36. Ar parte 1

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 - O que ele quis dizer? - pergunta Ruth, minutos depois da voz de Tomas desaparecer. - Ele não vai arriscar vir aqui...

Hugo se esforça para colocar as pernas para fora da cama. Sara corre para ajudá-lo.

 - Ele não vai vir até aqui. - diz o soldado. - Vai tentar fazer algo que mate a todos nós de uma só vez.

 - O reator. - diz Ruth.

 - Sim. - concorda Hugo, ficando de pé. - Seria fácil na verdade, já que ele não se importa com a própria vida. Desestabilizar o reator explodiria a nave.

Sara engole em seco. Hugo franze as sobrancelhas:

 - Mas ele não vai conseguir entrar. As portas do reator ainda estão energizadas, porque assim como nas ventilações, aquela área funciona de uma maneira completamente separada do resto da nave. Não pode haver o risco de algo dar errado lá. Ele precisa do meu crachá para entrar.

Enquanto fala, ele toca o crachá. Sara e Ruth olham uma para a outra e depois para ele novamente:

 - Existe alguma coisa que ele possa fazer? Sem precisar de um acesso especial?

 - Com as portas do jeito que estão ele pode ter acesso à qualquer lugar se conseguir abrir... - diz Hugo.

Sara, que estava olhando para ele, de repente estende a mão, colocando-a em seu ombro.

 - Oxigênio. - ela diz, interrompendo-o. - Ele vai acabar com o oxigênio.

Ruth e Hugo observam enquanto Sara anda pelo quarto, pegando sua lanterna e se posicionando em frente à ventilação.

 - O que? - faz Hugo.

 - Capitã, o que vai fazer? - pergunta Ruth.

 - O controle de oxigênio fica próximo à Navegação, não é? Nós duas vamos até o oxigênio. Ele pode estar indo para lá ou pode já ter diminuído a quantidade de oxigênio na nave, nós não sabemos. Hugo, você fica.

 - Eu não...

 - Você está debilitado. - Sara olha para ele, se aproximando. - Seria um alvo fácil e eu não quero que seja.

Hugo suspira.

 - Capitã, por favor... - ele para por alguns segundos, olhando para ela.

 - Coloca o seu comunicador. Vamos dar notícias, ele ouvindo ou não.

Sara sorri de leve. Ela entra na ventilação. Ruth confere as balas em sua arma e, antes de entrar, coloca a mão no ombro de Hugo.

 - A gente volta. - diz.

Logo, ela segue a capitã pela ventilação. Hugo fica sozinho no quarto, ouvindo elas se afastarem. Passam-se alguns minutos e ele não sabe o que fazer, e então tem uma ideia.



A ventilação do Laboratório é aberta, e Sara se empurra para fora. Ela se abaixa, a arma em punho, observando o silêncio ao seu redor, e então faz sinal para que Ruth saia também. A soldada sai silenciosamente, os olhos atentos. As duas seguem por entre as cápsulas, apenas a lanterna de Sara iluminando o caminho enquanto Ruth a segue, próxima. Se aproximam cada vez mais da porta, mas antes Sara para, esperando que Ruth se aproxime para falar.

 - Quando encontrar com ele - diz Sara. - Não hesite. Isso é uma autorização oficial para você atirar.

Ruth assente. Elas saem para o corredor.

Enquanto isso, com a perna do curativo esticada e atrapalhando sua movimentação, Hugo se arrasta pelas ventilações. Ele faz um esforço grande, já que não pode usar a perna machucada para se impulsionar, respirando pesadamente.

 - Droga... - sussurra, parando por alguns segundos para respirar. Sara o mataria se soubesse que ele tinha saído do dormitório, mas ele havia se lembrado de algo que fecharia o reator à qualquer tentativa de Tomas: um código de acesso restrito. Havia uma senha da qual apenas o mecânico da nave sabia - e também o seu substituto, no caso Hugo -, que restringia o acesso à áreas ou ferramentas de grande periculosidade. Não era indicado que fosse usado, porque em casos de emergências qualquer tripulante poderia resolver os problemas, mas era uma carta na manga para impedir Tomas, se ele tentasse entrar no reator.

Hugo engole em seco, olhando para a extensão claustrofóbica e fria à sua frente. Então estende a mão, voltando a se puxar.

Nos corredores, Sara e Ruth avançam. Sara abaixa na curva do corredor para a Navegação, a lanterna apontada para trás e faz sinal de silêncio para Ruth, que fica de pé. Ruth aponta a arma para o corredor e então Sara ilumina, por poucos segundos o corredor. Os olhos de Ruth vasculham as paredes brancas, a porta já visível da navegação e volta a se esconder atrás de Sara.

 - Limpo. - diz.

As duas então avançam, seguindo a lanterna de Sara. Elas param na Navegação e Sara aponta para o outro lado do corredor, uma porta pequena de uma forma diferente das outras, que Ruth nunca havia realmente notado. Ela estava aberta.

 - Ele já passou por aqui. - diz Sara.

As duas avançam, se aproximando da porta devagar.

Escondido em meios às sombras do final do corredor, Tomas as observa.

AMONG US - A tramaWhere stories live. Discover now