Inquietudes

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Depois de um tempo desisto da tv. Procuro algo para ler, um jornal, uma revista, mas logo desisto também. Levanto-me em direção ao banheiro e a vejo adormecida, encolhida no canto da cama.

Parece um anjo.

Sorrio e sento na poltrona ao lado dela, sigo observando. Sem se mexer parece estar num sono profundo, podia estar sonhando? Essa era a terceira vez em menos de 20 minutos que eu desistia de alguma coisa: desisti de observá-la.

Eu estava inquieto, não era fácil resistir.

Deitei ao seu lado, procurando trazê-la pra perto de mim. Devagar, coloquei meus braços ao redor da sua cintura tratando de aquecê-la. Sua cabeça agora recostada em meu pescoço. Com um pequeno beijo, desejo bons sonhos em meus pensamentos, para ela e para mim, e que depois dos sonhos, possamos acordar finalmente juntos, para a realidade.

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Acordo melhor, não demorou nem um segundo para eu entender o porquê disto. Eram seus braços, sua respiração, seu corpo quente encaixado ao meu. Era simplesmente ele. Seus braços em minha cintura fizeram surgir um calafrio que veio subindo por meu corpo. Passou como um frio pela barriga e chegou aos meus olhos que fechados, fantasiavam. Segurei firme, seus dedos, entrelaçando-os com os meus, sentindo imensamente o prazer que ele era capaz de provocar em mim só por estarmos ali, colados. Fico pensando se houvesse algo mais.

Como me falta...

Eu não queria me levantar, não dali, não agora. Fiquei, sem olhar o relógio, sem preocupações que afligem. Apenas permaneci, permaneci rodeada por seu cheiro, usufruindo do calor do seu peito, quase era capaz de ouvir as batidas do seu coração. Quem diria, nós dois, assim. Sempre fomos paixão e corpo, antes de tudo. Antes do amor, vinha a vontade e antes dela já sentíamos saudade. Eu nunca resisti a nós dois e agora podia entender a seriedade do que tínhamos pra sermos capaz de estarmos na mesma cama sem segundas intenções. Seja honesta Dulce, não minta, elas existem, só que era diferente. Amando nos permitíamos viver com calma porque se sabe que o amor não vai passar e quando menos esperarmos, vamos estar juntos outra vez. Será? Tanta ilusão. Mesmo assim, eu ainda não era capaz de acreditar, como crescemos, quando crescemos?

Sinto-o se mover.

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Sou capaz de sentir seus movimentos delicados, talvez com medo de me acordar, talvez sem forças pra resistir. Não a culpo, sei muito bem como é. Só que agora, tínhamos que nos cuidar, não queria ser responsável por possíveis preocupações e discussões depois da cama. Neste momento, não sou tão capaz de controlar meu corpo e posso dizer que as coisas estavam ficando quentes por aqui.

- "Acordada?" – Interrompo nosso silêncio...

- "Sim" – Ela pronuncia a palavra quase inaudível e eu aperto-a contra mim.

- "Dormiu bem?" – Aposto que sim.

- "Tranquila."

- "Deixa eu te ver" – A viro um pouco fazendo ficar de perfil depois de soltar lentamente de suas mãos.

Coloco minhas mãos sobre a sua barriga e arrisco um carinho.

- "Acho que tá na hora de eu ir. Obrigada" – Ela se prepara para levantar e eu a seguro, impedindo.

- "Fica, meu amor" – De imediato provoco a sua derrota, agora sentada, ela se vira completamente para mim e fala baixinho...

- "Quanto tempo você não me chamava assim?" – Seus olhos antes pequenos de sono, agora arregalados e cheios de água.

Odiava fazê-la chorar.

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