6. Interrogatório

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Flashes verdes. As luzes da Cápsula passam por todo o corpo de Sol, deitada sobre a base mecânica no chão. Onyx observa os gráficos e dados que aparecem na tela, suas roupas de dormir amassadas. Ela suspira.

- Relatório pronto. - diz. - Alta dose de sonífero. Está morta há aproximadamente duas horas...

Onyx indica a seringa que Sara havia encontrado, que está sobre a mesinha, guardada num saco plástico.

- Suicídio. - conclui.

Sara observa o corpo, pensativa. Olha para a seringa e depois para Onyx.

- Ela pediu o soro pra você?

- Não. - Onyx caminha até o armário, olhando os itens. - Meu estoque está o mesmo.

Sara assente. Respira fundo.

- Muito obrigada, Onyx. Vou pedir que você me acompanhe até a cafeteria, por favor.

As duas saem da Enfermaria e seguem pelo corredor. O aço parece mais frio, o eco dos passos parece mais forte. Elas entram na cafeteria, onde toda a tripulação está sentada, dividia em mesas. Nas três portas de saída, estão cada um dos soldados de Sara.

A tenente caminha para um ponto da cafeteria onde pode estar visível para todos. Onyx está ao seu lado direito.

- A Capitã Sol... Está morta. Há aproximadamente duas horas. O laudo médico é suicídio por... Sonífero. - seu olhar, de forma automática, pousa sobre Wilson. Ele a está encarando, visivelmente estressado. - Isso precisa ser reportado num relatório especial, e por isso estarei conversando com cada um de vocês, a sós, na Administração.

A nave balança, lembrando-os que ainda estão na área de detritos. Laura olha em volta, para a nave, preocupada.

- Sol vai ser levada de volta para a Geladeira, como diz o regulamento. Sendo assim, eu assumo o papel de capitã da missão. - completa Sara.

Há murmúrios entre a tripulação. Wilson olha para Lucas, que está impassível olhando à frente.

- E como segundo em comando - continua Sara. - Eu escolho a Soldado Ruth. De agora em diante ela atuará na minha antiga posição.

Ruth a encara, está tão surpresa como os outros. Sara observa cada um deles antes de finalizar:

- Esperem aqui até serem chamados.

- Precisamos de um tempo. - diz Wilson. - Foi uma amiga que morreu.

Sara olha para ele.

- Terão o tempo até que eu os chame.

Sara se senta à grande mesa da Administração. Respira fundo, pesadamente. Olha para o teto branco. Não faz sentido. Não faz o menor sentido. A nave balança, enquanto o som de um asteroide batendo no escudo soa.

Ruth entra na sala, batendo continência.

- Tenen- digo, capitã.

Sara sorri.

- Pode chamar o primeiro, Ruth.

Um à um, cada tripulante da M09-2140 se senta à frente de Sara, e responde suas perguntas. "Qual a última vez que você viu a Capitã Sol?". "Ela parecia abatida, ou fraca? Havia algum sinal, mínimo que fosse, de depressão?". "Sol em algum momento tinha apresentado comportamento auto-destrutivo?".

- Ela parecia bem. - diz Laura.

- Ela estava saudável. - diz Lucas.

E todos os outros dizem o mesmo.

- Onde você estava, no horário da morte?

Estranho. Olhos apertados. Nenhum deles entendeu a razão da pergunta. "Dormindo", era a resposta de Hugo e Ruth, Léo e Tomas, Onyx e ela própria. Laura estava na Navegação, como lhe havia sido disposto. Lucas estava acordado no Laboratório. Wilson estava dormindo, mas acredita que há mais a ser dito.

- Eu sei o que está pensando. - diz ele, olhando nos olhos de Sara. - Sol nunca se mataria, então... Quem tinha acesso ao sonífero? É isso, não é?

Ele bate as mãos na mesa.

- Isso é só uma desculpa para um interrogatório! Vocês acham que eu... - ele não termina. Sara o observa, impassível. - O Exército nunca foi submisso a nada. Não seria numa missão espacial.

- Está sugerindo alguma coisa? - pergunta Sara.

Wilson se levanta e se vira para a porta, saindo da sala. Sara apoia o rosto numa das mãos. Olha para a lista em seu tablet. Falta o mecânico.

Léo, pela primeira vez, não parece relaxado. Responde a todas as perguntas num tom polido e direto.

- Quando eu o vi no depósito - diz Sara. - Estava movendo caixas da Enfermaria.

- Eu sei. - responde ele.

Estão se encarando, nenhum dos dois desvia o olhar.

- Se houvesse uma chance de Sol não ter cometido suicídio... - começa Sara. - O estoque de Onyx está completo. Wilson ainda tem a seringa dele...

- Se alguém a matou, o que eu acho improvável, não fui eu.

A resposta dele é direta, como todas as outras. Mesmo assim, Sara não se abala.

- Por que?

- Porque eu não tenho um motivo.

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