19 - If these walls could talk

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— Lady Williams?

Ela se curva diante da presença de Ruel.

— Vossa graça.

O movimento não passa despercebido por ele.

— A senhorita leu o jornal...

— Para falar a verdade, vim até aqui para falar sobre o que estava escrito nele. Sinto muito, eu não sabia sobre seu...

— Por favor, — ele a interrompe — podemos conversar enquanto caminhamos pelo jardim? Há muitos olhos aqui dentro.

Clarissa não entende o pedido de Ruel, mas aceita mesmo assim. Um pouco de privacidade não machucaria ninguém, mas...

— Terá alguém conosco?

Ele faz uma expressão confusa com o rosto.

— Quer dizer... — ela tenta se explicar — não me leve a mal, por favor, mas sou uma mulher prestes a se casar, não posso ficar sozinha na presença de outro homem que não seja meu noivo.

— Ah sim, claro. Os guardas estarão divindo a paisagem conosco, pode ficar tranquila.

Ela sorri.

Ruel oferece o braço para Clarissa segurar.

— Me permite? — ele pergunta olhando para a jovem com ternura.

Ela encara o braço de Ruel. Até aquele momento não havia pensado no que aquilo significava. Vê-lo a certa distância era doloroso, mas tocá-lo e sentir o calor de seu corpo contra o dela? Seria mais ainda.

Não que ainda o amasse e sentisse a necessidade de ficar longe para não fazer alguma besteira, é claro que não. Doía o fato de um dia terem sido tão próximos e agora parecerem...estranhos. Sim, essa era a palavra certa. Estranhos. Distantes.

Como se nunca tivessem tido contato ou dito que se amav...

— Srta. Williams? — Ruel chama pela, possivelmente, terceira vez seguida, e a tira de seus devaneios.

— Desculpe, o que disse? — ela pisca constantemente tentando voltar à realidade.

— Perguntei se me permite. — ele olha para seu braço solto que estava envergado para que Clarissa segurasse, e olha para ela, oferecendo-lhe a companhia.

— Ah sim, claro.

E então Clarissa segura o braço do homem esbelto à sua frente.

Por mais que sua roupa fosse grossa e tivesse toneladas de tecidos acima da pele, Clarissa ainda pôde sentir o calor de seu corpo. Deus, o quanto sentiu falta dessa sensação.

Mal podia acreditar que o homem que pensava estar morto por tantos anos agora se posicionava bem ali, de pé, ao seu lado. Mais vivo e radiante do que nunca.

Ao chegarem a uma distância razoável da casa e de todos os criados, finalmente estavam seguros de ouvidos atentos e línguas afiadas demais.

— Enfim sós. — Ruel diz soltando um longo suspiro.

— Qual o motivo de estarmos aqui fora? — Clarissa pergunta olhando aleatoriamente para a paisagem.

Ruel olha para ela de soslaio, pensando cuidadosamente nas palavras que usaria em seguida.

— A senhorita leu o jornal.

— Sim, e é exatamente por isso que estou aqui. Queria dizer que sinto muito, de verdade. Não sabíamos que seu pai havia... — ela não continua.

— Morrido. — ele complementa — Para falar a verdade, ninguém deveria saber.

— E para quê esconder?

Through the time • RuelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora