Taylor Bassett continuou encarando a paisagem por alguns segundos antes de quebrar o silêncio desesperador que se instalara entre ambos naquele ambiente.

— Estou muito decepcionado, garoto. — foram suas únicas palavras. Seu rosto estava vazio naquele momento, como se tentasse reprimir a dor de algo profundo. Esconder todo e qualquer sentimento que pudesse se encaminhar até seu rosto e exibir sua verdadeira face, o que verdadeiramente sentia.

Ruel respirou fundo. Nada além do que ele já esperava.

— Não com você, é claro. — o homem acrescentou rapidamente após perceber o comportamento do jovem ao seu comentário — Com Thomas. Thomas era filho de meu irmão, eu o vi crescer, compreende? — seus olhos estavam vagos, perdidos no tempo, há anos de distância.

Ruel balançou a cabeça afirmando.

— Esperava isso de qualquer um, menos dele. — o homem prossegue — Sangue do meu sangue, nosso sobrenome. Eu confiava nele, era meu sobrinho. Por isso ofereci a mão de Clarissa à ele, acreditei que ele pudesse ser um cavalheiro para a filha de um amigo tão querido como John. — Taylor respirou profundamente arrastando o olhar para o chão — E no final, fui traído pela minha própria família. — Seus olhos encontraram o rosto compreensivo de Ruel — Minha criança, eu que lhe devo desculpas. E à John também. Prometi à seu pai que cuidaria de você como um filho meu, como cuidei de Joshua, mas no final só lhe trouxe problemas e o coloquei em perigo. Falhei com meu dever.

Ruel sorriu levemente de lado, um gesto que significava "Está tudo bem. Obrigado."

— O senhor sempre será parte da família. Não falhou com meu pai. Ainda estou aqui, não estou? É tudo o que importa no momento. Não sou sangue do seu sangue, mas o considero assim como considerava meus pais.

Taylor colocou a mão no ombro do jovem duque com a guarra e apreciação de uma figura paternal, e disse com os olhos cheios de emoção:

— Quando disse que cuidaria de você como cuidei de Joshua, não estava blefando. Sempre será como um filho para mim, Ruel. Sempre que precisar de algo ou alguém, sabe que pode bater à minha porta, não sabe? — perguntou balançando o ombro de Ruel.

— Sim. — o duque respondeu sorrindo, agradecido.

Ruel se sentia um tolo por não ter percebido a presença constante de Taylor anteriormente. Sempre lhe dando apoio e amparo. Sempre por perto. Até mesmo à pessoas próximas a ele. Se antes o jovem se sentia sozinho, agora ele poderia contar com um sentimento antigo, não muito explorado há um bom tempo. O conforto de um pai.

E se realmente precisasse disso, bem, então Taylor Bassett seria a pessoa certa.

— Seu pai alguma vez já lhe contou o que costumávamos fazer quando estávamos juntos?

— Não muito, eu ainda era jovem. Não compreenderia. — Ruel brincou.

— Não é o que está pensando, seu grande libertino. — disse o mais velho com ar de riso — Costumávamos jogar xadrez. Sempre deixava seu pai ganhar para que se sentisse bem.

— Deixava, é? Ou é apenas uma desculpa?

— Não sou homem de mentir para minha própria glória, Sr. Vincent. Seu pai era um perdedor no xadrez.

— Ele costumava apostar?

— Não, jogávamos apenas por diversão. Era algo nosso. Costume de Cambridge.

— Engraçado, nunca o vi com tabuleiros em casa.

Taylor deu de ombros sem saber responder.

— Talvez tivesse medo de, finalmente, descobrirem que ele era péssimo em algo.

Ambos começaram a rir, se divertindo com a observação que não parecia tão longe da realidade.

— Bem, — Ruel disse — devo ir agora. Estou cheio de trabalho pelo resto do dia.

— Que pena, estava adorando a companhia de Vossa Graça. Gostaria de ter outro momento igual a este qualquer dia. Que tal um pub?

— Eu certamente apreciaria.

— De acordo, então.

— Foi um prazer conversar com o senhor, Sr. Bassett.

— O mesmo para o senhor, Sua Graça.

Ruel fez uma leve mesura para o visconde e se retirou, caminhando em direção à mesa de café da manhã, que já estava posta. Ruel apenas sentou em uma das cadeiras e comeu alguns biscoitos e fatias de bolo. Frutas também, certamente, mas nem tanto, já estava sem fome. Enquanto pensava no que realmente iria fazer dentro de seu escritório durante o dia, olhou para o relógio na parede e percebeu que já estava na hora de todos os presentes se levantarem para tomarem o café. Droga, ele praguejou. Preciso ir antes que alguém chegue, perdi a noção do tempo com Taylor. Levantou da cadeira e saiu do local a passos largos...

Até esbarrar em alguém na virada para o corredor.

— Ah! — Ruel ouviu um grito. Um grito de uma mulher.

Quando olhou para a sua — quase — vítima de um acidente, o duque percebeu que olhava diretamente para Elizabeth White.

— Mil perdões, Srta. White. A senhorita está bem? — ele perguntou checando seu estado de longe, sem tocá-la.

— Sim, acho que sim. — ela o reverenciou em respeito — Bom dia, Sua Graça.

— Bom dia, Srta. White.

— Que belo jeito de começar o dia, não?

— Me perdoe, estava saindo às pressas e...

— Percebi. Mas estava indo para onde com tanta pressa? Se me permite perguntar, é claro.

— Estava... — Ruel pensou em sua mentira já pronta — indo trabalhar. Para o escritório.

— Trabalhar? Neste lindo dia? Não, o senhor precisa apreciá-lo hoje. Ninguém sobrevive a tanto trabalho. — ela moveu-se rapidamente e se pôs ao lado de Ruel para que ele pudesse oferecer-lhe o braço — Além do mais, ninguém merece estar em um lugar como este e não aproveitar cada centímetro dele.

— Srta. White, eu realmente gostaria de acompanhá-la, mas...

Antes que terminasse, Ruel foi interrompido por uma voz familiar vinda logo mais no corredor. Droga, pensou. Droga, droga, droga.

Era tarde demais para fugir.

— Vincent! Bom dia.

Era Joshua.

De braços dados...

Com Clarissa.

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