27. Sabotagem

93 16 65
                                    

Os passos de Hugo ecoam pelo corredor escurecido, enquanto o feixe de luz de sua lanterna ilumina as paredes brancas. Ele carrega a maleta de aço e um pé de cabra nas mãos.

"Eu estou presa", é a voz de Laura, pelo comunicador. "Estou nos escudos e a porta não quer abrir".

 - A porta não vai abrir. - responde Hugo. - Até eu consertar a energia, as portas abertas ficarão abertas e as fechadas ficarão fechadas. Só aguenta mais um pouco.

Ele se aproxima da Elétrica e ilumina as portas, mas elas estão abertas. Hugo ilumina ao redor, procurando por alguém, mas não há ninguém por ali. Ele entra, iluminando os painéis. Os painéis mais à frente estão em perfeito estado, mas conforme ele se aproxima dos painéis aos fundos - os mesmos que ele e Léo haviam observado antes - percebe que estão amassados, ou soltando faíscas. Aperta os olhos.

 - Mas o que...

Se abaixa perto do painel que procurava e o abre. Os fios estão todos cortados, mas não somente nas pontas: em toda a extensão deles, para dificultar a manutenção. As bases onde os fios se encaixam também estão amassadas ou danificadas. Hugo observa aquilo por alguns segundos, antes de novamente iluminar ao seu redor.

Não era uma falha por conta das batidas na nave, não era uma reação em cadeia por alguma coisa. Fora sabotado. Ele lembra do comentário de Léo, quando estiveram ali antes: o fio que soltara não havia aquecido, tinha sido cortado. E acontecera novamente e muito mais claro dessa vez.

Hugo se levanta, tocando o comunicador:

 - Okay, eu quero que todo mundo fale exatamente onde está agora e que permaneça em seus lugares. Isso não é um pedido, é uma ordem.

"O que?", diz Sara.

 - Isso não é uma falha da elétrica. - diz Hugo, caminhando devagar entre os painéis, na direção da porta. - Foi uma sabotagem, e não é a primeira vez.

"Mas...", é a voz de Tomas. "Nós prendemos...".

 - NÃO ERA O LÉO! MAS QUE DROGA! - grita Hugo.

Todos ficam em silêncio por um tempo. Hugo encosta nas portas abertas da Elétrica.

"Eu estou indo para a Administração", diz Sara.

"Onyx desmaiou quando a M07 bateu na nave", diz Tomas. "Estamos no dormitório".

 - Fiquem onde estão. - pede Hugo. Ele engole em seco. - E não confiem em ninguém que se aproximar... Ruth? Onde está Ruth?

"Enfermaria, as portas estão fechadas", responde Sara.

"Eu não vou ficar esperando algum de vocês vir me matar", diz Wilson.

Hugo levanta os olhos:

 - Wilson, não! Fica onde você está, não é confi...

Ele para. Onde Wilson estava? Ele tinha ficado na Navegação? Porque facilmente a desconfiança dele podia ser uma cortina de fumaça para os seus planos reais. Engole em seco e pega o pé de cabra do chão.

 - Mas que droga!


De pé na sala dos escudos, Laura ilumina ao seu redor com a lanterna. Os painéis estão apagados, os controles não funcionam. Ela tira a arma do coldre, apenas segurando-a numa tentativa de se sentir segura. Então ouve barulhos. Corre na direção das portas.

 - Hugo?! - grita. Não há resposta. Ela bate as mãos nas portas, com força. - Oi? Hugo, é você?

Nada. Laura suspira, sentindo-se claustrofóbica. Sua respiração se acelera. Ilumina novamente a sala. Caminha para o meio dela e se senta no chão, a lanterna nas mãos apontando para a porta, assim como a arma. Qualquer um que entrasse ali, seria considerado inimigo, com exceção de Hugo que encontrara a sabotagem. Mas até onde ela sabia, Hugo podia muito bem ter sabotado a Elétrica e dito depois que encontrou.

Laura engole em seco. As paredes à sua volta parecem se aproximar, o ar parece mais pesado. Pela primeira vez ela sente a pressão do espaço espremendo-a, fechando-se ao redor dela, prendendo sua respiração. Por que estavam passando por aquilo? Por que...

Seus olhos enchem de lágrimas e seus lábios tremem um pouco. E então duas mãos surgem do escuro, pegando-a por trás. Os olhos de Laura expressam o horror quando ela tenta se virar, a arma nas mãos, mas tanto a arma como a lanterna são jogadas para longe. A lanterna cai e rola pelo chão, parando em algum lugar da sala, o feixe de luz iluminando parte da parede, parte das portas. Laura luta para se soltar e então é jogada no chão, apenas a cabeça e o busto iluminados pela luz da lanterna.

Ela tenta se levantar e então um golpe acerta sua têmpora, jogando sua cabeça novamente ao chão, já desacordada. Mas os golpes não param, acertando-a com o que parece ser uma arma. Um atrás do outro, eles abrem um rasgo em sua cabeça e os únicos sons são os do seu rosto sendo dilacerado. O sangue escorre, banhando o chão ao redor, e então os golpes param e as mãos se afastam dela.

Pouco a pouco, o sangue se aproxima da lanterna.

AMONG US - A tramaWhere stories live. Discover now