38. Ar parte 3

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Hugo, sentado em frente às portas do reator, espera, a arma apontada para o final do corredor, mesmo a lanterna estando apagada e presa em seu cinto. Ele toca o comunicador e sussurra:

 - Capitã, onde você está?

Apenas o silêncio o responde, mas ele percebe que os passos pararam por um momento. Hugo aperta a arma em suas mãos e então vê a luz de uma lanterna iluminando o final do corredor. Ele sabe quem é. Assim que a luz avança um pouco mais, ele atira.

Tomas se joga para trás, se protegendo atrás da curva do corredor. Ele joga o facho da lanterna para o corredor, mas da distância em que está não consegue enxergar quem está do outro lado. Olha para o pé de cabra numa de suas mãos e o pousa no chão, sem ruído, tirando a arma do coldre.

No chão, Hugo analisa a situação. Se tentar andar, ficará vulnerável demais, mas há uma chance de conseguir chegar à Segurança e entrar numa ventilação. Podia aproveitar o fato de a luz dizer onde Tomas está, e mostrar se ele irá avançar ou não, para ir devagar até a Segurança. Se fizer isso, sempre voltado para o fim do corredor, talvez consiga sair dali.

Devagar, se levanta, tentando fazer o mínimo de ruído, e então dá um passo na direção da Segurança. O rosto sempre voltado para o final do corredor, ele avança um pouco mais. Mas mesmo não querendo, é impossível fazer com que seus passos não sejam ruidosos. Tomas, ao ouvir o barulho, sorri.

 - É inteligente, Hugo - diz. - Usar a minha lanterna para saber onde estou. Mas e se eu...

Tomas pega a lanterna acesa e a joga na direção de Hugo. A lanterna avança, girando e iluminando o corredor em partes, a luz cegando Hugo por alguns momentos quando o feixe aponta para ele. No segundo que a lanterna ilumina Hugo, ele atira, assim como Tomas. Hugo sente a bala passar de raspão por seu braço e se joga para trás, caindo ao não ter apoio. Com a lanterna no chão ele consegue ver Tomas apontando a arma para ele e, num ápice, aponta a própria arma para a lanterna acesa.

O tiro de Hugo acerta a lanterna, que apaga, deixando-os envolvidos na escuridão. Hugo rola para os lados, enquanto os tiros de Tomas soam: um, dois, três, todos mirando no local onde Hugo estaria se ele não tivesse saído rapidamente.

Hugo sente a respiração se tornar mais alta e cobre a boca com uma das mãos, enquanto a outra aponta a arma para a escuridão. Sente a lanterna em presa em sua cintura. O estridente som dos tiros deu lugar à um silêncio aterrador, onde qualquer ruído indicaria seu local exato. Ele engole em seco e, novamente, se levanta devagar.

Suas mãos tateiam a parede, que ele usa para se apoiar enquanto dá alguns passos na direção que estava seguindo anteriormente. Um tiro soa no escuro, acertando algum lugar que ele não sabe onde é, mas não pode se impedir de sobressaltar. Para, por alguns segundos, ouvindo. Sua perna machucada dói.

Ele não consegue ouvir nenhum ruído que Tomas faça naquela escuridão. A qualquer momento ele pode levar um tiro e morrer, sem ao menos saber de onde viera o tiro, ou ver Tomas.

Hugo tira a lanterna do cinto, encostado à parede e a segura junto à arma, os dois braços esticados. Ele vai ter que tentar, uma única chance. Iluminar e atirar. Se ele iluminar de repente, os olhos de Tomas serão cegados por alguns segundos e ele pode ter a oportunidade de atirar e acertá-lo. Ele só precisa de uma chance.

Hugo aperta o botão da lanterna, e a luz ilumina de repente o corredor, fazendo-o enxergar:  Tomas está à menos de quatro metros à sua frente. O dedo de Hugo se prepara para puxar o gatilho mas antes que isso aconteça Tomas se joga na direção dele, olhos fechados, e ambos caem no chão. Hugo solta a lanterna, e acerta Tomas com um golpe de sua arma. Tomas grita, e com a mão vazia acerta suas costelas com socos. Hugo aponta a arma para ele e atira mas Tomas desvia no último segundo. Hugo aproveita o momento para para se impulsionar, jogando o corpo de Tomas no chão e ficando sobre ele.

Quando está sobre Tomas, Hugo segura o braço que ele havia estendido para lhe apontar a arma e bate em seu pulso repetidas vezes. Tomas não aguenta e solta a arma que escorrega para longe. Hugo, ofegante, aponta a arma para o rosto de Tomas e então recebe um chute em seu ferimento que faz seus olhos lacrimejarem. Tomas acerta seu pescoço com um golpe que o faz engasgar e ficar sem ar, o que o desnorteia. Por alguns segundos, ele não sabe nem como apertar o gatilho.

Sua arma é tirada de suas mãos e de repente ele está com as costas contra o chão novamente, sentindo o peso do corpo de Tomas sobre si. Estende os braços tentando alcançar o seu pescoço, mas as mãos de Tomas estão apertando sua garganta, o rosto dele fundindo-se com as sombras que a lanterna não consegue dissipar.

Aos poucos Hugo para de tentar alcançar o pescoço dele, e conforme sente o ar deixando seu corpo apenas bate nas mãos que o apertam, num apelo para que o deixe. Seus olhos se arregalam cada vez mais e ele sente que estes serão seus últimos momentos, as forças estão deixando o seu corpo.

E então um tiro.

Sangue espirra no rosto de Hugo, que pisca os olhos. As mãos de Tomas em volta do seu pescoço amolecem enquanto o corpo toma para frente. Hugo se deixa ficar no chão, confuso, e logo uma lanterna ilumina o seu corpo. Ele volta os olhos para luz e vê Léo se aproximando dele.

AMONG US - A tramaWhere stories live. Discover now