32 - Who tells your story?

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volteiih :P

— Eu juro que um dia ei de matar este canalha! — Ruel esbravejou enquanto estava sentado à mesa durante o almoço. Garret havia lhe trazido o jornal semanal para mostrar a novidade.

"Brigas — literais — da alta sociedade!"

Que novidade!

A mão de Ruel estava enfaixada devido à noite anterior. O médico havia dito que não quebrara nenhum osso, o que já era alguma coisa, mas sua imagem de um doce cavalheiro com certeza estava quebrada para todos. Inclusive para Clarissa. Se não fosse por seu descontrole, talvez ninguém estivesse falando dela novamente nos jornais. Precisava arranjar algum argumento para defendê-la dos boatos que cresciam. Talvez agora o temessem pelo que tinha feito naquele pequeno cômodo, e por mais que isso o incomodasse, Ruel não se sentia ameaçado por esse sentimento, se era um duque, o medo alheio deveria ser seu fiel parceiro.

Ele levantou da cadeira em um impulso e caminhou em direção ao saguão de entrada principal. Precisava sair dali. Precisava pensar.

No meio do caminho Anthony parou à sua frente e sussurrou:

— Com todo respeito, sua graça. Mas, por favor, não faça nenhuma besteira.

Ruel o encarou. O olhar paterno do mordomo o acalmava, mas não o suficiente.

— Não trarei mais problemas.

Então desviou do corpo estático de Anthony e saiu. Ruel estava furioso demais. Tanto consigo mesmo quanto com o que tinham escrito no jornal. Era sua culpa, mas fez uma nota mental de que resolveria esses assuntos com o escritor da matéria mais tarde.

Só possuía um lugar em mente. Um lugar que poderia pensar e admirar ao mesmo tempo, longe da correria e da pressão do centro de Londres. Ela não estaria lá, com certeza não estaria. Nesse exato momento seus pais já teriam a trancado em seu quarto pelo resto de sua vida por ter estado sozinha com dois homens em um cômodo fechado. Com certeza estaria sozinho. Exatamente como queria. Não tinha coragem de encarar Clarissa naquele dia, talvez nem no próximo, e nem em todos os outros.

Estava, desesperadamente, tentando superar Clarissa, mas parecia que a cada dia que passava, cada decisão que tomava, ele só a atraía. Não importava o quanto tentava fugir, sempre se encontrava encarando seus olhos castanhos em algum lugar da cidade.

Com certeza seria uma decepção para seus pais, conseguia ver e escutar Ralph dizendo como se ele ainda estivesse ali: "O que pensa que está fazendo, filho? Sempre enfrente os problemas de cabeça erguida e com autocontrole. Nunca deixe alguém manipular suas emoções, você é um Vincent van Dijk. Você os manipula."

Dessa vez não fez questão de ir com a carruagem até o meio do caminho. Montou em seu cavalo e partiu em direção ao campo gramado. Queria sentir a brisa da tarde londrina.

O vento batia em seu rosto e balançava seu cabelo, clareando seus pensamentos. Já havia saído da área de residências, então atiçou seu cavalo para que acelerasse. As batidas de seu coração pulsavam no ritmo das patas do animal que batiam na terra. Aquele sentimento poderia se igualar à sensação de ser livre? Ruel gostaria de ser livre. Não estar amarrado à padrões, expectativas e deveres. Ao menos o campo era um refúgio, mas ainda assim, temporário.

Árvores passaram, terra batida contra as patas do animal. O cheiro de terra molhada e então a grama verde. Estava tão perdido em seus pensamentos que nem percebeu o ponto preto se aproximando na paisagem conforme cavalgava. Thunder estava amarrado à árvore no topo da colina com uma silhueta encostada na árvore.

Clarissa estava onde ele havia planejado estar sozinho minutos atrás.

Não dava mais para dar meia volta sem passar despercebido. E Ruel também não sabia se realmente queria procurar outro canto para descansar. Aquele estranho sentimento em seu peito que ele tanto insistia em afastar, voltando a crescer. Não, ele dizia para si mesmo. Sim, ele lhe dizia de volta. A batalha interna não durou muito, pois quando deu por si, já estava quase ao lado de Clarissa.

Through the time • RuelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora