na dele por baixo da mesa assim que se acomodou.

- "Sou mais real do que você possa suportar... quero ver até quando me aguenta." - Ele ri me desafiando...

-" Não diga isso, pequeno" - coloquei minha mão em cima da dele como estávamos no carro minutos atrás, enquanto ele abria aquele sorriso malicioso que eu amava.

-"Sabe de uma coisa, hoje vamos experimentar uma bebida diferente...Algo mais exótico, apimentado. O que me diz?"

-"Você não presta."

-"Ora Dulce Maria, você precisa se decidir, ou eu não existo porque sou, segundo suas palavras, bom demais ou eu não presto..." - Rimos juntos enquanto o interrompia prontamente.

-"Nunca disse que você é bom demais... Você, digamos assim, sabe o que fazer nas horas que deve fazer" - Rapidamente ele me rouba um beijo e eu levo minhas mãos a boca não acreditando em sua atitude destemida e descarada...

- "Christopher. Não podemos. Você sabe..." - já não adiantava tentar barrá-lo nesses momentos. E eu também não me sentia mais no direito de dizer o que ele podia fazer ou não diante dessa situação: nosso namoro escondido e meu namoro público com outro.

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-"O que não podemos?" - Faço a cara mais surpresa e cínica do mundo e ela me repreende com seu olhar maduro.

-"Pare com isso. Não seja atrevido!" - Sinto o cheirinho da comida e o garçom nos serve como pessoas comuns.

-"Você sabe o que mais amo aqui?" Ele fala baixinho enquanto vejo meu prato ser servido e sinto água na boca...

-"Que podemos ser apenas nós mesmos, como se não se passasse nada e isso é o que mais amo da minha nova vida sem o RBD. E você, meu amor, o que mais ama da sua nova vida?"

-"Humm" dou uma garfada na comida deliciosa e após engolir, respondo-o - "Eu não sei".

Foi nessa hora, nessa conversa simples com ele que me dei conta de que eu realmente não sabia dizer nada sobre a minha "nova" vida.  Lembrei-me do poema que havia encontrado mais cedo e tirei do bolso entregando a ele. Ele leu prontamente e quando terminou fez uma cara séria.

-"Parece a nossa história...cheia de disfarces e máscaras..." - Abaixo a cabeça evitando seu olhar por um segundo e ele continua...- "Isso vai terminar, Dul, logo..."

Depois de cerca de 2 horas no restaurante, percebemos que a bebida já estava fazendo efeito e a comida apimentada também.

-"Vamos sair daqui?" - o convidei de forma abrupta e ele cedeu ao meu desejo.

Naquele dia não deu tempo de chegarmos ao apartamento dele, nos amamos no carro mesmo, desprovidos de qualquer sanidade, foi uma das noites mais loucas que vivi com ele, porque gostávamos do proibido e de certo modo, percebi que buscávamos isso.

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