Capítulo 85

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Chapter 85

Acordei ofegante e suada. Olhei ao redor, sem sangue, sem pedaços de corpos pelo chão e sem nenhum mascarado.

-Você está bem?

Olhei para o emissor do meu lado direito, com a voz calma. Me sentei na maca e comecei a chorar. Que pesadelo terrível, este fora de longe o mais angustiante e assustador de todos. Fiquei um tempo daquele jeito, pensando em coisas ruins, na perda de Obito, na morte de Rin, a noite sangrenta, a perseguição de Hera, as brigas bestas que tive com meu melhor amigo...Depois fui trazendo lembranças ruins de anos atrás, como a morte de Yumi e Sakumo, queria que minha irmã estivesse viva, queria que meu primeiro professor particular estivesse vivo.

-Será que nunca vai parar? As mortes por sacrifício? Mortes por guerra? Brigas?||Questionei-o retoricamente, e daí lembrei que deveria fazê-lo se sentir melhor, e não o oposto disso. Por mais doente que eu esteja psicologicamente, eu preciso que Kakashi fique bem.

Tentei me levantar para ir até ele, mas meu corpo protestou e eu contraí de dor. Como eu vou ajudar alguém, sendo que eu também preciso de ajuda? Enxuguei minhas lágrimas e o olhei, sem compromisso, apenas cravei meu olhar no seu, esperando que ele fizesse algo para nos entreter naquele tedioso quarto de hospital, onde não tinha nem televisão. Ele deveria estar esperando a mesma atitude da minha parte, porque ficou calado, apenas me observando, com o olhar triste, perdido. Eu estiquei o braço e o vi fazer o mesmo, um pequeno gesto, o máximo que eu poderia fazer agora, demonstrar que estávamos juntos nessa, no mesmo barco, se um afundar, os dois afundarão.

-Nós vamos passar por isso, eu prometo||Tentei tranquilizá-lo, mas seu rosto permanecia com a mesma expressão, sem motivação, cansado. Ele não falou nada, fiquei incomodada, agora que já tinha conhecimento dos FACS, ficava mais fácil diagnosticar o meu amigo, ele estava com início de depressão, senão já estivesse.

Eu tentei novamente me levantar, não vou perder mais uma pessoa para essa maldita doença, meu corpo protestou de novo, mas eu continuei, desci da maca e levei o soro comigo. Kakashi me observou calado, eu precisei incentivá-lo a se mover na maca, para poder me deitar com ele. Fiquei aconchegada próxima ao seu corpo, ele estava frio, geralmente era Kakashi que me aquecia no inverno, quando nem o aquecedor da casa conseguia me manter quente, dessa vez era eu que deveria fazer esse papel para ele. Segurei sua mão que não estava com o soro na veia, escondi meu rosto embaixo do seu e fiquei em silêncio, absorvendo sua energia para mim, e eu faria mil vezes se preciso. Ainda estava cedo para dizer que ele iria ficar bem, que ele não entraria em depressão, eu me sinto péssima só de pensar na possibilidade. Perdida em pensamentos, demorei para perceber que estava afagando a minha mão na sua, já era natural eu agir desse jeito para tranquilizar as pessoas. Kakashi permaneceu quieto, reflexivo, sequer mexia no meu cabelo, uma coisa que, quando tinha oportunidade, ele fazia.  Eu não queria dormir, tinha medo de ter o mesmo pesadelo, de novo, de novo e de novo. Notei que Kakashi havia dormido.

Uma enfermeira entrou no quarto e me repreendeu pelo olhar, eu não deveria estar na maca de outro paciente, ela estava prestes a me mandar sair, quando o Doutor Connor entrou e permitiu que eu ficasse. Pediu silenciosamente que eu tomasse cuidado. Eu assenti. Bebi água e tentei beliscar a comida que a mulher trouxe, mas eu podia dizer com todas as palavras que a comida do hospital era a pior de todas, por não ter gosto e ser bem gelatinosa. Pensei em coisas para absorver a energia negativa de Kakashi, quando chegássemos em casa, primeiro teria que retirar a energia negativa da própria casa, desde que Yumi, Sakumo e Obito morreram, aquela casa parece um cemitério, tudo tão ruim, tão pesado, só ficará mais pesado quando Kakashi chegar lá e isso pode piorar o estado dele. Certo, então irei fazer uma limpeza lá. A segunda coisa a fazer será incentivá-lo a sair de casa, por mais que nós só passemos 30 ou 15 minutinhos fora dela, sentir o calor do sol, ver pessoas e tentar fazê-lo absorver a positividade delas. A terceira coisa será conversar, até ele se sentir leve novamente.

Bolar um plano para fazer Kakashi melhorar e não entrar em depressão, se tornou minha maneira alternativa de ocupar minha mente, principalmente para não pensar naquela noite. Comecei a sentir frio e fiquei tentada a me levantar para pegar o lençol da minha maca, mas isso significaria acordar o garoto, e eu não queria que ele pensasse demais, não enquanto estivéssemos no hospital, depois ele precisaria pensar e fazer o que eu estava fazendo nesse momento, distraindo minha mente. Fiquei encolhida na cama e virei para o lado oposto. Eu veria o sol nascer, não estava com sono, mas meus olhos ardiam e se eu pregasse o olho, provavelmente dormiria. Pisquei algumas vezes. Fique acordada, Kyara. Quanto mais eu pensava em ficar acordada e manter os olhos abertos, mais pesadas ficavam minhas pálpebras. 

-Por favor, eu não quero ter aquele pesadelo de novo...||Sussurrei o mais baixo possível, esperando que o bicho papão concedesse à mim, uma noite tranquila.

Abri meus olhos novamente. Dei de cara com o mascarado, o quarto não estava ensanguentado, mas a paisagem do outro lado da janela me lembrava daquela missão, a lua estava vermelha, a mesma lua. Escutei os gritos, os mesmos gritos de antes, agoniados, suplicando por misericórdia, pessoas se engasgando no próprio sangue. 

-Pare||Implorei, me sentando no colchão||Pare! Por favor!

Nada mudava, só parecia piorar. Foi então que meu peito explodiu em um ataque de pânico, o mesmo que senti da primeira vez. Fechei meus olhos e tampei meus ouvidos. Forcei minha mente a pensar em outra coisa, qualquer outra coisa seria melhor que aquilo. "É só um pesadelo", pensei, repetidas vezes. Soltei um grito, por não conseguir calar aquelas vozes da minha cabeça, gritei por não conseguir pensar em outra coisa. E então, comecei a chorar de desespero, por ter consciência de que estava sonhando, mas não conseguia acordar de forma alguma. "Acorde, Kyara, acorde!".

Continua...

Dattebane!

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Dattebane!

Comings and goings ||Kakashi HatakeWhere stories live. Discover now